terça-feira, março 07, 2017

BOROROS, SONIA EBLING DE KERMOAL, DOROTHY LAFRINER BUCKET, RICHARD STRAUSS & LEONIE RYSANEK

TODO DIA É DIA DA MULHER
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ERRÂNCIAS DE QUEM AMA, PROMESSAS DA PAIXÃO – Imagem: Couples passion love kiss, art by Dorothy Lafriner Bucket - Seguia pelo mundo medonho entre feras rangentes e gente da lapa mais traiçoeira, sedento e desenganado, comendo o fogo das bestas e enfermidades no alçapão de tudo, porque não tinha nada mais que esperar da vida nem de nada. Seguia errante desencantado, matando crenças e lembranças e a memória por abismos e dédalos, vertendo sangue pelas esquinas de quem se perdeu na minha riqueza menor que um gesto perdido no olhar, para que a felicidade não fosse mais que uma fugaz miragem entre efígies de bandidos valentes com suas ruindades pelos semáforos e inopinados, e não ter nada mais que esperar da vida nem de nada. Seguia e perseguia levando nos peitos lavado de suor e lágrimas a arrastar ferros e deprimência entre moinhos de ventos e iminentes quedas, açoitando o tempo, arreliando a vida, enfrentando lobos malsinados e as mordidas de feras iradas por tolos males, e arribando pelas doedeiras dos portões fechados e se arrastando entre portas cerradas, todas as léguas escondidas no sofrimento de quem perdido nas lapadas da vida, sem vintém no bolso e peregrino da sperança no coração já hóspede do Hades, sem ter mais nada mais que esperar da vida nem de nada. Seguia e persistia e perseverava estrangeiro em seu próprio chão, sem ter onde cair morto e amaldiçoado de tudo e arrimo sequer, desencontrado e torto, até que ela um dia com seus olhos vivos do reinado das limeiras de Tupar, sua boca linda das laranjas de Babel, toda flor da beleza do seu corpo delgado de princesa do Reino da Pedra Fina, surgiu assim do nada para ser o ponto de parada das minhas errâncias e loucuras. Era a promessa da paisão e a remissão do que não sabia mais e não poupei da lida a devassar o seu roçado, a vasculhar os seus segredos de rainha para que fossem meus e entregues mansa e dadivosamente, a me premiar o ventre brilhante e a luz do dia e a razão da vida. Eu não dizia o seu nome, nem sabia nada, muito menos precisava mais de nada, só ela, dádiva do mundo, inteira estrada para minha ressurreição. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.

Curtindo os álbuns da ópera de um ato Salomé (1905), do compositor e maestro alemão Richard Strauss (1864-1949), baseada na peça teatral homonima de Oscar Wilde, na interpretação da soprano dramática austríaca Leonie Rysanek (1926-1998).

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DESTAQUE: A ORIGEM DAS ESTRELAS
Antigamente, em certo dia, as mulheres foram buscar milho ms encontraram pouquíssimo, cabendo apenas algumas espigadas a cada uma delas. Levaram depois um menino e então foram mais felizes, porque acharam grande quantidade de milho. No mesmo local o socaram a fim de fazer pão e bolo para os homens que andavam à caça. O menino conseguiu subtrair grande quantidade de milho em grão e para esconder seu furto às mulheres, encheu umas taquaras que, já de caso pensado, preparara em grande quantidade. Voltou à sua cabana, despejou o milho das taquaras e o entregou à avó, dizendo: Nossas mães, lá na roça, fazem pão de milho. Prepara um para mim, que quero comê-lo em companhia de meus amigos. A avó satisfez o seu pedido. Quando o pão ficou pronto, ele e os amigos o comeram. Depois, cortaram os braços e a lingua à avó para que não denunciasse o furto cometido e não se opusesse a quanto pretendiam fazer. Com o mesmo fim, cortaram a língua de um belo papagaio domestico, e puseram em liberdade todos os pássaros criados na aldeia. É que os meninos tinham resolvido fugir para o céu, mas temiam a ira de seus pais e mães. Feito isso, tocaram para a floresta e lá chegando chamaram o colibri. Prenderam-lhe o bico à ponta de compridíssima corda, dizendo-lhe: - Segura, voa e leva a ponta deste cipó que amarramos na perna. A outra ponta, prenderás lá em cima, no céu. Procura amarrá-la solidamente numa das árvores grossas de lá. O colibri fez como lhe haviam recomendado. Então os meninos, um depois do outro, foram subindo, primeiro pelo cipó, depois se penduraram na corda, que o pássaro tinha amarado na extremidade do cipó. Dali a pouco as mães voltaram e não vendo os filhos perguntaram à velha e ao papagaio: - Onde estão nossos filhos? Onde estão nossos filhos? Mas a velha e o papagaio não responderam. Uma delas, saindo para o terreiro, viu uma corda que subia até as nuvens e, agarrada na mesma, uma longa fila de meninos que escalavam o céu. Avisou as outras mulheres e todas juntas correram para o mato e se puseram a chamar os meninos com palavras afetuosas, para que decessem, mas os perversos não lhes deram ouvidos e continuaram a subir. Então as pobres começaram a chorar e a suplicar que decessem, que voltassem para suas cabanas. Mas os meninos não só se fizeram de surdos aos pedidos das mães, como também se apressaram na subida. As mulheres, vendo inúteis seus rogos, começaram também elas a subir pelo cipó acima. Terminado o cipõ, iniciaram a subida pela corda, com o fim de alcançar os filhos. O menino que tinha roubado o milho era o último da fila e foi, portanto, o último a alcançar o céu. Quando lá chegou, espiou para baixo. Viu que na corda, uma depois da outra, estavam agarradas todas as mulheres. Então cortou a corda e as pobres cairam desajeitadamente na terra, onde se transforaram em animais e feras. Como castigo de sua monstruosa maldade e ingratidão, esses meninos perversos foram condenados a olhar todas as noites, fixamente, a terra, para ver o que aconteceu às suas mães. Seus olhos são estrelas.
A origem das estrelas, lenda extraída da obra Os Bororos Orientais (Companhia Editora Nacional, 1942), de Antônio Colbacchini e César Albisetti. Veja mais aqui e aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A arte da escultora e professora Sonia Ebling de Kermoal (1918-2006).
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