quinta-feira, setembro 07, 2017

MURILO MENDES, HANS JONAS, DARCY RIBEIRO, GADAMER, LIVINGSTONE SMITH, ZHU HONGYU & MUITO MAIS!!!

BRASIL A SÉRIO, NÃO RIA! - Quando nasci já era carnaval no Brasil e salve salve vida nossa patriamada. Era mais de sessenta ao redor da televisão, os olhos pregados nas cenas da tela noite adentro de se perder hora e tempo na fumaça da escuridão. Só quando eu dei por mim já falavam de um país que ia pra frente, cantando o progresso e todos fora dele, não sabia como, mas era. Não sabia o porquê das botas e armas no corredor da minha casa, aos cochichos que o vizinho sumira de uma hora pra outra pra nunca mais e nunca mais era já e eu não sabia nas aulas de Moral e Cívica, nos desfiles do dia 7, e nunca mais era a cidade o Moscouzinho e nem soubera porque era um pega pra capar comunista salvando as criancinhas pra festa da padroeira dia 8. Assim era, ah, já era entressafra de maio pra comemorar a emancipação política no mês seguinte, com outras marchas juvenis pra quem agradava a si e ao suposto país entre golpes e marmeladas, pacotes e carestias e racismo e mamatas e compras de votos nos currais eleitorais a mando da botada da usina que anunciava a pejada só pro ano que vem e era nunca mais porque já era dos anos sessenta pros setenta e pros oitenta, vinte e cinco anos de tristeza com bandeira a meio pau da venta, sem festa nem alforria, enquanto politicólogos se enrolavam na TFP que organizava o desfile com seus fogos de artifício na marcha da pátria e da família, e tinha gente passando fome no canavial e gente presa torturada em nome da segurança nacional que nos dava maior insegurança e o Brasil pedia bis nos festivais de música e não havia amanhã pro futuro, nunca mais era só um milagre de mentirinha imitando estrangeiros e todo mundo levou a sério, como se sério fosse qualquer piada sem graça a esconder a verdade pra jamais ter coragem para justiçar os mortos, nem pra reforma agrária, nem pra verdade de nada, nem cidadania, nem dignidade nem nada porque a felicidade era urgente e pra nunca nunca mais e o que passou passou não voltaria mais pros vivos mais mortos que enterrados cadáveres na injustiça de sempre pra nunca mais e só restava cantar uma Nênia de Abril. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ: 24 HORAS NO AR!!!
Hoje na Rádio Tataritaritatá: The Planets Suite, St. Paul’s Suit & Symphony in F Major The Cotswolds, do compositor, arranjador e professor inglês Gustav Holst; a interpretação da violoncelista estadunidense Alisa Weilerstein para o Concerto in D Major 1 de Haydn, Variations on a Rococo Theme op. 33 de Tchaikovsly & Hindemith Cellokonzert HR Sinfonieorchester; os álbuns Perto do coração, Mantiqueira, Só Xote e Música Popular Brasileira Contemporânea do produtor musical, arranjador, instrumentista, regente e compositor Nelson Ayres; e os álbuns Cidade Blues Rock nas Ruas & Salve a beleza da cantora, compositora e jornalista Mona Gadelha. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PRINCÍPIO RESPONSABILIDADE - [...] O homem é o único ser vivente que pode assumir responsabilidade diante do que faz, e com esse ‘pode’ já é de fato responsável [...] Por repensar o conceito de responsabilidade e sua extensão, nunca antes concebido, sobre o comportamento de nossa espécie inteira em relação à natureza, a filosofia dará o primeiro passo em direção a assumir essa responsabilidade. É meu desejo para a filosofia que persevere nesse empenho, sem medo de qualquer eventual dúvida referente ao seu sucesso. O século que está chegando tem direito a essa perseverança [...]. Trechos extraídos da obra O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica (Contraponto, 2005), do filósofo alemão Hans Jonas (1903-1993). Veja mais aqui.

BRASIL AOS TRANCOS E BARRANCOS - [...] Ao predomínio das multinacionais sobre a economia brasileira, a seu domínio sobre os órgãos formadores de opinião pública, a seu controle das redes de comunicação de massa, correspondem uma descaracterização progressiva de nossa cultura e uma alienação também crescente de nossa consciência nacional. Atitudes de desprezo para com o nosso país e de descaso para o nosso povo, que são inerentes à condição dos agentes das empresas que nos exploram, se difundem aos executivos brasileiros, por ela cooptados, e, destes, a camadas mais amplas, generalizando-se assim uma consciência espúria, fundada em valores estranhos e hostis a nós, que converte muitos dos brasileiros mais influentes em agentes ativos da recolonização do Brasil. São os que detestam os pobres, os pretos, os mulatos, os nordestinos, os gaúchos, culpando-os de sua penúria. Uma nova civilização começa a surgir debaixo dos nossos narizes. Ainda sem cara visível, ela já põe em causa todos os modos humanos a ser e de pensar, mesmo os aparentemente mais estáveis: o machismo e a feminilidade, a religião e a política, a juventude e a velhice, a beleza e a feiúra. Que seremos amanhã, nós, pessoas, poços, raças, na forma que temos hoje? Só sabemos ao certo que vamos ser outros; tão diferentes de nós, ou ainda mais do que nós somos de nossos ancestrais mais arcaicos. [...]. Trecho extraído da obra Aos trancos e barrancos: como o Brasil deu no que deu (Guanabara, 1985), do antropólogo e escritor Darcy Ribeiro (1922-1997). Veja mais aqui e aqui.

A VERDADE, SOMENTE A VERDADE? – [...] O fenômeno da compreensão e da maneira correta de se interpretar o que se entendeu não é apenas, e em especial, um problema da doutrina dos métodos aplicados nas ciências do espírito. Sempre houve também, desde os tempos mais antigos, uma hermenêutica teológica e outra jurídica, cujo caráter não era tão acentuadamente científico e teórico, mas, muito mais, assinalado pelo comportamento prático correspondente e a serviço do juiz ou do clérigo instruído. Por isso, desde sua origem histórica, o problema da hermenêutica sempre esteve forçando os limites que lhe são impostos pelo conceito metodológico da moderna ciência. Entender e interpretar os textos não é somente um empenho da ciência, já que pertence claramente ao todo da experiência do homem no mundo. Na sua origem, o fenômeno hermenêutico não é, de forma alguma, um problema de método. O que importa a ele, em primeiro lugar, não é estruturação de um conhecimento seguro, que satisfaça aos ideais metodológicos da ciência - embora, sem dúvida, se trate também aqui do conhecimento e da verdade. Ao se compreender a tradição não se compreende apenas textos, mas também se adquirem juízos e se reconhecem verdades. Mas que conhecimento é esse? Que verdade é essa? [...]. Trecho extraído da obra Verdade e método: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica (Vozes, 1998), do filósofo alemão Hans-Georg Gadamer (1900-2002), discutindo a metodologia das ciências do espírito e da natureza na busca da verdade, à luz da ciência hermenêutica. 

POR QUE MENTIMOS? - No princípio havia a mentira [...] Mentimos para conseguir coisas que seriam mais difíceis de obter de outra forma [...] mentimos em qualquer circunstância na qual manipular o comportamento do outro pode ser vantajoso para nós [...]. Trechos extraídos do livro Por que mentimos: os fundamentos biológicos e psicológicos da mentira (Campus, 2006), do filósofo, psicólogo, professor PhD e historiador David Livingstone Smith, contando com as histórias de Adão e Eva, Rei Lear, Chapeuzinho Vermelho, histórias recheadas de invenções, são interessantes exatamente por satisfazerem a necessidade humana de mentir para observar que a mentira na raiz da herança cultural e a necessidade de enganar - inclusive a si mesmo - vai de um extremo a outro da cultura. Veja mais aqui e aqui.

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A MULHER DO DESERTO
A mulher de areia
Penteia os cabelos de folhas de palmeira,
Estende as mãos de cardo
Pedindo águas
Depois descansa as mãos de cardo
Na humildade da pedra.
A mulher do deserto
Pensa nos seus amores infelizes
Pensa nos seus amores
Que se evaporam quando o Sol nasceu,
Depois não pode mais pensar
Porque o tempo é pouco para pedir água.
Poema extraído da obra Melhores poemas (Global, 2000), do poeta e prosador do Surrealismo brasileiro, Murilo Mendes (1901-1975). Veja mais aqui e aqui.

A ARTE DE ZHU HONGYU
A arte de fotógrafo Zhu Hongyu