segunda-feira, abril 24, 2017

BACHELARD, ROGEL SAMUEL, GÉRÔME, WENDY ARNOLD, DE HOMENS, BICHOS & FERAS.


DE HOMENS, BICHOS & FERAS - Imagem: Diógenes (1860), do pintor e escultor academicista francês Jean-Léon Gérôme (1824-1904) - Ainda ontem eu vi o velho Diógenes com sua vigilância e inseparável lanterna pelas ruas de Sinope e alguém lhe perguntou: pra onde vai, mestre, com essa lanterna acesa em plena luz do dia? Procuro um homem com agá maiúsculo. Virou gay, mestre? Não, pra sua mãe, gafanhoto. Mestre! E retirou-se resmungando: melhor pedir esmolas às estátuas. Nesse contratempo, surge o ameaçador e poderoso Xandão Pistola, com sua cara de mi bordão a indagar do velho com ar de repreensão: o que espera do futuro, Diógenes? Para quem saiu do barril e só tem um alforje, um bastão e uma tigela, só espero que não me tire o que não me pode dar. Estranhou Xandão aquela resposta, só entendendo ao ser empurrado pro lado, retirando a sombra que fazia para que o idoso pudesse sentir a luz do Sol em sua pele. Prevendo a tragédia, o discípulo logo acorreu para apaziguar: Não ligue, senhor Xandão, o velho não anda bem da cabeça. Se eu não fosse Xandão, poderoso e rico, eu queria ser Diógenes, admiro a sua coragem. E saiu como uma nuvem negra que vai atemorizar outras paragens. Ao se virar, o discípulo flagra o mestre se masturbando diante da uma estátua nua em plena via pública: mestre, o que é que é isso? Que porra é essa, mestre? O senhor enlouqueceu? Indiferente, respondeu: que pena não se possa viver apenas esfregando a barriga. Mestre, isso é crime! Ah, gafanhoto, quanta gente-lesma se arrasta reprimida e desencorajada a se enojar dos seus próprios excrementos sem se envergonhar dos seus imundos roubos do que é dos outros e querem tudo só pra si; quanta gente-papagaio que é só tagarela repetindo o que bebeu na boca dos outros e se torna pior que as cantigas de grilo remoendo no juízo só pro engano que querem perpetuar; quanta gente-maribondo ferroando a paciência alheia a ensinar o que já se sabe e tirar de quem nada mais tem; quanta gente-cupim a corroer o erário público em nome de uma riqueza que diz ser de todos e que é só pro gozo de si mesmo; quanta gente-vagalume que precisa de luz e plateia para enganar a todos com seus pesadelos mais profundos e sua infelicidade na peçonha que faz todos serem infelizes; quanta gente sangue de barata que não passa de um bando de traiçoeiros tubarões wobbegong nas cruzetas dos sicários, a prear tudo pros seus latifúndios infindáveis; quanta gente-louva-a-deus que se julga a maior tropa de escolhidos dos céus para cometerem as maiores ignomínias em nome da fé e da moral; quanta gente-escorpião com seu rabo homicida a promover discórdias e confusões; quanta gente-lagartixa para servir de lambecus dos dominantes; quanta gente-caranguejo aprisionados por cordas invisíveis, cada qual puxando pra direções opostas na maior das confusões e equívocos; quanta gente-urubu pra se servir da carniça dos miseráveis corrompidos; quanta gente-abutre que abduzem desmiolados pra escravaria; quanta gente-serpente a destilar veneno pra desunião; quanta gente-pavão tão camaleônica a ponto de enganar a todos e a si mesmo; quanta gente-gambá que fede por dentro e por fora e se entope dos aromas para perfumar sua fedentina na luxuria da sociedade corrupta. O que pode ser pior, gafanhoto? Mas o senhor está colocando tudo num mesmo balaio, mestre, ricos e pobres? Não há onde cuspir na casa de um rico, senão na cara dele mesmo! Ah, mestre, existem pessoas boas no mundo! Não duvido, gafanhoto, só não encontro uma, só Fabos. Quem são esses, mestres? Fabricantes de bosta, só o que sabem fazer, comboio de patetas. Mestre! Um dia, os insetos que empestam a vida de todo mundo se reuniram protestado por serem presas dos seus predadores. O aniquilador respondeu: faço isso pra sobreviver e, ao mesmo tempo, aproveitou pra protestar a cadeia alimentar, porque apareceu o homem e fodeu com tudo, derrubando árvores, desmatando pra bagunçar com tudo, matando bichos e feras pra se alimentar e comerciar, escravizando o próprio humano pra se deliciar com a desgraça de tudo, Homo homini lúpus. Mestre, mestre... ah, gafanhoto, prefiro o meu barril que viver como todos: enrustidas lagartas que rastejam com a borboleta aprisionada, por completa falta de coragem de libertá-la, dias piores virão. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.

 O que acreditamos saber, claramente ofusca o que deveríamos saber.
Trecho da obra A formação do espírito científico (Contraponto, 1996), do filósofo, crítico literário e epistemólogo francês Gaston Bachelard (1884-1962). Veja mais aqui, aqui e aqui.
[...] Para que memorizar, se máquinas podem fazê-lo melhor e mais rapidamente do que nós? De que adianta conhecer um teorema ou uma receita, se podemos acessá-los facilmente na web? Mas será que devemos concluir que a sociedade da informação conduz a uma sociedade caracterizada pela amnésia e ignorância? Não. A pergunta “quem sabe?” só terá perdido a relevância se confundirmos informação com conhecimento [...] O conhecimento inclui dimensões sociais, ética e políticas que não podem ser reduzidas à tecnologia. Uma sociedade que fosse exclusivamente de informação seria um conjunto de enormes redes interligadas, eficazes e ágeis, mas que não iria produzir inovações [...] Sem o intercâmbio do conhecimento não podem existir avanços econômicos, científicos ou políticos de monta em nível local, regional ou global. A partilha equitativa do conhecimento será a origem da riqueza do amanhã.
Trecho do artigo Quem sabe (Tendências e Debates - Folha de São Paulo, 2003), do sociólogo alemão Jérôme Bindé e do filósofo francês Jean-Joseph Goux. Veja mais aqui.

Veja mais sobre:
Parece que foi ontem ser pai no aniversário da filha, a literatura de Erza Pound, Enterrem meu coração na curva de um rio de Dee Brown, a música de Percorso Ensemble & pintura de Fernand Khnof aqui.

E mais:
Infância, Imagem e Literatura: uma experiência psicossocial na comunidade do Jacaré – AL, a literatura de Ítalo Calvino, Mademoiselle Fifi de Guy de Maupassant, Mandrágora de Nicolau Maquiavel, Serge Gainsbourg & Jane Birkin, a música de Cole Porter, os Poemas de amor de Ivo Korytowski, a arte de Maria de Medeiros, a pintura de Odilon Redon & a coreografia da Quasar Cia de Dança aqui.
Ginofagia: quatro poemetos em prosa de paixão por ela & a pintura de Victoria Selbach aqui.
A arte musical de Ruthe London & outras dicas tataritaritatá aqui.
A honra dos sertões à morte, a literatura de Euclides da Cunha, O julgamento de Frineia, Amarcord de Federico Fellini, a música de Amedée Ernest Chausson, a pintura de Antonio Parreiras, a poesia de Ana Terra & Programa Tataritaritatá aqui.
A filosofia na alcova de Marquês de Sade, a necessidade neurótica do amor de Karen Horney, O tambor de Günter Grass, a música de Chico Buarque, o teatro de Maria Clara Machado, a pintura de Larry Vincent Garrison, a arte de Angela Winkler, a poesia de Luiz Edmundo Alves & o blog de Monica & Monique Justino aqui.
O caso Dora de Freud & Ida Bauer, Contos do Panchatantra, O amante de Marguerite Duras, o teatro de Molière, a música de Muddy Waters, o cinema de Jean-Jacques Annaud & Jane March, a pintura de Maurice de Vlaminck & a Deusa Cibele aqui.
A menstruação mental do Robimagaiver puto da vida, A realidade e os sonhos de Muriel Spark, O mundo da vida cotidiana de Peter L. Berger & Thomas Luckmann, A sociologia econômica de Mark Granovetter, a música de Han-Na Chang, a arte de Marina Abramović, a fotografia de Greg Gorman & Alfred Cheney aqui.
A correnteza do rio me ensinou a nadar, A flor azul de Penelope Fitzgerald, A juventude e as tecnologias de Beatriz Polivanov e Vinicius Andrade Pereira, Intereções e redes na sociedade de Denise Najmanovich & Elina Dabas, a música de Karlheinz Stockhausen & Suzanne Stephens, a arte de Yayoi Kusama & Robert Rauschenberg, a coreografia de Anita Berber, a arte de Otto Dix & Sue Halstenberg, Palmares & Rio Una aqui.
O amor todo dia e o dia todo, O homem ativo & o intelectual de Antonio Gramsci, a literatura de Samuel Rawet, A dialética do concreto de Karel Kosik, a música de Madeleine Peyroux, a fotografia de Rory Banwell, a arte de Luciah Lopez, a pintura de Serge Marshennikov & Amélia Toledo aqui.
Entre topadas e escorregões, eu insisto, persisto, resisto e até persevero, A poesia brasileira de Antonio Cândido, História de um louco amor de Horacio Quiroga, O espelho da alma de Marilena Chauí, a música de Catherine Ribeiro, a coreografia de Caralotta Ikeda, a pintura de Anders Zorn, a fotografia de Spencer Tunick & Maureen Bisilliat aqui.
Poesia não deu, só noutra, o pensamento de Friedrich Nietzsche, a literatura de Nadine Gordimer, A gaia ciência de José D 'Assunção Barros, a música de Dulce Pontes, a fotografia de Kharlos Cesar, a arte de Giovanna Casotto & Jeju Loveland aqui.
História da mulher: da antiguidade ao século XXI aqui.
Palestras: Psicologia, Direito & Educação aqui.
A croniqueta de antemão aqui.
Fecamepa aqui e aqui.
Livros Infantis do Nitolino aqui.
&
Agenda de Eventos aqui.

O AMANTE DAS AMAZONAS, DE ROGEL SAMUEL
[...] Quando a urutu pica, dói muito e incha a carne, que vai ficando escura e roxa, até o aparecimento da hemorragia e da morte. Já a picada da cascavel ataca o sistema nervoso central, a dor desaparece, a vista se perturba, vai ficando cega lentamente, começa a perder os movimentos do corpo, a princípio os dedos. Aí vêm dores na nuca, cada vez mais fortes, a paralisia vai subindo, a gente via ferver o progresso da morte, das extremidades para o centro, o corpo ficando rijo, duro, a morte vem pela rigidez viscosa, por asfixia, quando o diafragma enrijece. A morte vence o corpo, e a coral, obra de ourivesaria, é linda, vermelho-amarelo, cores vivas, e presas curtas, mas raramente pica. Mas não seja enganosa esta beleza, pois picando, mata. Mas pior de todas é a surucucu, grande, agressiva, forte e que, ao contrário das outras, vem e ataca. Tem muito veneno e permanece na tocaia das margens escuras de rios e lagos [...].
Trecho do romance O amante das amazonas (Itatiaia, 2005), do escritor, professor doutor em Letras, webjornalista e colunista cultural, Rogel Samuel, que edita o blog Literatura e foi entrevistado por mim no Guia de Poesia – O referencial Humano. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra: a arte da artista plástica neozelandeza Wendy Arnold.
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
Veja os vídeos aqui & mais aqui e aqui.