segunda-feira, novembro 16, 2015

DRUMMOND, SARAMAGO, DUBOC, ZANCHETT, TEDESCHI, MEIO AMBIENTE & TATARITARITATÁ!

VAMOS APRUMAR A CONVERSA: NAS VOLTAS QUE O MUNDO DÁ – “Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu, a gente estancou de repente ou foi o mundo então que cresceu...” Pois é, sabe aquela de enjeitado, cheio de nó pelas costas, com o pé na goela e língua de fora na apertura do quengo ficar no imprensado de sufoco, tipo figurinha carimbada da desdita? É, tem que aprender a somar pra ver como é que se divide e administrar o que se diminui, porque a operação de multiplicar tá difícil pra dedéu. As coisas andam meio tronchas, tudo de ovo virado, quando até os a favor se viram do contra, deixando o bocó enganchado num mata-burro no maior esculacho. Até mesmo a namorada chega a hora que lhe vira as costas de não querer vê-lo nem pintado a ouro. É, meu, maré das brabas com aquela nuvenzinha negra que vai cagando raio na perseguição sobre a cabeça. Se olhar direitinho a situação, tá endividado até o tampo, liso de não ter um tostão furado no bolso e fugindo numa carreira de credores com o tolote cobrindo a fedentina, deixando tudo a distância e na maior pacutia. É nessa hora que até o retrato cai da parede, a foto sume do documento e aquele monóculo de estimação está que só filme estragado, tudo bufento, desbotado. Pois é, situação braba de metido em camisa de onze varas, todo fogueteiro, montado no porco e morrendo da cura pela boca. Pode? É hora de mudar a pelanca, se cuide. Veja que está caindo os dentes e o cabelo. A coisa não anda, mesmo que mova céus e terra. Tenha fé, suas orações estão mais fracas que caldo de biloca. É preciso saber viver. Se está atormentado de braguilha virada, não adianta cair no desespero. Se está pior, vai piorar, saiba disso. Isso é perturbador, mas é a verdade. Veja só: se pede informação, leva fora; se vai dar entrada, é barrado; se procura, se perde; se achou, é roubado; se seguiu o destino, perdeu a viagem; se vai, tá sozinho; se volta, todos vão no sentido contrário; quando pensa que tá certo, está redondamente enganado na contramão; se segue um mapa, tá de cabeça pra baixo; se cai de costa, quebra o pau; se faz direito, sai tudo errado; vai sacar dinheiro, só vê saldo devedor; se vai pagar, o código de barras está errado; se chega educado, só leva porta na cara; quando pede favor, leva bronca; quando pega carona, erra o caminho; se faz de bonzinho, é tratado por mala sem alça; quando chama na reputação, oxe, é o mesmo que mercadoria sem nota; mesmo sendo ficha limpa, é tido por sujíssima persona non grata. Peraí, assim não dá! Ah, meu! Ou você deu na mãe ou pisou em rastro de corno. A gente sofre que nem sovaco de aleijado, limado de todas as benesses, escanteado de todas as oportunidades e até aquela velha promoção está lá no fundo da última gaveta do birô do chefe beirando já o arquivo morto. Não adianta esquentar, remédio pra biruta é outro na porta, e nada de zureta na horagá feito os pés da doida, pança vazia não enche sono. A vida não é pau de dar em doido. Se tá caipora, segure o trupé, não deixe o cachimbo cair senão você tá frito, mô fio! Lembre-se: só tem direito a aposentadoria daqui uns duzentos anos. Tenha paciência sempre! E se é o último da fila quilométrica e chegou sua vez, não esquente se o sistema sair do ar. Não vá sair do sério se faz a mira no alvo e acerta nos culhões, oh nãããããããooooooooooo! Doeu, né? Tente outra vez. Se o advogado virou promotor, releve; se chutou embaixo do gol e inda dá bola fora, não perca a cabeça; se topou encruzilhada, se livre do despacho e vá na doida, vai que dá certo. Errou? Volte e conserte tudo, não deixe cagada por rastro senão a malsina lhe persegue e pra pagar o pato é na conta justa, não tem isenção, quita no tantinho, sem tirar nem pôr, preto no branco. Você deveria saber que não se deve acordar a má sorte quando está dormindo, pois que a vida pega pesado. Dê seu jeito, dê seus pulos que você não é quadrado! Não vá dar uma de mula de Tales, pegando bigu; Procure reza forte. Se o dente queiro dói, arranca essa droga. Queixar amolado? Ajeite o colarinho, as abotoaduras, massagem na mandíbula, aprume a fivela, bote no muque a força da munheca, bata na caixa dos peitos e não se afrouxe senão a merda rá. Nunca é demais um galhinho de arruda na algibeira, ou pé de coelho com um trevo no abanhado e no cós da calça. É preciso tirar todas as crecas e mucuncas e, pra isso, dê uma geral na rodia, não pise em falso nem vacile, não deixe rastro, não peide, pelamordedeus não peide, nem dê sinal de vida, fique de mutuca, tocaia não é pra aparecer, se faça de morto, se livre da cruzeta. Depois tome um banho de sal grosso e vá levar uns passes na mesa branca, assista um culto inteirinho, reze a missa toda, baixe um santo no terreiro, dê o ar da graça e a cara à tapa, passe vergonha, se humilhe, fique de joelhos e ande digitígrado. Por favor, não faça barulho; quando der respire fundo, bem fundo e deixe a poeira sentar. Se não deu dessa vez, tente de novo, ou espere pro ano que vem, quem sabe a coisa abranda e vai dar pra você fazer carreira de volta pras coisas boas. O que vale de mesmo é que fique sempre respirando. Se escapar, viva! Se puder se manter vivo, melhor; saiba, você é mesmo um sujeito de sorte e vamos aprumar a conversa & tataritaritatá aqui.


Imagem: Nu, da artista plástica Catherine Abel.


Curtindo o álbum Sweet Face of Love - Jane Duboc sings (2010), da cantora e compositora Jane Duboc.

DIREITO AO MEIO AMBIENTE SAUDÁVEL – No livro Direito ambiental brasileiro (Malheiros, 2014) de Paulo Affonso Leme Machado, traz a inscrição do art. 225 da Constituição Federal vigente, dando conta que Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defende-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações, assim, é um direito de cada um, como pessoa humana, independente de sua nacionalidade, raça, sexo, idade, estado de saúde, profissão, renda ou residência. Assinala o autor que: A sadia qualidade de vida só pode ser conseguida e mantida se o meio ambiente estiver ecologicamente equilibrado. Ter uma sadia qualidade de vida é ter um meio ambiente não poluído [...] A Constituição diz que incumbe ao Poder Público promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização para a preservação do meio ambiente (art. 225, parágrafo 1º, VI). Promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino é inserir a transmissão dos conhecimentos sobre meio ambiente no ensino escolarizado. [...] A Lei 9.795/99 dispôs sobre a educação ambiental e instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental. Entre seus princípios básicos está a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade. Como um dos objetivos da lei está o incentivo à participação individual coletiva. [...]. Veja mais aqui, aqui e aqui

TODOS OS NOMES – O romance Todos os nomes (Companhia das Letras, 1997), do escritor, teatrólogo, jornalista e dramaturgo português José Saramago (1922-2010) – Prêmio Nobel de Literatura de 1998, conta a história de um escriturário do principal cartório de registro da cidade que resolve arranjar um hobby para distrair-se do trabalho monótono, começando por colecionar recortes de pessoas famosas. Quando descobre que são todas semelhantes - meras imagens - passa a buscar detalhes da vida da gente simples e desconhecida, até enredar-se em um labirinto intransitável de informações e números, sugerindo que, se a vida se resumiu a números e documentos, é preciso refazê-la. Da obra destaco o trecho: [...] Ao princípio, um princípio que vinha de muitos séculos atrás, os funcionários residiam na Conservatória Geral. Não propriamente dentro dela, em promiscuidade corporativa, mas numas vivendas simples e rústicas construídas no exterior, ao longo das paredes laterais, como pequenas capelas desamparadas que tivessem ido agarrar-se ao corpo robusto da catedral. As casas dispunham de duas portas, a porta normal, que dava para a rua, e uma porta complementar, discreta, quase invisível, que comunicava com a grande nave dos arquivos, o que naqueles tempos e durante muitos anos foi tido como sumamente beneficioso para o bom funcionamento dos serviços, porquanto os funcionários não eram obrigados a perder tempo em deslocações através da cidade nem podiam desculpar-se com o trânsito quando chegavam atrasados à assinatura do ponto. Além destas vantagens logísticas, era facílimo mandar a inspeção verificar se eles estavam a faltar à verdade quando se lembravam de dar parte de doente. Infelizmente, uma mudança nos critérios municipais acerca do ordenamento urbanístico do bairro onde estava situada a Conservatória Geral forçou a deitar abaixo as interessantes casinhas, com exceção de uma, que as autoridades competentes decidiram conservar como documento arquitetônico de uma época e como recordação de um sistema de relações de trabalho que, por muito que pese às levianas críticas da modernidade, também tinha as suas coisas boas. É nesta casa que vive o Sr. José. Não foi de propósito, não o escolheram a ele para ser o depositário residual de um tempo passado, se calhou assim foi só por causa da localização da vivenda, encontrava-se ela num recanto que não prejudicaria o novo alinhamento, logo não se tratou de castigo ou de prêmio, que não os merecia o Sr. José, nem a um nem a outro, permitiu-se que continuasse a viver na casa, nada mais. Em todo o caso, como sinal de que os tempos tinham mudado e para evitar uma situação que facilmente seria interpretada como de privilégio, a porta de comunicação com a Conservatória foi condenada, isto é, ordenaram ao Sr. José que a fechasse à chave e avisaram-no de que por ali não poderia passar mais. Esta é a razão porque o Sr. José tem de entrar e sair todos os dias pela porta grande da Conservatória Geral, como outra pessoa qualquer, ainda que sobre a cidade esteja a cair a mais furiosa das tempestades. Há que dizer, no entanto, que o seu espírito metódico se sente desafogado obedecendo a um princípio de igualdade, mesmo indo, neste caso, em desfavor seu, ainda que, a falar verdade, preferisse não ter de ser sempre ele a subir a escada de mão para mudar as capas dos processos velhos, sobretudo sofrendo de pânico das alturas, como já foi dito. O Sr. José tem o louvável pudor daqueles que não andam por aí a queixar-se dos seus transtornos nervosos e psicológicos, autênticos ou imaginados, e o mais provável é nunca ter falado do padecimento aos colegas, caso contrário estes não fariam outra coisa que mirá-lo receosos, quando ele estivesse lá no alto, com medo de que, apesar da segurança do cinto, se despencasse dos degraus e lhes viesse cair em cima da cabeça. Quando o Sr. José regressa enfim ao chão, ainda meio atordoado, disfarçando o melhor que pode os últimos mareios da vertigem, aos outros funcionários, tanto os iguais como os superiores, não lhes aflora sequer ao pensamento o perigo em que haviam estado. [...] Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

PARA O SEXO EXPIRAR & OUTROS POEMAS ERÓTICOS – No livro O amor natural (Record, 1992), do poeta, contista e cronista Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), destaco inicialmente Para o sexo a expirar: Para o sexo a expirar, eu me volto, expirante. / Raiz de minha vida, em ti me enredo e afundo. / Amor, amor, amor — o braseiro radiante / que me dá, pelo orgasmo, a explicação do mundo. / Pobre carne senil, vibrando insatisfeita, / a minha se rebela ante a morte anunciada. / Quero sempre invadir essa vereda estreita / onde o gozo maior me propicia a amada. / Amanhã, nunca mais. Hoje mesmo, quem sabe? / enregela-se o nervo, esvai-se-me o prazer /antes que, deliciosa, a exploração acabe. / Pois que o espasmo coroe o instante do meu termo, / e assim possa eu partir, em plenitude o ser, / de sêmen aljofrando o irreparável ermo. Também O que se passa na cama: (O que se passa na cama / é segredo de quem ama.) / É segredo de quem ama / não conhecer pela rama / gozo que seja profundo, / elaborado na terra / e tão fora deste mundo / que o corpo, encontrando o corpo / e por ele navegando, / atinge a paz de outro horto, / noutro mundo: paz de morto, / nirvana, sono de pênis. / Ai, cama, canção de cuna, / dorme, menina, nanana, / dorme a onça suçuarana, / dorme a cândida vagina, / dorme a última sirena / ou a penúltima... O pênis / dorme, puma, americana / fera exausta. Dorme, fulva / grinalda de tua vulva. / E silenciam os que amam, / entre lençol e cortina / ainda úmidos de sêmen, / estes segredos de cama. Ainda o Sugar e ser sugado pelo amor: Sugar e ser sugado pelo amor / no mesmo instante boca milvalente / o corpo dois em um o gozo pleno / que não pertence a mim nem te pertence / um gozo de fusão difusa transfusão / o lamber o chupar o ser chupado / no mesmo espasmo / é tudo boca boca boca boca / sessenta e nove vezes boquilíngua. Por fim, De arredio motel em colcha de damasco: De arredio motel em colcha de damasco / viste em mim teu pai morto, e brincamos de incesto. / A morte, entre nós dois, tinha parte no coito. / O brinco era violento, misto de gozo e asco, / e nunca mais, depois, nos fitamos no rosto. Veja mais aqui, aqui e aqui.

O TEATRO & A TELEVISÃO - A trajetória da atriz, cantora e bailarina Sheila Matos foi desenvolvida no teatro, no cinema e na televisão. No teatro ela atuou em musicais como "Evita", "Charity Meu Amor", "South American Way", "Tribobó City", "Ópera do Malandro", "As Robertas - Loucas pelo Rei", "Cleópatra?", entre outros.  Em 2007/2008, participou do elenco da remontagem de "Gota D'Água", de Chico Buarque e Paulo Pontes. Em julho de 2008, estreou o musical "Eu sou o Samba". Em 2009, Sheila voltou a integrar o elenco do musical "Gota D'Água" na turnê do espetáculo em Portugal. Obteve duas indicações para o Prêmio Mambembe; uma por sua atuação como atriz coadjuvante no musical infantil "A Bossinha Nova" de Karen Accioly e no Musical de enorme sucesso "Teatro Musical Brasileiro II" de Luiz Antonio Martinez Correa. Ela hoje está em cartaz com a peça "Na Rotina dos Bares", de Marcos França, com direção de Ana Paula Abreu, que tem no elenco Antonio Pedro Borges, Édio Nunes, Letícia Nedella entre outros. Também participou de diversas novelas e dos programas como Escolinha do Professor Raimundo (1990), A Diarista (2004) e Carga Pesada (2005). Veja mais aqui.

AMOR EM CINCO TEMPOS – O drama Amor em cinco tempos (5x2, 2004), dirigido pelo cineasta e escritor francês François Ozon, conta em ordem cronológica inversa a história de um jovem casal nos cinco momentos-chave de suas vidas em conjunto: o divórcio, brigas, nascimento de seu primeiro filho, casamento e o encontro. Os capítulos são separados por canções românticas italianas e é estrelado pela atriz, roteirista e cineasta ítalo-francesa Valeria Bruni Tedeschi, ganhadora do Premio Pasinetti de Melhor Atriz. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
A arte do desenhista e ilustrador Niceas Romeo Zanchett.