sexta-feira, janeiro 19, 2018

BOOTSTRAP DE CHEW, LEMINSKI, SALMAN RUSHDIE,MAGDA TAGLIAFERRO, TURÍBIO SANTOS, VILMA CACCURI, LEWIS THOMAS, COACHING, SEVERINO, GIL & JUIZ.

A VIDA E A SORTE POR DOIS TOSTÕES - Imagem: arte da artista plástica e professora Vilma Caccuri. - A vida segue e tudo passa por um fio. Fé em Deus, pé no mundo. Dois tostões, apenas: um pra ida, outro pra volta. Mais nada. Em frente. Pra onde? Trapos todos, restinho de sobra à beira do precipício. Pra onde mesmo? Sei lá, seja o que Deus quiser. O centro é longe, bote lonjura nisso. Tenho de ir. Como? Vou. A ida, já era, só conta agora com o da volta. E foi: gente como a praga, pra lá e pra cá, vitrines, esbarrões, buzinadas, tá cego, é? Ah, meu, olha por onde anda! Pra lá ou pra cá, tanto faz. Na sorte: prali! Direção da venta. Um pé na frente, outro atrás, contando casa, passadas. Anda que só a má notícia. Volta. Não, melhor retornar. Pra onde é que eu vou, hem? Dobra esquina, apruma meio feio, uma topada, um safanão, na corda bamba, escorrega, mas não cai, se ajeite, vai e agora? Deu numa praça, ah, inda bem, um banco, melhor sentar pra aprumar as ideias. Sal na moleira, cheio de nó pelas costas. A existência toda revista, o que fez e o que deixou de fazer, os erros muitos, acertos, ah, isso é outra coisa, o que fazer agora é que é outra coisa, de mesmo não sabe, só que vai acertar em cheio, ah, se vai, tudo vai dar certo, não fosse um bêbado aparecer, atrapalhar tudo, sentar do lado e começar a falar num idioma estranhíssimo, coisa sem coisa, blábláblá, ih, só faltava essa, e tome lero de conversa oca, entendia nada, miolo de pote, até que passou uma bêbada com charminho provocante, dois ou três laralá e ele foi atrás, graças a Deus, agora podia retomar seus pensamentos e endireitar as ideias roubadas pelo intruso, ah, esqueceu um jornal amassado no banco, peguei, folheei, notícias, manchetes, fatos e páginas, ah, os classificados, deixe ver, hum, precisam disso, nada, aquilo, nada, mais isto, nada, vira a página, ah, tem vagas para isso, precisa-se de quê mesmo? Ah, vou nesse. Ei, moço, onde fica isso? Ei, sabe onde é isso aqui? Um, dois, quinze, vinte, muitos e uma alma perdida para, olha, pensa, imagina e diz: Tá de carro? Não. Vai de ônibus? Não posso, só tenho a volta, nada mais. Sabe onde é o fim do mundo? Sei, onde eu moro. É mais longe. Mesmo? Você pega ali, dobra acolá, depois pra direita, em frente, pega a esquerda, daqui mais ou menos umas duas horas indo reto, você chega lá. Duas horas? Sim, mais ou menos, talvez três. Eu vou. Obrigado. E foi mesmo. Léguas pra quem não sabe pronde ir é muito mais longe, a dobra de um beiço: ali. Andou, bote pé gastando solado, um dia chega. E tome chão. Meio dia em ponto, é ali, pronto, chegou, mais de duas horas e meia de caminhada, Sol na testa, o corpo lavado. Moça, é aqui que é aqui? É. Como faço? Tem hora marcada? Não. Trouxe currículo? Não. O que veio fazer aqui? Pelo anúncio. Tá, me dê os documentos dessa lista. Não trouxe. Volte amanhã. Não posso. Ah, meu senhor, assim não posso fazer nada. O senhor está vendo essa tuia de gente todinha aí sentada e aqueles todos lá fora em pé? Estou. É a fila que vai ser atendida. Eu topo. Topa o quê? Ir pra fila. Mas todos estão já agendados, com documentos acertados e prontos para serem testados. Estou pronto. O senhor não trouxe nada. Olhe eu aqui, estou pronto? Ah, meu senhor... Pelo amor de Deus, moça, me deixe ir pro final da fila, eu espero. Ah, vai lá, te vira! Obrigado. Fim da fila, trocentos na frente, 1, 2, 3, melhor não contar, deixa o barco correr, um dia chega a minha vez. Um por um, a vida toda, o primário, o ginasial, a merda que fez, o casório, as broncas, os negócios atrapalhados, o fim da picada, pegar o bonde, apostar o que tinha e o que não tinha, fé em Deus, pé na vida, e a tarde toda indo embora, lá pras tantas, chegou sua vez, a psicóloga: Cadê seu currículo? Não trouxe. Documentos da lista, não tenho, o que veio fazer aqui? Pelo anúncio. Tá, o que você sabe fazer disso aí, aprendi na escola. Experiência? Nenhuma. Tá. Pode ir. E o emprego? Vamos avaliar e a gente entra em contato. Mas sem anotar nada meu? A gente lhe encontra. Como? A gente usa o satélite, gravei sua cara e a gente lhe encontra e avisa o resultado. Mas dona psicóloga... o próximo... sou o último. Então, passe bem e até. Saiu e teve de sair, também. E agora? Já na rua, parou na calçada, a volta pronta no bolso, uma mão na frente e outra atrás. Futuro nenhum, desculpa nenhuma. O que vou dizer em casa? Oxe! Vou nada. Voltou, chegou à secretária: O senhor de novo? Minha senhora, por favor, deixe eu falar com o chefe! Você foi pra psicóloga? Fui. E ela não disse quando voltar? Disse. Então, atenda. Não, por favor, deixe eu falar com o chefe, é só uma pergunta e não lhe importuno mais. Eu tenho o que fazer. Eu sei, é só uma pergunta, não importuno mais, não posso, pelo amor de Deus, uma só, só essa vez, não posso, pelo amor dos seus pais, filhos, parentes ou aderentes que a senhora tiver, não posso, só dessa vez, mais nunca, só dessa, que peitica, é só dessa vez, por favor, tá. E discou: ã-ram, sim, hum, certo, sim, não, ok. Desligou e virou-se pra ele: ele virá. Aguarde. Chá de cadeira. Um tempo depois e bote tempo, um senhor de idade finalmente apareceu, tranquilamente: Quem quer falar comigo? Ele olhou pra recepcionista e perguntou: É ele? É. Sou eu. Pois não. Sabe, meu senhor, eu cheguei por esse anúncio, sou do Nordeste e estou em São Paulo sem saber o que fazer da vida e blábláblá. Tá. O que você sabe fazer? Bem, o que sei aprendi na escola. Tem experiência? Não. O senhor sabe que muitos foram testados, uma fila enorme, todos dispensados, não serviam. Sei, eu era o último da fila. E aí? Estou aqui. Â-rã! E o que você quer? O emprego. E não sabe nada, nem tem experiência. Sim. Venha cá, como é mesmo seu nome? Severino. Ah, tá, vamos tomar um cafezinho. Agora mesmo. Foram pra lanchonete do lado, sentaram numa mesa, o senhor de branco pediu dois cafezinhos, olhou pra ele: Como é mesmo seu nome? Severino. Ah, mais um dos de João Cabral. Hem? Nada. Vá, me conte a sua história. Ah, tá, eu sou e blábláblá, mais dois cafezinhos e blábláblá, o senhor com a maior paciência, ouviu tudo, rosário debulhado, vida toda contada, situações toda mostrada e ele com a maior paciência disse: Fui com a sua cara. Vamos ali. Braço sobre os ombros do solicitante, seguiram por um corredor, dois, três, dobraram, contornaram, retomaram, seguiram e chegaram a um local depois de passar por onde Judas perdeu as botas e o diabo esqueceu de voltar, no qual outras dúzias de pessoas estavam todas ocupadas, quando o senhor de idade disse: Atenção todos! Este aqui é Severino, não sabe nada, não tem experiência e quer trabalhar! O emprego é dele, ensinem a ele o que fazer! E virou-se pro Severino: Bem, são 18:30hs, pode ficar até às 20 horas? Ajoelhou-se, ergueu as mãos pros céus e disse: Posso, o senhor manda. Ficou até às 23 horas. Até amanhã. Usou a volta, contou as novas, ninguém acreditou. Às 6 da matina, embecou-se, pegou o dinheiro emprestado que lhe deram os parentes, pegou a condução e foi trabalhar. Até hoje e a sensação de que Deus e também pessoas boas ainda existem nesse mundão arrevirado e de porteira escancarada. Eita, bicho cagado de sorte! É a vida e vale mais que dois tostões, hem? (Homenagem do Severino pro doutor Biaggio Rivellino). © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá é dia de especial com o violonista Turíbio Santos Violão Sinfônico & Orquestra de Violões, a pianista Magda Tagliaferro com recitais da obra de Heitor Villa Lobos; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA - Dentre todas as criaturas existentes na Terra, somos, talvez, o único animal que sente preocupação. Passamos a vida temendo o futuro, descontentes com o presente, incapazes de aceitar a morte, incapazes de descansar. Pensamento do médico, poeta, etimologista, ensaista, administrador, educador, conselheiro de política, e investigador estadunidense Lewis Thomas (1913-1993).

BOOTSTRAP: FILOSOFIA DE REDE – [...] dada a longa tradição da ciência ocidental, a concepção bootstrap ainda não goza de boa reputação entre os cientistas, não sendoreconhecida como ciência precisamente por sua falta de uma base firme. Toda a ideia de ciência, num certo sentido, está em conflito com a abordagem bootstrap, pois a ciência quer perguntas expressas com clareza e que possam ter uma verificação experimental isenta de ambighuidades. Faz parte da concepção bootstrap, no entanto, que nenhum conceito seja considerado absolito, havendo sempre a expectativa de eencontrarmos falhas nos conceitos antigos. Estamos a todo instante rebaixando ou desacreditando conceitos que no passado recente teriam sido considerado fundamentais e usados como linguagem para a formulação de perguntas. [...] quando formulamos uma pergunta, estamos aceitando conceitos básicos para podermos formulá-la. No entanto, na abordagem bootstrap, em que o sistema todo representa uma rede de relações sem nenhum fundamento firme, a descriçãode akgo pode começar numa enorme variedade de pontos diferentes. Não há ponto de partida claro e definido. E da maneira como nossa teoria vem se desenvolvendo nesses últimos anos, é muito comum nãos abermos quais perguntas fazer. Orientamo-nos pela consistência do sistema; cada aumento dessa consistência sugere algho que ainda está incompleto, embora isso raramente assuma a forma de uma pergunta bem definida. Estamos indo além de toda estrutura de perguntas e respostas [...]. Pensamento do professor e físico teórico PhD estadunidense Geoffrey Chew, extraído da obra Sabedoria incomum: conversa com pessoas notáveis (Cultrix, 1995), do físico e escritor austríaco Fritjof Capra. Veja mais aqui e aqui.

A CORRUPÇÃO DE UM JUIZFosse o Brasil um país sério, e, livros como este, não seriam apresentados em edição, por existir honorabilidade o homem e seriedade no Juiz, função que faz do homem um ser inatacável. Mas, o Brasil que, também, é o país mais sem memória deste mundo, está precisando que mais se escreva assim, para se mostrar que nem tudo é retidão na magistratura brasileira [...]. Trecho da obra A corrupção de um juiz (Patativa, 1998), do controvertido advogado criminalista Gil Teobaldo de Azevedo (1932-2017). Veja mais aqui.

HAROUMEra uma vez, no país de Alefbey, uma triste cidade, a mais triste das cidades, uma cidade tão arrasadoramente triste que tinha esquecido até o seu próprio nome. Fica va à margem de um mar sombrio, cheio de peixes — peixes queixosos e pesarosos, tão horrí veis de se comer que faziam as pessoas arrotarem de pura melancolia, mesmo quando o céu estava azul. [...] Haroun costumava pensar que seu pai era um malabarista, pois cada história era, na verdade, uma porção de histórias diferentes entremeadas uma na outra, e Rashid as mantinha todas sob controle, numa espécie de rodamoinho estonteante, e nunca se atrapalhava. [...] de onde vinham essas histórias todas? Parecia que bastava a Rashid abrir a boca, com um sorriso rosado e rechonchudo, e lá vinha uma saga novinha em folha, completa, com bruxarias, inte resses amorosos, princesas, tios malvados, tias gordas, gângsteres de bigodinho e calça xadrez amarela, lugares fantásticos, covardes, heróis, batalhas, e meia dúzia de canções cativantes, fáceis de cantar. “Tudo vem de algum lugar”, raciocinava Haroun, “portanto, não é possível que essas histórias sejam feitas assim, só de ar...” [...] Haroun, esforçando-se para ouvir pela janela, resolveu que não gostava do Sr. Sengupta, esse homem que odiava histórias e contadores de histórias; não gostava dele nem um pouquinho mesmo. Pra que servem essas histórias que nem sequer são verdade? [...] “Mas porque você odeia tanto as histórias? As histórias são divertidas...”. O Mestre do Culto responde: “O mundo não é feito para ninguém se divertir. O mundo é para se Controlar”. [...] “Todos os mundos existem para serem Dominados. E dentro de cada história, dentro de cada Fio do Mar de Histórias, existe um mundo, um mundo de histórias, que eu não consigo dominar. Esta é a razão”. [...].Trechos extraídos da obra Haroun e o Mar de Histórias (Companhia das Letras, 1998), do escritor britânico de origem indiana Salman Rushdie. Veja mais aqui.

TRES POEMASCarrego o peso da lua: Carrego o peso da lua, / Três paixões mal curadas, / Um saara de páginas, / Essa infinita madrugada.Viver de noite / Me fez senhor do fogo. / A vocês, eu deixo o sono. / O sonho, não. / Esse, eu mesmo carrego. 2: à noite / fantasmas das coisas não ditas / sombras das coisas não feitas / vêm / pé ante pé / mexer em seus sonhos. 3: Dor elegante / Um homem com uma dor / É muito mais elegante / Caminha assim de lado / Com se chegando atrasado / Chegasse mais adiante / Carrega o peso da dor / Como se portasse medalhas / Uma coroa, um milhão de dólares / Ou coisa que os valha / Ópios, édens, analgésicos / Não me toquem nesse dor / Ela é tudo o que me sobra / Sofrer vai ser a minha última obra. Poemas do poeta, critico literário, tradutor e professor Paulo Leminski (1944-1989). Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

ATITUDES SIMPLES, RESULTADOS EXTRAORDINÁRIOS
A psicóloga Lia Helena Giannechini & outros escritores da área de Coaching apresentam o e-book Atitudes Simples Resultados Extraordinários, trazendo ações práticas para resolver os problemas cotidianos e alcançar o sucesso na vida. O livro fala sobre oito áreas para uma existência feliz: Saúde e bem estar, Relacionamento, Financeiro, Profissional, Desenvolvimento pessoal, Espiritualidade e Realizações e propósitos. São artigos que falam de finanças através de personagens, mostrando fraquezas, como o pica-pau que se mete em confusão o tempo todo ou o Popeye que aprende a dar os passos certos para conquistar vitórias, propondo oferecer ferramentas que possibilitem encarar o crescimento como pessoa e profissão, ligando o motor do navio rumo aos sonhos onde quer navegar, além de tratar sobre resiliência, a profundidade do ser e do se portar, potencialidade, espiritualidade, sucesso, relacionamento, sentido da vida, liderança, negociação e administração de conflitos, entre outros assuntos. Veja detalhes aqui.

Veja mais:
Com a perna na vida foi ser feliz como podia, Anastasia Eduardivna Baburova, a música de Rachel Kolly d’Alba, a pintura de Rui Carruço & Alina Percovich aqui.
Cobiça na Crônica de amor por ela, Buda, Miguel de Cervantes y Saavedra, Montesquieu, Magda Tagliaferro, Ciro Alegría, Lucrécio, Charles Robert Leslie, Emerico Imre Toth, Millie Perkins & Jussanam Dejah aqui.
Edgar Allan Poe, Paul Cézanne, Magda Tagliaferro, Jacques Lacan, Nara Leão, Janis Joplin & Miguel Paiva aqui.
As trelas do Doro aqui.
Émile Durkheim, Paul Niebanck, Mauro Cappelletti, Juliette Binoche, Rodolfo Ledel, Samburá, Intrépida Trupe, Micahel Haneke, Ernesto Bertani, Janaína Amado, O direito como linguagem e decisão aqui.
Quando Ciuço Pacaru embarcou no maior revestrés aqui.
Pra vida ofereço a outra face aqui.
Canto paródia de mim aqui.
Candidato faz tudo cara de pau na maior responsa aqui.
Alagoas e o império colonial português aqui.
A viagem de Joan Nieuhof & Pernambuco nos séculos XVI e XVII aqui.
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Faça seu TCC sem Traumas: livro, curso & consultas aqui.
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Agenda de Eventos 35 anos de arte cidadã aqui.

SEVERINO MANOEL DA SILVA FILHO
Recepcionando o palmarense historiador e servidor público em São Paulo, Severino Manoel da Silva Filho, na Biblioteca Fenelon Barreto, em Palmares (PE).