sexta-feira, abril 13, 2018

NÉLIDA PIÑON, CUMMINGS, HEIDEGGER, HERBERT READ, JOHN CURRIN, CHARLES LLOYD & ALA.NI

NEM SABIA O QUE SUCEDEU – Imagem: arte do pintor estadunidense John Currin. - A vida e o espanto logo ali, o caminho é uma lâmina afiada lambendo minhas pegadas. A mulher me olha e eu quase esqueço a escorregar, olhos vivos demais na minha caligem, quase nem enxergo o vulto, só o seu olhar atento, imantado. Às vezes vou incólume na travessia, nem sempre, escapei por pouco e poucas vezes, é que conheço bem o fundo do poço, por isso voo livre como quem não sabe. Ela foi até a esquina e voltou. Eis-me por um fio, nada a declarar, o triz uma eternidade e eu jamais sei como voltar, embora queira jamais sair. Quem dera houvesse um tempo de ir e voltar sem ter que atravessar ruas com tanta gente com a fisionomia exaltada de noites mal dormidas. Ela me sorri entre apressados que quase lhe levam a face e chegada. Ah, se engraçam de si mesmos, ar de insatisfação, e eu andante sem que tivesse que cair a tarde toda vez que o amor desse a volta para nunca mais. Ela sequer sabe que desgarrado da matilha, nunca mais porto seguro com tantas intrigas e facadas pelas costas, só o contorno da enseada para me afogar na primeira poça de sangue ou escarrada. Há de haver outra hora, outro lugar, nunca a mesma coisa que insistem em recontar, como se debulhassem seus rosários para presságios dos outros. Ela vira a face pros pássaros enquanto, cá comigo, será que ontem de manhã eu achei o que havia perdido, e hoje nem lembro mais, ah, como é frívolo querer o que não tem, o quintal do vizinho é mais meu, ele nem sabe o tanto, sequer passa na cabeça da sua fortuna lugar tão belo e desabitado. Os pássaros dali são meus, ela nem sabe, ninguém se dá conta e torram a paciência alheia com seus arroubos ou queixumes. Do que tive quase nem sei, talvez nem sequer me lembre, ela se foi sem aceno e dobrou a esquina, valho-me do que tenho e sou feliz mesmo que tudo se derrube e eu possa singrar as avarias para ver do outro lado da ruína o que é por demais esperado noitedia, a viver com o bem-querer guardado no coração. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do saxofonista e músico de jazz estadunidense Charles Lloyd New Quartet: Oslo Jazz Festival, Heineken Jazzaldia & Jazz Baltica; da cantora e musicista francesa Ala.Ni: Festival Jazz Sous Les Pommiers, 2Voor 12 Session & Le Ring; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] No poetar do poeta, como no pensar do filósofo, de tal sorte se instaura um mundo, que qualquer coisa, seja uma árvore, uma montanha, uma casa, o chilrear de um pássaro, perde toda monotonia e vulgaridade [...]. Pensamento extraído da obra Introdução à Metafísica (Rio, 1969), do filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976). Veja mais aqui.

A VIDA & A ARTE - [...] o artista proporciona mais do que uma consolação momentânea de nossas misérias; ele vai além do véu que oculta a fonte de nossa depressão e nos apresenta provas da vitória do impulso sobre as forças da destruição [...] Nossa necessidade de beleza nasce da tristeza e sofrimento que experimentamos com os nossos impulsos destrutivos em relação aos nossos objetos bons e amados. [...]. Trecho extraído da obra As origens da forma na arte (Zahar, 1981), do poeta anarquista e crítico de arte britânico Herbert Read (1893-1968).

I LOVE MY HUSBAND - [...] atraído pelo meu cheiro e do animal em convulsão, ia pedindo de joelhos o meu amor. Sôfrega pelo esforço, eu sorvia água do rio, quem sabe em busca da febre que estava em minhas entranhas e eu não sabia como desperta. A pele ardente, o delírio, e as palavras que manchavam os meus lábios pela primeira vez, eu ruborizava de prazer e pudor, enquanto o pajé salvava-me a vida com seu ritual e seus pelos fartos no peito. Com a saúde nos dedos, da minha boca parecia sair o sopro da vida e eu deixava então o Clark Gable amarrado numa árvore, lentamente comido pelas formigas. Imitando a Nayoka, eu descia o rio que quase me assaltara as forças, evitando as quedas-d’água, aos gritos proclamando liberdade, a mais antiga e miríade das heranças. [...] sacrifico-me outra vez para não vê-lo sofrer. Será que apagando o futuro agora ainda há tempo de salvar-te? [...]. Conto extraído da obra O calor das coisas (Record, 2009), da premiadíssima escritora e imortal da Academia Brasileira de Letras, Nélida Piñon. Veja mais aqui.

POEMANenhum homem, se os homens deuses são / mas se os deuses homens devem ser. / E algumas vezes um homem é isto / (mais comum para cada angústia é sua pena / e para a sua alegria é mais, alegria, muito raro). / Um diabo, se os diabos falam a verdade, / se os anjos ardem pela própria, generosa, e toda luz, / um anjo, ou (como vários mundos ele rejeita / antes que falhe a imensurável sina). / Covarde, traidor, palhaço, idiota, sonhador, uma besta. / Assim foi um poeta e assim será e é / o que resolverá a profundidade do horror/ só para defender a arquitetura / do raio do sol com a sua própria vida. / E talha a floresta imortal do desespero / só para conservar o bater do coração / da montanha em sua mão. Poema do poeta estadunidense Edward Estlin Cummings ( e.e.cummings 1894-1962). Veja mais aquiaqui.

A ARTE DE JOHN CURRIN
A arte do pintor estadunidense John Currin.
Simpósio Internacional Imprensa, Literatura, Linguagem e História & muito mais na Agenda aqui.
&
Sorria pra viver, a literatura de Albert Camus, o pensamento de Charlie Chaplin, O rapto de Prosérpina de Jan Peter Van Baurscheit & a arte de Ricardo Ponce aqui.