quinta-feira, agosto 24, 2017

MARINA COLASANTI, ILIBAGIZA, ROSE MURARO, BONOMI, MESTIÇAGEM & CAMPESINATO, MEIO AMBIENTE, MAMULENGO DE HERMILO, RADIO CULTURA & PALMARES DE LUCIANO FRANÇA

A VIAGEM DA VIDA (Imagem: arte da gravdora, escultora, pintora, muralista, curadora, figurinista, cenógrafa e professora Maria Bonomi Pra quem vem ou vai, mesmo caminho, tantas apreensões. Tal impressão digital, a íris do olho, somos tão iguais como as águas na corrente, quão diferentes como os dias uns aos outros. Passo adiante, viagens que já fiz. Quantas e tantas felicidades sonhadas, almejadas, qual a minha, muitas. A paisagem é só minha, pros outros não é nada; se chove ou ensolarado, sigo o que sinto, sorrio mesmo que me virem as costas ou me ignorem, sem ao menos acenarem, sequer, com suas situações extremamente difíceis, por vezes delicadas ou terríveis. São meus, apesar deles. Os guardo no apreço, mesmo que assim não seja pra mim. Não me esquivo nem quero escapar dos obstáculos; vivo, superá-los, sim, pra que outros venham e eu vença a mim mesmo. Apesar dos pesares, tenho esperança e isso me faz viver e justifica a minha existência. Ainda hoje não me conformo com a miséria nem infortúnios, quero ser feliz, sei o que mereço e me permito ir embora para poder chegar. Se me aceitam, uivo entre lobos pela floresta de erros, pelos vales de lágrimas, tal como eu muitos, senão todos, voltaram de mãos vazias, mas não reclamo tanto esforço por experiências cruéis, nem das cicatrizes que emergiram das tribulações. Mesmo que pareça tudo em vão, mesmo que não tenha nenhum sentido ou me veja entre saberes perdidos, renasço na capacidade do maravilhamento e estarei lá como sempre estive e estou no ato da presença, aqui e agora, porque penso e sou; do contrário, só existiria. Sempre haverá imagens nos pensamentos, só escolho e me abandono ao árduo trabalho que me dá o prazer de criar. Quando muito retorno às origens, pra raiz, a semente que fui e tornar a sê-la pra me conciliar com tudo e todas as coisas. De bom grado lavo as mãos para me sentir purificado, bebo a água límpida da fonte e respiro profunda e intensamente em paz. A vida é uma longa viagem, voo pra Shamballa vibrar em uníssono com os harmônicos cantos cósmicos sintonizados na minha freqüência e a estação divina me faz sentir a atração do amor. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

FALANDO SÉRIO COM MÁVIO AVES
Nesta terça, dia 29/08, a partir das 11hs, estarei Falando Sério com Mávio Alves, na Rádio Cultura dos Palmares, debatendo sobre o tema O Brasil pelo avesso na hora da crise!

SOBREVIVI PARA CONTAR - [...] Ouvi quando os assassinos chamaram meu nome. Estavam do outro lado da parede, menos de 2,5 centímetros de gesso e madeira nos separavam. Suas vozes eram frias, duras e decididas. - Ela está aqui... Sabemos que está aqui em algum lugar... Tratem de encontrá-la, encontrem Immaculée. Eram muitas as vozes, muitos os assassinos. Eu podia vê-los com os olhos da mente: meus antigos amigos e vizinhos, que sempre me haviam recebido com amor e bondade, andavam pela casa, munidos de lanças e facões, e chamavam meu nome. – Já matei 399 baratas – disse um deles. - Com Immaculée serão quatrocentas. Esse é um bom número para se matar. Encolhi-me, sem mexer um músculo sequer, em um canto de nosso minúsculo banheiro secreto. Assim como as outras sete mulheres que se escondiam comigo para proteger suas vidas, prendi a respiração para que os perseguidores não nos ouvissem. Suas vozes dilaceravam minha carne. Senti-me em fogo, como se estivesse deitada sobre um leito de carvões ardentes. Uma avassaladora onda de medo tomou conta de mim; milhares de agulhas invisíveis penetraram meu corpo. Eu nunca havia imaginado que o medo pudesse provocar tamanho sofrimento físico. Tentei engolir, mas minha garganta se fechou. Não havia saliva em minha boca, que parecia mais seca do que areia. Fechei os olhos, na tentativa de desaparecer, mas as vozes soavam cada vez mais alto. Eu sabia que eles não teriam piedade, e um único pensamento ecoava em minha mente: Se me pegarem, eles vão me matar. Se me pegarem, eles vão me matar. Se me pegarem, eles vão me matar. [...] Ela me levou até um galpão numa área restrita e abriu uma caixa de força de alta voltagem. - Há mais de 1.500 volts de eletricidade aqui – explicou. – Se os hútus extremistas invadirem a escola e não tivermos como escapar, podemos vir aqui, puxar essa alavanca e pôr as mãos lá dentro. Nós morreríamos imediatamente. É melhor ser eletrocutada do que torturada, estuprada e morta. Não vou permitir que selvagens se aproveitem do meu corpo antes de me matar. Não faça essa cara de surpresa... Já ouvi histórias demais de mulheres tútsis que foram estupradas e brutalizadas em tempo de guerra para não ter um plano de fuga. Concordei com a cabeça. Era estranho falar em acabar com nossas vidas aos 19 anos de idade apenas, mas essa parecia uma saída melhor do que a outra alternativa. Clementine e eu fizemos um pacto e juramos não dizer nada a ninguém, para que as autoridades escolares não ficassem sabendo e trancassem a caixa de força. Trecho da obra Sobrevivi para contar: o poder da fé me salvou de um massacre (Objetiva, 2008), da escritora e palestrante ruandesa Immaculée Ilibagiza, com o relato sobre o confinamento num banheiro minúsculo com mais sete mulheres famintas e aterrorizadas, sem condições mínimas de higiene, saúde e alimentação, lutando contra o desespero e ouvindo as vozes dos assassinos que queriam matá-la cruelmente durante o genocídio de Ruanda em 1994. Trata-se de depoimento de como ela conseguiu sobreviver emocionalmente ao massacre de sua família, cujos detalhes ela também revela em sua narrativa.

MESTIÇAGEM & CAMPESINATO - [...] Uma das interpretações – de que uma nociva mestiçagem retardava o progresso do povo brasileiro, uma vez que o mestiço era tido como racial e fisicamente desequilibrado, - não resistiu aos estudos efetuados dentro e fora do Brasil, pouco a pouco foi sendo destruída. Os crimes terríveis cometidos pelos nazistas, indivíduos de “raça pura”, muito contribuíram para pôr em cheque preconceitos raciais que se voltavam não apenas contra o mulato e o mestiço, mas também contra negros, contra judeus e contra outras minorias étnicas. Assim, a explicação de que o meio rural brasileiro era atrasado e conservava costumes arcaicos porque povoado de mestiços, inaptos a uma evolução socioeconômica, não encontrou mais base de sustentação em teorias científicas. [...] O reconhecimento, descrição e explicação dos vários processos que compõem a dinâmica da sociedade rural brasileira parecem destinados a conhecer uma expansão mais lenta do que os trabalhos efetuados do ponto de vista da organização e da estrutura. Trecho extraído da obra O campesinato brasileiro: ensaios sobre civilização e grupos rústicos no Brasil (Vozes, 1973), da premiada socióloga, professoras e escritora Maria Isaura Pereira de Queiroz. Veja mais aqui, aqui e aqui.

MEIO AMBIENTE – [...] O desconhecimento dos efeitos resultantes do uso intensivo do carvão deu origem às primeiras ocorrências de doenças profissionais e à contaminação das regiões onde predominavam as atividades de mineração. Acidificação dos solos, emissões de particulados, degradação das condições de vida nos núcleos populacionais próximos das minas e usinas foram os primeiros efeitos dessa industrialização nascente, desordenada, que envolvia riscos ainda desconhecidos par a saúde humana e o meio ambiente. O relacionamento entre causas e efeitos da poluição ambiental era então precário. Embora os acidentes de trabalho fossem, nessa fase inicial da industrialização, muito freqüentes, os acidentes ambientais, como hoje são conhecidos, não eram tão evidentes. [...] Os acidentes urbanos exercem grande impacto sobre a sociedade não somente devido a sua proximidade e ingerência sobre a vida de cada cidadão, como também pelo temor de que possam se repetir. Para que essas tensões remanscentes possam ser eliminadas ou, pelo menos, reduzidas com o passar do tempo, algumas providências de largo espectro devem ser tomadas pela comunidade, encabeçadas pela administração municipal e pelas instituições locais voltadas à proteção ambiental e à manutenção da qualidade de vida. Essas providências devem incorporar a conscientização da população para os riscos de acidentes, a busca de participação pública em programas de prontidão, a formação de fundos especiais para fazer frente a emergências, o desenvolvimento de recursos humanos treinados para participar de equipes de emergência e, muito importante, o fortalecimento das instituições ligadas ao bem público e ao atendimento emergencial de acidentes. [...]. Trechos extraídos da obra Meio ambiente: acidentes, lições, soluções (Senac, 2003), de Cyro Eyer do Valle e Henrique Lage. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

MULHERES & SEXUALIDADE - A espécie humana levou dois bilhões de anos para atingir o primeiro bilhão de habitantes. Isto aconteceu por volta da metade do século XIX. Mas, de 1850 para 1980, este número se elevou para quatro bilhões. Portanto, em pouco mais de cem anos, a população do planeta quadriplicou. Esta curva exponencial do aumento de população deve-se ao avanço tecnológico, principalmente ao avanço da tecnologia médica, que baixou as taxas de mortalidade, sem ter tocado nas de natalidade. Este instantâneo apinhamento de seres humanos sobre a face da Terra está causando problemas da maior gravidade, seja para a sobrevivência da espécie, seja por motivos políticos, ideológicos e econômicos. O crescimento populacional aconteceu dentro de um sistema socioeconômico baseado na exploração de alguns seres humanos sobre outros: o capitalismo. É dentro deste conceito de exploração capitalista que o problema populacional torna-se, a nosso ver, o mais grave da época atual. [...] São os homens dominados também, quando dão aos atributos físicos da mulher maior valor erótico. Quanto mais excitante o físico, mais condições dá a sexualidade masculina, mais localizada no físico, de “funcionar” melhor. Em outras palavras, quanto maior o domínio do homem pelo homem, maior, também, o da mulher pelo homem. Mais impessoal, mais objetivada também a relação que vai do homem para a mulher, e maior ressentimento desta. Na Zona da Mata, por exemplo, em que a mulher já tem outro status, apesar da grande miséria, os homens falam mais em atributos pessoais (mesmo que sejam tradicionais) do que os operários e camponeses do Agreste, e as mulheres parecem ser mais donas de suas decisões. [...]. Ao invés de denegar o corpo que é hoje o apanágio da burguesia, é preciso tomar da burguesia o corpo e fazer dele um corpo de todos, um corpo liberto. Tomar o corpo como ele é, aqui e agora, com todos os seus desejos contraditórios, e começar a criar a partir do povo novos padrões de comportamento de corpo que nada tenham a ver com os da burguesia, e que lhes permita perceber que eles também são seres humanos inteiros e desmascarar, assim, todo o jogo da sociedade burguesa. Trechos extraídos da obra Sexualidade da mulher brasileira: corpo e classe social no Brasil (Vozes, 1983), da escritora e feminista Rose Marie Muraro (1930-2014). Veja mais aqui.

NO SILÊNCIO QUE O SOL QUEIMA - No meio do trigal, pernas abertas, abrigava pássaros. Era sempre assim. Com a chegada do verão sentia-se fértil, ensolarada de desejo, mãe da terra. E deitava-se entre as hastes rígidas, as espigas túrgidas, à espera. Logo, pardais vinham aninhar-se entre suas coxas, fazendo-a suspirar com a doce caricia das asas. Esmagava entre os lábios pétalas de papoulas, e gemia. Fremir de plumas, pequenos bicos, breves pios, delícias. E as línguas do sol sobre seus seios. Mas era só ao entardecer, quando o gavião em voo desenhava círculos de sombra sobre o ouro, lançando-se como pedra entre suas carnes para colher o mais tonto dos pardais, que as hastes estremeciam enfim, inclinando as espigas ao supremo grito. Conto extraído da obra Contos de amor rasgados (Rocco, 1986), da escritora e jornalista ítalo-brasileira Marina Colasanti. Veja mais aqui.

FISIONOMIA E ESPIRITO DO MAMULENGO - O boneco tem uma vida. É uma transferência na infância e uma fixação na idade madura. A boneca de pano pode ser tudo: desde a filha à mãe, desde a comadre à irmã, amiga ou inimiga. O boneco é um ser misterioso, feito, às vezes, à nossa imagem e semelhança, mas de qualquer modo um entre à parte em torno do qual podemos construir um mundo. É também um ser arbitrário e poético. Isto o simples boneco mudo, manejável de acordo com as nossas forças. O boneco visto no espetáculo transforma-se de ser passivo, dependente, obediente às nossas mãos, numa criatura de vida própria e atuante, porque, em nossa condição de espectadores, colocamo-nos em face do inesperado. Toda arte é uma surpresa. [...]. Trecho extraído da obra Fisionomia e espírito do mamulengo (Brasiliana, 1966), do escritor, dramaturgo e advogado Hermilo Borba Filho (1917-1976). Veja mais aqui, aqui e aqui.

Veja mais sobre:
Faça seu TCC sem Traumas: livro, curso & consultas aqui.
Livros Infantis do Nitolino aqui.
&
Agenda de Eventos aqui.

MINHA PALMARES
Nesta terra de cultura e de grandeza,
Onde o belo é sempre belo a cada dia,
Onde o sonho é mais que encanto e magia,
Onde a vila tem mais vigor e leveza,
Não me sinto só poeta, sou alterza,
Sou palmarense: alma,sangue e raça;
Aqui tudo é verso, é poesia,
Tem sempre um poeta em cada praça.
O açúcar dos teus verdoengos canaviais
Seduz muito mais que adocica.
Quem de outras plagas vem, aqui fica,
Quem bebe de tua água, quer mais,
Quem se vê desesperado encontra a paz
Ao banhar-se em teus rios Una e Pirangy;
Rejuvenesce quanto mais o tempo passa,
E apenas tu, Palmares, tens em cada praça
Um poeta declamando versos p’ra ti.
Serás sempre decantada em lindas canções
Porque deste à luz muitos bons cantores
E graça à pena dos teus escritores
Tua história marcará nossas recordações;
Teus pintores nos dão novas emoções
Com as belas paisagens do teu universo.
Aqui o bem prevalesce se o mal ameaça
É comum avistar-se em qualquer praça
Uma musa e um poeta rabiscando um verso.
Poema do poeta, advogado e serventuário de Justiça, Luciano França, extraído da antologia Poetas de Palmares (FCCHBFD, 2002), autor dos livros Retalhos poéticos (2006), Escritura pública: seu valor jurídico-social no cotidiano (2012), Renascendo em poesia (2014) e Academia Palmarense de Letras: a perseguição de um sonho (Bagaço, 2016). Veja mais aqui.