segunda-feira, março 26, 2018

NIETZSCHE, FRANKL, PIERRE BOULEZ & LYNELLE JAMES, SHIRIN NESHAT, MÁRCIA BARBIERI & IREMAR MARINHO

SHIRIN, HERBERTO & MATRIZ DE CAMARAGIBE – Imagem: Women of Allah, da artista visual iraniana Shirin Neshat. - Passado de anos, quase nem lembrava mais disso. Ruas de sábado do Zé-pereira por Matriz de Camaragibe e um olhar de Shirin Neshat na esquina que passou. Quase nem vi no meu coração tipo escritor da ordem de pagamento dos Transcontos de Herberto. Olhei para trás e revi de relance, a Brasília do pintor Ângelo fazia voltas no meu sequestro, enquanto Gulu ajeitava o braquearo no porta-luvas e prometia goles carnavalescos. No banco de trás, meio que na maior sem graça, eu retomava a ler a injúria daquele que não recebia seus direitos autorais extraviados na burocracia bancária. Tal e qual eu amargava o bolso desendinheirado o meu constrangimento, uma folia a mais ou de menos, não fazia a menor questão. Para me animar, o Ângelo anunciava a chegada de Mauricinho lá de Brasília, a capital distante que nem ousava sonhar, há quanto que nem mais sabia. Ruas, becos, pra lá e pra cá, ao encontrá-lo deu pra farra de Gulu e fomos pro Timbungue com a sua piscina amarelo-mijo, rodadas de cervejas e pinga, tira-gosto de caju, tripa de porco, patas de caranguejo, sururu, e eu perdido com o olhar agora no fim do corredor, o mesmo da esquina que passei. Era sim aquele olhar. Não podia ser, mas era. Eu mais me perdia, música de Stravinsky no pé-do-ouvido, outras de dor-de-corno no coral quase ébrio sacudido pelo maestro agulha nas alturas. Cada qual sua ousadia, apostas de não sei quê, façanhas de trancoso, contos da carochinha, pilhérias e renhenhem. O olhar de antes, sim, aquele mesmo olhar agora num canto recostado flagrava o meu silêncio no meio do fuzuê dos que misturavam frevos de antanho com piadas cabeludas, prometendo mais tarde o desfile da macharia no Bloco das Virgens. Eu convocado pela trupe, dedilhar viola com dedinho de prosa, coisa que valha, não, não queria nada. A cabeça rodava nas rodadas da bebida em busca do olhar vigilante que mudava de lugar vez ou outra, enquanto um batalhão aos goles brindava o vira-vira-virou! A tarde se consumia com arroubos e bafafás. Lá pras tantas, cabeça cheia, álcool na canela esborrando acima das pestanas, mergulho sem saída no fundo da piscina. Não havia mais nada, era o meu abismo deslizando no piso, engolindo mais água do que devia. E duas mãos salvadoras me recolheram da despedida: rente aos meus, os olhos, sim, aqueles olhos embaixo do chuveiro. Era o que nem sei. Nem deu tempo de saber, cantávamos Noite dos Mascarados na boquinha da noite de Matriz de Camaragibe, anos de décadas atrás que se perderam no tempo e na lembrança. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do maestro, pedagogo musical, ensaísta e compositor francês Pierre Boulez (1925-2016): Le Marteau Sans Maitre, Structures I e II, Répons & Anthèmes 2; da pianista estadunidense Lynelle James: Sonata nº 4 Scriabin & Gaspard de La Nuit de Maurice Ravel; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Quantos homens sabem observar? E entre os poucos que o sabem – quantos observam a si próprios? Cada um é para si próprio o mais distante. [...] Os mais preocupados hoje indagam: ‘como se conservará o homem?’ Zaratustra foi o primeiro e único que indagou: ‘como se superar o homem?’[...] Isso pergunta e não cessa de perguntar: ‘como poderá o homem conservar-se melhor, mais longamente, mais agradavelmente?’ Com tal pergunta — eles são os senhores de hoje. Superai, meus irmãos, esses senhores de hoje — esses pequenos homens: eles são o maior perigo do super-homem. [...]. Pensamentos extraídos da obra Assim falou Zaratustra: um livro para todos e ninguém (1883-85), do filósofo e poeta alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900). Veja mais aqui.

LOGOTERAPIA - [...] A tese que nos serviu de ponto de partida: Ser homem é ser livre e ser responsável [...] a consciência e a responsabilidade constituem precisamente os dois fatos fundamentais da existência humana. O qual, traduzido numa forma antropológica fundamental, podia expressar-se assim: ser-homem equivale a ser-consciente-e-responsável [...] são os dois aspectos juntos e combinados que oferecem a imagem total e verdadeira do homem [...]. Trecho extraído da obra Psicoanálisis y existencialismo (Fondo de Cultura Económica, 1967), do neurologista e psiquiatra austríaco Viktor Frankl (1905-1997). Veja mais aqui.

O ENTERRO DO LOBO BRANCO – [...] Haverá um tempo em que penetrarei à força pelas extremidades do seu corpo lúcido me embrenharei nas ramificações dos seus vasos sanguíneos forçarei cada minúscula veia até encontrar a de maior calibre introduzirei minhas presas na sua jugular esperarei o sangue jorrar amordaçarei sua boca algemarei sua língua e depois te farei engolir meus pensamentos e quando você imaginar que está tendo uma ideia originalíssima destruirei os espelhos ao redor da sua casa e você descobrirá que o homem não passa de um simulacro pretensioso do monstro e o monstro habita embaixo da sua cama [...] Em poucos segundos minha garganta terá os músculos relaxados a respiração se tornará ruidosa e tomará o ritmo vagaroso dos animais agonizantes a presença dissimulada do estertor da morte meu coração não mais se repartirá entre ventrículo direito e ventrículo esquerdo a aorta não possuirá privilégio sobre as artérias menores meu membro conhecerá a lucidez das coisas flácidas e sem vida minha carapaça romperá com o mesmo vigor que se despedaçam as carapaças dos caranguejos azuis minhas pernas se quebrarão e sem ossos tomarão a forma de nadadeiras e eu poderei experimentar a letargia de mergulhar nas águas das cidades litorâneas enquanto cavalos marinhos copulam ao lado do meu corpo morto [...]. Trecho extraído do romance O enterro do lobo branco (Patuá, 2017), da escritora Márcia Barbieri.

UM POEMACuidado com a bandalheira, as olheiras! O poeta revolve o caldo, o saldo. O poeta mantém o sentimento, o pensamento Contra a máquina que devora as horas, Contra o massacre do homem pelo lobisomem. O poeta é carbonário, panfletário. Cuidado com a cordilheira da Mantiqueira! Cuidado com o Santuário do Rosário! Poema Ofício de advertência, do poeta, jornalista, publicitário e advogado Iremar Marinho. Veja mais abaixo.

ARTE DE SHIRIN NESHAT
A arte da artista visual iraniana Shirin Neshat.


O escritor Vital Corrêa de Araújo faz doação de livros à Biblioteca Fenelon Barreto, a poesia de Iremar Marinho & muito mais na Agenda aqui.
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Vivo & a vida com tudo e todos, o pensamento de Helena Antipoff, a música de Dominguinhos, a escultura de Gutzon Borglum, a pintura de Angel Otero, a fotografia de Roman Pyatkovka & Nayana Andrade aqui.