quinta-feira, março 29, 2018

THIAGO DE MELLO, THOMAS MANN, HOTTOIS, PASOLINI, JENNY HOLZER, VANGELIS & ASTRUD GILBERTO, HOLÍSTICA & EDUCAÇÃO, NALAH & ADERBAL

Imagem: Rua Corona, da artista neo-conceitual estadunidense Jenny Holzer.

O ESTRANHO AMOR DE NALAH & ADERBAL – Imagem: foto da poeta, artista visual & blogueira Luciah Lopez - Aderbal é um cururu pra lá de folgado. Todo embecado de fraque, bengala e gravata-borboleta, o que já namorou de jias, rãs e pererecas, afora duas jabutis, três lagartixas, uma calanga, três coelhas, duas ratazanas e uma cobra que não caiu no papo dele, tirante tudo isso, ele ainda apronta das suas e se embola às gaitadas de caçoar lorota com o compadre Asdrubal. Até então, nunca passou apertado, sempre se saindo ileso de todas as investidas de seu topete destemido. Agora não, o cabra entrou num imprensado de não ter mais jeito, do compadre Asdrúbal, ao encontrá-lo todo meio que mocorongo de farol baixo, gritar logo: Anda sumido, né compadre? Nada, compadre, é que a madame lá de casa é danada de braba. É mesmo? Não tem mais aprontado? Ela num deixa, colada em cima, qualquer trastejado meu, ela chega com bafo de anteontem. Como é que pode? Oxe, se é, nessa me lasquei. Lascou-se mesmo. É que a dita cuja é uma filha de pitbull red nose com cão labrador, imaginem a fera. Deu pra conferir: irmã de doze malsinados, tudo pedra ruim que nem ela, o que já empenaram na vida de gente e de bicho, não dá pra contar. O brinquedo dela é caçar o que passar vivo pela frente, buliu no mato, ela corre atrás e já aleijou uns tantos sabiás, João de Barro, cobra, lagarto, a peste! Um dia ela mordeu um ouriço e ficou com uma carreira pra mais de quarenta espinhos na boca, língua e focinho, metendo-se a querer beijar o Aderbal que fugia que nem doido corre da maldição. Pois bem, um dia lá, uma distinta senhora achou de acomodá-lo numa vasilha d’água num canto da sala, do amostrado ficar ancho lá, só soltando bolinhas. Ele nem sacou que do lado dele havia outra vasilha carregada de ração. Quando ele viu o bafo da monstra devorando a comida, ele ficou todo encolhido só soltando lorota: Uma dessa eu dou jeito. Ela olhou pra ele pelo canto do olho, ronronou de desprezo e manteve-se comendo. Ele arremedou: Uma dessa eu caso, domo e mando ver. Foi aí que ela foi tomar água na vasilha dele. Eita! Quando viu a lapa de língua da brabona, não teve dúvidas, ficou de papo pro ar, dizendo: Vá, assim eu gozo. Chupe, minha filha, chupe. Nalah invocou-se e deu-lhe uma focinhada dele ficar vendo estrelas. A-rá, gritou ele: gostei da felação, amanhã venha de novo, minha filha. Passou. No outro dia, ele lá: Se me der mole eu domino. Nalah nem aí. Ele insistia afinando a goela deitando árias, óperas e operetas pra cima dela, até o dia em que ela arretou-se, pegou-lo pelo rabo e arrastou-lo pendurado pra casinha dela. Agora que quero ver. É que ela havia arrumado um cantinho cheio de galhos e matos para deitá-lo lá, foi ver se o atrevido era de mesmo ou só de faro. Oxe, Aderbal tremia encostado e ela só na provocação. É macho mesmo ou só se faz? Ela danou-se a requebrar, esfregar o rabo nele, alisar as patas, ficar roçando o couro, a ponto dele gritar de quase morrer sufocado: Assim também é demais também, ora! E como é que você quer? Ah, se ajeite estirada e deixe que eu faço o serviço! Arrepara só. Ela pagou pra ver: deitou-se e ficou lá se fingindo de morta. Num é que o Aderbal criou coragem e saiu fuçando nas partes pudendas dela, maior ajeitado, cai mas num cai, se enrola todo, se estica, se enfia, escorrega e ela já impaciente: Como é que é, hem? Num se avexe que ainda nem botei a cabeça! Ela lá com ele no meio e no maior caqueado. Lá pras tantas, todo lambuzado, ele sai se limpando: E aí, moleza, gostou da minha performance? Ué, já terminou, foi? Já, queria mais é? Eu nem comecei a virar os olhos, quanto mais gostar disso que não senti nada. Eita! Ah, desse dia em diante, ela ficava: Vai, mostra aí que é macho mesmo, vai! E ele fazia de tudo e nada. Virou o brinquedinho dela. Ele já anda de olheiras, capengando quase sem voz, sem ânimo, cansado de dormir por horas nunca suficientes do dia todo, mas ali, comendo curto na rédea dela. Tome, sem-vergonho, agora quero ver você sair dessa. Bem empregado, vai se meter com o que não pode, acaba assim. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do músico e compositor grego Vangelis: Mask, Love Song & com Jon Anderson; da cantora Astrud Gilberto: ZDF Jazz Club, 24 Canciones & I haven’t got anything beter to do; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Assim como a ciência teórica podia ser chamada de pura e inocente, a tecnociência, ao ser, essencialmente, atividade produtora e modificadora do mundo, não é nunca totalmente inocente. A práxis é eticamente problemática. As questões éticas se colocam, hoje, no nível da investigação chamada básica, devido ao que o projeto de saber é fazer e poder. [...] Pensamento extraído da obra El paradigma bioético: uma ética para la tecnociencia (Antropos, 1991), do filósofo belga Gilbert Hottois, autor de obras de filosofia contemporânea atinentes à ética, linguagem, ciência e técnica. A respeito da clonagem (Human Reproduction Update, 1998), o autor considera alguns aspectos fundamentais que envolvem a questão, como a autoidentidade e a alteridade, a instrumentralização, da determinação no que concerne à liberdade e a autonomia do ser.

HOLÍSTICA & EDUCAÇÃO – [...] os pensadores holísticos reconhecem que há uma parte misteriosa e imutável em toda pessoa, que transcende os sintomas físicos, psíquicos e o próprio condicionamento social. É a dimensão espiritual. Se somos parte integrante do Ser, algo permanece necessariamente após a temporalidade de nossa existência para se integrar na totalidade cósmica: fonte de todo o significado e inatingível intelectualmente. A espiritualidade nos orienta à compaixão universal no sentido de profunda solidariedade com toda a humanidade e à comunhão com todos os demais seres. Educar holisticamente, portanto, é estimular no aluno o desenvolvimento harmonioso das dimensões da totalidade pessoal: física, intelectual, emocional e espiritual. E esta, por sua vez, participa de outros planos de totalidade: o comunitário, o social, o planetário, o cósmico. Todos estes planos devem ser desenvolvidos concomitantemente no processo educacional. Não se entende o homem somente a partir de si mesmo, como centro e senhor da natureza, mas como parte de um todo. Questões como autoconhecimento, liberdade, realização, justiça e paz são enfocadas, levando sempre em conta o contexto da interdependência dos fenômenos, nos diversos planos sistêmicos dos quais o homem é parte. A vivência comunitária é fundamental no desenvolvimento do indivíduo. O sentido da vida comunitária está na mais intensa e genuína interação entre as pessoas. Ela, muito mais do que as normas e leis, é estimulada pelo sentimento de philia (amizade), de que falavam os gregos. A qualidade das relações comunitárias, seja na família e/ou mesmo em outros grupos sociais, deve proporcionar o equilíbrio entre os interesses individuais e os coletivos, garantindo assim a diversidade e a individualidade na interação do grupo. No plano social está nossa dimensão de ser histórico. Participamos da sociedade humana e, portanto, temos nossa parcela de responsabilidade na história por ela construída. A ação política do homem deve se pautar na solidariedade e na cooperação, visando um desenvolvimento sustentado que possinilite a sobrevivência das gerações atuais e futuras. A totalidade planetária nos traz a consciência de que não estamos simplesmente habitando a Terra, mas fazemos parte integrante dela assim como os outros animais, os vegetais e os minerais. Nosso planeta é um complexo harmonioso, um sistema vivo auto-regulável, um oásis de vida na vastidão do universo. Todos os seres da comunidade planetária são igualmente importantes para a vida de Gaia. [...]. Trechos extraídos da obra A canção da inteireza: visão holística da educação (Summus, 1995), do professor e pesquisador Clodoaldo Meneguello Cardoso. Veja mais aqui, aqui e aqui.

UMA LENDA HINDU - [...] Naquela época em que a memória se originava nas almas dos homens, assim como a taça do sacrifício lentamente se enche de sangue ou de inebriantes poções, quando o colo da austera piedade patriarcal se abria, a fim de receber a semente da era primeva, e a saudade pela Mãe cercava símbolos antigos de renovados tremores, fazendo com que aumentassem as procissões de peregrinos, que acorriam na primavera às moradas da grande Nutriz do Mundo — foi naquele tempo que dois jovens, pouco diferentes quanto à idade e à casta mas bem diversos com relação ao seu físico, travaram entre si íntima amizade. O mais jovem chamava-se Nanda, e o outro, pouco mais velho, Shridaman. Aquele contava dezoito anos, ao passo que este já completara vinte e um. Ambos, cada qual no seu dia, haviam sido cingidos com o cordão sagrado e acolhidos na comunidade dos que nasceram duas vezes. Eram naturais da mesma aldeia dotada de um santuário, a qual tinha o nome de Bem-Estar das Vacas. Por indicação dos deuses, fora instalada no seu lugar na terra de Kosala, em tempos remotos. [...] Tudo isso agradava a Shridaman, sempre que comparava o amigo com sua própria pessoa, que tinha no semblante e nos membros alguns matizes mais claros, além das diferenças de fisionomia. O cavalete de seu nariz era fininho, qual lâmina, e ele tinha olhos que revelavam meiguice nas pupilas e nas pálpebras, enquanto nas faces crescia, em leque, uma barba macia. Também eram macios os membros, absolutamente não enrijecidos pelos ofícios de ferreiro e pastor, e mais se assemelhavam aos de um brâmane ou de um comerciante, com o tronco estreito, levemente balofo, e um pouco de gordura na região da barriguinha. Mas, fora isso, não deixava de ser perfeito, de joelhos e pés delicados. Era um corpo que muito bem podia servir de complemento e acessório a uma cabeça nobre, inteligente, à qual, no conjunto, coubesse ser a parte mais importante, ao passo que, no caso de Nanda, o corpo constituía-se no essencial e a cabeça não passava de um acréscimo agradável. Somando tudo, os dois se pareciam com Siva, na sua dupla manifestação, quando, ora como barbudo asceta, fica prostrado, feito morto, aos pés da Deusa, ora ereto, encara-a de braços estendidos, qual efebo em plena flor da mocidade. No entanto, eles não formavam uma unidade, ao contrário de Siva, que é a vida e a morte, o mundo e a eternidade no seio da Mãe, senão representavam sobre a Terra dois seres diversos. Por isso, eram um para o outro semelhantes a ídolos. Em ambos, o sentimento do eu e do meu entediava-se de si próprio, e, embora soubessem que, na realidade, tudo é um composto de imperfeições, espiavam um no outro justamente aquilo que os tornava diferentes. [...]. Trechos da obra As cabeças trocadas: uma lenda indiana (Nova Fronteira, 1988) do escritor alemão e Prêmio Nobel de Literatura de 1929, Thomas Mann (1875-1955). Veja mais aqui.

OS DO AMORO nosso amor só se acaba / se for para começar. / Te perdes longe de mim, / para poder me encontrar. / Todo fim sabe a começo. / Na fundura do teu peito / dorme a clave do milagre / cujo segredo mereço. / Sozinho mais te proclamo / a pessoa preferida. / Asa de graça, pendão / no vento, estrela da vida. / Que te cante a paz no peito. / Não é benção para mim, / que perto estou já do fim. / Te quero tanto, que tanto / dentro de ti me perdi. / Só por sonhar que erga voo / de pássaro prisioneiro / a luz que lateja em ti. Poema Embalo de rede, extraído da obra Campo de milagres (Bertrand Brasil, 1998), do premiadíssimo poeta amazonense Thiago de Mello. Veja mais aqui e aqui.

A ESFINGE DE HOJE
[...] Na luta contra a exclusão, mesmo antecipando a vitória do capitalismo, o desafio de decifrar o enigma da esfinge poderia representar o caminho da salvação dos povos oprimidos [...]. O monstro devorador deste mundo corrompido e implacável de hoje não é a esfinge de Tebas da antiguidade, mas o capitalismo selvagem, a desenfreada sociedade de consumo, a barbárie que marginalizou os povos, favelizando-os [...]. Na minha opinião, essa sociedade de consumo está anulando a identidade pluralista, a identidade regional, sem fundamento em parte alguma. É a destruição da alma e da esperança do homem mais puro. Essa a maior ameaça. E acontece em todas as sociedades [...]. Trechos da entrevista A última palavra de Pasolini, concedida pelo cineasta, escritor, jornalista e professor italiano Pier Paolo Pasolini (1922-1975), extraído de Conversações (Cultura, 2008), de João Lins de Albuquerque, quatro dias antes de ser brutalmente assassinado no dia 02 de novembro de 1975, em circunstâncias que continuam gerando polêmica até hoje. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

Congresso Entre Mares: a literatura, leitura do mundo & muito mais na Agenda aqui.
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É nela o festival de Ishtar, Lenda Bororo, a música de Astrud Gilberto, a escultura de Wayland Gregory, a arte de Amadeo de Souza-Cardoso & Maria de Lourdes Oliveira aqui.