quinta-feira, novembro 30, 2017

DERRIDA, YES, MÓNICA CRAGNOLINI, ANA LIRA, ORLANDO VILLAS-BÔAS, VALTER HUGO MÃE, MARÍLIA GARCIA, DAVID ROWE & GAMELEIRA

CONVERSA MOLE DE FABOS – Imagem: arte da fotógrafa, artista visual e pesquisadora Ana Lira. - E aí, como é que vai? Morno, insosso. O que é que há? Ué, o cabra dá um golpe e há mais de ano ele veio, todo jeitoso, vai mas num vai, piscando o olho, botou uma e a gente ciscou, deu brabo e cedeu; botou duas, a gente esperneou, reclamou e rendeu; botou três, a gente deu com a peste, maior gritaria e no amansado ele botou a gente de quatro, porque daí em diante, vicia, vai achando gostoso o fungado no cangote e o pau no furico vira consolo, chega fica no bem-bom. Vôte, comigo não, Salomão! Oxe, menino, tudinho, tá todo brasileiro enrabado e nem-nem, tudo fazendo cara feia, mas no pega-pra-capá, quebra a munheca na posição do vencido pra levar mondrongo raçudo no procto e seja lá o que Deus quiser! Tô fora, doido! Tá nada, você tá fudido e mal pago feito ei e todo mundo, quer ver? Diga. Por acaso você tem onde buscar quando falta? Você tem caixa dois pra se socorrer na hora do aperto? Tem sobra de campanha, tem emendas parlamentares pra se aviar de conluios perdulários ou recebe propina por debaixo dos panos? Por acaso você tem quem lhe defenda quando você é pego com a boca na botija, todo esparramado na bosta fedida e com a mão na massa sem ter como se livrar? Hômi, seu menino, num sou nem vereador e nem botei nem quero botar a mãe na zona do baixo meretrício pra querer ser, Deus me livre, não tenho coragem pra assumir uma de fdp, mas uma coisa eu lhe digo que comigo é assim: tô no meu serviço, no batente todo santo dia, se num molhar minha mão com algum extraordinário que seja, a coisa não anda não, emperra de ficar parado que nem bosta n’água. Tá vendo, eu num disse? Disse o quê, homem de Deus? Tal como os caboetas lá de Brasília é a gente aqui embaixo, a gente não tem mesmo vergonha na cara. Como assim? Veja só: se a gente vende o voto, os caras eleitos por aí vendem o dele e o da gente, se ajeitam, se arrumam e, no final das contas, quem paga o pato mesmo? A gente! Isso mesmo, a gente paga duas vezes e não tem razão se for reclamar porque já fez a merda antes, a segunda já é meladeiro que, se quiser limpar, vai ter que botar a coragem em dia e botar a coisa pra moer ao contrário, tem coragem? Rapaz, coragem tenho sim, mas na horagá dá umas fraquezas, uns apertos que é melhor deixar pra amanhã, a gente não tem uma coisa melhorzinha pra fazer não? Ah, tem sim: assistir televisão, reclamar de tudo com o dedo enfiado no cu e ficar por isso mesmo, que é que você acha? Hômi, isso é a coisa mais maior de bom, por acaso tem jeito? Ter jeito tem, a coisa não nasceu assim pra morrer troncha e enfiada; além do mais, quem quer faz, quem não quer manda ou passa procuração; então, quem quer ver o barco virar pra salvar todo mundo tem que se arriscar a ter sarna pra se coçar, encara? Ih, já tenho bronca demais, conta no fim do mês, encheção de saco pra todo lado, oxe, mais uma eu emborco e o barco afunda de eu quebrar na tora, além do mais não tenho vocação nenhuma pra virar Jesus e ficar apregado por mais de dois mil anos na cruz, melhor eu me aquietar, né não? É, já que tu não vai, também não vou mexer em vespeiro que não sou doido pra sair por aí levando ferroada de maribondo azoado, vamos tomar uma? Vira, vira! Desce uma meota aí que tô injuriado, cuspindo a do santo pra findar tudo na santa paz de Deus. E vamos que vamos. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais 

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a banda britânica de rock progressivo Yes, formada por Jon Anderson (vocal), Chris Squire (baixo), Steve Howe (guitarra), Alan White (bateria), Rick Wakeman (teclados), Tony Kaye (teclados), Peter Banks (guitarra) e Bill Bryford (bateria), com apresentações de concertos e shows ao vivo. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui, aqui & aqui.

PERNSAMENTO DO DIADevemos pensar continuamente no problema do outro e nas figuras de alteridade por excelência que são, na minha opinião, o imigrante, a mulher, a criança e o animal. Pensamento da filósofa argentina, Mónica Beatriz Cragnolini, autora da obra Moradas nietzscheanas: del sí mismo, del otro y del entre (La Cebra, 2006), tratando sobre a possibilidade de aproveitar o pensamento nietzscheano para pensar a alteridade sob uma radical diferença, aproximando a problemas xenofobia e intolerância, à problemática da constituição da subjetividade e da alteridade.

GAMELEIRA – O município de Gameleira é formado pelo distrito sede e pelos povoados de Cuiambuca, José da Costa e Cachoeira Lisa. O distrito foi criado pela Lei provincial n° 763, de 11 de julho de 1867, integrando o território do município de Sirinhaém. A vila foi criada pela Lei provincial n° 1.057, de 7 de junho de 1872 e sua instalação ocorreu em 13 de dezembro de 1873. A denominação da localidade deve-se a um engenho homônimo, e pelo fato do grande número de árvores com o nome de Gameleira, que existiam na época. Em 1867 a Lei provincial n° 763 deu-lhe a categoria de freguesia. Os rios Sirinhaém e Amaraji se encontram no distrito de Cachoeira Lisa. Veja mais aqui.

OS ÍNDIOS - [...] A problemática indígena é muito complexa e, atualmente, não encotramos uma política devidamente estrutura que permita lidar com essa situação. Não há ruimo na política indigenista. He grupos com propostas variadas que não chegam a um consenso, enquanto o índio é deixado à mercê da própria sorte. Há aqueles que querem extinguir a Finau. Há aqueles que querem substituí-la por ONGS. Já mesmo alguns que, surpreendentemente, como o Hélio Jaguaribe, propõe extinguir o índio! (Até parece que estamos nos tempos de Bandeira de Mello e do Rangel Reis!). No Brasil, temos hoje tantos índios isolados, que nunca tiveram contato com o “civilizado”, quanto índios destribalizados (não diríamos integradois, porque na realidade eles não estão participando de nossa sociedade), que são completamente marginalizados. A Funai precisa estar atenta a isso. É preciso assistir os indícios de Parelheiros e do Jaraguá, ao mesmo tempo em que não se pode deixar que fazendeiros e madeireiros acabem com os índios isolados que estão no meio da mata. [...]. Por isso, a implementação de uma política indigenista séria deve estar na agenda política do nosso país. Os grupos indígenas não podem continuar sendo vistos como simples apêndice da nação; como uma parcela de nossa sociedade que não dvee esparar um reconhecimento pleno. Contaria a tudo isso, a política que meus irmãos e eu defendemos sempre visou que os índios brasileiros fossem reconhecimentos e respeitados em sua cultura, pois deles tivemos lições surpreendentes. Convivemos com uma sociedade estável e harmônica, na qual ninguém manda em ninghuém. Continuo absolutamente convencido de que nada há que justifique sua integração apressada à nossa sociedade, pois somos nós, os ditos “civilizados”, que ainda não estamos preparados. O Xingu nos mostrou que toda a nossa luta valeu a pena. [...]. Trechos do livro Orlando Villas Bôas: história e causos (FTD, 2006), autobiografia do sertanista Orlando Villas-Bôas (1914 – 2002). Veja mais aqui.

A DESCONTRUÇÃO: AVENTURA E DIFERENÇA - [...] O que me interessava naquele momento [da escrita de La dissemination, La double séance e La mythologie blanche], o que tento continuar agora sob outras vias, é, a par de uma “economia geral”, uma espécie de estratégia geral da desconstrução. [...] É, pois necessário antecipar um duplo gesto, segundo uma unidade simultaneamente sistemática e como que afastada de si mesma, uma escrita desdobrada, isto é multiplicada por si própria, aquilo a que chamei em “La double séance, uma dupla ciência: por um lado, atravessar uma fase de derrubamento. [...] aceitar essa necessidade é reconhecer que, numa oposição filosófica clássica, não tratamos com uma coexistência pacífica de um vis-a-vis, mas com uma hierarquia violenta. Um dos dois termos domina o outro (axiologicamente, logicamente, etc.), ocupa o cimo. Desconstruir a oposição é primeiro, num determinado momento, derrubar a hierarquia. [...] A partir daí, para marcar este desvio [isto é, a prática da desconstrução seguindo o momento de inversão das hierarquias] [...] foi preciso analisar, fazer trabalhar algumas marcas, tanto no texto da história da filosofia como no texto “literário” [...], marcas essas [...] a que chamei por analogia (sublinho-o) indefiníveis, isto é, unidades de simulacro, “falsas” propriedades verbais, nominais ou semânticas, que já não se deixam compreender na oposição filosófica (binária) e que, todavia a habitam, lhe resistem, a desorganizam, mas sem nunca constituírem um terceiro termo, sem nunca darem uma solução na forma dialéctica especulativa [...]. De facto, é contra a reapropriação incessante desse trabalho de simulacro numa dialéctica de tipo hegeliano (que chega a idealizar e a “semantizar” este valor de trabalho) que me esforço por levar a operação crítica, já que o idealismo hegeliano consiste justamente em superar as oposições binárias do idealismo clássico, em resolver sua contradição num terceiro termo que vem “aufheben”, negar superando, idealizando, sublimando numa interioridade anamnésica (Errrinerung), internando a diferença numa presença-a-si [...]. Trechos da obra A escritura e a diferença (Perspectiva, 1971), do filósofo francês Jacques Derrida (1930-2004). Veja mais 

A DESUMANIZAÇÃO – [...] Por viver a infância, decide com muito erro, agressiva e exuberantemente. Não te aproximes demasiado das águas, podem ter braços que te puxem para que morras afogada. Não subas demasiado alto, podem vir pés no vento que te queiram fazer cair. Não cobices demasiado o sol de verão, pode haver fogo na luz que te queime os olhos. Não te enganes com toda a neve, podem ser ursos deitados à espera de comer. [...] O meu pai escrevia os seus poemas e fervia de se pôr no papel. Inventava poemas como se não fosse o seu autor. Pasmava diante deles, incrédulo, com dificuldade em entender de onde surgiam as palavras, como era possível que o explicassem. E eu achava que não explicavam nada. Eu queria olhar para as folhas e ver a Sigridur a correr, a molhar-se nos tanques de água quente. Não queria ver a caligrafia aprumada do meu pai e as suas rimas fracas, esforçadas. Queria que as folhas fossem um barco que nos tirasse a todos dali, ou que abrissem uma estrada segura até ao outro lado do mundo e tivessem rodas velozes e janelas a mostrar as vistas. Trechos da obra Desumanização (Cosac Naify, 2014), do escritor português Valter Hugo Mãe.

UMA MULHER QUE SE AFOGA - coloco a mão sobre o seu joelho / e você me olha de frente / mas depois vira de lado ajeitando o / retrovisor por causa da chuva e eu quero dizer que aquela / frase era de uma canção, a mesma que você tinha usado / em outro lugar, então de novo você me olha / de frente / e sorri interrogando / minha expressão sempre confusa / e eu queria dizer que na viagem fraquejei / que tenho medo de enlouquecer / que tenho medo do que está / por vir mas acabo contando a história / do homem que perguntava / você me ama? / depois de anos casado com a mesma mulher / e ela dizia / não / e ele com aquela música repetindo na cabeça / aquela música sem parar tocando / ao fundo ecoando / e ela / não / e ele perguntava / será que eu sou louco? / perguntava depois que o barco na enseada / ela indo embora, fugindo / eu sou louco? / perguntava depois do acidente, do barco apagando / bajo la lluvia, 24 vezes a mesma carta enviada com o nome dela / e o telefone chamando / na bolsa / hoje ela me viu na rua e veio contar / o que tinha acontecido: vontade de gritar / vai embora daqui /       não quero mais ouvir essa voz / e ela falando sem parar e eu / coloco a mão sobre seu joelho e você / me olha na hora e ela dizendo na rua que / não tinha me reconhecido / antes /             por que então veio falar comigo? / mas não digo só penso e aquele silêncio / e ela dizendo que foi / por acaso / tudo bem / de agora em diante / e eu pensando não me lembro o que dizer / nessas horas, não suporto, será que um dia?, / e você coloca a mão sobre o meu joelho e eu / olho para você de frente, ainda ouvindo canção / pergunta gritos de / afogamento /será que eu sou louco?/ e digo que você é uma das poucas / pessoas que quero que fiquem aqui / e você me responde / nunca sonhei em conhecer alguém / como você / e eu olho de volta e digo / você sabe que ninguém nunca / segurou minha mão assim? / você vira de lado ajeitando / o retrovisor e se projeta pra ultrapassar / o carro da frente. Poema da poeta e tradutora Marília Garcia.

A ARTE DE ANA LIRA.
A arte da fotógrafa, artista visual e pesquisadora Ana Lira.

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A ARTE DE DAVID ROWE
A arte do cartunista, ilustrador e caricaturista australiano David Rowe.