quarta-feira, março 29, 2017

ISHTAR, LENDA BORORO, ASTRUD, WAYLAND & AMADEO CARDOSO.

É NELA O FESTIVAL DE ISHTAR - Não conto quantas vezes entregue aos meus pensamentos solitários e longínquos, quase largando tudo de mão, a sorte às pedras, não fui ao cúmulo da loucura, sem saber mais o que fazer, ontens cinzas pro amanhã. Quantas e tantas vezes me danei pelo mundo, entre passos que seguiam os alaridos e ecos no mormaço das ruidosas noites estivais, sem ter nem para onde ir, algures de nunca existir. Não sei quantas e muitas vezes perdido me vi como uma jangada à deriva, vida aos ventos e correntes impetuosas, relutando ao naufrágio, águas acima do pescoço. Nem sempre me dei conta de quantas vezes não sucumbi quase ao desespero, tantas vezes deprimido ao rés do chão, lágrima alguma pra me lavar a culpa, o corpo, a alma, jamais vencido de tudo, desertos por trilhar. Em um desses dédalos enlouquecidos foi que um dia, noite qualquer entre outras infindas, ela imantada, como se escondesse a sua deidade nas feições de uma simples mortal, desviou meu olhar para sua atenção. Ela surgiu na minha dor anoitecida, qual Ishtar reinando no céu entre estrelas a refulgir sua passagem, como um cinturão ao seu redor ao controle do tempo e dos astros, para me envolver até me levar para a carruagem com seus leões indomáveis pelas lonjuras do universo. Mais que sempre perdido, não objetei; segurei sua mão e deixei me levar. Fez-se, então, dela a lua brilhante na minha solidão noturna, submersa entre lembranças perdidas e memórias revogadas, a fertilizar minhas ideias com pensamentos que vinham e iam a se perderem num carrossel multicor que irradiava cenas e tramas do que fui e não sou mais, valendo-me dos seus olhos vivos e riso estelar. Completamente rendido pelas adversidades, deixei-me levar pelos acontecimentos e deitei a cabeça desamparada entre seus seios fartos de Magna Dea, entre os quais se equilibravam meus desastres de errar vezes sem conta, menino sem chão, olhos sem paradeiro. Deu-me a guarida entre seus braços como se apascentasse toda minha expectativa e inquietude, pra tomar do festival em que ela descia de Vênus com os encantos de todas as sacerdotisas, a me ensinar a arte do êxtase e do amor. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.

Curtindo os álbuns That girl from Ipanema (Audio Fidelity, 1977), Live in New York (Pony Canyon, 1996), Jungle (Magya, 2002) e The Diva Series (Verve, 2003), da cantora Astrud Gilberto.

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A arte do escultor estadunidense Wayland Gregory (1905-1971).

DESTAQUE: LENDA BORORO
Deus atirou no espaço um punhado de estrelas. Uma caiu na terra. Outras, tardam ainda. A que desceu, por certo a mais luzentes delas, veio e se transformou numa cidade índia. Desceu, porque do alto, o Paraguai parece nesse ponto uma jóia: escreve em prata um S, que a estrela imaginara um prendedor ideal, ligando à serrania o imenso pantanal. E como a muita estrela o céu azul não baste, - caiu, como um brilhante, à procura do engaste. E Corumbá surgiu por sobre a terra branca, na alegria sem par do gentil casario, entre o verde do momento – no alto da barranca, debruçada, a sorrir, para o espelho do rio.
Recolhida de Pedro Medeiros (Revista A Violeta – Imprensa Oficial, 1939). Veja mais aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A arte do pintor português Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918)
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DEDICATÓRIA:
A edição de hoje é dedicada à conterrâneamiga Maria de Lourdes Oliveira.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra:
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