quarta-feira, maio 16, 2018

EMILY DICKINSON, UMBERTO ECO, ELISABETH BANDINTER, TERESA REICHLEN, CIRO DE UIRAÚNA, ANA FARIA, ERICH LEHNINGER & HAN-NA CHANG

ESTIBADO, O AJEITADO NA VIDA – Imagem: Xilogravura do gravador e ilustrador Ciro de Uiraúna. - Tomé sempre foi jeitoso. Um dia lá, teve a ideia de abrir uma bodega. Juntou os trocados, surtiu de tudo um pouco e fez-se simpático pros fregueses. Sábado e domingo, os de feira livre, ele apurava mais que o previsto: dedinho na balança, conta de troco com um-pra-eu-um-pra-tu-um-pra-eu, moedas miúdas de menos, enfim, prosperou. Ô seu Tomé, posso deixar a sacola aqui pra pegar depois da feira? Pode, sim, podexá. Seu Tomé, posso deixar a peixeira pra volta? Pode, sim. Seu Tomé, vou deixar essa roupa aqui, quando eu voltar eu pego, viu? Podexá. E assim foi, guardava de tudo: documentos, carteiras, escrituras de casa, até dinheiro graúdo por causa da violência. No começo, não cobrava nada. Depois, começou a estipular uma taxa de armazenagem, coisa de centavo, depois pra 10, 20 ou 50, e o povo na maior confiança. Ele emprestava dinheiro, fazia compras encomendadas do que se precisasse, agendava consultas médicas, fazia de tudo, no final do mês, o povo honesto pagava no pedido dele. Entrava ano e saía ano, Tomé progredia, já proprietário de casas, salas e apartamentos, veículos de todo tipo, roupas pra toda ocasião, acessórios agrícolas, ferramentas e o escambau; bastava encomendar, mandava buscar e no final do mês a cobrança, tudo preto no branco. Foi passando o tempo e ele foi se esquecendo de alguns guardados de anos, confundindo-se por seu o que não era, e metendo-se a negociar pra si o que era dos outros. Ah, isso já era de tempo, a culpa diminuída dia após dia. Aí depois de anos, um dos fregueses chegou requerendo da escritura que ele guardara. Que escritura? A da minha casa lá em Ribigudo! Deixe-me ver, ah, olhe aqui: tenho escritura de meio mundo de gente e de muitos lugares, mas não tenho nenhuma de Ribigudo, meu amigo. Mas eu deixei com o senhor faz uns 12 anos! Meu amigo, aqui tem escritura de mais de 20 anos, se a sua estivesse comigo, estaria aqui. Eu lhe dei algum recibo? Não. Então, deixou não. E os dois aborrecidos, se estranharam e exaltados, xingamentos mútuos e, cada qual, nos seus direitos. Ficou por isso mesmo. Tomé sozinho: menos um. Amealhou fortuna da muita assim, homem de posses que nem sabia. Quando menos esperava, o povo na porta reclamando seus pertences. Passou a usar revólveres nos quartos, dois, um pra cada mão, nas cartucheiras dos quadris. Dava um tiro pra cima, todos corriam. A polícia encostava, ele deitava a lábia, ajeitava tudo. Nem, nem. De tão jeitoso, já era amigo do delegado, do Juiz de Direito, do Promotor de Justiça, do Prefeito, as autoridades todas no papo. Ninguém ousava macular a ilibada conduta do seu Tomé, homem probo daquele, jamais poderia ser denunciado por nada, um exemplar cristão da missa domingueira, presente em todos os eventos da sociedade abastada, amigo do bispo, do grão mestre maçom, membro benfeitor do Rotary e do Lions, sujeito articuladíssimo que não esperava o enterro voltar, prevenia-se como podia com agrados, servidor que só, a ponto de ser indicado umas trocentas vezes para vereança, da qual ele se eximia orgulhosamente: Não, faço favor por bondade mesmo, nada de politicagem pra minha banda. Se aceitasse, seria o fim da picada: servia tanto a um lado como a outro, não era besta, quem ganhasse ele estaria lá, isso era muito melhor que se sujeitar à esculhambação pública e ganhar a antipatia popular com apenas um mandato. Sabido e estibado, assim foi e é até hoje, só comendo arroiado na mão da Vitalina, essa sim, todo dia e o dia todo, com quem ele paga direitinho os seus pecados. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do violinista alemão radicado no Brasil, Erich Lehninger: Sonata Brahms, Sonata Leopoldo Miguez & Trio para piano, violino e cello de Marlos Nobre; da cellista e maestrina sul-coreana Han-Na Chang: Concerto Haydn, Variations Tchaikovsky & Symphonie 5 de Tchaikovsky; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Qualquer que seja sua evolução para uma maior semelhança, o homem e a mulher distingue-se fundamentalmente por seu aparelho sexual. A natureza os fez de tal forma que se completam e não se confundem. [...] Dizer que Um é o Outro não significa aqui que Um é o mesmo que Outro, mas que Um participa do Outro e que eles são, ao mesmo tempo, semelhantes e dessemelhantes. [...]. Trecho extraído da obra Um é o outro (Nova Fronteira, 1986), da filósofa, historiadora e escritora francesa Elisabeth Bandinter.

EDUCAÇÃO - [...] Educar é transmitir ideias, conhecimentos que através de uma prática podem transformar ou conservar a realidade. A educação, portanto, é mediação entre teoria e prática. [...] A educação na sociedade capitalista tem a escola como um dos instrumentos de sua dominação, cujo papel é o de reproduzir a sociedade burguesa, através da inculcação da sua ideologia e do credenciamento, que permite a hierarquia na produção, o que garante maior controle do processo pela classe dominante. [...]. Extraído da obra Ideologia no livro didático (Cortez/Autores Associados, 1991), da professora e pedagoga Ana Lucia Goulart Faria. Veja mais aqui.

COLOPHON – [...] Pronto. O que terá acontecido com Roberto? Não sei, e acredito que ninguém jamais poderá saber. Como extrair um romance de uma história tão romanesca, se não se conhece o final, ou melhor, o verdadeiro início? A menos que a históra a ser contada não seja a de Roberto, mas a de seus papéis – embora tenhamos de caminhar aqui por conjecturas. [...] Eu não saberia sequer imaginar através de que última peripécia as cartas tenham chegado a quem deveria entregá-las a mim, tirando-as de uma miscelânea de outros desenxabidos e rabiscados manuscritos. [...]. Trechos extraídos da obra A ilha do dia anterior (Record, 1995), do escritor, filósofo e bibliófilo italiano Umberto Eco (1932-2016). Veja mais aqui.

DOIS POEMAS - BELEZA E VERDADE: Morri pela beleza, mas apenas estava / Acomodada em meu túmulo, / Alguém que morrera pela verdade, / Era depositado no carneiro próximo. / Perguntou-me baixinho o que me matara. / – A beleza, respondi. / – A mim, a verdade, – é a mesma coisa, / Somos irmãos. / E assim, como parentes que uma noite se encontram, / Conversamos de jazigo a jazigo / Até que o musgo alcançou os nossos lábios / E cobriu os nossos nomes. À PORTA DE DEUS: Duas vezes perdi tudo / E foi debaixo da terra. / Duas vezes parei mendiga / À porta de Deus. / Duas vezes os anjos, descendo dos céus, / Reembolsaram-me de minhas provisões. / Ladrão, banqueiro, pai, / Estou pobre mais uma vez! Poemas da poeta estadunidense Emily Dickinson (1830-1886). Veja mais aqui e aqui.

A ARTE DE TERESA REICHLEN
A arte da bailarina estadunidense Teresa Reichlen.


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A arte da xilogravura do gravador e ilustrador Ciro de Uiraúna
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As muitas das tantas de Tomé aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
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Dos labirintos que brotam de si pra vida, a literatura de Gabriel García Marquez, o pensamento de Rui Canário & a arte de Jean-Léon Gérôme aqui.