sexta-feira, outubro 07, 2016

VAN GOGH, CHARTIER, IVO TONET, NIETZSCHE, EVELINE HECKER, PRELJOCAJ, CARYL CHURCHILL, KALEB MARTYN, JEFFS, AS MIL & UMA NOITES, LUCIAH & VIOLÊNCIA


INEDITORIAL: A VIDA POR UMA PEÍNHA DE NADA! – Salve, salve, gentamiga! Vida de louco essa da gente! Sai de casa – cobra que não anda, não engole sapo! Tudo congestionado: haja trampo, filas, semáforos, maior trupé & tudo offline, greve, discussões no viva voz, acenos risonhos & falsos, GPS, pisada no acelerador & embreagem, coça o cocuruto, frenagens, ajeita a gola e o penteado pelo retrovisor, ponto morto, nervosismo nas mãos zapeando no dial, blábláblá, manchetes, outdoors, mãos à barriga, sirenes, pigarro, sinalizadores, aquilo que precisa comprar, esqueceu o remédio, algo remói no quengo, ah, o passado – só vem coisa ruim na memória -, consumo, eita, não há tempo, tudo perdido, online vinte e quatro horas no ar e não dá pra nada, seria ótimo um cafezinho quente, nada, remexe as cumbucas, algibeiras, bolsos, confere a dentadura, alisa o cabelo, remexe as orelhas, alisa a nuca, tudo é muito difícil – será o Benedito? -, ah, que nada, sisifismo, a guilhotina das horas, a Espada de Dâmocles, o sonho de Ícaro, a condição de Fênix, não há mais tempo nem como seguir adiante, tudo interrompido, está tudo perdido, preciso viver e a vida por uma peínha de nada. Vixe! E como hoje é o Dia do Compositor, resta solfejar Sinal Fechado, de Paulinho da Viola. Enquanto isso, vamos pras novidades: na edição de hoje a crise da atualidade por Ivo Tonet, o leitor & a leitura de Roger Chartier, a Gaia Ciência de Nietzsche, a violência de Necilda de Moura Santana, o Livro das Mil e Umas Noites, a pintura de Vincent van Gogh & Umberto Boccioni, a dança de Angelin Preljocaj, o teatro de Caryl Churchill, a música de Eveline Hecker, a escultura de Kaleb Martyn, o cinema de Christine Jeffs, o Congresso de Psicoterapia, a poesia e arte de Luciah Lopez, minhas parcerias musicais & a croniqueta Sonho real amanhecido. No mais, vamos aprumar a conversa & tataritaritatá aqui.

Veja mais sobre:
A primeira vez no avião, Fernando Sabino, Manuel Bentevi, Nana de Castro, Jean-Paul Riopelle, Kiriku e a feiticeira, Inteligências Múltiplas & Aline Barros aqui.

E mais:
Proezas do Biritoaldo: Quando o banguelo vê esmola grande fica mais assanhado que pinto no lixo! Aqui.
Big Shit Bôbras: o paredão – quem vai tomar no cu? & Thérése Philosophe aqui.
Tolinho & Bestinha: Quando a lei do semideus é cachaça, tapa e gaia aqui.
O cinema no Brasil aqui.
Fecamepa: a independência do Brasil aqui.

DESTAQUE: A CRISE DA ATUALIDADE
[...] Sabemos que é da natureza do capitalismo sofrer crises periódicas. Essas, a nosso ver, têm sua raiz nos problemas oriundos do processo de acumulação do capital. Gostaríamos de sublinhar isso enfaticamente para deixar claro que a matriz geradora da crise é sempre material e não espiritual. E, com isso, para opor-nos firmemente à ideia, muito difundida, de que o mundo está em crise por causa da perda dos “verdadeiros” valores tradicionais. Não se trata de nenhum economicismo, ou seja, de afirmar que a causa direta e imediata de todos os problemas atuais da humanidade está na economia. Trata-se apenas de deixar claro que a raiz mais profunda da crise que o mundo vive hoje está nas relações que os homens estabelecem entre si na produção da riqueza material. Assegurado isso, também deve ser deixado bem claro que há uma relação de determinação recíproca entre essa raiz e as outras dimensões da realidade social. Do mesmo modo, também há uma influência recíproca entre todas as dimensões que compõem a totalidade social. [...] A falência dos valores tradicionais que, de alguma forma, faziam uma referência maior ao aspecto comunitário, deve-se exatamente a essa exacerbação daquilo que é a própria essência do capitalismo: a concorrência. Afinal, o valor suprema dessa forma de sociabilidade é o ter. não por um suposto egoísmo humano natural, MS como imposição da lógica da reprodução do capital, que se espraia por toda a vida cotidiana. Daí porque a preocupação com o bem comum, a solidariedade, um agir eticamente orientado são, no mais das vezes, um discurso vazio ou apenas expressões pontuais e superficiais que não podem transformar-se, de modo permanente e profundo, em vida cotidiana. Do mesmo modo, a ação coletiva para a solução dos problemas sociais se vê tremendamente dificultada por um mundo onde a lei maior é a lei do “salve-se quem puder”. E, por último, podemos ainda fazer referência aos gravíssimos problemas que afetam a relação do homem com a natureza. Apenas para referir: poluição da atmosfera, de rios e lagos, destruição de ecossistemas e da camada de ozônio, aquecimento global e milhares de outros. Como resultado do uso indiscriminado, predatório, anáquico e agressivo – típico do capitalismo -, está em risco a própria existência de todas as formas de vida. Não obstante esforços e boas intenções, a lógica do capital é, por sua natureza – anárquica e concorrencial -, predatória e destrutiva. E é essa lógica, levada ao extremo pela crise atual, que impede uma relação harmônica do ser humano com a natureza. Eis aí algumas das expressões socioculturais que marcam a crise da sociabilidade capitalista atual.
Trechos extraídos de Expressões socioculturais da crise capitalista na atualidade (Coleção de Textos, 2012), do professor Ivo Tonet. Veja mais aqui, aqui e aqui.

SONHO REAL AMANHECIDO (Imagem: arte da poeta, artista visual e blogueira Luciah Lopez) - Imerso na escuridão da viagem noturna do Sol, o coração na mão, a loucura na ponta dos dedos, o olhar perdido de nenhum momento. Tudo paralisado, só eu que cresço me bastando com os limites dos quatro cantos do quarto. Nada mais resta que valer-me dos arranhões falando pras paredes: a ilusão de que, possa espantar meus fantasmas e conciliar o sono na madrugada calorenta. Tenho o teto por limite, o chão por abrigo. A solidão é fria e meu corpo lavado em suor resiste. Num canto me recolho: estou entregue à própria sorte. E me perco entre sonhos e pesadelos, até não saber-me, mais nada. Sou, então, surpreendido com um estalido: passos em minha direção. Creio irreal, sonho de sonhos. E uma mão quente fêmea afetuosa toca-me os pés entre o frio da solidão e o meu fervor corporal. É bem-vinda. Alisa a pele das minhas pernas, alcança-me as coxas, envolve o meu sexo um beijo reluzente e sinto a respiração das narinas na minha pele, o seu olfato explorando minha púbis e ascendendo vagarosamente até o meu tórax. É quando me dou conta de seu vulto onírico que se acerca de mim, faro pelos flancos, ombros, lábios e rondando minhas faces como a me identificar na escuridão. Um ponto de luz tímido surge como se emanasse de sua hipófise e, num crescendo, deu-me o formato de um rosto iluminado que reverberava por todo ambiente e me envolvia numa reslumbrância de paz e prazer. Esfreguei os olhos, abri-os bem e pude ver: era ela, Freyaravi: a transformação da deusa na cunhã kaingang, a carne da vida a trazer o Sol no ser para amanhecer o amor na festa da vida. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

UMA MÚSICA: 
Curtindo o belíssimo álbum Ponte Aérea (Biscoito Fino, 2004), da cantora e professora de canto Eveline Hecker, interpretando composições de José Miguel Wisnik.

 Imagem: Parisian Novels (1887), do pintor pós-impressionista neerlandês Vincent van Gogh (1853-1890).

O LEITOR & A LEITURA - [...] A leitura é sempre apropriação, invenção, produção de significados. Segunda a bela imagem de Michel de Certeau, o leitor é um caçador que percorre terras alheias. Apreendido pela leitura, o texto não tem de modo algum – ou ao menos totalmente – o sentido que lhe atribui seu autor, seu editor ou seus comentadores. Toda história da leitura supõe, em se princípio, esta liberdade do leitor que desloca e subverte aquilo que o livre lhe pretende impor. Mas esta liberdade leitora não é jamais absoluta. Ela é cercada por limitações derivadas das capacidades, convenções e hábitos que caracterizam, em suas diferenças, as práticas de leitura. Os gestos mudam segundo os tempos e lugares, os objetos lidos e as razões de ler. Novas atitudes são inventadas, outras se extinguem. Do rolo antigo ao códex medieval, do livro impresso ao texto eletrônico, várias rupturas maiores dividem a longa história das maneiras de ler. Elas colocam em jogo a relação entre o corpo e o livro, os possíveis usos da escrita e as categorias intelectuais que asseguram a sua compreensão. [...]. Trecho extraído da obra A aventura do livor: do leitor ao navegador (UNESP/Imprensa Oficial do Estado, 1999), do historiador francês Roger Chartier. Veja mais aqui.


Imagem: Matter, do pintor e escultor italiano do movimento futurista, Umberto Boccioni (1882-1916).

PERNSAMENTO DO DIA: A VIOLÊNCIA NOSSA DE CADA DIA - [...] Precisamos pensar esse processo de violência em que vivemos, pensar um processo de não culpabilizar famílias e pessoas por esses processos e, sim, pensar a dinâmica e os processos sociais que estão cada vez mais marginalizando parcelas significativas de nossa população, especialmente os jovens, hoje suas vítimas preferenciais. [...] Falar em violência e em drogas significa enfrentar todo o processo de violação dos direitos sociais, de exclusão social, de destituição de direitos, que parcela significativa da nossa população vive. Ela tem seus direitos negados, muitos estão abaixo da linha da pobreza, em situações que aviltam a condição de ser humano, de viver com dignidade, enfim. Discutir violência pressupõe partir dessa “violência-mãe”, que é todo o processo de exclusão social que geral uma série de outras refrações. Dentre elas, o desemprego, a fome, a miséria, o não acesso às políticas públicas fazem parte do cotidiano dessa população e conformam a sua existência, toda a sua forma de vida e sobrevida. A ausência desse poder público, que deveria garantir direitos constitucionais, relega essa população á própria sorte e ao desafio de construir estratégias para a sua sobrevivência, buscando diferentes formas de garanti-la. [...]. Trecho extraído de Violência e drogas (Em Foco, novembro de 2005), da professora Necilda de Moura Santana. Veja mais aqui, aqui e aqui.


LIVRO DAS MIL E UMAS NOITES - [...] dez escravos em trajes femininos copulando, ali, com suas concubinas e criadas, além da cena da cunhada com o escravo Mas’ud. [...] que dez escravos em trajes femininos dormiram entre suas concubinas e mulheres durante a noite e o dia [...] Olharam para a porta secreta, que fora aberta e da qual saiu a esposa do Rei Sãhriyãr, conforme o hábito, entre vinte jovens; caminharam sob as árvores até chegar ao sopé do palácio em que ambos estavam, tiraram as roupas femininas, e eis que era dez escravos que se lançaram sobre as dez jovens e as possuíram. Quanto à senhora, ela gritou: “Ó Mas’ud! Ó Mas’ud!”, e eis que um escravo negro pulou ligeiro de cima de uma árvore no chão, enchaminhou-se até ela e disse: “O que você tem, sua arrombada? Eu sou Sa’duddin!”. Então a mulher riu e se deitou de costas, e o escravo se lançou sobre ela e nela se satisfez, bem como os escravos. Em seguida, os escravos levantaram-se, vestiram os trajes femininos que estavam usando e se misturaram às moças, entrando todos no palácio e fechando a porta. Quanto a Mas’ud, ele pulou o muro, caiu na estrada e tomou seu rumo. [...]. Trechos extraídos da obra Livro das mil e uma noites (Globo, 2005), organizado e traduzido por Mamede Mustafa Jarouche. Veja mais aqui

 Imagem: a dança contemporâne4a do coreógrafo e dançarino francês Angelin Preljocaj.

UM NÚMERO – A peça teatral Um número, da dramaturga britânica Caryl Churchill, é uma ficção científica de fundo psicológico e social, que conta a história de um menino maltratado pelo pai e, por consequência, torna-se revoltado e agressivo. Um processo de clonagem tenta fazê-lo renascer como uma criança dócil. Sem conhecimento do pai, o laboratório também termina por produzir outras vinte cópias. Com isso, a peça expressa a patologia social da violência juvenil e das brutais torcidas de futebol na classe média adolescente, material recorrente na obra do autor que traz em suas obras os abusos de poder e temas como a política sexual e feminismo. A peça foi encenada no Brasil, com direção de Bete Coelho, no Sesc Belenzinho, São Paulo, em 2004. Veja mais aqui.


Imagem: a escultura de Kaleb Martyn.

RAIN – O filme Rain (Chuva de verão, 2001), dirigido pela diretora neozelandesa Christine Jeffs, é baseado no romance homônimo de Kirsty Gunn, contando a história de uma menina que está em férias numa casa de praia, quando se dá o casamento de seus pais que se encontra à beira do divórcio, enquanto sua mãe se envolve com um fotógrafo. O destaque fica por conta da performance da atriz neozelandesa Alicia Fulford-Wierzbicki. Veja mais aqui.


AGENDA: XII CONGRESSO DE PSICOTERAPIA – Acontecerá entre os dias 20 e 22 de outubro, no Hotel Everest - Centro Histórico, Porto Alegre, RS, o XII Congresso Latino-americano de Pesquisa em Psicoterapia (SPR-LA) e o IV Simpósio de Pesquisa do Programa de Pós-graduação em Psicologia – Unisinos, com tema central voltado para as Interações terapêuticas, procurando a promoção da pesquisa aplicada às distintas situações que envolvem intervenções clínicas em situações de sofrimento psicológico e em processos de saúde-doença em diferentes contextos, além de estar voltado para a integração entre a pesquisa e a prática clínica de forma a incentivar a interlocução desses saberes. O Congresso é destinado aos profissionais liberais, psicólogos, psicanalistas, médicos, terapeutas de família, bem como, estudantes de graduação e pós-graduação e pesquisadores das referidas áreas. Veja mais aqui e aqui.

E mais
SÔNIA MELLO – A cantora Sônia Mello gravou duas das minhas canções, Desejo & Aurora/Minha Voz, no seu cd Desejo, sendo indicada ao Grammy 2010. Ela me concedeu uma entrevista que povo ser conferida aqui.
SANTANNA, O CANTADOR – O cantor e compositor Santanna, o Cantador foi um dos meus primeiros parceiros. Fizemos juntos muitas músicas, algumas que inseri nos meus shows, como Cantilena, e a primeira delas, Nunca chore por mim, que ele gravou em dois dos seus álbuns. Veja a história da parceria aqui e aqui.
RICARDO MACHADO – O cantor e compositor Ricardo Machado gravou duas das minhas músicas, a primeira O amor & o poema de Fernando Fiorese que musiquei, Porque cantar já não muda em manhã. Ricardo possui formação erudita, é cantor lírico, tenor, e já gravou dois álbuns. Veja o talento dele aqui.
MAZINHO – Jucimar Luis de Mélo Siqueira, ou simplesmente Mazinho, é um dos meus parceiros mais assíduos. Fizemos juntos algumas canções, como Entrega, Querência e Cobiça. A primeira delas ele gravou no seu álbum Simplesmente, ao lado de Zé Linaldo. Veja a história dessa parceria aqui e aqui.
SONEKKA – O cantor e compositor Sonekka – Osmar Lazzarini, é o meu parceiro na música Itinerância. Sujeitos dos bons e um dos fundadores do Clube Caiubi de Compositores. Veja a história da parceria e uma entrevista que fiz com ele aqui, aqui e aqui.
WILSON MONTEIRO – O cantor Wilson Monteiro gravou dois dos meus xotes no seu cd Cantarolando. Foram elas Cantador & Desnorteio. Veja a história disso aqui.
OZI DOS PALMARES – O cantor e compositor Ozi dos Palmares foi um dos meus primeiros parceiros na vida. Fizemos juntos a canção Estigma que foi gravado no seu primeiro cd. Veja a história da parceria e uma entrevista que fiz com ele aqui, aqui e aqui.

A GAIA CIÊNCIA
[...] Uma moral poderia mesmo ter crescido a partir de um erro: mesmo com essa noção, o problema de seu valor ainda não teria sido tocado. – Ninguém, portanto, examinou até agora o valor dessa mais célebre de todas as medicinas, chamada moral: para o que, é preciso, primeiro de tudo, alguma vez... pô-lo em questão. Pois bem! Essa é justamente nossa obra.
Trecho extraído do Livro V – Moral como problema - , da obra A gaia ciência (Companhia das Letras, 2012), do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900). Veja mais aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Arre! Não demora, venha logo já não aguento o tesão a subir-me pelas pernas
lambendo feito labareda queimando a pele, venha!
Já arriei as defesas quero você no chão ou sobre a mesa já não importa o lençol de seda ou a cama macia, sou sua puta ditosa sua fêmea cheirosa
safada, manhosa querendo você entre as coxas numa foda gostosa até me deixar exangue, acabada, largada , gemendo baixinho no seu ouvido:
_Vai amor, goza gostoso, ah, meu amor goza eu quero goza amor, eu amo você!
Ditosa, poema/imagem/foto, arte da poeta, artista visual e blogueira Luciah Lopez.
Veja aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra:
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
Veja  aqui e aqui.