sexta-feira, maio 18, 2018

CHICO BUARQUE, ROSEMONDE GÉRARD, MORENTE, BUZZI, AURELIJA KARALIUNAITE, PAULO MARTELLI & OLINDA ALLESSANDRINI

A MINHA OUTRIDADE UBÍQUA - Imagem: art by Aurelija Karaliunaite - Ganhei a voz ao nascer e a fala veio do céu no meio do faz de conta da infância. Era-me tudo tão real quão fantástico, interação de gente, pés de plantas, bichos e fantasias. A poesia se fez e pela janela o Sol alumiou a lonjura desconhecida de quem se perdia na escuridão das fábulas noturnas. Sobravam olhos acesos madrugada adentro e as ideias vagavam por aí para que eu tropeçasse com o seu encontro ao inteiro dispor. A vida me sacudia ao amanhecer e acordava pras coisas de outro mundo e nem me deixavam ver o que já tinha visto muito antes da placenta, e me animava chilreios, folhas secas pisadas, correntezas de brejo, não me deixavam letárgico, esgueirando-me com tantos óbices e imposições, muito menos adormecia à toa com a emulação e seus simulacros, ornamentos de ruídos inúteis e músculos suados, o apelo e as promessas, as grades ilusionistas do amparo quando os temores do desconhecido se insinuassem anunciando a queda prevista e dolosa de todas as normas e convenções. Aprendi e nada me é estranho agora, sou tão sujeito a incompreensões ou interpretações errôneas como qualquer um, e só sei o que experimento e realizo, derrotado ou exitoso. Não presumo jamais, aguço as cintilantes descobertas do inopinado intuitivo para tirar as vendas dos olhos e não temer o espelho quebrado embaixo da escada que passei na fuga do gato preto a cruzar o caminho, e não mais inferir com todas as sugestões e passos imprecisos, nem suposições oriundas por via de regra, sine qua non, coisa e tal, sim e não. Hoje apenas sorrio e sei que sou nada entre milhões de sistemas solares diante da minha acuidade racional, um nada mergulhado nas profundezas dos espaços com seus sóis-estrelas que sequer vejo ou percebo, sei existentes além, alhures, algures. Por isso não julgo, sei quão suscetível à beira do abismo, e se é para examinar, faço um autoexame e me coloco em todo o lugar ou no lugar de qualquer coisa ou ser, o pouco sou da minha ubíqua parte de tudo; se é para elucidar ou cogitar do que quer que seja, eu me autoelucido e assim busco compreender o porquê sou e outras coisas e seres são, a minha outridade holística. Sei que ao compreender a mim mesmo, compreenderei o que está ao meu redor e o visinvísivel, horizontes ampliados para estar conversável e saber que sou e somos. Qual menino, me maravilho com tudo que observo e recolho o fogo e o metal do centro da Terra para extrair o bálsamo – o sal da pedra -, forjando a paz, o aflato da alma, acendendo a chama ignorada para a quintessência, o summum bonum, o princípio da vida gratuita. Na conversa a conversão, poeta à solta, a liberdade é o meu destino para mútuo desvelar pelo que vai e venho asas-braços peito aberto na minha ataraxia. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do violonista Paulo Martelli: Cello Suite nº 2 Bach, Sonata nº 1 Bach & Loro de Egberto Gismonti; da pianista, professora e pesquisadora musical, Olinda Allessandrini: Valsas de esquina de Francisco Mignone, Dança do índio branco de Villa-Lobos & Valsas de Radamés Gnatali; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] A angústia é o caráter típico e próprio da vida. A vida é angustiosa. E por que é angustiosa a vida? A angústia da vida tem duas facetas. De um lado, é necessidade de viver, é afã de viver, é anseio de ser, de continuar sendo, para que no futuro seja o presente. Mas de outro lado, esse anseio de ser leva dentro o temor de não ser, o temor de deixar de ser, o temor do nada. Por isso, a vida é, de um lado, anseio de ser e, de outro lado, temor do nada. Essa é a angústia. Pois o nada amedronta o homem. Pensamento extraído da obra Fundamentos de filosofia: lições preliminares (Mestre Jou, 1970), do filósofo, tradutor e professor espanhol Manuel García Morente (1886-1942), confrontando grandes perspectivas, como o racionalismo e o empirismo, a contenda entre ceticismo e dogmatismo, ao tratar sobre a filosofia e sua vivência, sentido da palavra, as ciências, abrindo um canal de acesso ao pensamento filosófico de maneira crítica por meio de diversas ideias que tomam corpo no desenrolar histórico do pensamento na filosofia.

EXISTÊNCIA & PENSAMENTO - [...] Quando digo eu sou: que devo, pois, experimentar? Um corpo isolado e enclausurado? Antes o contrário. Eu sou significa existência inserida no mundo. Ao viver efetivamente no mundo, como o camponês na terra, o corpo-humano se reconhece na escolha mais bela, no originário destino de seu ser: é porta-aberta real lá fora. Obriga-nos a situar-nos [...] Arranca-nos da interioridade ociosa, empurra-nos para o aqui e agora. [...]. Trecho extraído da obra Filosofia para principiantes: A-existência- humana-no-mundo (Vozes, 2000), de Arcângelo R. Buzzi que, em outra obra, Introdução ao pensar (Vozes, 1983), expressa que [...] O pensamento é tentativa e tentação. Tentativa do melhor e maior saber. Tentação de se fixar no poder do saber. Quando isso acontece repete-se o mito de Narciso, que, enamorado perdidamente de sua própria imagem, a ela se atirou quando a viu no fundo da fonte da vida. Atirar-se à verdade é salvar-se. Atirar-se à imagem da verdade é suicidar-se. Quando o pensamento adere ao saber como a verdade do ser, torna-se narcisistas. O narcisismo é a imaturidade do pensamento, a incapacidade do diálogo com o ser na imagem do conhecimento. [...].

ESTORVO – [...] Desço para a casa principal e sento-me na beira da varanda, de costas para a janela do meu quarto. Posso sentir na pele a chegada da noite. Ainda está claro no resto do sítio, mas o ar que respiro é noturno. Nas árvores que vejo à luz do dia, o movimento das folhas já se revezou, e é um movimento noturno; como são noturnos certos cheiros e ruídos; como há bichos noturnos e flores que não se abrem de dia, como há pensamentos tão claros que só à noite se percebem. A menina da cabeleira crespa é noturna, e quando me dou conta ela está trançando os meus cabelos. Depois senta-se a meu lado, e põe-se a pedalar no vão da varanda. Reparo que seus olhos são muito redondos, como numa surpresa permanente. Apóia a pequena mão na minha coxa, e seus dedos são curtos como os de uma pata. Traz o fone nos ouvidos e canta “hmmmmmmmm”, uma canção sem letra. Para alcançar as notas mais agudas, crispa a mão e chega a me machucar. E quando começo a entender a melodia, ela retira a mão da minha coxa e aperta o stop. Desaparece tão de repente que quase me sinto roubado. [...]. Trecho extraído da obra Estorvo (Companhia das Letras, 1991), do escritor, compositor e dramaturgo Chico Buarque. Veja mais aqui e aqui.

A ETERNA CANÇÃO - Quando envelhecermos / E meus cabelos loiros tornarem-se cabelos brancos, / No mês de maio, em um jardim ensolarado, / Aqueceremos nossos velhos ossos trêmulos, / A primavera deixará nossos corações em festa. / Acreditaremos ainda sermos jovens apaixonados / E eu te sorrirei, inclinando a cabeça. / Seremos um adorável casal de velhotes / Sentados, a nos contemplar com os olhos pequenos, / Mas ainda ternos e brilhantes. / Quando tu estiveres velho e eu velha, / Quando os meus cabelos loiros tornarem-se brancos / Sobre nosso velho banco, esverdeado pelo musgo, / Conversaremos com uma alegria terna e tão doce, / As frases sempre a terminar com um beijo. / Quantas vezes já nos dizemos "Te Amo”? / Então com grande cuidado vamos contá-las. / Recordaremos mil coisas, até mesmo / Das tolices ditas e dos pequenos nadas delicados. / Um raio descerá entre os nossos cabelos brancos / Feito carícia doce, e rosa pousará. / Sobre o banco de outrora voltaremos a conversar, / E como cada dia te amo mais, / Hoje mais que ontem e bem menos que amanhã. / Que importarão então as rugas do rosto? / O meu amor será mais sério - e sereno. / Imagina que todas nossas lembranças se unem, / As minhas recordações serão também as tuas. / Estas recordações comuns cada vez mais nos envolvem / E sem cessar entre nós tecem outros laços. / É verdade, seremos velhos, muito velhos, / Enfraquecidos pela idade, / Mas mais forte a cada dia, apertarei a tua mão. / Porque vê tu, cada dia eu te amo mais, / Hoje mais que ontem e bem menos que amanhã. / E deste querido amor que passa como um sonho, / Quero conservar tudo no fundo do meu coração, / Reter, se possível for, a impressão demasiado breve, / Para voltar a saborear mais tarde, com lentidão. / Escondo tudo o que dele vem como uma avarenta, / Acumulando as riquezas com ardor para os meus velhos dias, / Serei então rica de uma riqueza rara / Terei guardado todo o ouro dos meus jovens amores! / Assim deste passado de felicidade que termina, / Minha memória devolverá a doçura; / E deste querido amor que passa como um sonho, / Terei conservado tudo no fundo do meu coração. / Quando envelhecermos, / Quando os meus cabelos loiros tornarem-se brancos. Poema da poeta e atriz francêsa Rosemonde Gérard (1866-1953). Veja mais aqui.

A ARTE DE AURELIJA KARALIUNAITE
A arte da fotógrafa e artista visual Aurelija Karaliunaite

História do Soldado 100 anos da Orquestra de Câmara de Pernambuco & muito mais na Agenda aqui.
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Dos sonhos aos pesadelos de Ximênia, o pensamento de Pedro Demo, a arte de Auguste Rodin, Camila Corrêa Antonelli & Grupo Uqbar aqui.
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Encontro amante, o pensamento de Madalena Freire, a arte de Bill Everett & Luciah Lopez aqui.
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Quanto vale uma vida, a Trimembração de Rudolf Steiner, a poesia de Olga Savary, o pensamento de Isaac Asimov & a arte de Henri Matisse aqui.