sábado, dezembro 09, 2017

HERMANN BROCH, BERTOLDO KRUSE. TAMARA KAMENSZAIN, JENNIFER RUBELL, ORQUESTRA ARMORIAL, LUPEMPROLETARIADO & PRIMAVERA

PALMARES, SONHOS & VENTOS - Imagem: Paradiso, da escultora, pintora e artista conceitual estadunidense Jennifer Rubell. - Trago uma rosa ao peito e nas mãos, confesso dúvidas e cansaço, reajo o tanto que posso das profundezas do meu ser desacorrentado, derrubando muros e paredes, ameaças e rendições, cavernas e mentiras. Saí de casa domingo e nem sei que dia é hoje, o que fiz, eu não sei, esqueci no câmbio das marchas subindo ladeiras enquanto o meu poema atravessa os céus e eu rompo a barreira ocidental para que a Terra seja inteira, não meio olho, meio gozo, meia luz, meia vida vendida na esquina como se fosse qualquer no meu coração de mar aberto. Vou com meu andar descrente pelos inauditos gritos da Rua Esconde Negro, um horizonte escurecido pelo bestiário antigo feito de agora pela cidade destroçada na ambição dos tesouros ocultos e apodrecidos nomes do canavial empestando a mordida da penúria impiedosa dos que se danam a arrancar o ouro do chão perdido por dias anoitecidos no consumo da vida e das horas de solidão. Não sei se hoje é terça ou quinta da emancipação de 9 de junho, sei que a feira do mercado está em polvorosa, coisa de parecer um sábado qualquer, ao descer a Rua Nova, se vou pra Rua da Ponte ou rumo à Soledade, a vontade de chupar frutas no quintal do passado, correndo o matagal, por avelois e bambus, canaviais. Se me dou conta, alcanço o Beco do Mijo lembrando do tempo em que empinei papagaio, comi quebra-queixo, os roletes de cana, a Festa do Dia 8 caindo de cima da casa numa lavanderia cheia de garrafas e dormir o sono como quem vagueia pela Rua da Palma até alcançar o Engenho Verde pra ir pra Serro Azul e deparar com Catuama, o sinal do último refúgio, quando me vem à memória a professora Hilda Galindo Correia nas aulas do primário na Maçonaria e Dudu Bode-Branco mangando das minhas leseiras de pular o pó de serra, porque eu fugia para a Biblioeta de Jessiva e lá Aluizio Freitas encrecava comigo para eu falar com Maurício Baita que me perguntava cadê Mauriciinho e Giba, hem? Quantas vezes sucumbi e renasci das cinzas no meio dos alunos do Ginásio com os quadros das mulheres de Darel Valença Lins na cabeça, as inatalações e performances de Tunga tocando fogo nas minhas ideias que estavam nas pinturas de Murilo Lagreca e eu nem sabia ainda das telas de Profeta que apenas poetava aos meus ouvidos, enquanto eu me danava com a Besta do Berto e a música de Zé Ripe. Quantas vezes recorri às mãos apoiadoras de Paulo Cabral, ao abraço solidário do Juareiz Correya, ao afeto estrangeiro de Durán y Durán nas Noites da Cultura que me falavam de Paul que invadi com Bagaço embaixo do braço para me entreter no Cocão do Padre, ou ficar zanzando na Rua das Pedreiras para ver o rio passar e encher a cidade para lavar tudo e eu correr pelo pontilhão do Matadouro até subir por Bigode e ver tudo de longe porque chorei demais. Muitas vezes fiquei sem saber se fugia por Japaranduba BR afora ou se ficava com a saparia do Caçotinho no arruado da Usina. Não, eu não sabia nada, cabeça de vento e fé na vida. Tantas vezes mergulhei sem saber nada e fiquei íntimo do Una, das quedas de Pirangi e do Riacho dos Cachorros e providente intervenção de Rodolfo para me salvar da morte certa, olhos à flor d’água flagravam tardias estrelas no firmamento, a saudade é um fantasma reluzente na ausência, quantas noites no lenço molhado e peito em chamas, quase tudo é deserto nas cabeças pra lá e pra cá, os olhos de fogo e o coração em ruínas, não sabem dizer de si enquanto vivem a vida que não possuem, só estranhos com outro estrangeiro que querem ser, sombra nomeada na identidade, espantalhos que morrem e saem pelas ruas comprando afetos. As praças deram guarida ao meu abandono, a da Luz e Maurity, o colo plácido dos bancos das praças, a brisa morna e o meu degredo nas pegadas infames que imperam no silêncio e os ventos trazem as águas de julho pra lembrar dos desatinos atravessando palavras que nunca foram escritas e que são gritadas para inflar a descrença da razão e a doidice dos órfãos, ninguém é capaz de amar na insanidade dos gestos, só o coito abrasado nos corpos extravasados pelas estacas dos interditos, como prêmio da hipocrisia nos cinturões de misérias e fortuna das desgraças no estandarte da festa. A rosa é viva no meu coração e nas minhas mãos elas brotam para que eu possa poetar aos quatro ventos, para que eu possa aos quatro cantos da cidade, cantar o meu poema de amor. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com Chamada da Orquestra Armorial & Do romance ao galope nordestino do Quinteto Armorial. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Urge modificar o que se constata frequentemente no Nordeste – o drama das populações que nãopodem satisfazer a mais imperiosa das necessidades, que é a de se alimentar. Essas populações merecem e necessitam algo mais, além da esperança e da promessa.  Trecho do artigo Políticas de alimentação e nutrição no Brasil: delineamentos conceituais e propositivos, de Bertoldo Kruse Grande de Arruda & Ilma Kruse Grande de Arruda, extraído da obra Reflexões para transformar possibilidades em realidades, de Bertoldo Kruse (IMIP, 2010). Veja mais aqui.

LUPEMPROLETARIADO – [...] Nas piores conjunturas, de crescente agravamento do pauperismo, quando aumentam os segmentos de subempregados e desempregados pertencentes à classe trabalhadora, esta pode desagregar-se, e uma parte dela, premida pela miséria e pela ausência de alternativas, está sujeita a deslocar-se para o lupemproletariado. Mas, enquanto o pauperismo é uma condição econômica inerente à existência do capitalismo, o lupemproletariado é simplesmente um efeito perverso do desenvolvimento capitalista, do mesmo modo que “certas formas atuais do crime são uma conseqüência da ordem social mas não pré-requisito”. [...]. Trecho da obra As classes perigosas: banditismo urbano e rural (EdUFRJ, 2008), do ensaista e pesquisador da justiça social Alberto Passos Guimarães (1908-1993). Veja mais aqui e aqui.

PRIMAVERA – O município de Primavera administrativamente é formado apenas pelo distrito sede e pelo povoado de Pedra Branca. O seu povoamento deu-se em torno do engenho Primavera, sendo o distrito criado pela Lei Municipal nº 19, de 27 de novembro de 1913, subordinado ao município de Amaraji. Pelo Decreto-Lei Estadual nº 952, de 31 de dezembro de 1943, passou a denominar-se Caracituba. Tornou-se município autônomo, com a denominação de Primavera, pela Lei Estadual nº 4.984, de 20 de dezembro de 1963. O município foi instalado em 2 de março de 1964. Conta com o Parque Ecoturístico da Cachoeira do Urubu, no qual encontra-se uma das cachoeiras mais altas do estado, com 77 metros de queda d’água, emoldurada pela Mata Atlântica. Segundo os antigos moradores, a cachoeira tem este nome por ser local de desova e acasalamento de urubus. A cachoeira é muito procurada para a prática de canyoning (descida de cachoeiras através de cordas). Infelizmente as águas da cachoeira provém do Rio Ipojuca, atualmente poluído, o que torna as águas impróprias para banho. Entretanto há no parque quatro piscinas naturais oferecidas pelas cachoeiras do Banho da Zezé e Poço da Mata, abastecidas pelas nascentes da região que possibilitam o banho. Veja mais aqui.

A MORTE DE VIRGÍLIO – [...] conservava-se diante de seus olhos. [...] a severa imagem do conhecimento da morte, e profissão alguma podia ser adequada a ela, já que não existe nenhuma que não estivesse sujeita exclusivamente ao conhecimento da vida, nenhuma, com a única exceção daquela à qual finalmente se sentira impelido e que se chama Poesia. [...]. Trechos da obra A morte de Virgílio (Mandarim, 2001), do escritor austríaco Hermann Broch.

SOZINHAAgora que enfim estou desvelada / como que pra comprovar que algo cresci / sei que não só o sorriso daquele homem / como também seus gestos / e que não só esses gestos / como também suas palavras / tudo me alcança posso caminhar / acrobata cambaleante porém segura / pela corda bamba da minha própria casa. Poema extraído do livro La novela de La poesia (Adriana Hidalgo, 2012), da poeta e ensaísta argentina Tamara Kamenszain, traduzido por Guilherme Gontijo Flores.

ARTE JENIFER RUBELL
A escultora, pintora e artista conceitual estadunidense Jennifer Rubell.

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A ARTE JENIFER RUBELL
A escultora, pintora e artista conceitual estadunidense Jennifer Rubell.