quinta-feira, abril 20, 2017

NOEL & BOSCO, DRÁCULA DE STOCKER, MARIO CRAVO NETO & BESOURO DOIDO INVENTANDO MODA

A PAIXONITE DO BESOURO DOIDO INVENTANDO MODA - Imagem: Icaro, art by Juan Yanes. - Naquela tarde Robimagaive quase perde o juízo de vez. Quando viu aquela moça linda de morrer, no seu tope, toda jeitosa, toda tuda, saiu do prumo e foi acometido na horinha por uma paixonite agudíssima, daquelas avassaladoras que ficam encruadas no juízo do sujeito, do cabra endoidecer e ser levado pra condenação eterna do sofrimento e não ter mais remédio pro resto da vida. Avexou-se todo, ficou como quem procura canto pra chocar, todo inheto feito quem está com um cotoco no rabo de não poder nem parar quieto em canto que fosse. - Eita, esse tá cá gota! Maior obsessão tomou conta dele de não ter jeito de ficar longe daquela que queria pra mãe dos seus filhos e dona do seu lar: - Avião desse a gente não perde a viagem nunquinha! Oxe, alinhou as ideias e não quis passar em branco. Aproximou-se dela, afinou a goela no pigarreado dos ran-rans aprumados, ajeitou a gola, estufou o peito e caprichou no flerte: deitou pra cima dela a maior lábia, passando a maior cantada. Ela, com a peculiar indiferença das beldades, franziu o cenho e encarou a lata do rapaz: - O senhor está passando bem? Eu lhe conheço, por acaso? Hã? Ah, Procure um médico ou um exorcista, se preferir, pra cuidar do seu delírio. Deu-lhe as costas e saiu na sua, maior rebolado de endoidar até o papa, imagine como ficou o dito cujo. Quando tornou a si, ela já havia sumido. Quem é ela? Onde mora? Depois de dias vagando errante à procura da paixão desesperadora, tomou conhecimento tratar-se de Dalzuíta, a prima da Vera. Aquela? Isso mesmo, rapaz. Minha nossa! Aí ele botou a maior beca: topete no tuim, costeleta caprichada, óculos escuros no pau da venta, camisa quadriculada só atacada no umbigo e deixando à mostra na caixa dos peitos uma volta com um medalhão graúdo, roscofe num pulso, bracelete e pulseira no outro, fivela enorme no cinturão pelo cós e reatas do jeans surrado boca de sino das grandes e montado no maior cavalo de aço, potoque, potoque, potoque. Quando ela apareceu na esquina arrasando quarteirão, o bestão sacudiu o charme xucro e imprimiu marcha firme de chegar perto, bater os calcanhares em continência e pregar os olhos nela, armando xaveco disparatado. Assustada com a chegada inesperada do intruso, ela arregalou os olhos e com ar de desprezo: - Pronto, danou-se tudo! Sai-te! Pra chegar aqui, meu nego, tem que ter grana e possante veloz, sacou? Deu-lhe as costas sacudindo o queixo de nem querer saber. Azuretado, sem saber o que fazer, deu-lhe um aluamento de só passar uns dez dias depois, todo serelepe pra conquistar a moça, agora com o fusquinha pereba todo incrementado, pintura cheia dos garranchos e cores pra rebocar a ferrugem e desgraceira, arrancou os paralamas para adaptar quatro pneus de avião, mandou confeccionar um bigode raçudo pra servir de para-choque, um som de não sei quantos watts de babaca, buzinaço com arroto, debreada com peidos e pipocos, um par de chifres graúdos no capô e um rabo de peixe na traseira que mais parecia carrossel de festa de tão iluminado. Todo pabo, pulou dentro, passou primeira e partiu na fubica pra impressionar aquela que seria a dona do seu coração. Depois de umas voltas pra cima e pra baixo por quase duas semanas sem achar paradeiro, eis que cruza com ela numa esquina, encosta de qualquer jeito e salta pra saudar-lhe na maior gamação. – Meu senhor, não será com qualquer borreia que irá me conquistar, não, viu? Cresça e apareça! De Ferrari pra cima, possante tem que ser voador. Aí ele parou no ar, pulou no mandú e saiu a toda, até quase se foder numa abalroada da porra perto de casa. O homem estava perdido de tudo. Dias e noites seguidas e só se ouvia o martelado do aperreado na maior faina. Ele não havia deixado por menos a dica: pegou um resto duma moto cinquentinha que estava no meio de um monturo de tranqueiras, adaptou ferragens e assento, duas saliências laterais que davam ideia de asas – vôte! –, vestido num blusão negro, luvas, botas de cano longo, um capacete com microfone auricular e um megafone com antena em cima dele e saiu acelerando o ronco pras bandas dela. Quando ela reapareceu, aproximou-se e começou a falar de ninguém entender nada. E ela: - Hem? Será esse o besouro doido? O que se passa com esse louco, hem? Ele apontava pro ponto mais alto da região e mais falava e nada se entendia. Ela abriu os braços como quem entendia patavina, sem saber o que ele estava dizendo, aí ele arretou-se, acelerou a moto, apontou pro morro e zarpou feito quem ia pro tudo ou nada. Ela nem aí, seguiu sua caminhada, quando percebeu meio mundo de gente correndo na direção contrária. Virou-se pra saber do que se tratava e viu o povo falando na maior algazarra: - Vai! Vai! Vai! E ela: - Ah, vai se foder mesmo! Era ele pendurado no bico do morro anunciando que ia pular de lá de cima. Aliás, pra ele mesmo ia era voar; para todos, ele ia mesmo era se lascar. E assim foi. Ele retrocedeu descendo em marcha-ré pra pegar distância, fez carreira acelerando tudo e zum: abriu os braços como quem estivesse voando. Não foi isso que se deu, dali ele despencou na maior queda estuporada. Resultado: foi tanta fratura exposta, costelas partidas, dedos saíram do lugar, pescoço empenado, vértebras soltas, pênis envergado, até a língua o fuleiro quebrou, de não ter jeito nem de pegá-lo pra botar na maca, onde puxasse se soltava, o cúmulo do espragatado. Findou bandagem por todo corpo, gesso nos membros, um horror: mais parecia uma múmia robô. Dalzuíta perguntou ao primeiro que passou: - E aí, o cara morreu? Nada, lascou-se todo, mas tá vivinho da silva. E ela: - Pudera, vaso ruim não quebra. Dele só dava pra ouvir solfejando o Gago Apaixonado de Noel. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.

GAGO APAIXONADO
Mu-mu-mulher, em mim fi-fizeste um estrago
Eu de nervoso estou-tou fi-ficando gago
Não po-posso com a cru-crueldade da saudade
Que que mal-maldade, vi-vivo sem afago
Tem tem pe-pena deste mo-moribundo
Que que já virou va-va-va-va-ga-gabundo
Só só só só por ter so-so-sofri-frido
Tu tu tu tu tu tu tu tu
Tu tens um co-coração fi-fi-fingido
Mu-mu-mulher, em mim fi-fizeste um estrago
Eu de nervoso estou-tou fi-ficando gago
Não po-posso com a cru-crueldade da saudade
Que que mal-maldade, vi-vivo sem afago
Teu teu co-coração me entregaste
De-de-pois-pois de mim tu to-toma-maste
Tu-tua falsi-si-sidade é pro-profunda
Tu tu tu tu tu tu tu tu
Tu vais fi-fi-ficar corcunda!
Gago apaixonado, música do sambista, cantor, compositor, bandolinista e violonista e Noel Rosa (1910-1937), incluída no álbum Dá licença meu senhor (Epic Records, 1995), do cantor, violonista e compositor João Bosco. Veja mais aqui e aqui.

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As dez vidas e a cabeça roubada, A natureza das coisas de Bernardino Telesio, a música de Joana Holanda, a arte de Kevin Taylor, a pintura de Pedro Américo & Odilon Redon aqui.

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Dalzuíta: o infortúnio da prima da Vera aqui.
Os pipocos da loucura de Robimagaiver aqui, aqui e aqui.
A paixão avassaladora quando ela é a terrina do amor aqui.
Brincarte do Nitolino, O calor das coisas de Nélida Piñon, a poesia de Augusto dos Anjos, a música de Igor Stravinski, a pintura de Joan Miró, o teatro de Eugène Ionesco, o cinema de Graeme Clifford & Jessica Lange, a arte de Frances Farme, As emoções de Suely Ribella, Papel no Varal & Ricardo Cabús aqui.
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Na avenida Jatiúca, Maceió, O império do efêmero de Gilles Lipovetsky, a História da feiúra de Umberto Eco, o Deserto do real de Slavoj Žižek, Moema, a música de Quinteto Armorial, a poesia de Juareiz Correya, a pintura de Victor Meirelles & Felicien Rops, o cinema de Michael Winterbottom & Anna Louise Friel aqui.
Quando o futuro chega ao presente, Escritos de Michel Philippot, as Fronteiras do Universo de Phillip Pullman, As contantes universais de Gilles Cohen-Tannoudj, a música de Antonín Dvořák & Alisa Weilerstein, a pintura de Willow Bader, a arte de Lorenzo Villa, a fotografia de Katyucia Melo & a poesia de Bárbara Samco aqui.
Mais que tudo o amor, a poesia de Pablo Neruda, o teatro de Antonin Artaud, o pensamento de Pierre Gringore, a música de Ana Rucner, a fotografia de Daniel Ilinca, Mariza Lourenço & Luciah Lopez aqui.
Brincando com a garotada, Lagoa Manguaba, a música de Maria Josephina Mignone, a poesia de & William Blake & Joana de Menezes, a literatura de Luiz Antonio de Assis Brasil, a pintura de Thomas Saliot & Tempo de amar de Genésio Cavalcanti aqui.
Doro: querem me matar, O bom dia para nascer de Otto Lara Resende, a comunicação interpessoal de John Powell, a poesia de Gilberto Mendonça Teles, o teatro de Patrícia Jordá, a arte de Carmen Tyrrell, a música de Mona Gadelha, a Pena & Poesia de Luiz de Aquino Alves Neto aqui.
Andarilho das manhãs e luares, O Homo ludens de Johan Huizinga, Todas as coisas de Quim Monzó, a psicanálise de Françoise Dolto, a música de Gustav Holst, a pintura de Ludwig Munthe, a arte de Elena Esina & Tom Zine aqui.
História da mulher: da antiguidade ao século XXI aqui.
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DRÁCULA, DE BRAM STOCKER
[...] Acreditas no destino? Que até os poderes do tempo podem ser alterados com um único propósito? Que o mais afortunado dos homens a caminhar neste planeta é aquele que encontra… o amor verdadeiro? [...] O amor é mais forte que a morte. [...].
Trechos do romance Drácula (Zahar, 2010), do escritor irlandês Bram Stocker (1847-1912), Veja mais aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra: a arte do fotógrafo, escultor e desenhista Mario Cravo Neto (1947-2009).
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
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