sexta-feira, outubro 21, 2016

QUINET, MIRÓ, HILARY HAHN, PRAGUER FRÓES, BJERKAN, ZANINI, ROLANDRY, NILZA AMARAL, LUCIAH & MEGÁLITOS


INEDITORIAL: LAVRATURA - Imagem: O campo lavrado, do escultor, pintor, gravurista e ceramista catalão Joan Miró (1893-1983) - Eu lavrei a minha vida com sangue e lágrima, luzes e trevas, sementes de nada e de tudo. E o insidioso surpreendente mais acrescentou sangue e lágrima, luzes e trevas e muito mais sementes de nada e de tudo. E o bom é surpreendente, tudo é surpreendente no meu coração, Hy Breazil. Eu lavrei como quem planta chuvas no coração e recolhe terras secas da carne de guerra no meio das decepções. Eu lavrei o meu canto entre acenos de adeus e recepções no meio do meu momento futuro em plena pretérita agonia. E restou tudo e nada. E eu fiquei ruminando nas pedrarias de Pirangi onde as águas borbulham nos meus olhos e fazem a correnteza braba que deságua de mim no incerto preciso. Eu lavrei o meu poema no quebrar da barra quando eu varria os sonhos que as borboletas levavam do meu coração incerto. E quadro cruzaram o arco-íris trouxeram tantas luzes de mulheres nuas rondando meus sonhos com as tormentas da vida queimando meus pés na hora chegada em Pirangi. Eu lavrei o meu canto e o meu poema no aceno dos rostos presos na tarde da província onde a noite é insidiosa, as pessoas são insidiosas, tudo é insidioso e a pressão da vida é imperativa nas mortes que desabam para não fornecer vantagem para quem fala na calada da noite queimando o pavio da esperança. Eu lavrei o meu canto e o meu poema queimando o pavio da esperança quando eu perdia os sentidos no meio dos diálogos sombrios com as minhas estrelas que quedavam muitas na minha cabeça pela estrada de volta. Eu lavrei o meu canto no poema que se estirou na estrada do canavial onde eu estava perdido no meu coração, Hy Breazil, e o planalto central dos anhangás vociferavam a morte de sempre nas palavras suaves que não são a tônica para quem vagueia errante. Eu lavrei o meu canto no poema do silêncio de armas, o silêncio de vida, o silêncio capaz de revolver luzes porque não conhece a primavera na confusão de inverno e verão quando maio é uma estrada empoeirada com os filhos do barro incólumes escravos que não sabem o calor das pedrarias solidárias na fineza de Pirangi. Eu lavrei o meu canto que caiu no chão como um poema de chaga aberta no meio do esconjuro que o vento soprou no suor do meu dedo sem direção. E no meu canto o poema exorcizou a América do meu peito e conheci a direção de nada porque os sonhos de Bolívar estavam na América do Soul dessas paragens que são a viela da América do Sul que sou. © Luiz Alberto Machado. (In: Primeira Reunião. Recife: Bagaço, 1992). E vamos aprumar a conversa nas novidades do dia: na edição de hoje destaque para  o narcisismo de Antonio Quinet, o pensamento de Francisca Paguer Fróes, os megálitos de Orens, a literatura de Nilza Amaral, a pintura de Juan Miró, Peggy Bjerkan & Mário Zanini, a música de Hilary Hahn, a arte de Luciah Lopez, o Sarau Poético de Curitiba, o show Por um novo dia & a croniqueta O que sei de mim é só de você. Querendo mais é só aprumar aqui.

Veja mais sobre:
Maioridade precoce, Elfriede Jelinek, Lera Auerbach, Diana Vishneva,Pierre Alechinsky, Literatura de Cordel, Giulia Gam, Walter Huggo Khoury & Deus Ludens aqui.

E mais:
Sêneca, Nauro Machado, Antonio Carlos Nóbrega, George Wald, Newton Moreno, Philippe Garrel, Clotilde Hesme, Cidadania na Escola, Elizabeth Boott Duveneck, Distanásia & Crimes contra a administração pública aqui.
A educação na sociologia de Durkheim aqui.
Cícero & A República, Besta Fubana, Trela do Doro, Tolinho & Bestinha aqui.
Fecamepa: quando a coisa se desarruma, até na descida é um deus nos acuda! Aqui.
A educação no Positivismo de Comte aqui.

DESTAQUE: O EU & NARCISISMO
[...] O eu é como Narciso ama a si mesmo, ama a imagem de si mesmo que ele vê no outro. Essa imagem que é projetada no outro e no mundo é a fonte do amor, da paixão, do desejo de reconhecimento, mas também de agressividade e da competição. [...].
Trecho extraído da obra A imagem rainha – O imaginário no ensino de Jacques Lacan (Escola Brasileira de Psicanálise, 1995), do psicanalista, psiquiatra, dramaturgo e doutor em filosofia pela Universidade de Paris, Antonio Quinet. (Imagem: Magical realism, masks by Peggy Bjerkan)

Curtindo o álbum Bach: Violin & Voice (Deutsche Grammophon, 2010), da violinista estadunidense Hilary Hahn, interpretando música de J. S. Bach, com Matthias Goerne & Christine Schafer.


Pensamento do dia: A maternidade é o magno sacrifício da mulher; o seu desdobramento incondicional para a multiplicação da espécie, a santificação do lar num sofrimento contínuo e imensurável. A inferioridade da mulher não é fisiológica, nem psicológica; ela é social. Sua escravidão sexual determina sua dependência econômica. Pensamento da médica e feminista Francisca Praguer Fróes (1872-1931). Imagem: do artista plástico Mário Zanini (1907-1971).

O QUE SEI DE MIM É SÓ DE VOCÊ (Imagem: arte da poeta, artista visual e blogueira Luciah Lopez). Não sei do tempo, se ontem ou amanhã, tanto faz. Não tenho relógio e os marcadores ou ponteiros estão soltos numa ampulheta vazia que me sinalizam apenas que tudo passa e eu não sei a que horas ou momento isso é possível e se perdeu do que eu possa apreender. O calendário é cego e eu nem sei quando nasci, muito menos se vivo a contar de morrer, tanto faz. Não sei do espaço, aqui ou ali, tanto faz, guio-me pelo trajeto solar, do leste ao oeste, alhures, sem ter pronde ir ou chegar, apenas caminho na direção sem rumo no naufrágio do que pudera ser tempo. Não sei de mim, nem de nada, só sei que amanheço na escuridão, enquanto entardeço na manhã e tudo é tão cedo quando chega a noite e toma conta do breu o luar no último brilho das estrelas que se apagam sob minhas pálpebras cansadas. Se quer saber, o que sei de mim é só de você. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.

O EROTISMO DA NATUREZA NOS MEGÁLITOS DE ORENS –(Imagem: Vênus de Dolní Věstonice) - As fadas dos contos e lendas ocidentais são frequentemente associadas a construções megalíticas, como o são a sítio naturais, colinas, cascatas, florestas, etc. (variantes dialetais: fados, fades, fadas, fadettes). [...] É Johanneau que, num memorial à Academia Céltica (1810), conta a lenda do dólmen: Os camponeses desse cantão acrdditavam ainda, e me disseram seriamente, que foram três moças que construíram esse castelo em uma noite (daí, provavelmente, seu nome de castelo, de casa ou de gruta das fadas), que se morreria durante o ano se ele fosse destruído, que se as pedras fossem retiradas elas retornariam durante a noite. [...] As fadas, no tempo em que viviam, honravam depois de sua morte os que viviam, feito, outrora, alguma coisa boa durante sua vida e construíam grutas indestrutíveis para colocar as cinzas, ao abrigo da malevolência e da destruição do tempo. Elas vinham, frequentemente, conversar com os mortos. E diz-se que sua influencia benfeitora espalhava na região um encanto indefinível, ao mesmo tempo que abundância e prosperidade... Desde muito tempo, as fadas, infelizmente, desapareceram, mas o monumento permaneceu. Nas noites, quando a brisa sopra ao lado de fora, ouvem-se, como que lamentações, na rocha-das-fadas, e diz-se que são os mortos que lá repousam, que chamam as fadas protetoras, e que seus lamentos se renovarão até que elas retornem. Há pouco tempo ainda, os jovens da região vinha à rocha-das-fadas para interrogar o destino. Nas noites de lua cheia, viam-se namorados contornar o dólmen, cada um num sentido, e contar as pedras. Se os números obtidos não fossem diferentes de mais ou de menos de dois, era um bom presságio: o casamento era para logo. [...] O mágico Merlin, escreve Fernand Niel, transportou a Dança-dos-Gigantes que compõem as pedras de Stonehenge, da Irlanda para a planície de Salisbury. Um fantasma tinha-se domiciliado num dólmen de Noordsleen (Paises-Baixos). Saindo de noite de seu esconderiho o fantasma errava no campo, entregava-se a apavorantes brincaderias na colina vizinha. A avó dos diabos passeava, um dia, levando sobre a cabeça a mesa do dólmen Há-Heun (Coréia) e embaixo dos braços, os suportes. Achando a carga pesada demais, a diaba quis repousar. Colocou no chão as lajes que mantinha embaixo dos braços, e estas ficaram em pé, enquanto que, sentando-se, a laje que carregava na cabeça, colocou-se naturalmente sobre os suportes. [...] É em Keloas, perto de Plouarzel, que se ergue o menir de Saint-Renan, o mais alto e, provavelmente, o mais notável de Finistère. [...] Os recém-casados, escreve em 1827, rendem-se devotadamente ao pé desse menir e, depois de se terem em parte despojado de suas vestimentas, a mulher de um lado, o esposo do outro, esfregam o ventre contra uma das saliências. O homem pretende, através dessa cerimônia ridícula, e a mulher pretende, assim, ter a vantagem de ser a dona absoluta da casa e governar inteiramente seu marido. [...] O menir de Moelan, que tem uma protuberância de um so lado, é objeto das mesmas praticas que o de Kerloas. [...] Os que conseguiam lançar uma moeda no cume do megálito eram assegurados de se casarem no mesmo ano. Perto de lá, o menor de Saint-Genit era objeto de práticas fálicas. [...] Até 1909 as jovens casadouras de Crozon vinham montar num menir tombado perto da gruta de Morgat. Essas práticas de escorregadelas com traseiro nu deviam ser frequentes. [...] As jovens da região praticavam esse ritual sobre o menor de Locmariaquer na noite de primeiro de maio. Essas superstições eram, seguramente, muito mal vistas pela igreja que mandou suprimir, por isso, um certo número de megálitos. Foi o caso do menir de Saint Cado em Ploemel e do menir tombado de Kerbénes do qual Guánin nos diz que era da parte das mulheres e das jovens objeto de praticas tais, que foi destruído e serviu ao calçamento das estradas.Nos alinhamentos do Ménec, em Carnac, encontrava-se um menor chamado o navio que foi tombado e quebrado em 1815. Paul Sébilot, na sua obra Folklore de France, conta que esse megálito dava lugar a uma estranha dança ritual ainda praticada no fim do ultimo século. Nas noites de lua cheia, os casais vinham dançar completamente nus em torno do menir. O homem perseguia a mulher enquanto os pais dos esposos faziam a ronda vindo de um outro menir chamado muito corretamente a sentinela. A mulher, supondo-se curada de sua esterelidade, acabava por render-se ao marido. [...] Nesses lugares desenrolavam-se ritos pagãos, no decorrer da noite que precedia a festa do perdão local, no mês de agosto. Os homens banhavam-se inteiramente nus na fonte, pois acreditavam que sua água curava os reumatismos. Torneios de luta bretã ocorriam, interrompidos por danças e fortes libações. As mulheres deviam esperar o nascer do dia para irem banhar-se na água sagrada, de um modo um pouco menos frívolo que o dos homens. [...] Satã leva o baile a Saint-Briac-sur-Mer, em Ille-et-Vilaine. No cume do outeiro-Girault erguia-se um dólmen que hoje coroa o calvário de cruz-dos-marinheiros. Jovens, conta a lenda, vinham dançar em volta do megálito. O clero, considerando essas rondas como ocasiões de pecado, está na origem da lenda que diz que, uma noite, Satã veio misturar-se aos dançarinos. O diabo seduziu uma jovem pouco selvagem e levou-a com ele. Foi preciso a intervenção do padre armado com seu hissope para fazer Satã fugir sob o efeito da água benta. Mas o diabo agarrou-se desesperadamente pedras do dólmen e suas garras lá escavaram as cupulazinhas curiosas que lá se encontram ainda hoje. [...] Uma noite que, como de costume, rapaes e moças dançavam entre as pedras, Satã misturou-se ao baile. Ao primeiro canto do galo, a terra abriu-se. No meio dos gritos e das chamas, os dançarinos foram devorados pelo inferno... Bela alegoria para renunciar a dança como fonte de pecado e alimentadora do inferno. Na landa de Moulin, perto de Langon, em Ille-et-Vilaine, cerca de 30 menires têm o nome de demoiselles: parece que são moças que preferiram ir dançar na landa a ouvir a missa. Para puni-las, Deus petrificou-as. Dançava-se, aparentemente sem perigo, nas noite de São João em volta do dólmen de La Roque-Belan, em Guernesey. Não jovens pecadores, mas fadas em Chateau-la-Valiére, Indre-et-Loire, onde estas últimas vem dançar toda noite em volta do menir. [...] Alguns estudiosos de hoje, escreve Denis Roche, admitem que o menir simbilizava o duplo aspecto da sexualidae: ele teria sido macho, por sua ereção para o céu (relacionando-se com os mitos do fogo/raio/pedras de raio), e fêmea por estar afundado na terra (relacionando-se com a água, o que, por sinal, não é muito claro). Visto que alguns menires estariam encarregados mais particularmente de poderes masculinos, em dado momento de sua antropomorfização, poder-se-ia logicamente supor que as outras pedras teriam recebido uma grande concentração de encargos femininos. Aliás, alguns antropólogos admitem que certos menires com caneluras verticais – por oposição ao sulco bálano-prepucial do fato masculino – seriam falos femininos: assim como o raio de Goulien em Beuzec. Os estudiosos, conclui mais adiante o autor, diem que talvez deva-se considerar o falicismo apenas como um momento dentre todas as fases de evolução da pedra erguida primitiva, apenas um aspecto da antopomorfização ritual das forças elementares naturais (sol, raio, fecundidade, etc).[...] A mais celebre dessas figuras é a de Saint-Sernin em Aveyron. Esse ídolo feminino é esculpido sobre dois lados de uma laje de arenito vermelho de 1,20m de altura, 70 centimetros de largura e 20 centímetros de espessura. [...] O corpo deste ser sobrenatural é cintado por uma tanga. Os membros são faixas lisas, chapadas sobre o corpo e que findam em cinco espécies de franjas (os dedos dos pés e das mãos). [...] Certamente trata-se da grande deusa neolítica associada aos ritos da fecundidade, espécie de Deméter pré-histórica considerada como força nutritiva benfeitora da humanidade agrícola. [...]. Trechos extraídos da obra A civilização dos megálitos (Ferni, 1977), do historiador Marc Orens.


AGENDA: SARAU POÉTICO – Acontecerá neste sábado, dia 22/10, a partir das 14hs, em Curitiba, o Sarau Poético, organizado pelas poetas Conceição Gomes, Marinez Novaes, Vanice Zimerman, Ione Perez e Luciah Lopes. Imperdível. Veja detalhes do evento aqui & mais aqui e aqui.



REGISTRO: POR UM NOVO DIA
Entre os anos 1985/87, reuni alguns músicos e realizei o show Por um novo dia, evento em que selecionei minhas canções e resolvi cantá-las no palco. A imagem acima é o pôster do show realizado na arte do ator e artista plástico Rolandry Silvério. Veja detalhes aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Tantos são os dias que separam a tua existência da minha que as palavras perdem o sentido, tornam-se indagações quando deviam ser carinho, um descanso, um conforto de abraço, um sabor de beijo. O abando vai esfoliando a pele abrindo caminhos, expondo a alma, que uma vez nua - se esconde - no silêncio e na saudade que não sente vergonha de ser.
Indicações, texto/imagens da poeta, artista visual e blogueira Luciah Lopez
Veja aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
Veja  aqui e aqui.