terça-feira, abril 04, 2017

PAULO MENDES CAMPOS, BRASS SHOUT, RAMSES MARZOUK & MARIA ÁUREA SANTA CRUZ

DAS MANCHETES AO INÚTIL TUDO É VENDIDO E CONSUMIDO - Para quem vive como eu escapando das manchetes alarmistas e das ninharias espetacularizadas pelo glamour do inútil, não sobra muita coisa além de sacar no cotidiano a reprodução das macaquices ou as caricaturas do mau gosto pra farra dos que se acham letrados novos ricos sobre a turba dos desmiolados. Não dá pra esconder o asco de ter que ver as receitas mirabolantes quando não simplistas dos que são atrelados ao recato do politicamente correto definindo isso ou aquilo e a mangar dos clandestinos vivos que nunca tiveram cidadania sem ao menos saber do que se trata, nas entrevistas que a programação de toda imprensa reinam incólumes. Para muitos inominados e anônimos, fora aqueles que pintam de bom moço nas missas e cultos e que no dia a dia se prestam a perpetuar negociatas de muambas e bugigangas nos cofres públicos, os desajustes do futuro não só vieram pra ficar corroendo tudo até o fim do mundo, como seria a única porta aberta pra gente se livrar da vaca que foi pro brejo no meio do espectro de uma violência institucionalizada, quando todos já subimos no telhado e esperamos depois das águas baixarem para ver como é que fica, naquela sacada de que um milagre pode inevitavelmente acontecer. Ah, como preferem, antes de mais nada, a presciência dos que nada sabem a dizer loas que em nada comprometem a raiz das ideologias dominantes, assim valorizam o reino das oportunidades a qualquer um miserável postulante aos seus quinze minutos de fama, só porque eles são pouco ou nunca prestigiados pela soberba dos sabidos que sempre acham que não há salvação fora da esperteza de sorrindo meter os cinco dedos na nossa ferida e de aplicar a máxima de que chapéu de otário é marreta! Ah sabidos sempre armados com seus golpes mortais, desmoralizantes e brutais, a perpetuar o deslavado engodo de que estamos todos em apuros e à beira da mendicância. Tudo redunda naqueles apelos patéticos e alarmistas de que não há quem dê mais jeito, tenha medo, sempre tenha medo e seja feliz, se puder, no meio dos luxuosos vaticínios de tecnocratas com o rabo conivente nas regras de mercado. Pelo menos, acham donos de si, que apagam o facho de certas leseiras e fomentam o palatável antes baixaria, tudo nivelado por baixo como um prato feito a ser digerido por todos na festa da nossa indigência intelectual que deixa sempre a impressão de que só os que arribaram de morte matada ou morrida é que estavam com a razão. Pelo menos escaparam dessa e deixaram pra gente a sensação de que só resta aos que estão do lado de fora da festança dos órgãos públicos o sentimento difuso da desesperança, a reconhecer a derrota da boa vontade sob o mal-estar dos delírios da negatividade que só faz consumir para aplacar o paroxismo neurótico de quem só sabe a novidade descartável na compra do último lançamento de agora. Trocando em miúdos, a gente vai aprendendo na marra, quer queira ou não, no horizonte acanhado da medíocre existência equivocada. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.

Curtindo o álbum Brass Shout (United Artists Records, 1959), do trompetista Art Farmer (1928-1999) & do trompetista Lee Morgan (1938-1972), com arranjos e regência do saxofonista tenor e compositor Benny Golson.

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A arte do fotógrafo Ramses Marzouk.

DESTAQUE:
Antigamente, as coisas eram piores, só que depois foram piorando.
[...] Como são vivos e novos os passarinhos enxotados pela aurora! Como a alma de um homem é boba e vadia! Como a doçura da preguiça de uma criatura que amanhece é infinita! Como às vezes, ao surgir o dia, o homem se descobre miraculosamente perdoado de todos os crimes, crimes não, de todas as coisas feias que cometeu. Que nem cometeu, que deixou acontecer. Quem nos perdoa, não sabemos. Talvez seja assim: o sofrimento se junta, vai se juntando dentro da gente, lacerando, doendo, até que um dia a dor é tanta que nos pune. Então, ficamos perdoados. Puros, recomeçamos de alma nova, passada a limpo como um exercício de escola. [...]
Trecho da crônica Aurora, extraída da obra O amor acaba: crônicas líricas e existenciais (Companhia das Letras, 2013), do escritor e jornalista Paulo Mendes Campos (1922-1991).

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A arte do poeta e pintor do movimento fauvista francês Maurice de Vlaminck (1876-1958).
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DEDICATÓRIA:
A edição de hoje é dedicada à escritora, pesquisadora, produtora cultural, consultora e palestrante Maria Áurea Santa Cruz, editora dos blogs Sertão Des-Encantado, A musa sem máscara, Pois é fala e diz & MPB Patrimônio Imaterial.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra
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