terça-feira, dezembro 06, 2016

JOSÉ CÂNDIDO DE CARVALHO, LODES JAGUARIBE, ALDEMIR MARTINS, SHIRLEY PAES LEME, A ANSIEDADE, A DEPRESSÃO & A MEDICALIZAÇÃO


A ANSIEDADE, A DEPRESSÃO & A MEDICALIZAÇÃO - Imagem: arte da escultora, gravadora, desenhista e professora Shirley Paes Leme. - A gente quer isso, compra aquilo, adquire daquilo. A tônica é comprar, comprar, comprar sempre e cada vez mais. Uma camisa grifada, uma calça da moda, óculos vistosos, sapato de luxo, relógio de marca, cordão de ouro, uma bolsa com tudo dentro pra deixar a feiúra toda embonecada, com um verdadeiro banho de loja. Ah, tem que ter o automóvel zero recém-lançado, equipamentos com tecnologia de última geração, controle remoto de todo tipo no lar e pra onde for. Não antes uma casa mobiliada de tudo que se possa imaginar, uma outra na praia pra mostrar que tem e o que mais aparecer. Hoje se compra de tudo: charme, glamour, pedigree, celebridade. Tenha ou não, a ordem é essa: consumir - a compulsão é a mesma, tudo pra fabricar oniômanos ou shopaholic, como quiser. Na hora da precisão é só recorrer às prateleiras: se ansioso, calmantes; se depressivo, estimulantes. Basta querer e se elimina a distância entre o prazer e a gratificação, quando não do desejo à frustração. E querer mais, sempre mais, até demover todas as insatisfações, até substituir o espremido das dificuldades que é estar vivo sem saber qual motivo pra isso. Entre o ter e o desfrutar, a escravização pelo dinheiro para ser mais que os demais, de preferência um emprego com ótimo salário, nada de trabalho, viver só pra ganhar e acumular dinheiro e se mostrar realizado pelo que pode expor aos outros. Perder as novidades, nunca. Ou se atualiza, ou sai fora. Aí, não dá. De preferência ser o primeiro entre todos. Ah, pra tudo tem remédio, é só sacar do cartão de crédito, ou dos cheques, do crédito ou, em última instância, da camaradagem dum fiado. Tem jeito pra tudo! E por isso se perde o sono até insônia, o apetite até o fastio, o ambicionar até a ansiedade, a insatisfação até a depressão. Não são poucos os vícios, avalie. Recorre-se ao binômio formado pelo corporativismo médico-farmacêutico, doses ministradas para qualquer mal-estar, só pra tirar o desconforto, tudo é muito lindo na irrelevância humana num mundo de luzes, cores, festa. Quando fecha os olhos, o desprazer. Vinte quatro horas no ar, nada de perder tempo pensando o vazio que queima por dentro, quanto mais badalação melhor. O espelho só pra conferir a lindeza e nunca deixar ver a escuridão interior, um bota fora na solidão: é lindo ser bonito, admirado, querido, enturmado. Nunca só, antes mal-acompanhado. Assim tudo gira na roda da vida, pouco importa se há pobreza de espírito, inexperiência pelo entretenimento fugaz feito perene, ou mediocridade pelo fútil e efêmero. Cada qual, umbigo que fale mais alto! © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui

 Curtindo o Box (6cds) A complete Schumann Collection (Delira Música, 2004), da pianista Maria Clodes Jaguaribe.

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DESTAQUE: JOSÉ CÂNDIDO DE CARVALHO
[...] Colocaram para tratar do velho Saquarema menina tirada de capa de revista. Só de curvas tinha para mais de dois carretéis. Diante de tamanhos argumentos, o velhote [...] arribou. E no fim da semana pulou da cama [...] A menina não quer dar um bordejo com este São Pedro aí pelas abas das nuvens? [...] estava curado. [...].
Trecho extraído da obra Um ninho de mafagafes, cheio de mafagafinhos (Rocco, 2005), do escritor, advogado e jornalista José Cândido de Carvalho (1914-1989). Veja mais aqui e aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A arte do artista plástico, ilustrador, pintor e escultor autodidata Aldemir Martins (1922-2006).
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