segunda-feira, abril 23, 2018

JORGE DE LIMA, PRIGOGINE, MURGER, JOMAR BRITO, JAGUARIBE, MAURÍCIO SILVA, MURILO GUN & EDUCAÇÃO, PIXINGUINHA & TERESA CRISTINA/GRUPO SEMENTE

HEUTAGOGIA X ESCOLARIZAÇÃO – Como já dizia Murilo Gun: escolas matam a aprendizagem! Verdade. Já desconfiava disso desde quando, no início dos anos 1980, assisti ao filme/show The Wall, de Alan Parker & a banda Pink Floyd, principalmente com a letra do sucesso musical Another brik in the wall. Isso ficou martelando no meu juízo e, nos anos 1990, ao publicar meus livros infantis e começar uma peregrinação com recreações promovendo as minhas publicações nas escolas, fui me deparando com muros altos, divórcio com a comunidade e a realidade do entorno, disciplina rígida e segurança máxima. Parecia-me mais um quartel ou detenção, um negócio rachado no meio: de um lado, gestores e profissionais não-docentes fechados incomunicáveis na administração; e, do outro, professores e alunos – os visíveis, sobre os quais recaem toda a responsabilidade pela trágica crise educacional. Ora, ora, desconfiei: o problema é bem maior e começa no MEC, indubitavelmente; daí, de forma difusa, vai se tornando uma avalanche pelas secretarias de estados e municípios. Aprumei a vista: a educação básica prepara pro vestibular e a faculdade pro mercado – quando muito e só. Hem? E o ser humano, o desenvolvimento do sujeito, o cidadão e sua interdependência com o mundo e a vida? Ah, por isso que temos advogados, médicos, engenheiros e outros tantos profissionais diplomados e pós-graduados (lato & stricto sensu), por aí, tudo tapado chega fazer dó, uma tuia gigantesca de besta quadrada. A-rá! Os anos se passaram e, enquanto isso, fui desenvolvendo estudos aprofundados nas áreas de educação e psicologia. O estalo pra certidão quem me deu foi o psicanalista e educador, Rubem Alves, já em meados dos anos 2000, com a sua crônica Casas emburrecedoras. Com a dica, juntei o troço: casas/escolas. E ampliei a pesquisa: educação básica (infantil, fundamental e médio) até o curso superior, profissional, tecnológico, especial, EAD, EJA e lá vai teibei. Além disso, assessorei graduandos e pós-graduandos nas suas pesquisas num corpo a corpo, ministrei por anos um curso sobre Metodologia Científica e emburaquei fundo no assunto, redundando no acompanhamento e assessoria a um bocado de dissertações de mestrado e teses de doutoramento no Brasil e no exterior, envolvendo diversas escolas das redes pública e privada. Juntei tudo e me matriculei num curso de Psicologia. Lá me meti nuns grupos de pesquisa, entre os quais o de Neurofilosofia e Neurociência Cognitiva, e matei a charada com uma palestra que passei a desenvolver desde então: Neuroeducação & práticas pedagógicas no ensino-aprendizagem. Dava conta do como é desenvolvida a educação no Brasil: a confusão que envolvia a lógica do mercado e ensino misturada com capitalismo e cristianismo, o equívoco de que educação é escolarização, e um monte de coisas que me deixaram de cabelo em pé: sectarismo, pedantismo, preconceito e má vontade – aquela coisa de Pandora. Vixe! Foi aí que comecei o confronto entre heutagogia e escolarização. Ao constatar o traumatismo de gerações que a escola provocou com sua imposição bancária de conteúdos obsoletos e disciplina exagerada, visualizei a crescente fatia do autodidatismo, antes tratado com desdém na base do escárnio cruz-credo! Ué? Pra quem vê a escola de educação básica distante do desejado e os vestibulares das universidades públicas manipulados pelos cursinhos, afora outras tantas broncas no pega-lá-dá-cá desse Brasilzão, qual a alternativa para inclusão de tantos deserdados? Sentir na pele e dar-se ao sacrifício individual de entender que é um ser que se prepara pra experiência da vida e pro convívio em sociedade planetária. É isso: a escola emburrece e mata a aprendizagem mesmo, tenho dito. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial do Dia Nacional do Choro com a música do compositor Pixinguinha (Alfredo da Rocha Vianna Filho – 1897-1973) & o Choro Brasileiro: Choro, chorinho & chorões; do premiado conjunto Teresa Cristina & o Grupo Semente, formado pela vocalista Teresa Cristina, o cavaquinho de João Callado, o violão de Bernardo Dantas, o pandeiro de Pedro Miranda e o surdo de Ricardo Cotrim: Delicada, Coração Imprudente e O mundo é meu lugar; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] O que dá a uma nação destino próprio, [...] é sua capacidade de autodeterminação e o efetivo exercício dessa capacidade [...]. Pensamento extraído da obra O nacionalismo na atualidade brasileira (Iseb/MEC, 1958), do sociólogo, cientista político e escritor Hélio Jaguaribe, que acrescenta na obra A reconfiguração da ordem mundial no início do século XXI (Câmara dos Deputados, 2002): [...] a preservação da autonomia é requisito absolutamente fundamental para que este País tenha um destino próprio [...].

REFLEXÃO CONTEMPORÂNEA -  [...] Nosso universo está em construção. A historia humana, acontecimento particular da história do universo, acompanha essa mesma dinâmica do inacabado, das flutuações, das bifurcações. O universo é uma mistura de determinismo e de imprevisibilidade. A criação do universo é antes de tudo uma criação de possibilidades das quais alguma se realizam e outras, não. [...] A condição humana reside em abrir-se à possibilidade da escolha. Pensar o incerto é pensar a liberdade. [...]. Cabe ao homem, tal qual é hoje, com seus problemas, dores, tristezas e alegrias, garantir que sobreviva ao futuro. [...]. Trecho extraído da entrevista concedida pelo químico russo Prêmio Nobel de Quimica de 1977, Ilya Prigogine (1917-2003), retirada da obra Conversações: entrevistas essências para entender o mundo (Cultura, 2008), de João Lins de Albuquerque.

PSICOLOGIA SOB O OLHAR DA SOCIEDADE - Celebração – porque a morte é uma festa, estamos aqui para festejar DU, Maria do Carmo Vieira. Festejando DU, festejo nossa morte cartesiana. Morrerei sem ter descoberto as ideias claras, nítidas e precisas que podem diferenciar, especificar os campos da psicologia, da psiquiatria, da psicanálise. Morrer desta ignorância fundamental. Morrer de não saber, mergulhado na nebulosa PSI, buraco negro de nosso cotidiano, de sociabilidade e incomunicações. Buraco negro acima e abaixo dos racismos, etnocentrismos e até das metarraças. Ninguém escapa pelas fendas da morte romântica. Região subterrânea e transcendental de luzes e sombras, iluminando os romantismos mais clássicos e pós-modernos. Obscuros e translúcidos subjetivismos, subjetividade e subjetivações. Qualquer livre associação pode nos conduzir – natural, intencional e intempestivamente ao tema-problema da loucura. Portanto, entre a livre associação e a ideia fixa, morro sonhando, pensando e penando, dispensando que todos os enigmas continuam girando em torno da palavra logos. L, a mesma letra inicial da loucura. Múltiplas conotações. Pensamos logos como tradução direta para lógica – mas de qual lógica tratamos? Da lógica formal ou da lógica dialética? Da lógica enquanto princípio de identidade ou da analógica com seus paradoxos e contradições. O logos nos situaria apenas entre conceitos e raciocínios? Logica discursiva, retórica, persuasiva, pedagógica? Apostamos que o logos da psicologia também nos surpreende enquanto perspectiva do imaginário, imagens e contraimagens, metáforas, jogo imprevisível de intuições. Intuição criadora de artes e ciências. Visão direta, instantânea, pré-conceitual, livre jogo de hipóteses. Intuição intelectual e volitiva que não se confunde com o fervor das intuições místicas. Nesse diálogo entre o intuitivo e o conceitual transitam os múltiplos saberes, percepções, olhares, visões de um logos do senso comum, da sabedoria prática, conjunto de fazeres e aprendizados de nossa sociabilidade. Morremos e renascemos entre laços e lâminas. Nós cegos e luminosos das crenças, do senso comum, das intuições mais nítidas ou delirantes, desejando uma racionalidade mais aberta, experimental, descentralizadora. Experimentando, por um lado, as ambiguidades, entre o empirismo, o positivismo dos testes e medidas; e, por outro lado, o intelectualismo das racionalizações. Tudo continua sendo visto, olhado, escutado, tocado, presenciado como expressão dos mecanismos de defesa, das percepções seletivas, hábitos herdados, memorias roubadas, tradições revisitadas e consumidas. Continuamos morrendo e renascendo diante das tramas, segredos, mistérios, mitologias, desvelamentos e desocultações de nosso inconsciente, desejos dilacerados, frustrações messiânicas, recalques do papai e mamãe, sublimações holísticas, fantasias de poder, fantasmas do não saber. Morremos e renascimento festejando simultaneamente a “impenetrabilidade dos seres humanos” e o projeto de sermos interdependentes, intercomunicantes. Dentro e fora desse logos polifônico, pluralista, democratizador, qual o olhar da sociedade sobre a psicologia? Muito mais do que uma ótica, imaginamos uma semiótica de afetos ambivalentes. Eu odeio, eu adoro numa mesma oração: na música Baioque do Chico Buarque. Dor e delícia, dilema de sermos outros caetanos. Infinitamente Chico César da Paraibarroca. Semiótica da cruel beleza pela longevidade dos tropicalistas. Todas as dúvidas permanentes, agora e permanecendo. Todos os casos e ocasos. Você é Lindair no processo PSI de ir e vir. Rosa de todos os jardins. Seres talvez impenetráveis, mas interpenetradores e intercomunicantes. Por isso descartemos o olhar semiótico, arrogante, dilacerado, benevolente, autoconsolador, ridículo, idiota e genial da sociedade e seus mais sábios intérpretes. Salve-se quem souber do enigma das carências, desamparos, angustias, solidões: situações-limite da loucura. Extraído da obra A língua dos Tres Pppês: Poesia, politica e pedagogia (Sesc-PE, 2012), de do poeta, professor, cineasta, filósofo e agitador cultural Jomar Muniz de Brito, organizado por Antonio Edson Cadengue e Igor de Almeida Silva.

CALUNGA - [...] Para isso tanta desgraça planejada, banguês comidos, senhores reduzidos á miséria, e atrás de tudo o homem do eito, da bagaceira, das limpas, das fornalhas, cambiteiros, metedores de cana, caldeireiros, trabalhadores de enxada, mal alimentados, mal vestidos, descalços, trabalhando noite e dia pra aguentar o bangüê, para o bangüê ser devorado pela uzina e por sua vez o uzineiro ser devorado por U.S.A. Lula imaginava naquela hora clara o nativo esmagado pelas ferragens dos engenhos, os tríplices efeitos e as turbinas e vácuos das uzinas, e em cima disso tudo de quebra, trens da Inglaterra, e automoveis dos Estados Unidos. [...] Saltando no planalto, em cima da cidade, resolveu ir mesmo a pé, para ir sentindo devagarinho o prazer de encontrar depois de tanto tempo os recantos saudosos e surpreender-se com as modificações que pensava se tivessem realizado na sua ausência. Nada. Tudo andava no mesmo. Era de manhã e ele pôde ver o antigo Sol nascendo na lagoa lá longe no mar. O casario, os caminhos, a cidadezinha, as olarias, embaixo, tudo tinha a mesma cara, como se aquelas coisas fugazes tivessem adormecido, e acordassem agora com o velho Sol. Lula diminuiu mais as passadas, olhando demoradamente a cidade despertando [...] Sururuzeiro esquentadinho de sezões via o mundo diferente, o sol com outra cor, a lama chegava a possuir seus afagos apalpando os pés de frieira, abarcando os sexos, oferecendo uns gozos muito diversos dos da carne, o incesto com a mãe-terra se dava de todo jeito, comendo a velha, machucando-a, sentindo-a sexualmente pela pele, num mais vasto prazer sexual, por todos os nervos do corpo. A lama generosa maternalmente oferecia o sururu que ela gerava em seu seio, como guardando o nutrimento debaixo do cabeção para a fome dos filhos fracos. [...]. Trecho extraído do romance Calunga (Livraria Globo, 1935), do médico, escritor, tradutor e pintor Jorge de Lima (1893-1953). Veja mais aqui.

A BALADA DO DESESPERADO - — Quem bate à porta a tais horas? / — Abre, sou eu. Quem tu és? / Não se entra na minha casa / Tão tarde assim, bem o vês. / — Abre. — Teu nome? — Há geada, / Abre. Teu nome? — És tardio! / Qual é teu nome? — Ai, na cova / Um morto não tem mais frio. / Eu caminhei todo o dia / Do sul ao setentrião, / Ao pé da tua lareira / Quero sentar-me — Inda não! / Diz teu nome... — Eu sou a glória / E aspiro à posteridade... / — Passa fantasma irrisório... / — Ó dá-me hospitalidade! / Eu sou o amor e a esperança / As duas porções de Deus... / — Segue a estrada... A minha amante / Há muito me disse adeus! /— Eu sou a arte e a poesia, /Proscreveram-me... Abre! — Não! / Já não canto minha amante. / Nem sei que nome lhe dão!... / — Abre, que eu sou a riqueza, / E trago do ouro o fulgor, / — Posso dar-te a tua amante... / — Podes dar-me o seu amor? / — Sou o poder, tenho a púrpura. / Abre a porta! — Anelo vão! / Podes trazer-me a existência / Daqueles que já não sâo?! / — Se tu não abres teus lares / Senão a quem diz seu nome / Sou a morte! trago alívio / P'ra cada dor que consome! / Podes ver, trago na cinta / Ruidosas chaves fatais... / Abrigarei teu sepulcro / Do insulto dos animais. / — Entra, estrangeira funérea... / Perdoa à mendicidade, / Porque é no lar da miséria / Que tens hospitalidade. / Entra; cansei-me da vida / Que nada tem que me dar... / Há muito eu tinha desejos / (Não força) de me matar! / Entra no lar, bebe e come, / Dorme, e quando despertares, / Para pagar tua conta / Hás de levar-me aos teus lares. / Eu te esperava, eu te sigo... / Vamos... arrasta-me... assim... / Mas deixa o meu cão na terra / P'ra eu ter quem chore por mim! Poema do poeta e romancista francês Henri Murger (1822-1861).

A ARTE DE MAURÍCIO SILVA
A arte do artista Maurício Silva.


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