TANTO FALAM, NADA DIZEM – Imagem: Market at minho (1915), da pintora,
designer, figurinista e cenógrafa ucraniana Sonia Delaunay (1885-1979). - Barulho na plataforma dos que vão; se em vão,
ninguém sabe, estão nas mãos do destino: sempre dessa pra melhor nos olhos. Os
que chegam estão do outro lado. É tudo muito buliçoso: passadas, motores, vexames,
expectativas, temporal de emoções. Uma criança chora, teima, negam-lhe o
brinquedo, talvez impróprio ou razões de pais, não sei, talvez caprichos de
ordem, não sei, logo cedem e ela se cala, só quer brincar pro alvoroço deles e
inquietude dela. Filas abundam, algumas logo se desfazem; outras se alongam
como serpentina, desorganizadas, a esperteza garante a melhor acomodação,
cochilou, ah, o cambito seca e o cachimbo já era no vacilo. Os dedos ágeis
teclam ao celular, blá bláblás silenciosos; outros nem tanto, parecem arengar
por um jogo e xingam, e mangam, e se revoltam, não dá pra entender direito, só
que se exaltam e depreciam ao julgarem as mutretas e os azares. Do outro lado,
uma mulher exaltada fala de pais, irmãos, parentes, a incompatibilidade
consanguínea, as extravagâncias de desafetos, o egoísmo de aproveitadores. Uma
outra sorri contando da festa, da abundância de afetos e disposições, do charme
e das inadequações, do glamour e do desperdício, das bonitezas e feiúras às
gargalhadas e tome conversa. Mais outra quase bela e requintada, expressa a sua
fé ufóloga com aleluias à espiritualidade. Um bêbado atrapalha: motorista, tira
o pé do bolso, rapaz, senão a gente num chega nunca! Detecto o som de uma música
gospel, louvam a fé enquanto tudo balança entre curvas e manobras. O cobrador
impaciente tenta cochilar na catraca, assaltado pelas chegadas dos seguem
viagem: o retorno ao lar, ou ao serviço, ou fuga, ninguém sabe, só que todos
vão, se em vão, não sei, estou atento ao movimento na minha desatenção. Na
minha espera da minha vez, fixo no que pouco importa a todos, pra mim uma
experiência, coisas da impaciência de querer flagrar o aleatório. Sei, idas e
partidas, cada qual, nada igual; tanto falam, nada dizem. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja
mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do virtuoso guitarrista, violonista,
arranjador, compositor e produtor musical argentino Victor Biglione: Búzios Live, Electrac musician & Baleia azul; da
cantora britânica Jesuton: Home, Us & Ket’s get ir on/Sexual healing; &
muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA –[...] Aquele que não tem mais um lugar específico,
está bem situado, para reencontrar em si as raízes de sua relação universal.
Pensamento extraído da obra I Ching – O livro
das mutações (Pensamento, 1997), reunião efetuado de textos da sabedoria
chinesa, reunidos por Richard Wilhelm (1874-1939), com prefácio de Carl Gustav
Jung (1875-1961). Veja mais aqui, aqui e aqui.
O NÃO-SABER DESNUDA – [...]
É preciso. Será isto gemer. Não sei mais.
Aonde vou? Para onde se dirige essa nuvem de pensamentos, insossa, que imagino
semelhante ao sangue de serpente numa garganta ferida. Insosso, não amarga
(mesmo no pior desarranjo, continuo alegre, aberto, generoso. E rico, rico
demais, essa goela rica de sangue...). [...]. Trecho extraído da obra A
experiência interior (Autêntica, 2016), do
escritor francês Georges Bataille (1897-1962). Veja mais aqui, aqui e aqui.
BUNDAS DE FORA – [...]
Foi Leila Diniz, eterna rainha da Banda
de Ipanema, quem imortalizou, nos anos 60, o ótimo Bar Capelinha da Gávea, um
pé-sujo no larguinho [...] que hoje
ostenta o nome de Otto Lara Rezende [...]. É possível o menor boteco da cidade, só cabendo cinco fregueses em pé. Leila,
que não tinha papas na língua, desfechou: “Porra, quando a gente bebe aqui,
fica com a bunda de fora”. A frase pegou, tanto que o Brandão, o dono, mandou
botar no letreiro. Acontece que os milicos [...] em nome da tradição, família e propriedade, mandaram mudar o nome. O português
botou “B... de fora”. Os milicos acharam pouco e finalmente ficou “...de fora”;
[...]. Trecho extraído da obra Confesso
que bebi – Jaguar de bar em bar (Record, 2001), do cartunista Jaguar. Veja mais aqui e aqui.
POEMA – Foi com Ninico que voltei a dizer te ami. / Duas, três vezes por dia eu
dizia eu te amo. / Como uma hemorragia, uma torneira aberta na pia. / Depois
fui deslocando meu eu te amo para quase tudo./ Era Copa do Mundo e a seleção se
tornou meu Ninico. / O mundo se tornou meu Ninico. / Hoje quando amo / Nem digo
eu te amo, eu digo: você é meu Ninico. / Nem digo eu te amo, eu digo: Você é
meu Ninico. / Ninico era um gato preto vira-lata que já foi gato de rua.
Poema extraído da obra Desato (Record, 2006), da poeta, filósofa, psicóloga e psicanalista capixaba, Viviane
Mosé. Veja mais aqui.
A ARTE DE SONIA DELAUNAY
A arte da pintora, designer, figurinista e cenógrafa ucraniana Sonia Delaunay (1885-1979).
&
A
gruta do amor, o cinema de Francis Ford Coppola, a música
de Jonatha Brooke, a arte de Kelli di
Bertolli & Luciah Lopez & Sydia Araújo Lopes aqui.