sábado, setembro 30, 2017

EMERSON, MONTEIRO LOBATO, GENERINO BATISTA, PAULO CALDAS, SERGIO VALLE & PADRE CÍCERO

A SEGUNDA DO PADRE CÍCERO – Depois de matar duas, o Padre Cícero obrou milagre: ressuscitou uma delas. A que se foi, Deus tenha em bom lugar. Desse dia em diante, Vera nunca mais deixou de dedicar uma hora que fosse do seu dia, para contritas rezas pro seu devotado. Não perdia sequer a oportunidade de narrar aos amigos e presentes acerca da experiência de ter visto de um só lance anteriores encarnações, como teve a oportunidade de ser levada por seu padroeiro, à presença do Criador, de passear no céu, de ficar alarmada com as cavernas de fogo do inferno, de ser recepcionada no purgatório e de ressurgir incólume do Hades. Graças ao seu santificado padrinho, pode percorrer tudo e retornar com vida para contar a todos. Tanto é que a tia dela, bastante sensibilizada com o que ela contava repetidamente, passou, então, também a adorá-lo, a ponto de, certo dia, ao chegar na feira, deu de cara com uma imagem que se diga lá de mais ou menos, mas que lembrava bem o virtuoso pároco nordestino. Quanto é? Quinhentos. Dou cem! Quatrocentos! Duzentos! Trezentos! Aí ela abraçou-se com ele, viu que era pesado, tinha pra mais de metro e meio, quilos do muito. Duzentos pra deixar lá em casa! Duzentos e cinqüenta! Fechado. Onde a senhora mora? Ela dobrou o beiço de baixo, como se apontasse a direção: logo ali. O vendedor emborcou a imagem na cacunda, pesava muito, andou mais ou menos uns quinze a vinte quilômetros, não sei, aos reclamos: A senhora não podia morar mais longe não? Chegamos! Ah, ainda bem! Dinheiro na mão, santo num canto da sala. Todo dia, ela e Vera se ajoelhavam em preces por horas. Deu-se um dia da tia bater as botas e havia um pedido seu a ser cumprido no sepultamento: ela queria ser enterrada com a imagem do santo. Mas não dá! Tem que dar, é o último pedido dela, tem que ser cumprido. Um bêbado aproximou-se do caixão: hem, hem, tão nova, partiu dessa pra melhor. E ouviu a arenga entre Vera e o rapaz do serviço funerário: ah, pedido de morta tem que ser cumprido! Vai pra lá, bêbo! Quando deitaram a imagem, era maior que a defunta! Num tá vendo? Providenciaram outro caixão: também não dá, o chapéu do padre é muito grande! Aí o bebo: besteira, tira o chapéu! Foi, então, a marteladas, arrancaram a aba do chapéu. Quanto trouxeram a estátua para colocá-la no caixão, o bêbo gritou: eita, o padim padre Cícero veio de moto, oxe, vão enterrá-lo com capacete e tudo, é? Sai pra lá bebão. Fecha o cachão! Perai, deixa eu me despedi do santo e da defunta! Vai pra lá, cachaceiro! Tenho direito! E deixaram, o embriagado abriu a tampa do caixão e gritou: Pade Ciço, não me enrole, vá, me dê a chave da moto que eu quero ir pra casa! Avie, homem! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais com o cantor e compositor Elomar Figueira de Mello com seus álbuns Das barrancas do Rio Gavião & Fantasia leiga para um rio seco; a pianista, compositora, artista e diretora japonesa Tomoko Mukaiyama interpretando Multus #1 Canto Ostinato, Zorn Bolcom Zappa & Illuseum #1; o guitarrista e violonista Ricardo Silveira com seus álbuns Bom de tocar & Sky light; e a cantora e compositora Ná Ozzetti com os álbuns Love Lee Rita & Show. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIANossos olhos são limitados, de modo que não podemos ver as coisas que estão bem à vista, até que chegue o momento em que nossa mente esteja amadurecida. do escritor e filósofo estadunidense Ralf Waldo Emerson (1803-1882). Veja mais aqui, aqui e aqui.

A HISTÓRIA DA PENINHA - Um sujeito propôs a outra esta adivinhação: “Qual o bicho que tem quatro pernas, come ratos, mia, passeia pelos telhados e tem uma peninha na ponta da cauda?” Está claro que ninguém adivinhou. – Pois é o gato, explicou ele. – Gato com peninha na cauda? – Sim. A peninha está aí só para atrapalhar. Trecho extraído do texto O nosso dualismo (Cult, maio/2002), do escritor Monteiro Lobato (1882-1948). Veja mais aqui, aqui e aqui.

O SOL ALÉM DA MINHA RUA – [...] A rigor, o destino parecia ter-lhe reservado o desconforto divino das viagens de ônibus. Aperto, calor, tempo perdido. A vida é difícil, cruel, para quem é jovem pai de família e vive feito eu, sem perspectiva numa grande cidade do terceiro mundo. Cruel no sentido que o destino, se é que existe, costuma premiar poucos e punir a maioria. Cruel pra fechar o horizonte aos anseios dos mais jovens. Trecho extraído da obra O sol além da minha rua (Bagaço, 2003), do escritor e editor Paulo Caldas. Veja mais aqui.

EITA, GOTA!Você tem toda razão / dizer que não falo bem / papai chamava pru mode / mamãe dizia qui nem / um filho desse casal / que português é que tem! Poema do poeta Generino Batista. Veja mais aqui e aqui.

BIBLIOTECA FENELON BARRETO
Recepcionando a estudantada com os poetas Paulo Santos & Genésio Cavalcanti na Biblioteca Fenelon Barreto.

Veja mais:
Padre Cícero matou duas aqui.
A arte musical e poética de Elomar aqui e aqui.
Vera indignada aqui, aqui e aqui.
A arte musical de Tomoko Mukaiyama aqui.
Dia da Secretária aqui e aqui.
A secretária do Tataritaritatá aqui.
A arte musical de Ná Ozzetti aqui.
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A ARTE DE SÉRGIO VALLE DUARTE
A arte do fotógrafo e artista multimídia Sérgio Valle Duarte.
 

sexta-feira, setembro 29, 2017

THIAGO DE MELLO, HANS BELLMER, MARIO SETTE, SÉRGIO AUGUSTO, RONILDO MAIA LEITE & SIDNEY WANDERLEY

LINGUA FALOU, CU PAGOU! - Denilzinho era um arretado: servidor, jeitoso, estibado. Precisasse, pau pra toda obra; solidário até com morte de formiga. Diziam: esse vive de cara pra lua! Isso porque ninguém nunca via nele cara feia ou dizer não: sempre pronto para ajudar e resolver o que fosse para o bem de quem chegasse. E o melhor: com o maior dos sorrisos. Dinheiro? Sacava dos bolsos: tome! Carro emprestado, chaves dispostas na hora! Adoeceu? Estava pronto para palavras amigas e providenciar remédios, indiferente de quanto custassem. Eu num disse? Um sujeito pra lá de gente boa mesmo. Mas... Ninguém é perfeito: quando virava um copo, vixe! O cabra se transformava no pior cricri dos chatos de galochas. Era só às gaitadas: fulano? Aquilo é um corno safado da gaia mole! Sicrano? Aquilo é uma pestilência da mais gangrenosa! Beltrano? Um viado safado do cu afolosado! E mulher? Ah, a mulher de casa é feito galinha de granja: cheirosinha, limpinha, toda jeitosinha, mas insossa, aguada; já a mulher da rua, a puta nojenta, oxe, é feito carne de galinha de capoeira: fedorenta de inhaca da peste, melada, cagada, mijada, fodida, cuspida e mal paga, mas, ainda assim, é a maior sustância, suculenta, vixe! Chega dá vontade de comer de se empanzinar todo! Ô coisa boa! E repetia isso até diante da sua distinta senhora que, pudica das mais religiosas, abria um sorriso amarelo por educação e fazia que nem ouvia, resignada, serviçal pra tudo a bem do marido, vivia só pra ele providenciando iguarias e bebidas, o rei da casa que ela obedecia e devotava toda sua vida, arrumando da varanda à cozinha, ajeitando do jardim ao quintal, roupa engomada, tudo pronto antes mesmo dele pedir, e nos trinques todo dia e o dia todo. Isso até o dia que Denilzinho, depois de muitas e tantas, tomou uma de emborcar trocando as pernas na beira da cama, resmungando o flagra da infidelidade marital: ué, mulher, o que é que é isso? E ela, sem fazer a menor cerimônia, cuspiu na lata dele com a cara mais lisa: Oxe, homem, de tanto você dizer, eu fui fazer um teste pra vê se era mesmo galinha de granja, ora, pra seu governo o macho aqui me certificou que sou mesmo é galinha de capoeira. E das boas! Gostei e quero mais! Tai, língua falou, cu pagou! Teibei! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais com o compositor, músico e cantor Ivan Lins ao vivo + Quem saberia perder + Java Jazz; aa premiada violinista alemã Viviane Hagner interpretando Grétry Violon Concert Henri Vieuxtemps & Israel Philharmonic with Zubin Mehta; o violonista e compositor Nando Lauria interpretando músicas dos  álbuns Novo Brasil & Points of view; e a belíssima cantora Julya Cristal interpretando música do seu álbum A journey to Shamnalla &  Forever more. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Glamour não é um dote natural, mas um artifício burilado pela pericia de técnicos em plástica, elegância, iluminação e marketing. Glamour, portanto, se adquire – mas nem todos podem comprá-lo. Sua aquisição exige sacrifícios, sobretudo de ordem física [...] Não é menos árdua a sua conservação. [...] As recompensas são tais e tantas que poucos atores se confessaram arrependidos das concessões a que se sujeitaram, trocando de cara, nome e, não raro, até de biografia. [...]. E entendemos o desespero daquela personagem da peça Angel City, de Sam Shepard, que a certa altura desabafa: “Eu odeio minha vida. Queria que ela fosse um filme. Eu odeio o que sou. Eu queria estar vivendo um filme, mas não estou e nunca estarei”. Trechos do ensaio Minha tela tem estrelas (Bravo, abril/2004), do escritor e jornalista Sérgio Augusto. Veja mais aqui.

AS MULHERES DE IGARASSUDuarte Coelho [...] donatário da capitania de Pernambuco, fundara à margem de um rio do mesmo nome a vila de Igarassu [...] Ali vinham ter as embarcações que chegavam de Portugal, trazendo colonizadores, mercadorias, víveres, e, pouco a pouco, a localidade crescia. [...] Os gentios, porém, que de começo se haviam mostrado cordatos, auxiliadores, deram em se insurgir contra os portugueses, declarando “guerra aos brancos”. [...] Durava já dois anos o assedio e, por isso, andavam os homens fatigados das vigílias sempre receosos de um ataque súbito dos indígenas. As mulheres, então, ofereceram-se para substituí-los nas sentinelas, durante as longas noites, e foram aceitas nesse arriscado mister, sem que dessa medida o inimigo viesse a ter mínima ciência. E afinal, uma vez, quase pela madrugada, sorrateiramente os índios ensaiaram tomar a vila de assalto, atacando o forte que defendia do lado do rio. As mulheres avistando aqueles vultos que escalavam as muralhas, rojaram-se sobre eles de espadas em punho, acutilando, ferindo, matando, com todo animo. Todavia, mais fracas e em menor numero, iam sendo subjugadas. E foi quando uma delas, por dar aviso aos homens que dormiam, teve uma fuzilante ideia. Apoderou-se de um tição, chegou-o ao ouvido de uma peça e disparou-a. o tiro reboou no silêncio da noite. Os soldados despertaram, correram aos seus postos, salvando a vila de uma capitulação. Trechos extraídos da obra Terra pernambucana (FCCR, 1981), do professor, jornalista e escritor Mario Sette (1886-1950). Veja mais aqui, aqui e aqui.

A GUERRILHEIRA & O MAGRICELA BARBUDO - [...] Entre um gole e outro, costumava dizer, já agora aos berros: - Mulher casada que faz amor somente com o marido, para mim não passa de uma virgem... E dava cafunés dengosos na cabeça da esposa, que os olhos abaixava em sinal do mais bíblico respeito. Numa almofada distante, um magricela barbudo acompanhava o baixar de olhos, como na missa. Noite alta, até o gogó ele encheu o copo do uísque. Sem gelo, engoliu à maneira dos caubóis. Claro, entrou em coma profundo. Quando voltou a si, todos estavam ao redor das coloridas almofadas. Menos o magricela barbudo. Dirigiu-se ao quarto. Foi quando descobriu que, toda sexta-feira, o barbudinho se entregava ao dialético prazer de desvirginar a guerrilheira amada. Trecho extraído da obra A guerrilheira perfumada: crônicas do amor diário (Raiz, 1990), do jornalista e escritor Ronildo Maia Leite (1930-2009).

UM TRIPLO TIBUNGO HERÁCLITOTrês meninos mergulharam no rio / o rio mergulha na tarde / a tarde mergulha no tempo / que envelhece os meninos / que engole os sonhos e os que sonham / que altera o curso do rio / para que três outros meninos / em outra tarde, outro rio / renasçam em outros mergulhos. Poema extraído de Artesanias da palavra (Grafmarques, 2001), do professor e poeta Sidney Wanderley. Veja mais aqui, aqui e aqui.

EPITÁFIO DE THIAGO DE MELLO
O canto desse menino
Talvez tenha sido em vão.
Mas ele fez o que pôde.
Fez sobretudo o que sempre
Lhe mandava o coração.
Poema recolhido da obra Faz escuro mas eu canto (Civilização Brasileira, 1985), do premiadíssimo poeta amazonense Thiago de Mello. Veja mais aqui, aqui e aqui.

Veja mais:
A literatura de Cervantes aqui, aqui e aqui.
A pintura de Caravaggio aqui.
A música & entrevista de Ivan Lins aqui, aqui e aqui
O pensamento de Miguel de Unamuno aqui e aqui.
A arte musical de Viviane Hagner aqui.
O cinema de Michelangelo Antonioni aqui.
A arte musical de Nando Lauria aqui.
O teatro de Plinio Marcos aqui, aqui e aqui.
A arte da cantora Julia Crystal aqui, aqui e aqui.
O teatro de Mário Bortolotto aqui.
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A ARTE DE HANS BELLMER
A arte do escultor e gravurista alemão Hans Bellmer (1902-1975).

quinta-feira, setembro 28, 2017

STEVENSON, GOELDI, CELSO FURTADO, TENSHIN TANOUYE ROSHI, EDUCAÇÃO AMBIENTAL, J. BORGES, BÓRIS TRINDADE & AMARO MATIAS

QUEM ANDA DE NOITE QUE VÊ MUITA COISA, TAMBÉM CALA A BOCA – Imagem: arte do desenhista, ilustrador, gravador, químico e professor Oswaldo Goeldi (1895-1961). - Um dia lá, não sei quando, apareceu em Alagoinhanduba o afoito sargento Satanás que, mal chegando à delegacia da cidade, mostrou logo ao que veio. No primeiro plantão não deu moleza: recolheu uma ruma de bêbados, desocupados, suspeitos e abestalhados que marcavam bobeira depois das dez badaladas noturnas. E agora tem toque de recolher é? Tem sim, senhor! Agora é a minha lei! Foi o maior escarcéu, a cidade em peso não pregou os olhos, amanhecendo todo mundo de ressaca. Expediente vinte e quatro horas no ar, o último interrogado findou quase meio dia, ao final ele encarou a multidão: - De agora em diante, aqui é direto que nem cantiga de grilo! Quero ver meliante, desocupado ou quem quer que seja que tenha o topete de não respeitar minhas ordens. Agora é pra valer! Podem dizer aos quatro cantos que agora a cidade está sob as ordens do sargento Satanás! E chispem todos daqui que quero descansar um pouco para manter a ronda! Não deu nem meia hora, ele já estava de casa em casa perguntando por crimes dos matagais, do canavial, de vinte anos passados. Oxe! Quem mais se lembra? Comigo não tem prescrição penal, matou, roubou ou cometeu qualquer delito, pode ser de duzentos anos atrás, eu pego e prendo! Esse homem é a gota! Vixe! Ele não dorme, é cada boticão de olho, parece mesmo o tinhoso de tão aceso que é! Mas num é que é mesmo! Será que ele tem partes mesmo com o desnaturado? Sei não, sei que ele está falando pelas casas que visita de crimes de não sei de onde, outros do tempo do ronca, vôte! Dizem que é porque está sabendo que a cidade é calma, mas nos canaviais, nos arredores, nos ermos distantes, todo dia aparece presunto. Tem mais: ele disse que vai descobrir o que é que está acontecendo por aqui. Ué, mas aqui não morre gente nem de morte matada, nem de morte morrida, faz tempos! O coveiro já desapareceu porque não se enterra gente de jeito nenhum há muitos anos. Pois é. Você aí, que é que você sabe sobre aquele corpo que apareceu ontem no canavial? Não sei, não vi, sei de nada não! E você? Oxe, sargento, nem sabia que tinha defunto no canavial, ora! Vocês estão de bico calado, estou só brechando a conduta de vocês, está todo mundo suspeito. Tenho certeza que tem um monte de gente envolvida! Minha cisma não me deixa enganar, vou investigar a fundo e ai de quem estiver implicado! E todo dia ele partia da entrada à saída da cidade, prendendo quem fosse encontrado no meio da rua depois das dez da noite. Gente que largava do turno da usina, enfermeira, vigia, prostituta, gigolô, cafetão, quem saía da sessão de cinema ou largava da escola, duzentas voltas do camburão e gente como a praga no interrogatório até depois do dia amanhecer. Uma semana se passaram e ele não conseguiu avançar um passo nas investigações. Até o dia em que um bêbado linguarudo delatou: sargento, o senhor tem que investigar é nas cidades vizinhas, na rodovia, por aí, não é aqui não. Bastou isso e o cabra teve que se explicar, como estava completamente embrigadíssimo, no primeiro aperto, arriou no ronco. A autoridade não deixou por menos e carregou o camburão, foi pra rodovia inquirir o primeiro que passasse: sei de nada não, estou indo pra casa. Uma hora dessas? Seu polícia, larguei agora. Está sabendo de defunto no canavial? Seu polícia, saber, não sei não, mas sei que quem dá com a língua nos dentes já tem missa de sétimo dia encomendada. Como é? Ah, aqui falou, no outro dia aparece com a boca cheia de formiga! E é? É, sim senhor. Pois você está detido para maiores esclarecimentos! Ei, ei! Sim? E você? Eu o quê? O que é que está fazendo por aqui uma hora dessa, hem? Ah, nem sei o que estou fazendo aqui! Preso! Mas, sargento! Preso sob suspeita! Leva! E saiu vasculhando tudo até topar um estranho que não abriu o bico nem com aperto, nem com cano de revólver no toitiço. Esse é teimoso, encarca mais! Aperta mesmo! Um que ia passando e foi interpelado, explicou: ele é surdo-mudo. Ah, tá. E você? Estou indo pegar ficha no posto de saúde. Oxe, a essa hora? As fichas são distribuídas a partir das três da manhã. Está sabendo dos crimes no canavial? Olhe, seu polícia, saber, eu até soube sim, mas tem um ditado que diz: quem anda de noite e vê muita coisa, também cala a boca. Preso para averiguação! Assim era todo dia, maior trupé! Prendia trocentos de noite, tudo solto lá pelo meio dia. E nada de apuração nenhuma, nenhum inquérito instaurado. E pra valer, os esquifes eram encontrados em terras de outros municípios, não de Alagoinhanduba. Mas ele não arredou pé, de mutuca dia e noite. Até ser surpreendido: quem é? Sargento! Quem é? Ele olhou do lado e não viu ninguém. Quem é? Apareça disgramado! Seja home, mostre a cara, cabra safado! Sargento, aprenda: quem anda de noite que vê muita coisa, também cala a boca. E ninguém nunca mais viu o sargento. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais com o cantor, compositor e miltiinstrumentista Beto Guedes ao vivo + o álbum Contos da lua vaga + Todo azul do mar com Roupa Nova; a pianista Miriam Ramos interpretando Retrata de Ricardo Tacuchian + Grande Valsa Brilhante & Fantasia de Chopin; o violonista Álvaro Henrique com a Suíte Candanga, Preludes de Villa-Lobos e a Grand Overture de Mauro Giuliani; e a cantora e compositora Cris Braun cantando músicas do seu álbum Cuidado com as pessoas como eu. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIAA dor não está piorando; sua capacidade de suportá-la é que está diminuindo. Você precisa aprender a empurrar a rocha para onde ela quer ir. Pensamento do mestre zen Tenshin Tanouye Roshi (1938-2003).

PROJETO BRASIL - [...] a natureza, o alcance e os riscos da chamada política de integração latino-americana poderão ser colocado sob nova luz. O mesmo pode-se dizer com respeito à controvérsia em torno do papel do Estado no desenvolvimento. Como a eliminação do desenvolvimento à base de um projeto nacional não seria compatível com a preservação da identidade cultural, não é demais afirmar que política de desenvolvimento e luta pela preservação da personalidade nacional tenderão a confundir-se em nosso país. Trecho extraído da obra Um projeto para o Brasil (Saga, 1968), do economista brasileiro Celso Furtado (1920-2004). Veja mais aqui.

MEIO AMBIENTE & EDUCAÇÃO - [...] os trabalhos sobre poluição e preservação ambiental surgiram com freqüência cada vez mais crescente. A maioria diz respeito ao desaparecimento de espécies vegetais e animais, à devastação de florestas, à inadequação do uso do solo, ao uso de ecossistemas hídricos com depósitos de resíduos industriais e, sobretudo, à solicitação desregrada de recursos naturais pela indústria. Seus resultados preconizam dois pontos básicos: a preservação da natureza e o combate à poluição. O crescimento populacional e o tipo de desenvolvimento econômico têm sido apontados como causas básicas do desequilíbrio ecológico. [...] partindo do princípio de que a educação pode ser usada como instrumento para reforçar a integração do homem com o ambiente, discute-se e questiona-se seu papel naquela comunidade. [...] é possível cogitar-se de uma prática educativa integrada à realidade e, portanto, a serviço do bem-estar humano. [...] Na prática significa que a educação, vista como instrumento das relações sociais, inculca paradoxalmente um efeito conscientizador, libertador, propiciando condições para um papel reformista. E, pois, neste contexto de relacionamento dialético que se situa o espaço onde a consciência ecológica emerge, postulado a defesa ambiental para sobrevivência do homem e da sociedade. Trechos extraídos do livro Ecologia humana: realidade e pesquisa (Vozes, 1984), da professora, bióloga e pesquisadora Maria José Araújo Lima. Veja mais aqui, aqui e aqui.

DIREITO SEM DIREITOO palácio do governo, seguramente, não era o meu lugar. Ali estava eu, indicado pelo advogado José David Gil Rodrigues, ao então governador Paulo Guerra. Quando cheguei em casa, vários recados me aguardavam, depois de exaustiva caminha por algumas cidades do interior. E o convite estava aceito. Abril de 1964. Abril de 1964: senti que ali não era o meu lugar. Um dia, o poeta Edson Régis, então secretario do governo, me pediu para defender dois presos políticos, um dos quais, Maria Celeste Vidal, militante das Ligas Camponesas, organização onde atuei como advogado, durante muito tempo, chamado que fui por Francisco Julião. Foi a minha primeira causa política. Com ela, o motivo decisivo para que deixasse o Palácio do Campo das Princesas. Também começava ali a ser gerada a ideia de como se desenvolviam os processos juridic0-militares. Conselho composto de oficiais do Exército. Iniciada a audiência, interrogados os réus do processo – como determinava o então Código de Justiça Militar – arguí a incompetência da Justiça Castrense sob alegação de que não se tratava de crime militar, coisas assim. – Portanto, esse Conselho é incompetente. Nem bem terminei, e o seu presente, aborrecido: - Incompetente é V. Excia. O pedido do poeta e o início de tudo, recolhido da obra Alvará de soltura, meu amor (Recife, 1983), do advogado e produtor teatral Bóris Trindade.

O MÉDICO E O MONSTRO – [...] O espelho não me deteve mais que um instante. [...] Faltava verificar se eu perdera minha identidade sem possibilidade de volta, tendo que deixar aquela casa, que já não me pertencia, antes de amanhecer. Voltei correndo para meu escritório e novamente preparei e bebi a poção; mais uma vez, sofri as dores da dissolução e, mais uma vez, voltei a mim com o caráter, a estrutura e o rosto de Henry Jekyll. [...]. Trecho extraído da obra O médico e o monstro (Saraiva, 1960), do escritor britânico Robert Louis Stevenson (1850-1894).

DICIONÁRIO DOS SONHOS
(fragmentos)
Comprava uma rapadura
E um pão no meio da feira
Era lanche no caminho
Para subir a ladeira
Da velha Serra do Sapato
Que dava muita canseira
[...]
No bolso eu já levava
Um folheito do Pavão
Comprado a João de Lima
Por pouco mais de um tostão
Que ao chegar em casa
Era a minha diversão
[...].
Trechos do poema O cordelista por ele mesmo, extraído da obra Dicionário dos sonhos e outras histórias de cordel (L&PM, 2003), do poeta e xilogravurista J. Borges. Veja mais aqui e aqui.

Veja mais:
Liberdade de expressão aqui.
A entrevista de Beto Guedes aqui e aqui.
A pianista Miriam Ramos aqui.
O violonista Álvaro Henrique aqui.
A arte de Cris Braun aqui e aqui.
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TERRA DOS PALMARES
Pérola do Una
Menina faceira
Ambiente das letras
Tens sempre tu’alma em festas
Desenvolvida
És tão querida
Como terra dos poetas.
Teu Clube Literário
Abrigo de gente de cultura
Silva Jardim, Zé Mariano
E o nosso Joaquim Nabuco
Grandes líderes
Do ditoso torrão
De nosso Pernambuco.
Parte dos Quilombos
Começo de tua história
Que teus filhos te amem
Estudando, pesquisando
E trabalhando vençam,
Escrevendo, vivificando
No apanágio da glória.
Eia, Palmares, em frente!
Poema extraído da obra Das musas de ontem e hoje (Recife, 1985), do poeta, professor e pesquisador Amaro Matias Silva (1922-2002), autor da obra Dos Palmares – extensão, lutas e fatos (Bagaço/Fundação de Hermilo, 1988). Veja mais aqui.

quarta-feira, setembro 27, 2017

RILKE, KRISHNAMURTI, ALBERTO DA CUNHA MELO, LADISLAU DOWBOR, BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS & ANSELM KIEFER

LÁ VAI TOMÉ ESCAPANDO DAS SUAS – Havia sido deflagrada em Alagoinhanduba uma campanha de doação de órgãos, quando uma distinta moça abordou Tomé que ia avexado do trabalho pra casa. Como se tratava de uma bela jovem, ele deu um freio nas quatro de quase afundar os pés no chão, parou, ajeitou-se todo, olhou-a dos pés à cabeça e ficou prestando atenção à abordagem da moça a respeito do assunto. Ouvia ele atentamente sem entender nada porque estava de butuca no decote suntuoso dela, conferindo a geografia assimétrica de beldade daquela que seria, pra ele, o tipo ideal de mulher pra casar, fazendo de conta que acompanhava as maiores explicações sobre qualidade de vida daqueles que recebiam órgãos transplantados, com ênfase no ato de cidadania e solidariedade humana doar seus órgãos ainda em vida para salvar os que precisavam arriados na cama ou quarando numa fila de espera por anos. Conversa bonita, pensou ele, mas vale a pena, vai que cola e eu lavo a jega. E quanto mais ela falava, mais ele apertava os olhos sobrecarregado de interrogações, até que franziu o cenho mesmo ao tomar ciência que ele só seria doador de órgãos e tecidos, se tivesse morte encefálica diagnosticada, ter boas condições hemodinâmicas, não apresentar sorologia positiva e ter a doação autorizada pela família. Ele afastou-se um pouco, tomou ar e interrompeu o falatório: - Moça, com licença da má palavra, mas pra mim a senhora está falando grego, pode explicar melhor? A simpática senhorita abriu-lhe um sorriso encantador e, pacientemente, explicou tudo novamente nos mínimos detalhes, acrescentando que ele poderia doar o coração e os pulmões, os rins, o fígado, o pâncreas e as valvas cardíacas, tendo de ser maior de idade o que era comprovado pela sua idade, estar em condições de doar o que ele era inequivocamente compatível, ter um receptor que fosse da família ou para estranhos com autorização judicial, excetuando-se nos casos de doação da medula óssea. Hem? Ele apertou os olhos de novo e inquiriu em tom meio sarcástico: - Ô dona moça, como posso ser doador se ainda estou vivo? Lá vai ela mais uma vez respirando fundo e explicando tintim por tintim, ao final, ele ainda sapecou: - Ué, quer dizer que depois de morto eu vou pro céu vazio de tudo é? Ah, minha filha, mas isso não vai poder de jeito nenhum, pois a patroa lá de casa não vai deixar tirar minhas coisas pra dar pros outros, vai nada, hum, ciumenta como a praga feito aquela, ela vai é armar o maior barraco! Pode contar com isso. A senhora não conhece a brabeza da patroa, não, e por falar nisso, se eu demorar mais um pouquinho ela vai me matar e a senhora nem vai poder aproveitar nada porque vou morrer de cacete brabo, de não sobrar nem o retrato, quanto mais meus órgãos inteiros. Dá licença, ou eu escapo de morrer aqui de susto, ou morro lascado em casa. Inté mais ver. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais com o cantor e compositor inglês Peter Gabriel em Concerto, com Milton Nascimento & Gênesis; a violoncelista russa Tatjana Vassiljeva interpretando Tchaikovsky, Kodaly Sonata & HK Sinfonietta Cello Concerto; o compositor e doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, Edson Zampronha apresentando Sonora, Invierno & Modelagem XII; e a cantora e compositora Karyme Hass interpretando Simplesmente, Sonho Azul, Céu e Mar, Agora quero amor, Estrada de flores & Saindo do inferno. Para conferir é só ligar o som e curtir.

A VERDADEIRA LIBERDADE – [...] Liberdade é algo completamente diferente. Ela nasce, não podemos buscá-la. Ela nasce quando não há medo, quando há amor no coração. [...] Cabe ao educador criar um novo ser humano, um ser humano diferente, sem medo, autoconfiante, que possa fundar uma própria sociedade – uma sociedade totalmente diversa da nossa que está baseada no medo, na inveja, na ambição, na corrupção. A verdadeira liberdade só pode vir à luz quando surgir a inteligência, ou seja, a compreensão do todo, do total processo da existência. [...]. Trechos extraídos da obra Sobre a liberdade (Cultrix, 1991), do filósofo, escritor e educador indiano Jiddu Krishnamurti (1895-1986). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

GLOBALIZAÇÃO: ENTENDENDO DO RISCADO - [...] Ao contrário que o termo globalização superficialmente conota, estamos perante processos de mudança altamente contraditórios e desiguais, variáveis na sua intensidade e até na sua direção [...] Uma das características salientes da globalização que designamos por hegemônica é o fato de os custos e as oportunidades que produz serem muitos desigualmente distribuídos no interior do sistema mundial, residindo aí a razão do aumento exponencial das desigualdades sociais entre os países ricos e países pobres e entre ricos e pobres do mesmo país nas últimas décadas [...]. Trechos extraídos da obra A globalização e as ciências sociais (Cortez, 2002), organizado pelo jurista e professor Boaventura de Sousa Santos. Veja mais aqui e aqui.

NOSSO FUTURO COMUM - [...] Somos condenados a inovar, e o tempo de que a humanidade dispõe, nessa época caracterizada por gigantescos recursos tecnológicos e poucos recursos de organização política civilizada, é limitado. Resumir o problema à dimensão frequentemente estreita que assume o embate entre esquerda e direita já não é suficiente. Trata-se, como bem o caracterizou Gro Brundtland, do nosso futuro comum. Trecho extraído da obra A reprodução social (Vozes, 1999), do economista e professor Ladislau Dowbor.

CARTA A UM JOVEM POETA – [...] A arte também é apenas uma maneira de viver. A gente pode preparar-se para ela sem o saber, vivendo de qualquer forma. Em tudo o que é verdadeiro, está-se mais perto dela do que nas falsas profissões meio-artistas. Estas, dando a ilusão de uma proximidade da arte, praticamente negam e atacam a existência de qualquer arte. Assim o faz, mais ou menos, todo o jornalismo, quase toda a crítica e três quartos daquilo que se chama e se quer chamar literatura. [...]. Trecho da obra Carta a um jovem poeta (Globo, 1986), do poeta alemão Rainer Maria Rilke (1875-1926). Veja mais aqui e aqui.

MEU AMOR & OS OUTROSToda vez que subo / nessas minhas / altitudes máximas / (além do nível do bar) / e mergulho de cabeça, / tripa e tudo / nessa minhas / profundidades (também) máximas / (além do nível do lar) / o rosto de Clau / está lá em cima / e lá embaixo /me deslumbrando, sozinho! / - Quem é Clau? / (pergunta um burríssimo / PHD em Estética) / e ninguém pode salvar / seus pobres alunos. Poema extraído da obra Somas dos sumos (José Olympio, 1983), do escritor, jornalista e sociólogo Alberto da Cunha Melo (1942-2007). Veja mais aqui.

BIBLIOTECA FENELON BARRETO
Acompanhando o diretor da Biblioteca Fenelon Barreto, João Paulo Araújo, na recepção do poeta e artista plástico Paulo Profeta, a bibliotecária do IF-PE, Mariana e o professor e pesquisador do IF-PE, Derlano.

Veja mais:
A música de Peter Gabriel aqui.
A arte musical de Tatjana Vassiljeva aqui.
A arte de Edson Zampronha aqui.
A arte musical de Karyme Hass aqui e aqui.
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A ARTE DE ANSELM KIEFER
A arte do pintor e escultor alemão Anselm Kiefer.
 

terça-feira, setembro 26, 2017

ÍTALO CALVINO, WILLIAM BLAKE, WORDSWORTH, SUZANA ALBORNOZ, SOLIDARIEDADE & LIBRAS NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

A QUEM INTERESSAR POSSA – Aprendi a ver na escuridão, a luz restava dentro de mim como um minúsculo pavio aceso, mostrando o fim do túnel e emanando cores de todos os matizes que se fizeram reais além dos meus sentidos. Aprendi da luz todas as cores, e ao abrir os olhos entendi a importância do olhar: via a mim e todas as coisas, visíveis e invisíveis, a festa emanada do Sol. Aprendi a ouvir no silêncio, todos os tons e sons harmonicamente entrelaçados na vida: os passos rastejantes dos seres, o estalido dos ovos e das sementes, o nascimento dos frutos, as vozes mudas com seus dizeres, o canto dos pássaros, os ventos nos galhos pelo chão das poeiras, a corrente dos rios e as ondas do mar, a queda dos precipícios, o ápice das alturas, a música das esferas. Em mim tudo é vivo e comunga no infinitude. Aprendi a calar para saber tudo, foi quando compreendi que tudo me dizia respeito e se completava em mim para uma só unidade. Com isso, aprendi a espalmar as mãos mesmo diante das recusas ou desafetos, a abrir meus braços mesmo que houvesse hostilidade ou indiferença, a entender no outro o que em mim era insatisfação, porque também era minha e assim se fez para todos. Sou de mãos dadas com quem não sabe das ruas e seus movimentos, sou braços dados com quem não sabe a luz pra seguir, sou peito aberto a quem não sabe os caminhos aonde vão dar. Hoje ao meu ombro amparo a dor da infelicidade que pode ser do outro e agora também minha; a sua, quem sabe, sou solidário de antemão para que possamos encontrar uma forma de manifestar a satisfação de viver. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais com obras do compositor estadunidense George Gershwin (1898-1938): Concerto em fá maior na interpretação de Yuja Wang, Rapsody in blue na interpretação de Lola Astanova & All Star Orchestra, e Summertime com a All Virginia Orchestra; a cantora Gal Costa interpretando O amor, Força estranha, Açaí com Roupa Nova & o show Acústico MTV; o instrumentista, arranjador e compositor Marcos Nimrichter interpretando Libertango, Neptune, Deus fotte & Briguinha de músicos malucos no coreto & A taça; e a  atriz e cantora carioca radicada na Islândia, Jussanam, cantando Desafinado, O telefonema, Quer saber & Como nossos pais. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIASe as portas da percepção estivessem limpas, tudo se mostraria ao homem tal como é, infinito. Trecho do poema extraído da obra O matrimônio do céu e do inferno (Iluminuras, 1995), do poeta, tipógrafo e pintor inglês William Blake (1757-1827). Veja mais aqui, aqui e aqui

INCLUSÃO SOCIAL DO SURDO - [...] O reconhecimento da LIBRAS como primeira língua da comunidade de surdos está amparada pela Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. A Lei foi criada devido à luta pela conquista de direitos dos surdos em espaços de cidadania a exemplo de: escola, sociedade, igreja e outros que os levem a adquirir independência. A inclusão leva a reconhecer a importância da LIBRAS no âmbito escolar, profissional e da sociedade em geral. [...] A gestão educacional pontuada para resultados eficazes passa pelo ensino e vivencia cotidiana, deparando-se no contexto analisado com professores que buscam sempre dar o melhor para seus alunos com a consciência de melhorar a técnica de ensino de Libras numa abordagem de qualificação, ao aperfeiçoamento a fim de que realize sua função da melhor maneira com o intuito de melhores resultados do educando. [...] É preciso fortalecer as conquistas e buscar novos rumos através de experiências mais concretas para a otimização de atividades educacionais no ensino sempre será um desafio. Espera-se que no futuro o valor das pessoas surdas, seja ainda mais reconhecido além de que a atuação atualmente delimitada ao contexto dos surdos, ainda possa ser mais efetivada de forma global e irrestrita. Que não fique somente nas legislações, posto que os mesmos já perderam muito do seu tempo sendo segregados durante anos a fio em escolas especializadas, que só serviram de pano de fundo para a grande discriminação que assola o país, além de não acrescentar nada ao processo de desenvolvimento do surdo enquanto pessoa ou como cidadão. [...]. Trechos extraídos do artigo Inclusão social do surdo: reflexões sobre as contribuições da Lei 10.436/2002 á educação, aos profissionais e á sociedade atual (E-Gov, 2012), da advogada e doutoranda em Direito Civil pela UBA, Laine Reis Araújo. Veja mais aqui e aqui.

EDUCAÇÃO LIBERTADORA - [...] No Brasil, como em quase todo mundo, a escola regular vem sendo o único meio de acesso à habilitação e ao diploma. E, assim sendo, é um importante meio de ascensão social, como também, ou principalmente, um meio certo de controle da ascensão social, embora não seja o único meio possível de acesso á educação e à cultura. Neste seu desempenho monopolizador da educação oficialmente reconhecida, a escola se alia à burocracia, e a sua aliança se exerce, muitas vezes, como domínio e duração desta sobre aquela. Em troca, os órgãos de planejamento do sistema educacional se limitam ao sistema escolar. Escola e burocracia interdependentes, a educação inibe incalculáveis chances de experimentar, revitalizar-se, superar-se [...]. Trecho da obra Por uma educação libertadora (Vozes, 1976), da educadora, professora, ficcionista, ensaísta, pesquisadora e intelectual engajada nos problemas ligados à educação e à condição feminina no mundo contemporâneo, Suzana Albornoz Stein. Veja mais aqui e aqui.

O VISCONDE PARTIDO AO MEIO – [...] Assim, entre caridade e terror decorriam as nossas vidas. O Bom (como era chamada a metade esquerda de meu tio, em contraposição ao Mesquinho, que era a outra), era, então, tido como santo. Os aleijados, os pobres, as mulheres traídas, todos os que tinham um pesar, corriam até ele. Poderia ter se aproveitado e se tornado ele o visconde. Ao contrario, continuava como vagabundo, circulando meio enrolado em seu manto negro, apoiado na muleta, com a meia branca e azul cheia de remendos, fazendo o bem tanto a quem lhe podia quanto a quem o expulsava com seus modos. [...]. Trecho extraído da obra O visconde partido ao meio (Cia. Das Letras, 1999), do escritor italiano Ítalo Calvino (1923-1985). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

PRENÚNCIOS DA IMORTALIDADEI - Houve um tempo em que a relva, a fonte, o rio, a mata / E o horizonte se vestiam / De uma luz grata, / — Visto que assim me pareciam —, / E da opulência que nos sonhos é inata. / Hoje está sendo tal como foi outrora;—/ Seja o que for, eu, / Na luz ou breu, / Eu não verei jamais o que se foi embora. II - O arco-íris vai, vem, / E a rosa nos faz bem; / Alegre, a lua nota / o céu está completamente nu; à luz / De estrelas, a água brota / E é belo o que ela reproduz; / A aurora é sempre um nascimento; / E contudo, eu sei muito bem / Que a glória passou por nós em algum momento. III - Agora, enquanto as aves cantam de contento / E enquanto o cordeirinho salta / Ao som do que o exalta, / A mim apenas veio uma ideia de dor: / Enunciei-o e de repente ela passou, / E me encho de alento: / Trombeteiam cascatas frente ao precipício; / Minha dor não mais matará o clima opulento; / Ouço o Eco que vem das grutas e ouço o Vento / Que encerra em si o sono tal como um resquício, / E alegre é a terra; / Todo o mar / Vem a se ufanar / E a Fera se aferra / Ao sono na serra;— / Você, Criança, / Menino pastor, grite até onde, Ó Criança, o grito alcança! IV - E vocês, Criaturas, eu escuto afinal / O que dizem entre vocês / E vejo o céu que frui também vossa altivez; / Meu ser em vosso festival, / Coroado, o total / De vossa dádiva — ah!, eu sinto… Ó mal!, / Fosse eu soturno enquanto / A Terra se adornasse, / Manhã de Maio face / A qual a infância nasce / No Mundo, / No vale remoto e fecundo;/ Enquanto o sol nos acalora / E o Bebê sobe aos braços da Mãe: — ouço agora! / Com alegria eu ouço, eu ouço! / — Mas uma, uma Árvore existe, / Uma Planície que em minh’alma inda persiste, / Lembrando o que se foi e hoje e me deixa triste: / E o Amor-Perfeito / Diz: Que foi feito / Do vislumbre visionário? / Dos sonhos? Do esplendor vário? / V - Nosso nascer não passa de sono e de oblívio: / A Alma que nasce com nós, nosso Astro Vital, / Vive longe de onde vive o / Trajeto de seu fanal; / Não no esquecimento inteiro / Nem na nudez por inteiro, / Mas, arrastando nuvens de glória, viemos / De Deus — nele vivemos —: / É o Céu que a nós circunda e a nossa meninice! / As sombras da prisão começam a cobrir / O Menino que cresce; / Mas ele vê a luz, sabe aonde ela vai ir / E sabe que ela o acresce; / A Juventude, em sacerdócio à Natureza, / Viaja ao Leste numa empresa / Guiada pela / Visão mais bela; / E ao largo o Homem vê que sua vida acaba / E que na luz do hábito ela enfim desaba. VI - A Terra enche o colo com prazeres seus; / A Terra possui ânsias que ela mesma mantém, / E, possuindo um algo maternal também, / E honesta em seu intuito, / A Terra, ama-de-leite, empenha-se / P’ra que o filho adotivo, a Humanidade, abstenha-se / De todos seus apogeus / E do que nele for trajetória e for muito. VII - Aprecie a Criança e a plêiade de encantos, / Tesouro de seis anos menor que um pigmeu! / Contemple a paz com que ele enfim adormeceu, / Preocupado co’os beijos de sua mãe, tantos!, / E as tantas bênçãos que seu pai lhe concedeu! / Veja, a seus pés, alguma tabela infantil, / Algum fragmento de seu sonho de ser humano, / Moldado graças a uma arte ainda pueril; / Um casamento ou um festival, / Um lamento ou um funeral; / E a isto ele é servil, / E nisto ele forma seu canto: / Assim afinar-se-á enquanto / Dialoga sobre o amor, o sucesso ou o dano; / Não demorará tanto / Até que largue isto / E de novo, e imprevisto, / Com alegria o Ator mirim faça outro ardil; / Enchendo pouco a pouco sua própria “farsa” / De Personagens, ‘té que a Vida fique esparsa / E, colocando-o na barca, a Vida o ressarça; / Como se imitar fosse / Tudo o que ele fosse. VIII - Você, cujo semblante exterior desmente / Teu valor inerente; / Você, grande Filósofo, que mantém ainda / A herança; você, que é a Visão entre a cegueira, / Que, surdo e mudo, lê a profundeza infinda / Sempre assombrada pela mente altaneira, — / Ó Vidente!, Ó Profeta! / Que a verdade afeta / E a quem nós procuramos de qualquer maneira, / Por toda a vida, presos no escuro da cova; / Você, sobre quem flui a Fonte da Existência / Que escraviza ao mesmo tempo que renova, / Algo impossível de se ignorar a presença; / A quem a cova / É cama solitária sem sentido ou luz / Do que lá fora luz, / Um lugar onde se descansa e onde se pensa; / Você, Criança, ainda ilustre na amplitude / Da aérea liberdade de tua atitude, / P’ra quê, com dores tão solenes, provocar / Os anos a te darem o que eles vão te dar, / Assim tão cega e santa imersa na batalha? / Não tarda e teu espírito cai no retardo / De uma rotina que imporá a ti um fardo / Que pese e quase como a vida se equivalha! IX - Alegria!, que em nós / Inda palpita / E repercute a voz — / E nos evita! / Pensar no meu passado faz com que em mim nasça / Uma bênção perpétua: não aquela graça / Que glorifica aquele a quem ela agracia — / Prazer e liberdade, o credo que perpassa / A Infância inteira, na labuta ou calmaria, / Pleno do tatalar da fé que se atavia:— / Nem por estes elevo / Canções de louvor e enlevo; / Mas pelas questões obstinadas / De senso e coisas externadas / Distantes de nós, sublimadas; /  Vagos temores da Criatura / Que vaga em meio a mundos não realizados, / Altos instintos onde a efêmera Figura / Treme tal como tremem os Sentenciados: / Por tais afetos prévios / E recordações breves, o / Que vierem a ser, sejam, / Pois são fontes de luz e nos clarejam, / Pois são pontos de luz de nosso olhar; /  Guarde a estima por nós, guardando o seu poder / De que a turba dos anos se encurte no Ser / Da Calmaria imorredoura: o despertar / P’ra vida eterna: / O que a surdez e a insânia que às vezes governa, / O Pai, o Filho / E o que vê na alegria um odioso empecilho, / Não poderão matar nem retirar o brilho! / Assim, sendo o clima propício, / Por distantes que estejamos, / Sentimos sempre aquele mar sem fim ou início / Que nos trouxe aonde estamos, / E vemos sempre a Infância que brinca na areia, / E ouvimos sempre o som do mar que assenhoreia. X - Pois cantem, Aves, cantem canções de contento! / E que o Cordeiro salte, / Alegre, ao som que o exalte! / Nossas vozes serão uma só em pensamento, / Você que brinca ou flauteia / E que tem na sua veia / O agrado que Maio alardeia! / Pois muito embora a glória, que antes cintilara, / Tenha tornado-se distante e coisa rara, / E embora nada traga novamente a hora / Do esplendor no relvado, ou da flor que vigora; / Nós não vamos chorar; iremos / Achar forças no que tivemos / Um dia; no afeto primeiro /  Que ainda se mantém inteiro; / No pensamento que consola / E medra quando a dor desola; /  Na fé que enxerga além da morte / E na sabedoria do que nós vivemos. XI - E vocês, Bosques, Fontes, Picos, Matagais, / Não previram que o amor já não seria mais! / E entanto, o coração de meu coração sente / O poder de vocês; eu abandonei somente / Um prazer p’ra viver vosso ciclo usual. / Amo o rio que em seu canal se convulsiona, / Mais do que quando, assim como ele, eu fui frugal; / A luz da Aurora é pura e, como habitual, / Emociona; / As nuvens que rodeiam o pôr-do-sol ganham / O tom-de-cor daquele olhar que mantivera / Vigília sobre nossa tênue Primavera; / Outras raças têm sido, e outras glórias se apanham. / Graças ao coração, que fizemos morada, / Graças a todo o seu temor, carinho e encanto, / Sei que da flor mais simples pode ser gerada / Meditação profunda demais para o pranto. Poema extraído da obra Memórias de Infância (Poems -  Dell Publishing, 1960), do poeta romântico inglês William Wordsworth (1770-1850). Veja mais aqui e aqui.

UM POEMA EM CADA ÁRVORE
Realizou-se no último domingo, dia 24/09, no Passeio Público de Curitiba, o evento Um poema em cada árvore, promovido pelo grupo Escritibas Na Rua, com o objetivo de proporcionar um espaço de leitura poética para as pessoas que freqüentaram o parque, expondo o trabalho de escritores independentes pela passagem comemorativa do Dia da Árvore. Marquei presença com o meu poema Colhendo sonhos nos galhos da vida e Sonhar marés da poeta Luciah Lopez. Veja mais aqui.

Veja mais:
O pensamento do filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976) aqui, aqui e aqui.
A música de George Gershwin aqui, aqui e aqui,
A literatura de Luis Fernando Veríssimo aqui, aqui e aqui.
A música de Gal Costa aqui e aqui.
A arte musical de Jussanam aqui e aqui.
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