quarta-feira, março 08, 2017

MURILO RUBIÃO, ANNEKE VAN GIERSBERGEN, RAMÓN CASAS, WÄINÖ AALTONEN, KOBRA, MANUEL COLOMBO & FÁTIMA JAMBO

TODO DIA É DIA DA MULHER
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A PONTE ENTRE QUEM AMA E A PLENITUDE DO AMOR! - Imagem: Desnudo, do pintor e artista gráfico espanhol Ramón Casas (1866-1932). - Na distância entre o meu coração e a imensidão cosmogônica, ela se estira nua pro meu deleite na liberdade verdadeira – a sensação etérea em mim e ao meu redor. Não fosse ela a ponte entre o amor e eu, cego eu erraria por anos e farsas. Não fosse ela a ponte entre o factível e o inatingível, eu não saberia a verdade de viver. Não fosse ela a ponte entre a minha heterodoxia e meus paradoxos, eu não descobriria jamais a vida em sua plenitude. A ponte, ela: entre o universo e minha existência. Ela nua e linda, corpalma, ora estatelada com quem adormece à espera da minha chegada, ora de bruços como que indefesa dos meus ataques e desvarios para sua entrega. Ela sempre mais maravilhosa que sempre, mais minha que nunca, a me oferecer sua carne para que eu me aposse em defintivo na nossa trajetória efêmera de viver. É ela, um pé no ocidente do mundo, o outro no oriente lomngínquo – ah, podólogo atrevido sou a sacralizar toda sua emanação -, e eu como um fiel fanático, ajoelho-me e acaricio toda extensão do seu solado, calcanhar, pernas, joelhos, coxas, até folgar no encontro do ventre e lá provar com toda gulodice de toda sua proveitosa delícia – o manjar da vida, o elixir da alma, no meio do caminho em tudo acontece e ouso atravessar essa ponte que quero morar embaixo, viver passeando por cima, vencê-la sempre, superá-la a todo instante, sabê-la minha e só minha em todo e mais completo momento. Essa a ponte que me ensina além de mim e de tudo e não me canso de usurpá-la vencendo seus limites e eu animal selvagem a lamber seu umbigo,a sugar seus seios, acariciar o ombro e contornos até beijá-la apaixonadamente lábios e faces a flagrar seus olhos incendiados de prazer a me queimar na combustão dos desejos. E ela o carnal e o anímico em confluência e na convergência de lábios e sexo na volúpia pela posse de todos os desejos, para mergulho no céu da sua boca e entre as estrelas do prazer, me faço inteiro a cobrir seu ser - a ponte que me faz macho insaciável e homem que se realiza. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.

Curtindo o dvd Everything Is Changing (PIAS-Holland, 2012), da cantora, compositora, guitarrista e pianista holandesa Anneke van Giersbergen.

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A arte do escultor e artista plástico finlandês Wäinö Aaltonen (1894-1966).

DESTAQUE: ELISA, MURILO RUBIÃO
"Eu amo os que me amam; e os que vigiam desde a manhã, por me buscarem, achar-me-ão." (Provérbios, 8, 17). Uma tarde - estávamos nos primeiros dias de abril - ela chegou à nossa casa. Empurrou com naturalidade o portão que vedava o acesso ao pequeno jardim, como se obedecesse a hábito antigo. Do alpendre, onde me encontrava, escapou-me uma observação desnecessária: - E se tivéssemos um cachorro? - Não me atemorizam os cães - retrucou aborrecida. Com alguma dificuldade (devia ser pesada a mala que carregava), subiu a escada. Antes de entrar pela porta principal, voltou-se: - Nem os homens tampouco. Surpreso por vê-la adivinhar meu pensamento, apressei-me em desfazer a situação cada vez mais embaraçosa: - Hoje o tempo está ruim. Se continuar assim... Interrompi a série de bobagens que me ocorria e, encabulado, procurei evitar o seu olhar repreensivo. Sorriu levemente, enquanto eu, nervoso, torcia as mãos. Logo a desconhecida se adaptou aos nosso hábitos. Raramente sai e nunca aparecia à janela. Talvez não tivesse reparado no primeiro momento em sua beleza. Bela, mesmo no desencanto, no seu meio sorriso. Alta, a pele, de um branco pálido, quase transparente, e uma magreza que acusava profundo abatimento. Os olhos eram castanhos, mas não desejo falar deles. Jamais me abandonaram. Cedo começou a engordar, a ganhar cores e, no rosto, já estampava uma alegria tranquila. Não nos disse o nome, de onde viera e que acontecimentos lhe abalaram a vida. Respeitávamos, entretanto, o seu segredo. Para nós era, simplesmente ela. Alguém que necessitava de nossos cuidados, do nosso carinho. Aceitei os seus longos silêncios, as suas repentinas perguntas. Uma noite, sem que eu esperasse, interrogou-me: - Já amou alguma vez? Por ser negativa a resposta, deixou transparecer a decepção. Pouco depois, abandonava a sala, sem nada acrescentar ao que dissera. Na manhã seguinte, encontramos vazio o seu quarto. Todos os dias, mal começava a cair a tarde, eu ia para o alpendre, à espera de que ela surgisse a qualquer momento na esquina. Minha irmã Cordélia desaprovava-me: - É inútil, ela não voltará. Se você estivesse menos apaixonado, não teria tanta esperança. Um ano após a sua fuga - estávamos novamente em abril - a vi aparecer no portão. Trazia mais triste a fisionomia, maiores as olheiras. Dos meus olhos, que se puseram alegres ao vê-la, desprendeu-se uma lágrima e disse, esforçando-me para lhe tornar cordial a recepção: - Cuidado, agora temos uma cadelinha. - Mas o dono dela ainda é manso, não? Ou se tornou feroz na minha ausência? Estendi-lhe as mãos, que ela segurou por algum tempo. E, sem conter a minha ansiedade, indaguei: - Por onde andou? O que fez nesse tempo todo? - Andei por aí e nada fiz. Talvez amasse um pouco - concluiu, sacudindo a cabeça com tristeza. A sua vida entre nós retomou o ritmo da outra vez. Mas eu estava intranquilo. Cordélia olhava-me penalizada, insinuava que eu não deveria ocultar mais a minha paixão. Faltava-me, contudo, a coragem e adiava a minha primeira declaração de amor. Meses depois, Elisa - sim, ela nos disse o nome - partiu de novo. E como lhe ficasse sabendo o nome, sugeri à minha irmã que mudássemos de residência. Cordélia, apegada ao extremo à nossa casa, nada objetou. Limitou-se a perguntar:- E Elisa? Como poderá encontrar-nos ao regressar? Refreei a custo a angústia e repeti completamente idiotizado:- Sim, como poderá?
Elisa, conto extraído da obra O ex-mágico (Universal, 1947), do escritor e jornalista Murilo Rubião (1916-1991). Veja mais aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A modelo Elisa Desoire na arte do fotógrafo Manuel Colombo.
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DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à psicóloga e funcionária pública Fátima Jambo.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra: Beijo, do artista, grafiteiro e muralista Eduardo Kobra.
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
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