quinta-feira, março 01, 2018

SIENKIEWICZ, BURFORD, CASTAÑEDA, MILLÔR, DELEUZE, BERGSON, TONINHO HORTA, RUTH KLIGMAN, HARBSMAIER, IKUKO KAWAI, MULHERES & INCLUSÃO

É DUM DIA PRO OUTRO QUE A GENTE VAI VIVENDO – Imagem: arte da pintora abstrata estadunidense Ruth Kligman (1930-2010). - UMA: DO MUITO QUE APRENDI PRO NADA QUE SEI - Muito aprendi na vida! O resultado? Qual Sócrates, aprendi nada de nada, desaprendi para aprender. Sim, tive que desaprender de tudo, nada do que tinham garantido por líquido e certo, apenas parecia, jamais seria verdadeiro. O que me deram por definitivo, era só efêmero. O que me disseram por eterno, era para lá de falso ou, no máximo, instantâneo, triz, já era, areia ou nuvem levada ao vento. O que me ensinaram, quando fui ver, era o contrário, quando muito apenas o que queriam que eu soubesse do que sabiam. Ou pior: que acreditasse na mentira que inventaram. Tive por mim que brincar de certo e errado, até saber que cara ou coroa é só jogo. Daí, tive que aprender a conviver com o paradoxal e a contradição: o que é, não é; o que não é, é; ou não, talvez. Desdenhei do ortodoxo, fui até onde deu a heterodoxia e nada me satisfez porque o defendido era só ilusão ideológica, prisão do maniqueísmo na fúria sectária. Até então o que havia decorado e aprendido, na prova dos nove, valia nada, zero na estaca. Tive que me refazer dentro do desconforme, e me reinventar fora dos moldes, ousar e renascer fora do convencionado. Por consequência, o que eu tinha por direito, foi tomado; o que tinha por meu, não era, sabia que nem nada nem ninguém poderiam ser de quem quer que fosse. Aí duvidei de tudo, graças a Deus! E não queria apenas mais o que ouvia meus ouvidos, ou o que tocava às minhas mãos, ou saboreava minha boca, ou cheirava meu olfato, sabia já a lição que os olhos me negavam, pois para que eu veja não preciso de olhos abertos e para que eu ouça não preciso ouvir o que dizem e para que eu diga não preciso falar e para que eu saiba dos cheiros não preciso senti-lo pelo nariz, foi o que me ensinou William Blake: Ver um mundo em um grão de areia e um céu numa flor selvagem, é ter o infinito na palma da mão e a eternidade em uma hora. Não preciso de nada, nem preciso ser nada, nem saber nada, sou o que me basta e voo além. OUTRA: ZÉ-CORNINHO & A COMADRE MORTE – Zé-Corninho parece que não tinha mais um pingo de juízo pra remédio. Achando pouca a bruguelada, inventou de emprenhar a mulher e aumentar a filharada. O problema era arrumar padrinho, ninguém queria ser mais seu compadre. Os nascidos eram todos devidamente batizados e apadrinhados, uns trinta e três, acho, coisa que ele não acertava contar, depois dos quinze parecia que tinha mais e se perdia recontando. Danou-se! Era uma tuia de menino, dizem que nenhum dele de mesmo, tudo resultado da infedilidade das ditas esposas dele que fugiam no cangote de outros amantes. E como ele já tinha pra mais de dez casamentos, nem ele sabe, todas embuchavam e sacudiam os recém-nascidos nas costas dele pra criar. É tudo filho meu legítimo!, bate até hoje ele o pé, ninguém acredita e deixam pra lá. Acontece que o caçula estava para rebentar e sem padrinho arranjado pro batismo. Ele saiu angariando a um e a outro, todos se recusaram. Será possível? Ele não desistiu e saiu de porta em porta até estrada afora quando bateu de frente com a Morte. Olá, comadre, como é que vai? Vou bem, e você? A senhora, por um acaso, não aceitaria ser minha comadre batizando meu filhinho caçula? Claro que aceito, vamos fazer uma grande festa e garantir o melhor futuro pra ele! Oba! E assim foi, no dia certo, a parteira anunciou mais um pra coleção do Zé. A festa corria solta quando a Morte chamou o compadre do lado e cochichou: Agora vamos garantir o futuro da criança, você ficará rico, vai curar gente, só você me verá e, então, diante de um doente, se eu estiver na cabeceira é que vai ser curado; se eu estiver no pé da cama, é caso perdido. Certo e ajustado, lá foi Zé-Corninho curando o povo e ficando rico. Um dia lá um ricaço estava pagando uma fortuna para salvar o filhinho dele e quando Zé chegou lá, a comadre estava no pé da cama. Eita! Zé resolveu passar a perna na comadre, mandando virar a cama de ponta cabeça e a comadre ficou na cabeceira, obrigada a salvar. A Morte ficou possessa de raiva e jurou se vingar. Um dia lá a comadre resolveu pegá-lo na virada e foi convidá-lo para ir na casa dela: Eu vou, mas só se você garantir que eu volto. Garanto. E foram. Lá chegando Zé se deparou com um bocado de vela pelo chão, uma atrás da outra, encarreada. O que é isso, comadre? É a vida das pessoas na terra. Eita! Essa é do seu amigo fulano, aquela da sua amiga sicrana, essa outra do seu vizinho beltrano, e no meio da coisa Zé ficou curioso pra saber da sua: Qual? Aquela. Vixe! Um toquinho já se apagando. Ah, comadre, mas a senhora prometeu que eu voltaria. E vai voltar. Lá estava Zé em casa, morre mas num morre, até que fez um último pedido: Permita, comadre, que eu reze um Pai-nosso antes de morrer. Concedido. E ele começou a rezar e parou. Vamos, conclua a reza! Agora não, a senhora prometeu que eu só morreria quando terminasse a reza, só vou findar daqui uns cem anos. A Morte saiu injuriada, Zé estava sabido que só e passou-lhe a perna pela terceira vez. Aí um dia lá, anos e mais anos, Zé teve um desgosto danado e disse: Ah, só queria morrer agora pra não ver uma desgraça dessa! Mal terminou de dizer e a comadre já estava toda feliz do lado dele: Agora você me paga, compadre! Calma, comadre, eu não disse quando, só falei que queria e não quero, ora, ora. Rasgou a boca de novo. (Historieta apresentada nas minhas atividades de contação de história, releitura das lendas do folclore, baseada em material recolhido por folcloristas brasileiros). © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá é dia de especial com a música do compositor, arranjador, produtor musical e guitarrista Toninho Horta: Foot on the road, Durandi Kid 1 & 2; da violinista japonesa Ikuko Kawai: Jupiter form de Symphony The Planett, Exodus & Sun Flower; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Tu não podes ver o que não podes explicar. Trata de esquecer de tuas explicações e começarás a ver. [...]. Trecho extraído da obra A erva do diabo: as experiências indigenas com plantas alucinógenas reveladas por Dom Juan (Record, 1968), do escritor e antropólogo estadunidense Carlos Castañeda (1925-1998). Veja mais aqui e aqui.

OUTRA PRO DIADevemos ser gratos aos portugueses. Se não fossem eles, estaríamos hoje falando tupi-guarani, língua que não entendemos. Uma das muitas do escritor, dramaturgo, tradutor, desenhista, humorista e jornalista Millôr Fernandes (1923-2012). Veja mais aqui.

SACADA: O QUE NÃO DIZ NADA, DORME! - Um behuana (nativo da atual Botsuana, na África meridional) perguntou um dia que eram aqueles objetos sobre a mesa. Quando lhe foi dito que eram livros, e que esses livros contavam novidades, levou um deles ao ouvido e, como não ouviu nenhum som, disse: “Este livro não está me dizendo nada”. Pondo-o de novo sobre a mesa, comentou: “Será que está dormindo?”. Extraído da obra Invention of writing (Unwin Hyman, 1988), de Michael Harbsmaier.

COISAS DO SER HUMANO - [...] Nenhuma divindade, ninguem mesmo, a não ser um invejoso, se compraz com a minha impotência e com o meu desgosto, e toma por virtude as lágrimas, os soluços, o temor e outras coisas do mesmo gênero que são o sinal de uma alma impotente; mas, pelo contrário, quanto maior é a alegria que nos afeta, maior é a perfeição a que passamos, isto é, tanto mais participamos , necessariamente, da natureza divina. Por conseguinte, usar as coisas e delas extrair o maior prazer possível (não, é claro, até a saciedade, pois isso já não daria prazer) -, eis o que é próprio do homem sábio...Os supersticiosos, que gostam mais de censurar os vícios do que ensinar as virtudes, e que não se aplicam a conduzir os homens pela Razão mas a contê-los pelo temor, de tal modo que evitem mais o mal do que amem as virtudes, não pretendem outra coisa senão tornar os outros tão infelizes como eles próprios são; deste modo, não é de admirar que eles sejam, o mais das vezes, insuportáveis e odiosos aos outros homens. Trecho extraído da obra Espinoza e os signos (Rés, 1989) do filósofo francês Gilles Deleuze (1925-1995). Veja mais aqui.

DEPOIMENTO INCLUSÃOA inclusão é possível, sim, mas desde que todos se adaptem, pessoas com deficiência e sem deficiência. Não há dicotomia: nem só a sociedade se adapta ou só os portadores de deficiência. [...] É, principalmente, uma questão de educação, de formação. [...] Porque é difícil: o ser gumano não sabe lidar e não sabe tratar com o que não conehce; sua tendência é agredir. É também necessário estar sempre trabalhando poara o preparo emocional de todos, pois há uma tendência ao boicote, da pessoa portadora consigo mesma e dos outros em relação a ela. [...] Porque é conversando, abordando, falando que essas questões serão desmistificadas, e a sociedade poderá se tornar inclusiva. Trecho de Um depoismento sobre Inclusão, de Gabriela de Chevalier, portadora de hemiparisia, formada em História e Design & Estilo, extraído da obra Transversalidade e inclusão: desafios para o educador (Senac, 2009), organizado por Rosane Carneiro, Nely Wyse Abaurre, Monica Armon Serrão et al. Veja mais aqui e aqui.

A EVOLUÇÃO CRIADORA - [...] Todos os seres vivos estão ligados, e todos cedem ao mesmo formidável impulso. O animal tem a planta como ponto de apoio, o homem cavalga na animalidade, e a humanidade inteira, no espaço e no tempo, é um imenso exercito que galopa ao lado de cada um de nós, à frente e atrás de nós, numa arremetida capaz de vencer todas as resistências e de atravessar todos os obstáculos, talvez até a morte. [...]. Trecho extraído da obra A evolução criadora (Delta, 1964), do filosofo francês Henri Bergson (1859-1941), Prêmio Nobel de 1927. Veja mais aqui.

DEVEMOS SEGUI-LO - [...] Cina ainda era demasiado moço para que a vida para ele perdesse toda atração. E a filha de Timão, Antéia, acabou por deixá-lo totalmente escravizado. Anteia não era menos formosa que seu pai, em toda Alexandria. [...] Timão não permitia que ela vivesse encerrada em um gineceu, como as demais mulheres. Dera-lhe uma instrução tão alta quanto podia. [...] Era companheira de Timão em todas as elucubrações. [...] O velho sábio amava-a enternecidademente. [...] Quando Cina a viu, pela primeira vez, teve impetos de erigir para ela um altar no atrio de sua casa e sacrificar pombos em sua honra. Havia conhecido inúmeras mulheres em toda sua vida. Desde as jovens do norte, cujos cílios tinham a cor do trigo maduro, até as da Numídia, negras como as lavas. Mas, até ali, jamais havia encontrado tal beleza nem tão pura alma. Quanto mais a via, mais a admirava. Quanto mais a ouvia falar, mais supreendido ficava. De tal forma se sentia enfeitiçado pelo seu encanto que, às vezes, embora nãoa acreditasse em deuses, surpreendia-sae pensandop que talvez Anteia não fosse filha de Timão e sim de algum deus. [...] Anteia era diferente de outras mulheres. Desejou que fosse sua, para poder adorá-la. Para obter tal favor estava pronto a dar a própria vida. Para ele, valia mais ser pobre, junto dela, do que ser poderoso como César, sem ela. O amor apossou-se dele com a mesma força com que um remoinho se apoderava de quem se aproxima de seu circulo. De tal forma o dominava, que absorvera seus pensamentos, sua alma, seus dias e suas noites. Nada mais existia para Cina senão o amor por Anteia. Por fim, Anteia também se sentiu atingida pelo mesmo sentimento. [...]. Trecho do conto Devemos segui-lo, extraído da obra O faroleiro & outros contos (Delta, 1962), do escritor polaco & Prêmio Nobel de Literatura de 1905, Henryk Sienkiewicz (1846-1916).

DOIS POEMASESTRELA: Estrela / companheira / se és compassiva / conosco irás junto / este ano e vamos vê-la / na glacial distância inteira / brilhante viva / a teus pés muitos. O FOGO: Nestes dias de inverno / a lareira acendemos: / sçao dois seres somente / a fazer sacrifício. / O nosso combustível: / os jornais deste dia ; frio devem servir / colaunas de palabras / e homens no local / escuro onde arde o fogo. / E colhemos então / e gentilmente pomos / as estilhas de pau / que nos restam, até / havermos erigido / uma espécie de pira / e tumba para a coisa / pesada a levantamos / nos braços, oferenda / ou criança, e a pomos / sobre as barras de ferro / junto agora acendemos ; e a besta salta viva / e ficamos de pé / sangrando com a luz. Poemas do poeta modernista estadunidense William Burford.

CIRANDA FEMININA NA MATA SUL
Acontecerá nesta quarta, às 10hs, na Biblioteca Fenelon Barreto, o lançamento do livro Ciranda feminista na Mata Sul: uma luta em movimento, publicação desenvolvida sob a coordenação do SOS Corpo e promovida pela Articulação de Mulheres da Mata Sul, sob a condução de Eliane Nascimento, Alexsandra Bezerra e Maria Solange do Rego. Veja mais aqui.

Veja mais:
Crônica de amor para ela, Senhora Magdala de José Condé, Magdalena de Pablo Milanés & Joaquín Sabina, Fonte, a arte de Ruth Kligman & Todo dia é dia da mulher aqui.
O Trabalho da Mulher aqui.
Saúde da Mulher aqui.
Kid Malvadeza aqui.
Tzvetan Todorov, Oduvaldo Vianna Filho, Os epigramas de Marcial, Jacques Rivette, Frédéric Chopin & Artur Moreira Lima, Sandro Botticelli, Carmen Silvia Presotto & Egumbigos no país dos invisíveis aqui.
Antonio Gramsci aqui.
Fecamepa, Psicologia Escolar, Sonhoterapia, Direito & Família Mutante aqui.
O Monge & o executivo, Neuropsicologia, Ressocialização Penal &Educação aqui.
Sexualidade na terceira idade aqui.
Homossexualidade e Educação Sexual aqui.
Globalização, Educação & Formação, Direito Ambiental & Psicologia Escolar aqui.
Federico Garcia Lorca aqui.
Aids & Educação aqui.
Sincretismo Religioso aqui.
Racismo aqui.
Levando os direitos a sério de Ronald Dworkin aqui.
Ética & moral aqui.
A luta pelo direito de Rudolf Von Ihering aqui.
Abuso sexual, Sonhos lúcidos, Antropologia & Psicologia Escolar aqui.
Cândido ou o otimismo de Voltaire aqui.
A liberdade de Espinosa aqui.
Cantarau Tataritaritatá: vamos aprumar a conversa aqui.
Todo dia é dia da mulher aqui.

A ARTE DE RUTH KLIGMAN
A arte da pintora abstrata estadunidense Ruth Kligman (1930-2010). Veja mais aqui.