terça-feira, outubro 03, 2017

JORGE DE LIMA, KANT, BRETON & SURREALISMO, THOMAS RUFF, SEXUALIDADE, RELAÇÕES & EQUÍVOCOS

PRAZER DE VIVER, NADA MAIS – Imagem: arte do fotógrafo alemão Thomas Ruff. - Há tanto andei na vida, interrogações ambulantes, certeza alguma. Melhor assim, outras aprendizagens: o fim da curva é o começo da estrada, pra quem olha qualquer direção. Chegar era partir pra outra sem desfazer as malas do ânimo, assim será: o recomeço pra quem mudou entre certo e errado, e seguir sem saber de cima ou se lá embaixo, um e outro a mesma coisa, noitedia pra lá, talvez acolá, o bom dali, o que ficou aqui, coisas e seres, tão diferentes à primeira vista. Uma mão na outra aquecia o frio da solidão, aprendia sem que nada fosse ensinado. Apreendia, da direta pra esquerda e vice-versa, é como quem vai até não medir o que terá de volta, nem mesmo o retorno será senão nova caminhada. As mãos se complementam na necessidade e fazer, outras mais e melhor que nenhuma: o calor alheio, o prazer, corações pulsantes se completam, e dançam, música no ar. O que não foi feito, não havia de ser ou se perdeu, poderia ter sido, tanto faz. Qual limite, o cansaço. Corri tanto, não vi quase nada e sobrepujei a mim mesmo, não deu em nada, sequer previ riscos, tudo me era oportuno e esclarecedor desde que me perdesse na madrugada e não soubesse como amanhecer. Devagar, o mesmo trajeto na paciência, outros sabores, quantos matizes, hálito, saliva. Tão longe e o começo era meu renascimento. Por mais distante, quão perto estava. Não reconheci pecados e me valia em experienciar ritos de passagem da alvorada ao crepúsculo, bodas de mim mesmo, duas vezes o mesmo rio, todas as correntes, águas diversas, tantas itinerâncias, quantas entregas. Por que jogar pedras aos porcos? Oportunidade de distinguir gente ou. Restava sorrir, choros de compreensão: o prazer de saber nada, viver tudo. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais com a música da cantora e compositora Adriana Calcanhoto com seus álbus Senhas & Público + Saiba & Por que você faz cinema?; do guitarrista inglês de rock progressivo Steve Howe com os seus álbuns Beginnings & Álbum + o show Acustic & interpretando as Bachianas Brasileiras nº 5 de Heitor Villa-Lobos; o regente e violinista finlandês Jukka-Pekka Saraste interpretando Daphnis et Chloe de Ravel & Sinfonieta de Leos Jakacek; e a cantora e compositora Rosana Sabença cantando Manhã de mim, Os mares, Solto o verbo, Magia de ser & Bom. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIANo mundo e mesmo fora dele, nada se pode conceber que possa ser considerado bom sem qualificação, exceto a boa-vontade. Pensamento extraído da obra Fundamentação da metafísica dos costumes (Discurso, 2009), do filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804). Veja mais aqui.

RELAÇÕES & SEXUALIDADE – [...] Se a individualidade é indissociável da vida social, sendo, portanto, simultaneamente, uma questão objetiva e subjetiva; social e individual, a sexualidade humana enquanto dimensão da individualidade, também, não pode ser pensada isolada e independente das relações sociais. Assim, todo processo de convivência afetivo-sexual é resultado tanto das condições históricas específicas de cada sociedade, como, também, da ação de homens e mulheres que, sob essas condições, vivenciam sua sexualidade, instituindo modos variados de controle e critérios de certo e errado na orientação das escolhas individuais e nas decisões afetivo-sexuais. Com isso, podemos afirmar que a realidade das relações afetivo-sexuais é construída historicamente, não se constituindo numa mera derivação biológica ou num processo natural em que homens se relacionam com mulheres. [...]. Trecho extraído da tese de doutoramento O pensamento da esquerda e a política de identidade: as particularidades da luta pela liberdade de orientação sexual (UFPE, 2005), de Silvana Mara de Morais dos Santos. Veja mais aqui e aqui.

MANIFESTO SURREALISTATamanha é a crença na vida, no que a vida tem de mais precário, bem entendido, a vida real, que afinal esta crença se perde. O homem, esse sonhador definitivo, cada dia mais desgostoso com seu destino, a custo repara nos objetos de seu uso habitual, e que lhe vieram por sua displicência, ou quase sempre por seu esforço, pois ele aceitou trabalhar, ou pelo menos, não lhe repugnou tomar sua decisão ( o que ele chama decisão! ). Bem modesto é agora o seu quinhão: sabe as mulheres que possuiu, as ridículas aventuras em que se meteu; sua riqueza ou sua pobreza para ele não valem nada, quanto a isso, continua recém-nascido, e quanto à aprovação de sua consciência moral, admito que lhe é indiferente. Se conservar alguma lucidez, não poderá senão recordar-se de sua infância, que lhe parecerá repleta de encantos, por mais massacrada que tenha sido com o desvelo dos ensinantes. Aí, a ausência de qualquer rigorismo conhecido lhe dá a perspectiva de levar diversas vidas ao mesmo tempo; ele se agarra a essa ilusão; só quer conhecera facilidade momentânea, extrema, de todas as coisas. Todas as manhãs, crianças saem de casa sem inquietação. Está tudo perto, as piores condições materiais são excelentes. Os bosques são claros ou escuros, nunca se vai dormir. Mas é verdade que não se pode ir tão longe, não é uma questão de distância apenas. Acumulam-se as ameaças, desiste-se, abandona-se uma parte da posição a conquistar. Esta imaginação que não admitia limites, agora só se lhe permite atuar segundo as leis de uma utilidade arbitrária; ela é incapaz de assumir por muito tempo esse papel inferior, e quando chega ao vigésimo ano prefere, em geral, abandonar o homem ao seu destino sem luz. [...] Nós, porém, que não nos dedicamos a nenhum trabalho de filtração, que nos fizemos em nossas obras os surdos receptáculos de tantos ecos, modestos aparelhos registradores que não se hipnotizam com o desenho traçado, talvez sirvamos uma causa mais nobre. Assim devolvemos com probidade o “talento” que nos atribuem. Falem-me do talento deste metro de platina, deste espelho, desta porta, e do céu, se quiserem. [...] Neste verão as rosas são azuis, a madeira é de vidro. A terra envolta em seu verdor me faz tão pouco afeito quanto um fantasma. VIVER E DEIXAR DE VIVER É QUE SÃO SOLUÇÕES IMAGINÁRIAS. A EXISTÊNCIA ESTÁ EM OUTRO LUGAR. Trechos extraído Manifestos do Surrealismo (Brasiliense, 1985), do escritor francês André Breton (1886-1966), Veja mais aqui.

MANUAL DE AMORES & EQUÍVOCOS – [...] Três as palavras, as palavras da adoração jorraram da tua boca. E, sem medir o depois, com esse som nos nervos, com o convencimento de que todo o tempo eu guardara as palavras só para ti, antes de transpor definitivamente o umbral da porta, eu as repeti. Repeti as três palavras. As três palavras, que, como o nome de Deus, ninguém deve pronunciar [...]. Trechos da obra Duas iguais: manual de amores e equívocos assemelhados (L&PM, 1998), da escritora e jornalista Cintia Moscovich.

NÃO PROCUREIS QUALQUER NEXO NAQUILO
Não procureis qualquer nexo naquilo
que os poetas pronunciam acordados,
pois eles vivem no âmbito intranqüilo
em que se agitam seres ignorados.
No meio de desertos habitados
só eles é que entendem o sigilo
dos que no mundo vivem sem asilo
parecendo com eles renegados.
Eles possuem, porém, milhões de antenas
distribuídas por todos os seus poros
aonde aportam do mundo suas penas.
São os que gritam quando tudo cala,
são os que vibram de si estranhos coros
para a fala de Deus que é sua fala.
Poema extraído do Livro de Sonetos (Livros de Portugal, 1949) do médico, escritor, tradutor e pintor Jorge de Lima (1893-1953). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

Veja mais:
A música de Adriana Calcanhoto aqui e aqui.
A arte musical de Steve Howe aqui.
O talento musical de Rosana Sabença aqui.
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A ARTE DE THOMAS RUFF
A arte do fotógrafo alemão Thomas Ruff.