sexta-feira, setembro 08, 2017

SHELDRAKE, ALCÂNTARA MACHADO, DVOŘÁK, EDWARD WILSON, PACO DE LUCÍA, BLUMENTAU, FERNANDA ABREU, PAULO JOSÉ DOS SANTOS & BIBLIOTECA FENELON

OS IMPREVISTOS DE CADA COISA – Imagem: arte do fotógrafo estadunidense Ansel Adams (1902-1984). - A cada passo em cada rua ouço os sussurros que evaporam das histórias proibidas de cada lar, misturando as minhas pisadas com seus resmungos, meus pensamentos e suas infâmias, minhas lembranças e seus castigos, minhas divagações e suas dissimulações, choros, arrependimentos, projeções. Em cada uma das casas os seus desfechos e vigências nas corrosivas relações com suas anomalias extraordinárias, invadindo minhas ideias e sinto que só há coisa de sofrer e sonhar, como a que vejo, lar ideal, o pai trabalhador com afinco só pensa em ganhar dinheiro e do muito pro sonho do carro novo, a reforma da casa, a vida boa pra ser o primeiro em todas as vitórias e conquistas e poder na missa domingueira agradecer pelas bênçãos recebidas por ser salvo da miséria e das desgraças da pobreza, às portas do céu enquanto pisa todos que lhe aparecem pela frente durante a semana na sua travessia laboral, pé na goela, língua de fora, sem saber quase nada da família, nem da mulher, nem do filho desmunhecando na esquina pro seu colapso nervoso, nem da filha dando uns tapas no braquearo pra perder a virgindade com o professor que é seu príncipe encantado e pra desastre de sua segunda ponte de safena, sem saber da esposa, mãe zelosa rezadeira noitedia com o terço na mão a pedir de joelhos pros filhos que o pai ignora e ela não sabe o que fazer porque cresceram e se tornaram indomáveis de geração diferente da sua, sem respeitar mais ninguém e o marido só dedicado ao trabalho vai culpá-la por não ter feito a sua parte e a coisa vai ficar feia porque ela sabe que ele já caiu nas graças da secretária que é muito mais nova, é muito mais bonita, é muito mais tudo que ela que ficará na rua da amargura sem saber o que fazer, já que não sabe mais nada, está perdida, sem saber segurar o marido nem cuidar dos filhos, à beira do suicídio, com remédios tantos e dietas exageradas para não engordar e reconquistar o marido que não quer saber dela nem de nada de casa, só do trabalho e vencer na vida, o que será a perda total dela e dos filhos, justo eles, o casal bem sucedido, invejado por todos do bairro, dos familiares, os bem casados, quase trinta anos, eles ainda poderiam ser felizes, mas ela não sabe, nem ele sabe o que se passa, nem seus filhos estão nem aí pro que está acontecendo e tudo está ruindo e precisam ser felizes sem saber como fadados ao mais clamoroso fracasso que não aprendem e um dia acordam estranhos cada qual no seu lugar, saudades um do outro, lembranças de infância e o mundo continua a rodar apesar dos pesares pros que estão vivos e pros que já se foram dessa pra melhor. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ: 24 HORAS NO AR!!!
Hoje na Rádio Tataritaritatá: Romance para piano & violino op.11, Piano Works & The Best do compositor checo Antonín Dvořák (1841-1904); Valsas de Chopin, Concert de Clementi C Major & Concerto p. 17 de Paderewsky com da pianista e compositora polonesa Felicja Blumental (1908-1991); o guitarrista espanhol de flamenco, compositor, produtor e violonista Paco de Lucía (1947-2014) no Festival Jazz Montreux, no Burghausen 2004 e interpretando o Concierto di Aranjuez; e os álbuns Raio X, MTV ao Vivo & Da Lata da cantora, compositora, instrumentista, bailarina e escritora Fernanda Abreu. Para conferir é só ligar o som e curtir.

A DIVERSIDADE DA VIDA – Na bacia amazônica, a maior violência às vezes começa como uma luz vacilante além do horizonte. Lá, na redoma perfeita do céu noturno, sem o menor vestígio de luz produzida por fonte humana, uma tempestade lança seus sinais premonitórios e inicia uma lenta jornada até o observador, que pensa: o mundo está prestes a mudar. [...] alguns tipos de plantas e animais são dominantes, proliferando novas espécies e disseminando-se por extensas regiões do mundo. Outros acabam acuados até se tornarem raros e ameaçados de extinção. existiria uma única fórmula para essas diferenças biogeográficas entre os vários tipos de organismos? Esse processo, devidamente expresso, seria uma lei — ou pelo menos um princípio — de sucessão dinástica na evolução. [...] No meio do caos, algo ao meu lado chamou-me a atenção. Os raios pareciam luzes estroboscópicas iluminando a orla da floresta tropical. a cada intervalo eu podia vislumbrar a sua estrutura estratificada: a abóbada superior a trinta metros do solo, árvores médias espalhadas irregularmente um pouco abaixo e, mais embaixo ainda, uma profusão de arbustos e pequenas árvores. a floresta permaneceu emoldurada por alguns instantes nessa ambiência teatral. sua imagem se tornou surrealista, projetada na selva ilimitada da imaginação humana, lançada de volta no tempo cerca de 10 mil anos. ali nas proximidades eu sabia que morcegos-de-ferradura estavam voando em meio à coroa das árvores em busca de frutos, víboras arborícolas enrolavam-se nas raízes de orquídeas, prontas para dar o bote, jaguares caminhavam pelas margens do rio. em torno deles, oitocentas espécies de árvores, mais do que todas as nativas da América do Norte, e mil espécies de borboletas, 6% de toda a fauna do mundo, aguardavam o amanhecer. [...] Os mistérios ainda insolúveis da floresta pluvial tropical são informes e sedutores. são como ilhas sem nome escondidas nos espaços vazios dos mapas antigos, como formas obscuras vislumbradas ao se descer a parede extrema de um recife até as profundezas abissais. Eles nos instigam e provocam estranhas apreensões. O desconhecido e o prodigioso são drogas para a imaginação científica, despertando uma fome insaciável depois de um único bocado. esperamos de coração que nunca venhamos a descobrir tudo. rezamos para que haja sempre um mundo como esse, em cuja fronteira eu estava sentado na escuridão. A floresta pluvial tropical, com sua riqueza, é um dos últimos repositórios na Terra desse sonho imemorial. [...]. Trechos extraídos da obra Diversidade da vida (Companhia das Letras, 2012), do entomologista e biológico estadunidense Edward Osborne Wilson, renomado cientista reconhecido por seu trabalho nas áreas de ecologia, evolução e sociobiologia.

DAS GALÁXIAS ÀS CÉLULAS: A TEORIA DOS CAMPOS MORFOGENÉTICOS - [...] Os campos morfogenéticos ou campos mórficos são campos que levam informações, não energia, e são utilizáveis através do espaço e do tempo sem perda alguma de intensidade depois de ter sido criado. Eles são campos não físicos que exercem influência sobre sistemas que apresentam algum tipo de organização inerente. […] centrada em como as coisas tomam formas ou padrões de organização. Deste modo cobre a formação das galáxias, átomos, cristais, moléculas, plantas, animais, células, sociedades. Cobre todas as coisas que têm formas e padrões, estruturas ou propriedades auto-organizativas. [...] Todas estas coisas são organizadas por si mesmas. Um átomo não tem que ser criado por algum agente externo, ele se organiza só. Uma molécula e um cristal não são organizados pelos seres humanos peça por peça se não que cristalizam espontaneamente. Os animais crescem espontaneamente. Todas estas coisas são diferentes das máquinas que são artificialmente montadas pelos seres humanos. [...] Esta teoria trata sistemas naturais auto-organizados e a origem das formas. E eu assumo que a causa das formas é a influência de campos organizacionais, campos formativos que eu chamo de campos mórficos. A característica principal é que a forma das sociedades, idéias, cristais e moléculas dependem do modo em que tipos semelhantes foram organizados no passado. Há uma espécie de memória integrada nos campos mórficos de cada coisa organizada. Eu concebo as regularidades da natureza como hábitos mais que por coisas governadas por leis matemáticas eternas que existem de algum modo fora da natureza. [...]. Trechos extraídos da obra Uma nova ciência da vida: a hipótese da causação formativa e os problemas não resolvidos da Biologia (Cultrix, 2014), do biólogo, bioquímico e escritor britânico Rupert Sheldrake.

MANA MARIA – [...] ouvindo os gracejos que dirigiam para a italianinha, para a vagabunda. Ela não ouviu nenhum. E o mais esquisito é que quando mana Maria se aproximava muitas vezes os gracejos dirigidos à italianinha ou à mulatinha cessavam. Por respeito dela, mana Maria. Isso lhe dava um amargor e ao mesmo tempo um orgulho indefiníveis. Era respeitada. Não era desejada. [...] Dobrou a esquina. Ninguém. É bom surpreender assim as ruas desertas no silêncio noturno. De dia a atenção se perde no bonde que passa, na casca de banana, no pregão dos vendedores ambulantes, nuns olhos, num palavrão, num anúncio. A gente vê perto e vê baixo. Das casas só tem importância a vitrina das de comércio, o número das de moradia. De noite, tudo muda. Não há perigo de esbarros, de atropelamentos. A vista se alonga desembaraçada. É possível parar, erguer a cabeça, embasbacar, cismar, examinar, não há respeito humano. E a rua: postes, árvores, jardins. fachadas. Os homens dormem: a rua vela. Ele não saberia exprimir (não era literato, graças a Deus) a sensação gostosa que lhe davam essas voltas a pé para casa noite alta. Mas era evidente que se sentia mais forte, mais homem, o único homem. De dia se anulava na multidão, era ninguém. De noite ganhava outro relevo na sua solidão, uma certeza mais grata de sua realidade. Ouvia os próprios passos, via a própria sombra. Dobrou a esquina. Ninguém. Era como se a rua dissesse: - Pode passar, trânsito livre. Depois na noite vazia, silenciosa, o cheiro dos jardins é mais forte, a feitura das casas mais branda, as calçadas mais largas, as esquinas mais misteriosas. A imaginação tem campo livre. Os homens são prisioneiros das casas, tranca na porta, cadeado no portão. Está reintegrada a rua na posse de si mesma, no gozo de sua liberdade. Tal como é e não como a fazem e sujam os homens, a desfiguram os homens de dia. Deserta a cena, vive o cenário. Através das venezianas no terceiro andar da casa de apartamento se escoa uma luz vermelha. Se ele fosse ver a Zoraide? Quase uma hora. Tarde demais. Dobrou a esquina. Alguém. Ainda distante, na mesma calçada, cambaleando. Embriagado. Melhor atravessar a rua. Detestava bêbados, tinha pavor de bêbados. O vulto colou-se à árvore. Depois se equilibrou na guia do passeio, pesadamente desceu ao leito da rua. Joaquim resolveu não mudar de calçada. Agora o bêbado olhava o céu. Lua cheia. Tirou a palheta. Era o Platão de Castro. Joaquim apressou o passo. [...]. O homem agradeceu (quem pagaria para tratarem o túmulo quando ela morresse?), mana Maria foi andando devagar. Olhou o relógio: 11 horas. Na área principal deu com um enterro que chegava. Atrás do caixão um velho caminhava, o lenço nos olhos, amparado por dois moços também chorosos. O padre com o livro de orações protegia a vista contra o sol forte. Pouca gente. O sino da capela tocou. Mana Maria deu 400 réis para a negra velha. Não costumava dar esmolas não. Mas sentiu que ali devia dar. Estava um pouquinho comovida. No enterro dela não viria ninguém. Era capaz até de faltar gente para carregar o caixão. Morreria num hospital. Para não dar trabalho para ninguém. Foi descendo a Rua da Consolação ao longo do muro do cemitério. Na frente dela duas meninas de sandália carregavam uma cesta de lavadeira. Como um caixão. Uma de cada lado segurando na alça. Apressou o passo, na esquina tomou um táxi. Do automóvel ainda viu as meninas que haviam pousado a cesta na calçada, descansavam alegres. Trechos extraídos da obra Mana Maria (Nova Alexandria, 2002), do escritor Alcântara Machado (1901-1937). Veja mais aqui.

STORYTELLING: HISTÓRIAS PROIBIDAS – O drama-comédia Storytelling (2001), dirigido pelo cineasta Todd Solondz,, é composto de duas partes, a primeira ficção, trata de um grupo de estudantes universitários em uma sala de aula de um professor que se prepara para usar e abusar de suas alunas brancas; a segunda, não-ficção trata de um jovem que abandona tudo na vida para seguir seu sonho e enfrenta o fracasso. Há que se observar que o termo Storytelling é relacionado com uma narrativa e significa  a capacidade de contar histórias relevantes, consistindo num método que utiliza palavras ou recursos audiovisuais para transmitir uma história que pode ser contada de improviso ou polida e trabalhada, sendo muito usado no contexto da aprendizagem e na forma de transmissão de elementos culturais como regras e valores éticos. Veja mais a respeito do filme aqui.

BIBLIOTECA PÚBLICA MUNICIPAL FENELON BARRETO
Corpo funcional da Biblioteca, comandada pelo diretor João Paulo Araújo. Veja a história, missão, ações e eventos aqui.

Veja mais:
A música de Antonín Dvořák aqui.
A arte da pianista e compositora polonesa Felicja Blumental aqui.
Faça seu TCC sem Traumas: livro, curso & consultas aqui.
Livros Infantis do Nitolino aqui.
&
Agenda de Eventos aqui.

RIO UNA
Meu Rio Una, eu já vi,
Teu nome bonito e franco,
Que não vem do homem branco,
Mas vem da língua Tupi
Quem entende o guarani
Sabia te pronunciar
Ficava a te olhar
Dia e noite estava vendo
As tuas águas correndo
Porque não pode parar.
Meu Rio Una nasceu
No agreste capoeira
Pouquinha água ligeira
Correndo no leito seu
Mas contente desceu
Se uniu ao Rio Riachão
Cajazeira Boqueirão
Bravo, Mandrágua, Taquara
E lá águas limpas e claras
Correndo no nosso chão.
Passa por Cachoeirinha
Cachoeira Grande e Altinho,
Ruma pro sul baixinho
Igual canta a andorinha
Banha-se da vizinha
Com sua amizade ingrata
A esquerda recebe o Rio Prata
As direitas o Rio Mentiroso
O seu afeto amoroso
De sua margem sem frata
O Una não banha Catende,
Porém  banha Batateiras
Pouquinha água ligeira
Correndo no nosso chão
No riacho do sertão
Que mearim faz terra da cana
É nossa terra bacana
Correndo no nosso chão
Quando chega em Palmares
Recebe o Rio Verdinho
Recebe o Camevozinho
Que abastece os nossos lares
Indo com vizinho intermediário
Das terras do Mulungu
Tiraram a água do Prata Para Caruaru
E deixaram de ir pra Palmares
Quando chega na Barra do Una
Endireita o seu leito
Fazendo um curso perfeito
Como já é de costume
De observar os cardumes
Do peixe que vai pro mar.
Poema do poeta popular Paulo José dos Santos, autor dos cordéis Por causa da carestia o mundo não presta mais, Nessa era em que estamos, Interpretação de Trombetas, Palmares eu prezo ser seu filho, entre outros. Veja mais aqui.