quinta-feira, janeiro 11, 2018

DOROTHY PARKER, CELSO FURTADO, CARRERO, ANGELITA CARDOSO, BOTOMÉ, AYRTON MONTARROYOS, LUISA MAITA, SILÊNCIO & GUIOMAR VERDUREIRA.

OS UIVOS DE GUIOMAR - Imagem: arte da pintora, desenhista, aquarelista e gravurista Angelita Cardoso. - Guiomar sempre foi jeitosa, nunca deixou cair a pose, todo dia na feira, vendendo verduras e montada na última moda. Sempre um decote profundo com um trancelim de ouro espremido entre os seios robustos, uma saia ligada com um lascão no meio de causar vertigem na marmajanda zarolha, ou uma calça justa desenhando suas formas abundantes e assimétricas de futucar endoidecimento no juízo de qualquer cristão, um sapato de salto alto e bico fino, maquiagem discreta aformoseando as faces, um batom vivo para realce dos lábios bicudos, pulseiras, anéis, fivelas, brincos, tiaras, chovesse ou maior calorzão, todo dia ela assim, vistosa, provocante, apetitosa. Ela já virou a cabeça da macharia toda, enviuvou de dois – dizem que ela matou-los, bateram as botas na horagá do teitei -, deixou três na rua da amargura – melhor dizendo, deram um carreirão da gota porque não agüentaram o trampo dela -, afora ter endoidado e desmoralizado muito cabra metido a priapo pras suas bandas. Hoje se dizendo swofty, uma loba que uiva dia sim outro sim, tem na ponta da língua o riscado: Homem só serve pra duas coisas, furunfar quando a gente quer e depois jogar fora. Pra mim, nenhum homem presta, todos calçam quarenta e andam só atrás do caqueado, responsa de mesmo, nenhum que sirva. Até meus finados maridos não tinham a menor serventia. Só os tive porque era jovem, ingênua, fui preaparada só pra casar. Soubesse disso antes, nunca tinha me casado. Vez ou outra aparece um intrometido cheio dos galanteios com buquê de rosas: Meu filho, pegue o beco, vá! Só na outra encarnação, tá! De fiu-fius insolentes às cantadas atrevidas, ela já anda cheia: Isso é que é pandeirão, dava preu tocar maior partidão! Arreda, Zé-Mané, isso não é pro teu bico, besta! Com uma dessa eu entrava no céu de nunca mais sair, podecrê! Sai pra lá, rancolho, tu num agüenta essa carga, sai-fora! Até gente de posse deitou maior fortuna e ela nem nem. Outros mais impertinentes, vão direto ao assunto: Ô coroa, dá pra gente dá uma voltinha aí nessa garupa tesuda? Ah, meu filho, cresça e apareça, você precisa de tutano pra dar uma voltinha nisso aqui, viu? Vê se enxerga, Zé-roela! Mas tem duas ou três coisas, afora outras que nem sei, que a tiram do sério. A primeira, quando toma uma, ela vai com força e cai de cabeça no pileque, aí abre a porteira do mundo e passa todo tipo de gente, de esmoléu a menino, chega fazer fila e ela lá prontinha e insaciável, pedindo mais e chamando um batalhão. Por isso é corrente tratá-la por ninfomaníaca. Outra é no dia seguinte, de ressaca: Eita, Guiomar, lá vem a chuva! Ela fica fula, levanta a saia e manda o intrometido pra puta que pariu expondo as partes pudendas. Virou folclore, todo mundo sabe: dia de ressaca, ela sai de casa toda arrumada e sem calcinha por baixo, devido um calor desgraçado na bacorinha. Basta dizer: Olha a chuva! Ela não deixa mole e passa recibo na hora: Olha aqui, seus fidapestes! A pior mesmo é quando dizem que os peitos dela é uma tuia de papel no sutiã. Não deixa por menos, arreia a blusa e expõe aquela fartura de seio, de todo mundo não querer desgrudar as vistas. Essa Guiomar é doida, dizem as outras mulheres enciumadas que nem chegam perto, sabedoras que são que se ela descer do tamanco, a coisa enfeia e tira a roupa toda, fecha o quarteirão e chama pra briga, seja quem for, de autoridade a pé-rapado, mulher ou velho. Ainda ontem de tarde eu vi o seu pisado forte rebolador pra cima e pra baixo. Que é que há, Guiomar? Hoje tô inheta! Fechei a tolda pra resolver a aposentadoria, não dou mais caldo. Oxe, que é que isso, mulher! Você ainda está com tudo em cima de não precisar nem se preocupar com isso por uns vinte anos ou mais. Você que pensa, meu filho, você que pensa, tô vencendo, a idade pesa, a validade deu prazo, além do mais homem hoje é pé de cobra, quando não desmunheca, só aparece salafrário cabra safado nas paradas. E não quis mais conversa, empinou o pau da venta, estufou o peito e saiu toda provocante às reboladas rua afora. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais com a música do cantor Ayrton Montarroyos ao vivo & em estúdio; da cantora e compositora Luisa Maita: Lero-lero & Fio da Memória; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] O que faz com que a presquisa tenha uma razão de ser é a sua efetiva contribuição para melhorar as relações das pessoas com sua realidade e as situações com que se defrontam, elevando a qualidade de suas vidas. [...]. Trecho extraído da obra Pesquisa alienada e ensino alienante (Vozes, 1996), do psicólogo e professor Silvio Botomé.

TEMPOS ATUAIS - [...] Necessitamos de instrumentos para remover os obstáculos à atividade criativa, venham estes de instituições venerandas que se dizem guardiães da herança cultural, de comerciantes travestidos de mecenas ou do poder burocrático. Trata-se, em síntese, de defender a liberdade de criar, certamente a mais vigiada e coarctada de todas as formas de liberdade. Portanto, essa terá que ser umaconquista do esfocço e da vigilância daqueles que crêem no gênio criativo do nosso povo. [...]. Extraído de Quando o futuro chegar (Companhia das Letras, 2001), do economista brasileiro Celso Furtado (1920-2004). Veja mais aqui.

SOMBRA SEVERA – [...] O corpo, o que restava do corpo em Dina, estava domado. Acostumado aos bichos, Judas não seria sufocado por uma mulher, por mais cruel e estúpida que fosse a luta. As saias levantadas, rasgadas, as roupas de baixo partidas, não pôde mais resistir. Sentiu-o, entre a dor e o prazser agonioso, os olhos tinham mais raiva do que doçura. Dina nainda queria gritar – e gritava: mas os gritos, ao contrário, entravam pela garganta. A mordaça prendia a boca, os dentes, a raiva, a alma. Quando Judas se levantou, ainda era o mesmo homem: o rosto taciturno, os olhos de cão medonho, cão que fareja presas pelos matos. Tendo concluído o trabalho – se era mesmo trabalho, luta ou prazer, retirrou a mordaça. Dina, violada, estava sentada no chão – o sangue era o sinal, tão pouco o sangue, as vestes denunciando a violência. [...] De dentro da sombra que antecede a luz, sentado no canto esquecido da sala, os olhos sofreram: quem estava saindo do banheiro, os cabelos molhados caindo sobre os ombros, a toalha na mão, era Dina. Saía nua, o corpo alto e esgio, coxas grossas, os seis pequenos que se sacudiam, ventre macio. Atravessou a sala, o perfume que se entranha no corpo. Não olhou para ele. Dina não o olhou. Uma visão, uma miragem. [...]. Era uma visão mágica e terna, não tinha dúvida, aquela de Dina, nua, atravessando a sala. E ela não parecia preocupar-se – ou fingia – com a presença do homem. Nem sequer sorriu – se é que as mulheres costumam sorrir quando ficam despidas. [...]. Extraído de Sombra severa (Iluminuras, 2004), do premiado escritor, crítico, editor e jornalista pernambucano Raimundo Carrero. Veja mais aqui.

RECITAL DE SINTOMASNão gosto do meu estado mental: / sou amarga, encrenqueira, indelicada. / Odeio minhas pernas, odeio minhas mãos. / Não espero mudar-me para terras mais agradáveis. / Temo a luz recorrente da manhã. / Odeio ir para cama à noite. / Torço o nariz ao povo simples e sério. / Não suporto a pilhéria mais inocente. / Não encontro paz na pintura ou nas letras. / Meu mundo é um monte de destroços. / Estou desiludida e tenho o coração vazio. / Seria presa se revelasse o que penso. / Não estou doente e nem sadia. / Meus sonhos... / Minha alma... / Não gosto mais de mim. Arrepio-me quando penso nos homens / devo estar me apaixonando novamente. Poema da da escritora, dramaturga e crítica estadunidense Dorothy Parker (1893-1967). Veja mais aqui.

SILÊNCIO
A peça teatral Silêncio, dramaturgia do Teatro D’Adega, com direção de Fabiana Monsaiú e elenco formado pelas atrizes Elis Menezes, Fernanda Gama & Paula Bega, retrata uma mesma mulher com suas respectivas vertentes, muitas vezes opostas umas às outras. Tem como fio condutor o silêncio, do qual ressoam tempestades, segredos e revelações.

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Pra quem só vê superfície, todo rio é sempre raso, o pensamento de Zygmunt Bauman, a música de Maria Azova, a pintura de Júlio Pomar & Anna Ewa Miarczynska aqui.
Convite no Crônica de amor por ela, Zygmunt Bauman, Sérgio Porto, Friedrich Hölderlin, Oswald de Andrade, George Gershwin, Anaïs Nin, Kiri Te Kanawa, Lucélia Santos, Pedro Almodóvar, Parmigiano, Penélope Cruz Sanchez, Sumi Jo & Luciah Lopez aqui.
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ARTE DE ANGELITA CARDOSO
A arte da pintora, desenhista, aquarelista e gravurista Angelita Cardoso.