segunda-feira, julho 11, 2016

LUCIA SANTAELLA, WESLEY DUKE LEE, BELCHIOR, TATIANA MIKHINA & FOLCLORE DO BRASIL


LAGOA DA PRATA (Imagem: Lake Of Zug, by Joseph Mallord William Turner) - Branca Dias parecia mais que nascera com uma estrela na testa. Apesar dos pais modestos e simples, a beleza do casal invejava a todos e, a formosura de ambos, procedeu nela uma química graciosa fora dos precedentes. De uma garota bela duma infância feliz, deu-se adolescente não menos contemplada de uma boniteza ímpar com seus atributos corporais, ser o centro das fofocas e conversações da população inteira. Mas eis que mal debutara, ficou órfã: seus pais faleceram de um acidente de trânsito. Foram atropelados quando se encontravam no ponto de ônibus aguardando a condução pra casa, por um motorista embrigado que guiava em alta velocidade. Diz-se ter sido um juiz de direito completamente bêbado que fora o responsável pela fatídica morte deles. Até hoje nada fora apurado, vez que seguia no abafado da justiça para impunidade do réu. Fora ela, então, encaminhada aos cuidados de uma tia austera e bastante rígida num distrito da cidade e, com pouco tempo depois, viu-se enamorada com um simpático rapaz que lhe dedicara paixão desmedida e pedira sua mão em casamento justo quando passou em concurso público, ingressando no quando de funcionários do Banco do Brrasil. Contraíram núpcias oito meses depois e, mais três anos mais tarde, uma nova tragédia abalara sua vida: o marido se afogara numa pescaria, deixando-a viúva em plena flor da idade. Resignada na sua solidão, ao longo de cinco anos amealhara fortuna, tornando-se um dos baluartes da sociedade local. Nesse tempo, o seu cunhado Heitor Furtado, irmão bastardo do seu falecido marido, requeria sua parte na herança, visto ter sido sócio dele em negócio informal, investido todas as suas posses e falindo com saída do sócio. Branca sabia das astúcias do cunhado nunca achegado, ciente de que usaria de todos os ardis para assaltar seu patrimônio. Não deu outra e assim fez o crápula, investindo de todas as formas e modos sobre a faustosa riqueza dela, aprontando muitas e boas com armações zis, até denunciá-la por traficante de drogas e alcoviteira de puteiro, usando, pois, de todos os expedientes possíveis para arruiná-la. Numa pendenga de décadas, já com seus grisalhos cabelos, ela procurou sair do encalço de seu desafeto, adquirindo uma propriedade rural nas proximidades de uma lagoa, para qual se mudou dias depois. Incansável, o traste velhaco não diminuía em nada nas petições astutas contra suas posses, a ponto de resultante de engenhosa armação com policiais e autoridades corruptas, impetrar ação judiciosa que foi acatada e pronta para busca e apreensão de seus bens. Foi quando soube que o local onde havia se estabelecido, fora o mesmo no qual seu marido se vitimara. Ela pranteou por dias e noites, até com rezas de todo tipo de oração, invocando do marido finado a sua proteção. Assim fez por rituais de muitas velas, noites e rezas, até que, na véspera do arresto de seus bens, em plena noite sem estrelas, do breu surgiu um barulho ensurdecedor, de ouvir-se distante quilômetros dali. Quando o oficial de justiça e seu infeliz cunhado, escoltado por destacamento policial, chegaram ao local, o lugar estava mais limpo de não parecer ter existido nada ali. Soubera-se, depois, que a lagoa num momento de fúria da natureza, engoliu o prédio de sua residência, enterrando no espesso fundo daquele recursos hídrico, todas as posses dela agora sumida juntamente com seus bens. Por conta disso, as águas da lagoa tomaram uma cor prateada, passando-se, doravante, a ser chamada de Lagoa de Prata. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui, aqui e aqui.

 Imagem: a arte do artista plástico Wesley Duke Lee (1931-2010).

CONHEÇO O MEU LUGAR
O que é que pode fazer o homem comum Neste presente instante senão sangrar?
Tentar inaugurar a vida comovida inteiramente livre e triunfante?
O que é que eu posso fazer com a minha juventude
Quando a máxima saúde hoje é pretender usar a voz?
O que é que eu posso fazer um simples cantador das coisas do porão?
Deus fez os cães da rua pra morder vocês que sob a luz da lua
Os tratam como gente - é claro! - aos pontapés
Era uma vez um homem e o seu tempo, botas de sangue nas roupas de Lorca
Olho de frente a cara do presente e sei que vou ouvir a mesma história porca
Não há motivo para festa: Ora esta! Eu não sei rir à toa!
Fique você com a mente positiva que eu quero é a voz ativa (ela é que é uma boa!)
Pois sou uma pessoa. Esta é minha canoa: Eu nela embarco.
Eu sou pessoa! A palavra "pessoa" hoje não soa bem. pouco me importa!
Não! Você não me impediu de ser feliz!
Nunca jamais bateu a porta em meu nariz!
Ninguém é gente! Nordeste é uma ficção! Nordeste nunca houve!
Não! Eu não sou do lugar dos esquecidos!
Não sou da nação dos condenados!
Não sou do sertão dos ofendidos!
Você sabe bem: Conheço o meu lugar!
Música de Belchior.

PESQUISA:
Quem anda no mato, que vê muita coisa, também cala a boca, também cala a boca.
Extraído do livro O folclore no Brasil (Imprensa Nacional, 1939), do folclorista, historiador e professor Basílio de Magalhães (1874-1957), reunindo 81 cartas populares contando histórias das lendas do Brasil, organizada por João da Silva Campos e revisão crítica de Aurélio Buarque de Holanda. Veja mais aqui.

LEITURA
[...] Sim. Tudo isso porque Jauaraicica mora no remoinbho do açude Uirapiá, e sai todos os anos para caminhar pelas vazantes, e de cada rastro brotam sementes, nascem riachos e lagoas.
Trecho do conto O garrote Juaraicica, extraído da obra Chão de mínimos amantes (Francisco Alves, 1961), do escritor Moacir da Costa Lopes (1927-2010).
Veja mais aqui e aqui.

PENSAMENTO DO DIA:
[...] a condição pós-humana diz respeito à natureza da virtualidade, à genética, à vida inorgânica, aos ciborgues, à inteligência distribuida, incorporando biologia, engenharia e sistemas de informação. Por isso mesmo, os significados mais evidentes, que são costumeiramente vinculados à expressão pós-humano, associam-se às inquietações acerca do destino biônico do corpo humano.
Trecho extraído do livro Culturas e artes do pós-humano: da cultura das mídias à cibercultura (Paulus, 2003), da professora e pesquisadora Lucia Santaella, refletindo sobre a passagem da cultura de massas para a cultura das mídias que fertilizou o terreno sociocultural para o surgimento da cultura digital, com questões relacionadas aos temas do ciberespaço, cibercultura e ciberarte. Veja mais aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA:
A arte da fotógrafa russa Tatiana Mikhina.

Veja mais sobre Folia Caeté, Antônio Carlos Gomes, Sérgio Buarque de Holanda, Carmen Miranda, Roberto Cardoso de Oliveira, Karl Georg Büchner, Alfred Green, Ivan Gregorewitch Olinsky, Charles-Antoine Coypel & William Orpen aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Veja aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
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