sexta-feira, dezembro 08, 2017

ERNESTO LACLAU, JUDITH BUTLER, VIVIANE MOSÉ, ESTHER ERLICH, MUTARELLI & TAMANDARÉ

A TEIA DE IXCHEL - Imagem: arte da premiada artista australiana Esther Erlich. – Ela é a branca da Sagrada Ilha das Mulheres e acompanha as conoas peregrinas que partiram do porto de Pole para província de Ecab, enquanto derrama a água do seu jarro sobre a terra para que possam chegar sãos e salvos ao seu reduto. À ilha Dcuzamil, todas chegam carregadas de pedidos e súplicas, expondo o milho sacralizado e estatuetas esteatoígicas que a representa, com uma pena do Quetzal que voou com sua garganta vermelha e imensa cauda, com suas vestes e tangas tecidas de iúca e de agave, e ela, a dama da noite, no seu oráculo orienta a ameaça apocalíptica de fim do mundo, precedido por quatro outros mundos – os Quatro Sóis – e o fim por cataclismo da Terra, porque a morte espreita tudo, e que é preciso viver com o capitoso hidromel balche para trazer a chuva, afastar calamidades e curar os enfermos. As que sonharam com a serpente receberão o sinal que logo serão mães e que se regozijem em festa, porque ela é a deusa da Lua com a marca da Lebre para que haja sempre sementes germinadas e crescimento das plantas, abençoando os filhotes dos animais e os filhos dos homens. Ela ensina a todos e todas, a necessidade de nutrir a Terra com a carne dos que morrem, retornando o alimento prodigalizado para a vida de todos: a Terra alimenta a todos, devemos todos alimentá-la. Ela é a deusa da medicina e do parto, curadora a orientar as gestões e o parto dos filhos desejados pelos esposos, assegurando a fertilidade no vaso do útero de cabeça para baixo, para que jorre sempre as águas da criação. Quatro vezes ela criou os homens, seu conservador e nutridor – homens do milho, nascidos do milho, com seus rostos, membros e túnicas pintadas com o urucu para que ela chegue para visitá-los e inspirá-los. Os guerreiros estão perfilados com escarificações no rosto em forma de pérola e eles homenageiam os que foram dizimados por catastróficos massacres, epidemias e abusos com trabalho forçado. Ela é a tecelã da Teia da Vida, ela tece a criação na cintura do seu corpo e com a teia dos fios de energia tudo e todas as coisas emergem do vazio e da luz provê o alimento em abundância para a comunhão sacrossanta. Ela é a deusa dos trabalhadores têxteis com sua essência feminina cíclica no curso lunar que é dela, trazendo das estrelas as energias antepassadas, presenteando a todos que lhe chegam com o coelho da fertilidade e da abundância. Ela é a Deusa da Serpente escondida sobre sua cabeça, com seu traje de ossos em cruzes e suas garras afiadas de quem foi amante do Sol que sou eu e quase morreu para ser salva pelo canto da libélula. Pra ela sou Itzama - Kinich Arrau, a Face do Sol & do Céu, o monstro bucéfalo – uma parte de mim é o Leste e a vida; a outra é Oeste e a morte, sou o desquadruplicado, em cada ponto cardeal, meus atributos -, a minha cabeça brota da goela do dragão celeste, porque nasci do milho e vou com vaso emborcado do infortúnio ao Festival de Ixchel, a Senhora do Arco-Íris, a Grande Mãe & Senhora da Terra, Árvore da Vida & Deusa da Morte com seu espelho do universo. Sou o maior entre os treze deuses celestes, os sete da Terra e os nove do mundo subterrâneo a cultuar o Popol-vuh e as criações sucessivas, porque partilho do que é dela e da sua ação, enredado na sua teia. Só ela existe, sou apenas a sua sombra. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com o compositor, maestro, pianista, cantor, arranjador e violonista brasileiro Tom Jobim (1927-1994) Live Concert in Montreal; com a violinista estadunidense Sarah Chang interprentando o Concert Violin in D Minor de Jean Sobelius (1865-1957); o músico, compositor escritor e ativista britânico John Lennon (1940-1980): The Best; e com a cantora, compositora e multi-instrumentista irlandesa Sinéad O'Connor Live at AB - Ancienne Belgique. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA - [...] conflito e divisão não são nem distúrbios que infelizmente não podem ser eliminados, nem impedimentos empíricos que impossibilitam a plena realização de uma harmonia inatingível porque nunca seremos capazes de deixar nossas particularidades inteiramente de lado [...] a sociedade e os agentes sociais careceriam de essência e suas regularidades consistiriam tão só nas formas relativas e precárias de fixação que têm acompanhado a instauração de uma certa ordem. [...]. Trechos Hegemonia e estratégia socialista: por uma política democrática radical (Intermeios, 2015), do filósofo argentino Ernesto Laclau (1935-2014) e da cientista política belga Chantal Mouffe.

GÊNERO & IDENTIDADE - [...] A desconstrução da identidade não é a desconstrução da política; ao invés disso, ela estabelece como políticos os próprios termos pelos quais a identidade é articulada. Esse tipo de crítica põe cm questão a estrutura fundante em que o feminismo, como política da identidade, vem-sc articulando. O paradoxo interno desse fundacionismo é que ele presume, fixa e restringe os próprios "sujeitos” que espera representar e libertar. A tarefa aqui não é celebrar toda c qualquer nova possibilidade, qual possibilidade, mas redcscrcver as possibilidades que já existem, mas que existem dentro dc domínios culturais apontados como culturalmente ininteligíveis c impossíveis. Se as identidades deixassem dc ser fixas com as premissas de um silogismo político, e se a política não fosse mais compreendida como um conjunto de práticas derivadas dos supostos interesses de um conjunto de sujeitos prontos, uma nova configuração política surgiría certamente das ruínas da antiga. As configurações culturais do sexo e do gênero poderíam entáo proliferar ou, melhor dizendo, sua proliferação arual podería entáo tornar-se articulável nos discursos que criam a vida cultural inteligível, confundindo o próprio binarismo do sexo e denunciando sua não inaturalidade fundamenta. Que outras estratégias locais para combater o “não inatural” podem levar à desnaturalização do gênero com o tal? Trecho da obra Problemas dc gênero: feminismo e subversão da identidade (Civilização Brasileira, 2003), da filósofa pós-estruturalista estadunidense Judith Butler, tratando sobre mulheres como sujeito do feminismo, a ordem compulsória sexo/gênero/desejo, as ruínas circulas do debate contemporâneo, teorização do sinário e o unitário e além, identidade, poder e estratégias de deslocamento, Proibição, psicanálise e a produção da matriz heterossexual, permuta critica do estruturalismo, as estratégias da mascarada, Lacan, Riviere, Freud e a melancolia do gênero, complexidade do gênero e os limites da identificação, reformulação da proibição como poder, atos corporais subversivos, corpo-política, Foucault, Monique Wittig e a desintegração corporal e sexo fictício, entre outros. Veja mais aqui.

TAMANDARÉ – O município de Tamandaré pertence a mesorregião da Mata e Microrregião da Mata Meridional Pernambucana, tendo sua emancipação do município de Rio Formoso ocorrida em 28 de setembro de 1995. A etimologia do topônimo é controversa, sendo proveniente do tupi tamanduáré que significa tamanduá diferente, como tambpem repovoador a partir do vocábulo tupi tab-moi-inda-ré. Segundo a lenda tupi do sec. XVI, Tamandaré era um pajé que fez uma fonte que inundou o mundo e se abrigou no alto de uma palmeira com sua mulher. Quando as águas baixaram, o casal deu origem aos tupinambás. Quando os invasores europeus chegaram às terras, encontram a tribo caetés. O seu território se encontra na bacia hidrográfica dos rios Una, Mamucabas e Ilhetas, possuindo cinco praias em sua orla marítima: a Praia dos Carneiros, Praia das Campas, Praia de Tamandaré, Praia do Pontal do Lira e Boca da Barra. Veja mais aqui.

O CHEIRO DO RALO – [...] Saio correndo pelas ruas. E então já estou em minha sala outra vez. Entro no banheirinho e me agacho ao lado do ralo que eu mesmo tapei. Estou chocado. Raciocino, eu estava ofendido por ela não se lembrar do meu rosto e, no findo, era eu quem a confundia com um rosto qualquer. [...] Ele entra. Um raro livro. Jura ser a primeira edição. Chuto baixo, bem baixo. Quero quepense que não sei o que tenho ali. Ele me chama de ignorante. Reforço sua ideia dizendo: Baudelaire? Nunca ouvi falar. Heresia! Blasfema. Lês fleurs du mal. Não falo francês. Nem inglês. Nunca aprendi sequer a lóngua do pê. É a primeira edição francesa. Isso vale uma fortuna. Isso quem diz é você. O pior é que eu preciso da merda dessa grana. E por façar em merda, o cheiro é do ralo. [...]. Trecho do romance O cheiro do ralo (Devir, 2011), do cartunista e escritor Lourenço Mutarelli, contando a história do protagonista de aproximadamente quarenta anos, dono de uma loja que vende e compra antiguidade e que luta contra o eterno mau cheiro que sai do ralo do banheiro, retratando a alma human de forma cínica e bem humorada. Foi adaptado para o cinema em 2006, protagonizado por Selton Mello.

RECEITA PARA ARRANCAR POEMAS PRESOS – A maioria das doenças que as pessoas têm / São poemas presos. / Abscessos, tumores, nódulos, pedras são palavras / calcificadas, / Poemas sem vazão. / Mesmo cravos pretos, espinhas, cabelo encravado. / Prisão de ventre poderia um dia ter sido poema. / Mas não. / Pessoas às vezes adoecem da razão / De gostar de palavra presa. / Palavra boa é palavra líquida / Escorrendo em estado de lágrima / Lágrima é dor derretida. / Dor endurecida é tumor. / Lágrima é alegria derretida. / Alegria endurecida é tumor. / Lágrima é raiva derretida. / Raiva endurecida é tumor. / Lágrima é pessoa derretida. / Pessoa endurecida é tumor. / Tempo endurecido é tumor. / Tempo derretido é poema / Você pode arrancar poemas com pinças, / Buchas vegetais, óleos medicinais. / Com as pontas dos dedos, com as unhas. / Você pode arrancar poemas com banhos / De imersão, com o pente, com uma agulha. / Com pomada basilicão. / Alicate de cutículas. / Com massagens e hidratação. / Mas não use bisturi quase nunca. / Em caso de poemas difíceis use a dança. / A dança é uma forma de amolecer os poemas, / Endurecidos do corpo. / Uma forma de soltá-los, / Das dobras dos dedos dos pés, das vértebras. / Dos punhos, das axilas, do quadril. / São os poema cóccix, os poemas virilha. / Os poema olho, os poema peito. / Os poema sexo, os poema cílio. / Atualmente ando gostando de pensamento chão. / Pensamento chão é poema que nasce do pé. / É poema de pé no chão. / Poema de pé no chão é poema de gente normal, / Gente simples, / Gente de espírito santo. / Eu venho do espírito santo / Eu sou do espírito santo / Trago a Vitória do espírito santo / Santo é um espírito capaz de operar milagres / Sobre si mesmo. Poema da poeta, filósofa, psicóloga e psicanalista capixaba, Viviane Mosé. Veja mais aqui, aqui e aqui.

LANÇAMENTO DOS LIVROS OCIDENTE TARDIO & TEORIA DA POESIA ABSOLUTA
Prestigiando o lançamento dos livros Ocidente tardio (Tarcisio Periera, 2017), do poetamigo Vilmar Carvalho & Teoria da Poesia Absoluta (Autor, 2017), do poetamigo Admmauro Gommes & recital da professora Eliete Carvalho, ao lado poeta Genésio Cavalcanti. Foto: Jane Barros.

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A ARTE
Imagem: arte da premiada artista australiana Esther Erlich.