sexta-feira, outubro 13, 2017

NAGUIB MAHFUZ, JOÃO MARTINS DE ATHAYDE, HELEN KELLER, STEPHEN GREENBLATT & RICHARD DIEBENKORN

SEXTA FEIRA – Imagem: arte do pintor estadunidense Richard Diebenkorn (1922-1993). - Reviro inheto na madrugada longa e meus olhos flagram agora o que já foi passado esquecido, dado por morto, sepultado, de nunca mais saber. Há dias, muitos dias, como se fantasmas forjassem vinganças deletérias, as coisas se complicam incompreensivelmente. Ao me comprromissar com o meu tempo e a minha terra, jamais soubera que emergeria agora, a contragosto, o que não se previra: andar para trás -  isso não é usual. Teimo para que em mim renasça a vida na manhã vindoura, sabendo que será outro dia, não da esperança inalcançável, mas como território para ação. Constato, contudo, que tudo é extremamente delicado, como se uma paz falsa e forasteira se instaurasse nesse instante, olvidando da hora, como se nada estivesse acontecendo, nem acontecesse ou tivesse acontecido, enquanto desenterram os desvarios de ontem e do presente. A quietude esconde as adversidades que transitam entre sabidos e incautos, como se não houvesse degradação saindo das normas para evacuar os campos de batalhas em sinal de enganoso armistício. Afinal, já é sexta-feira, a meio caminho andado pra loucura. Enquanto todos dormem, sigo de ventas acesas a livrar-me de chatos no rol dos cretinos e de temperamentais metidos a besta que se escondem por trás de togas e gravatas arbitrárias investidas pela legalidade de plantão ao arrepio da própria lei. Enquanto todos dormem, mil atos desumanos evoluem nas disfunções sistêmicas dos interesses, ninguém os vê, são invisíveis e ubíquos, assumem disfarces mil na força do engodo e pra nosso desespero. Segue a sexta-feira silenciosa e calma para mais um dia chocho como outro qualquer que se faz pela vigência da exceção, aquele que, ao contrário de todas as boas aparências, mantém subjacente a premência iminente da indignação. Hoje é sexta-feira e denuncio a mim mesmo: não há como aceitar tudo isso, não há como se omitir, nem se calar. Havia um tempo em que toda sexta, meio dia em ponto, eu traquinava solto na buraqueira, feliz da vida, rindo ao Sol, a mais do tanto. Hoje, no máximo, apenas minhas mãos para medir o tamanho da coragem de seguir adiante, retomando a direção da vida, teimando em viver, persistindo, perseverando – quase completamente inútil fora do convencional, e não me aquieto. Apesar de ser tudo muito difícil, é possível sonhar que a partir de hoje, a partir desta sexta-feira, a vida seja plena e verdadeira, senão, ao contrário dos finais felizes das telenovelas, seja como um filme que nos cobre no final, provocativamente, explicação pelo que somos, isso pra quem não tem a coragem de encarar o espelho. Vamos aprumar a conversa. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais com a música do cantor e compositor Raimundo Fagner: O quinze, Eternas Ondas e A arte; a panista Karin Fernandes interpretando Shajarat al-Hayah tanmow fi al-Sahra Yahi, de Tatiana Catanzaro, Seresta, para piano e orquestra, de Camargo Guarnieri, Nó, de Sergio Kafejian & Concerto Romântico de Radamés Gnattali; do compositor estadunidense de música minimalista Morton Subotnick: The Last Dream of the Beast, Axolotl & Ascent into Air; e da cantora Sônia Mello: Desejo,  Aurora/Minha Voz, Começo meio e fim, Proposta & Outra vez. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIAEu, que sou cega, posso dar uma sugestão aos que vêem – um conselho àqueles que deveriam fazer completo uso do dom da vida: servi-vos dos vossos olhos como se amanhã fosseis cegar. O mesmo princípio é valido para o restante dos sentidos. Ouvi a música das vozes, o canto de uma ave, os poderosos acordes de uma orquestra como se amanhã fossem vbítima de surdez. Tocai em tudo o que desejais tocar, como se amanhã viésseis a ficar privados da faculdade do tato. Aspirai o perfure das flores, sobejai com deleite os vossos alimentos, como se amanhã perdêsseis o olfato e o paladar. Pensamento da escritora, conferencista e ativista social estadunidense Helen Keller (1880-1968), ela foi a primeira pessoa surda e cega a conquistar um bacharelado. Veja mais aqui e aqui.

O POETA & O ASSOMBRO – [...] "Ninguém poderá ser chamado de poeta", escreve o influente crítico italiano Minturno na década de 1550, se não se sobressair no poder de provocar assombro" Para Aristóteles, o assombro está associado ao prazer como fim da poesia, e na Poética ele examina as estratégias pelas quais os poetas trágicos e épicos empregam o maravilhoso para provocar assombro. Também para os platônicos o assombro é um elemento essencial na arte, pois é um dos principais efeitos da beleza. Nas palavras de Plotino, "Este é o efeito que a Beleza deve sempre induzir, assombro e pasmo deleitoso, desejo e amor, e um terror que seja prazeroso." No século XVI . o neoplatônico Francesco Patrizi define o poeta como O "criador do maravilhoso", e afirma que o maravilhoso está presente quando os homens ficam "estupefatos, arrebatados em êxtase". Patrizi chega ao ponto de considerar o maravilhamento uma faculdade especial da mente, uma faculdade que na verdade é mediadora entre a capacidade de pensar e a capacidade de sentir. [...]. Trechos da obra As possessões maravilhosas (Edusp, 1996), do teórico e critico literário estadunidense Stephen Greenblatt.

MIRAMAR – [...] À minha frente, o mar sem-fim estendia-se, azul, claro e belo. As ondas calmas brincavam com as perolas que o sol lançava. Um vento agradável me envolveu. [...] Estava quase me entregando à melancolia, quando ouvi um barulho no quarto, olhei, era Zohra arrumando minha cama com lençois e cobertas. [...] Contemplei sua estonteante beleza camponesa. [...]. Trecho do romance Miramar (Berlendis e Vertecchia, 2003), do escritor egípcio & Prêmio Nobel de Literatura de 1988, Naguib Mahfuz (1911-2006), contando a história de seis personagens exilados pelas circunstancias em Alexandria, no início dos anos 1960, em hotel antes refinado, agora pobre e decadente, administrada por uma envelhecida proprietária e uma linda jovem ajudante, Zohra, cujas relação com os hóspedes refletem a realidade social e política do período e das transformações da sociedade egípcia seguida à revolução de 1952.

O PODER OCULTO DA MULHER BONITA
[...]
Qualquer um religioso
Querendo experimentar
Fazer uma procissão,
Sem a mulher ajudar,
Chegando no meio do caminho,
O santo fica sozinho
Sem ter quem o carregar.
A mulher indo no meio,
Como é acostumada,
Anima-se todo mundo,
Ali não falta mais nada...
Da minha parte eu garanto
Que o povo carrega um santo
Que pesa uma tonelada!
Poema do poeta popular paraibano João Martins de Athayde (1880- 1959). (Xilogravura de Airton Marinho). Veja mais aqui.

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A ARTE RICHARD DIEBENKORN
A  arte do pintor estadunidense Richard Diebenkorn (1922-1993).