quarta-feira, abril 13, 2016

ITINERÁRIO DO FINAL DE SEMANA NUM LUGAR QUE NÃO EXISTE


ITINERÁRIO DO FINAL DE SEMANA NUM LUGAR QUE NÃO EXISTE (Imagem Orgia em buen humor, by Luis Rodolfo). - Final de semana e pegar o asfalto fugindo do tédio, do sofrimento dos conflitos em curso, desopilar num distrito, um povoado de gente humílima e pacata. Na primeira barreira policial da rodovia, um pisca não funciona e a multa rola do veículo ficar na ameaça de ser apreendido. Deita vinte e o patrulheiro libera o final de semana e a viagem sorrindo, mais um comprado por suas posses. Quilômetros poucos percorridos, já na entrada, um cheleleu menino quase adolescente maltrapilho pronto pra atender suas ordens. Descarregue aqui, bote ali, vá buscar meus chinelos e a bebida no bar e diga pro Dudé que mande aquela putinha safada pro meu xambrego. Uma intimação da prefeitura debaixo da porta por conta do terreno e logo aparece o fiscal com ar de lei e exigências. Deita cinquenta, tudo resolvido e com mais dois copos de cerveja o compadrio fechado, um novo amigo da hora para resolução de quaisquer outros problemas. Depois uma ruma de gente, delegado, vereador, prefeito, promotor, juiz e contador, reunidos numa roda de amizade, a corja dos pariceiros, com quengas trazidas e lavadas na jega da bebericagem. Nada que o dinheiro não compre: honras, vergonha, decisões e interesses. Quando é de dia, todas as vistas de testemunhas temerosas na lei do silêncio. Quando é de noite, tudo arrepia: descabelamento até o tutano da pedofilia, sacanagens, porradas, pó, baseado e risadagem converseira do maior conluio no toma lá da cá e de quanto levo nisso e do cadê o meu no pé do cipa, camaradagens prévias pras resoluções de todos os gabinetes e salas de reuniões. Na farra, trasam o destino da merenda da escola pública, dos medicamentos dos postos de saúde, das licitações públicas, dos privilégios no loteamento do erário público, do emprego de gente do nepotismo para ocuparem cargos de proventos vultosos mantido sob a condição de submeter a um salário mínimo e devolver todo o restante da bufunfa em moeda viva pros bolsos deles donos verdadeiros de todos os cargos das estatais. E trocam favores, cavalo-mago, dedadas, presentes e tantas gentilezas, enquanto empurram desafetos e muitos tantos outros pro charco da fome e da miséria, para um presente que é sempre anteontem de um amanhã igual e sem futuro. E posam de bonzinhos com doações pra lá de generosas no culto dos salvadores da pátria e anjos bondosos do reino cristão e que, por isso, missão cumprida e precavida, não pesam nenhum remorso, nem culpas, muito menos motivo para abrir mão do hedonismo que é o melhor da vida. E quando a ressaca instaura no outro dia o seu mal-estar, novos copos e redes de maquinações pelas novas jogadas e apropriações no reino da corrupção com sacadas de extorsões, chantagens, tramoias, dilapidações, muambas e influências, orgias e porcentagem de lucros e outras tantas práticas pros seus próprios bolsos e prazeres. Tudo isso em Alagoinhanduba, um lugar que não existe senão na mente doentia de um mitômano incorrigível, que sequer sabe lidar com seus próprios fracassos e recorre à mentira para descongestionar suas angústias e condições aversivas, sem conseguir, ao menos, realizar algo de útil ou que tenha serventia para quem quer que seja. Por isso, na ponta do lápis ou no teclado do computador, só sabe manifestar uma revolta descabida e caolhíssima, como um justiceiro inescrupuloso perorando a sua desgraça e a dos outros, na incapacidade de entender que tudo é justo e real na ordem e no progresso, ao invés da sua débil interpretação de que todo mundo não é mais que enrolões quando não presas fáceis e patéticas, obesas e anoréticas demonizadoras do oponente e que se destroem a si próprias porque não sabem de si mesmas, ou descabido denunciador de um mundo óbvio e sem segredos de acumulação voraz, desenfreada e sem precedentes, porque dentro da sua própria inépcia de enxergar um palmo além da venta, vive com a sua mania de inventar todo dia um outro viver. E vamos aprumar a conversa & tataritaritatá! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui

 Imagem: Femme nue aux masques, Huile sur toile (1927), do pintor e gravador belga James Ensor (1860-1949).


Curtindo a caixa Cartografia Rumos 2004/2005 - O Brasil em 9 CDs, com os artistas premiados nas edições do Rumos Música e Rumos Literatura/Audioficções do Instituto Itaú Cultural.

PENSAMENTO DO DIA
Quando a gente finca pé pra frente e o povo todo só quer o enterro voltado, das duas, uma: ou você timbunga na onda enfiando tudo na jaca, ou tira o seu da reta e paga o preço de ficar sozinho na contramão. A escolha é sua. (LAM).

POEMIUDINHO
BEIJO
Na manhã dos seus lábios
Recolho o beijo que enche de vida
O meu coração.

Veja mais Georg Lukács, Jacques Lacan, Samuel Beckett, Henry James, Nicole Kidman, Aurélio D'Alincourt, Morton Subotnick, Dorothy Castro & Fady Morris aqui.

Kisses, do pintor francês Théodore Géricault (1701-1824).

E como é Dia do Beijo, confira O beijo que se faz poema aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Lovers Kiss Drawing by Carla Carson
Veja aqui e aqui.