O CHÃO NA ALMA –
Imagem: Batedor de caminhos (1968),
do poeta e poeta e pintor surrealista
português Mario Cesariny (1923-
2006). Os tempos são outros, eu que o diga e sem nostalgia. Sempre tive comigo
que o melhor momento da vida era este, o presente – em todos os sentidos! E
digo era porque sempre passa, zás, já foi, agora é outro. E quase não me dou
conta, nem ninguém, avalie. Passou e como passou, vai se ver segundos, minutos,
horas, só lembranças enchendo o baú da memória ou do esquecimento – tem quem
sequer saiba que passou e como passou. Devo dizer, sem rigor e nem pedir
licença, que a cada dia, em todo momento aprendo e como. Diga-se lá, como de
sempre, a gente sempre aprende pelo modo mais difícil, quer queira, quer não,
uma bofetada, um escorregão, um paradoxo. Mas, se aprende, mesmo que seja com amargas
redescobertas, nenhuma frustração. Mesmo que seja no descompasso, eis a lição.
O que dói não é ter perdido a oportunidade, não é ver que podia ter feito
melhor, nada disso. Possivelmente o meu epitáfio não seria em cima de uma
revista com meus fracassos, creio que não, possivelmente. Seria, acho que pelo
menos seria, com o resultado dos meus aprendizados. É certo que o equívoco
esteja pra lá de exorbitante, monstruoso – incluindo os meus que são tantos e
nem sei -, constatação desagradável, quem não se engana na cor da chita em cima
da bucha, oh, mediocridade, veleidade de sabichão. De minha parte, sempre me
pego com uma ou outra implicância, coisa de engasgar e que poderia deixar
correr, na maciota, ora, engolindo sem esforço nem polemizar, pois corre o
risco de esbarrar em irredutíveis conduções sectárias, ou mesmo defesa do
indefençável, quando não na inexorável incompreensão. Cá pra nós, falando
sério: tudo muito embaraçado. Nem é fácil de entender. Que coisa! E a pretexto
de nada nem convite de ninguém, presencio esse caleidoscópio como um arredio
dissidente, sou arisco com ondas e modas, sempre um pé atrás. O que me
entristece é sentir a cidade refém de
interesses no açodamento de soluções escusas. Por onde passo, a cidade é só um
cenário, pra mim não, é a casa em que habito e convivo na guarida de quem sabe
bem o que é o abandono de insepulto, é a mulher amada, no dia a dia, lado a
lado e que nem se dá conta à-toa no destino das ruas, no estresse dos
semáforos, na tragédia invisível, nos fedores ultrajantes, na gente entediante,
ela quase morta, é o meu país despedaçado ao rés do chão pisado e sambado. Só
se vê que é linda na foto do cartão postal: a ingratidão assiste a tudo,
justiça se faça. Corre para acodir, valha-me! De bombeiro e alheio, todos temos
um bocado. A sensação que fica é que no ventre da noite não restou uma só
estrela no céu, abominável escuridão no pino do meio dia. É isso que incomoda. Sinto
a cidade na medula, saudade sem lágrima, afeto sem afago, encabulado e triste,
porque sou coabitante em estado de graça até o último fôlego, porque ela está
em mim como sempre esteve desde que nasci: chão que me acolheu, Terra que é mãe.
© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com o guitarrista, cantor, compositor e produtor
musical inglês George Harrison (1943-2011): Anthologu & Livin in The Alternate World;
da cantora, escritora e doutora em Filosofia pela USP, Eliete Negreiros: Outros sons &
Canções de tamanha ingenuidade; do guitarrista Heitor Pereira: Dueling guitars August Rush & Chucho Merchan
Live Montreaux; e da cantora e compositora Livia
Nery: Vulcanidades & Acasas. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] Porque há
para todos nós um problema sério... este problema é o medo.[...] Pensamento
extraído de Plataforma de uma geração
(34, 2002), do poeta, ensaísta,
professor universitário e crítico literário Antonio Cândido, extraído da obra Textos de intervenção, organizado
por V. Dantas. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.
BARRA DE GUABIRABA – O município de Barra de Guabiraba é
formado administrativamente pelo distrito sede, o qual suas terras pertenciam
ao sítio Guabiraba. O seu povoamento se deu pela produção da cultura
canavieira, sendo inicialmente denominado de São João da Barra, distrito criado
pela Lei municipal nº 59, de 25 de julho de 1915, passando a se denominar de
Itapecó pelo Decreto-lei estadual nº 235, de 9 de dezembro de 1938, passando-se
a denominar Guabiraba pelo Decreto-lei estadual nº 952, de 31 de dezembro de
1943. Pertencia ao município de Bonito e foi elevado à categoria de município
com a denominação Barra de Guabiraba, pela Lei estadual nº 3340, de 31 de
Dezembro de 1958. O topônimo atual se deve por uma frondosa guabiraba a
confluência dos rios Sirinhaém e Bonito Grande, razão pela qual passou a
denominar o local de Barra de Guabiraba, fazendo parte das superfícies
retrabalhadas que antecede o Planalto da Borborema, inserido nos domínios da
bacia hidrográfica do Rio Sirinhaém, tendo como principais tributários são o
Rio Sirinhaém e os riachos Seco e Tanque de Piabas, todos de regime
intermitente. Veja mais aqui.
A MULHER ABOLICIONISTA - [...] Condenada
à reclusão no seio da família, na qual ela é ao mesmo tempo rainha e escrava, a
mulher inreioriza, frquentemente, essa noção de minoridade, e assume as
representações que se fazem dela: a ciência afirma que possui uma constituição
menos resistente do que a do homem, que os fenômenos que ocorrem no seu corpo
ao longo da existência – menstruação, gravidez, amamentação, menopausa –
fragilizam-na e a tornam um ser perpetuamente enfermo. A religião lembra que
ela deve ser amparada, vigiada, orientada, para não cair em tentação nem
induzir outros à queda. E a lei, já o vimos, torna-a incapaz de decidir de sua
vida. Com toda essa carga ideológica que lhes atribuía a sociedade e lhes
conferia um estatuto de eternas menores, é de admirar que tantas mulheres
tenham ousado romper as barreiras do silêncio, da apatia, e se lançar à luta,
abraçando causas como a da Abolição, criando jornais, organizando-se em
aasociações que promoviam conferencias e desfiles de protesto, escondendo
escravos e propiciando sua fuga. [...]. Trecho de À guisa de introdução, da escritora e professora Luzilá Gonçalves Ferreira, na
obra Suaves amazonas: mulheres e abolição da escravatura no Nordeste (EdUFPE,
1999), organizado por Luzilá Gonçalves Ferreira, Ivia Alves, Nancy Rita Fontes,
Luciana Salgues, Iris Vasconcelos e Silvana Vieira de Souza. Veja mais aqui
& aqui.
GLOBALIZAÇÃO, POBREZA & SAÚDE - [...] Um paradoxo
da globalização contemporânea é que, numa fase da história da humanidade em que
as tecnologias agrícolas disponíveis poderiam propiciar farta produção de
alimentos, o fenômeno da fome esteja tão disseminado no mundo e açoite partes
do planeta na forma de verdadeiro genocídio. [...] Trecho de Globalização, pobreza e saúde (Ciência
& Saúde Coletiva, 2007), do pediatra e sanitarista Paulo Buss. Veja mais aqui, aqui & aqui.
POBREZA NO BRASIL – [...] A
heterogeneidade da pobreza no Brasil decorre da dimensão territorial e
demográfica do país, dos grandes desequilíbrios regionais e do modo como se foi
historicamente configurando o complexo mosaico social brasileiro. [...]. Trecho
de Geografia da pobreza extrema e
vulnerabilidade à fome (José Olympio, 2004), de Sonia Rocha e Roberto
Cavalcanti de Albuquerque, extraído da obra A nova geografia da fome e da
pobreza, organizada por J. Vellozo e R. Albuquerque. Veja mais aqui & aqui.
UMA CERTA PAZ – [...] Para que
visão? Para que ideais? Passei toda a vida aqui ao som de uma marcha
entusiástica. Como se não houvesse mar e montanhas, nem estrelas no céu. Como
se a morte já tivesse sido abolida e a velhice extirpada do mundo de uma vez
[...]. Trecho extraído da obra Uma certa
paz (Companhia das Letras, 2010), do escritor e pacifista
israelense Amos Oz, contando as difíceis relações familiares com suas
contradições e dificuldades políticas que o Estado de Israel enfrentava nos
anos 1960, às vésperas da Guerra dos Seis Dias, revelando uma meditação sobre o
poder, a decepção e os relacionamentos amorosos. Veja mais aqui.
RESTIS
- Um vento anima os panos e as cortinas
oscilam, / fronhas de linho (sono) áspero quebradiço; o sol passeia / a casa (o
rosto adormecido), e em velatura a luz / vai desenhando as coisas: tranças
brancas no espelho, / relógios deslustrados, cascas apodrecendo em seus
volteios / curvos, vidros ao rés do chão reverberando, réstias. / Filamentos
dourados unem o alto e o baixo / – horizonte invisível, abraço em leito alvo: /
velame de outros corpos na memória amorosa. Poema extraído do livro
Ar (Iluminuras/Fundação Cultural de Curitiba, 1991), da poeta, tradutora e
editora Josely
Vianna Baptista.
TODO DIA É DIA DE DIREITOS DA MULHER
.
Veja mais:
&
A ARTE DE CAMILA
MORITA
A arte Quando durmo, da artista
plástica Camila Morita.