segunda-feira, novembro 02, 2015

BOFF, VISCONTI, PSICODRAMA, NÚBIA MARQUES, PEDRO CABRAL & MUITO MAIS!

VAMOS APRUMAR A CONVERSA? – PRA SABER VIVER NÃO BASTA MORRER – Pra mim tudo começa assim: um entre muitos milhões, sei lá, uma gota do oceano. Por aí. E aí, assim no monte, na tuia, a gente vai de correr no meio da boiada pra ver no que vai dar. Quando chega a hora, lá vai todo mundo encangado e levado na marra e só um acerta no alvo. Nove meses depois, lá tá a gente na vida com só uma certeza: a gente nasce pra morrer. Aí ensinam pra gente família, etiquetas pra ser gente – de preferência doutor de anel no dedo; andar na linha, ajuntar dinheiro – se possível do muito; andar todo de grife e não fazer papel safado; quando entrar não deixar rastro na saída; quando fizer, faça bem feito; evitar pessoas derrotadas e fugir de mau agouro, comprar uma casa – ou melhor, quantas puder; um carro – ou vários, porque quem tem um só não tem nenhum; sair de saia justa e evitar bronca, sem dar moleza pro azar– recomendável que seja livrado de tudo ileso e impune; tirar proveito de tudo que a vida é uma só; se peidar que seja bem educado; se fraquejar, dê a volta por cima; corra, senão o bicho pega; tenha fé em Deus e pé na táboa até que a terra lhe seja leve. Pronto. Afinal, cada um paga o que deve. Uns de morte morrida; outros, de morte matada. Pros de morte morrida a gente sempre arruma uma desculpa: falência múltipla dos órgãos, enfermidade tal, mas tão jovem, nossa, devia ter se cuidado, etc&tal. Pros de morte matada, que coisa ingrata, tão jovem, um futuro brilhante pela frente, uma bala perdida, um poste no caminho, uma avença mal resolvida e lá vai teibei. Por isso, hoje é dia de homenagear os entes queridos que se foram – e, também, os não tão queridos assim, né? Mas como a gente sabe que se nasce pra morrer, a sabedoria popular já ditou o riscado: pra morrer basta tá vivo! E fim de papo. Ora, o que isso quer dizer? Que se esqueceram de avisar que na vida a gente tem uma missão a cumprir. E é? Ou será que a vida é só nascer, crescer, foder e se lascar, crescer e escapar, envelhecer e babau?!? Pois é, não deve ser só pagar e passar troco, fazer os outros de otário, só se dar bem e ir só na boa, alimentar o umbigo pra resolver o que é seu e os outros que se fodam, e teréns e laralás pra no fim voltar ao que era: um entre muitos milhões, uma gota no oceano. Será? Se for assim, tudo bem – viva em paz e seja feliz ou não; se não, encontre sua missão e seja feliz para sempre, ora! E vamos aprumar a conversa aqui!

 Imagens: a arte do arquiteto, professor, artista plástico e escritor Pedro Cabral Filho. Veja mais abaixo.


Curtindo o álbum ao vivo Emerson, Lake & Palmer in Concert no Estádio Olímpico, Montreal (Atlantic Records, 1979), da banda de rock progressivo britânica Emerson, Lake & Palmer (ou ELP), formada por Keith Emerson (teclados), Greg Lake (guitarra, baixo e vocais) e Carl Palmer (bateria).

A POBREZA – No livro Teologia do cativeiro e da liberação (Vozes, 1980), do escritor, teólogo e professor universitário Leonardo Boff, encontro no capítulo XII - Pobreza e libertação: espiritualidade de compromisso e solidariedade, da qual destaco o trecho de A pobreza é um mal que ofende o homem e Deus não quer: [...] Sobre a pobreza reinam as mais confusas representações. Os vários níveis em que ela vem articulada se prestam a encobrir, às vezes, o seu verdadeiro cerne evangélico: assim o nível econômico-social, o nível espiritual, o nível pessoal, comunitário, político, etc.  Em primeiro ligar devemos manter claro que a pobreza não é nenhum valor em si mesmo. Pobreza concreta inclui míngua, fome, escravidão à doença e a toda sorte de limitações que poderiam ser superadas pela ausência da pobreza. Não raro faz-se uma reflexão mística sobre ela sem se advertir realmente o que está se dizendo. Como afirma com acerto Berdiaeff, o problema de nossa própria pobreza se apresenta como uma questão material, enquanto para os outros apresenta-se como um problema espiritual. Em outras palavras: quando realmente a pobreza nos assola e sofremos suas limitações, esquecemos todas as considerações místicas. Batemos no concerto, na infraestrutura da vida humana. [...] O homem foi feito senhor e não escravo da terra. [...] Pobreza e riqueza são geradas dentro de um certo tipo de relacionamento entre as pessoas na mediação dos bens materiais. Pobreza e riqueza possuem uma relação dialética; se implicam mutuamente. A pobreza é empobrecimento; a riqueza é enriquecimento. Há uma riqueza que se constitui fazendo outros pobres, debulhando-os, tirando-lhes a dignidade, roubando-lhes os bens e com isso privando-os das condições materiais para serem dignamente homens. A pobreza denuncia a presença de injustiça e a existência de uma riqueza desonesta. Semelhante pobreza que significa empobrecimento é resultado da desmesurada ganancia de ricos. Ela não é nenhum bem, porque se deriva de um mal. [...] Não é por causa desta dignidade humana vivida e conservada apesar do mal da pobreza que vamos ideologicamente justiçar a pobreza. Antes pelo contrário: por causa da dignidade inviolável de cada pessoa devemos combater a pobreza, não para contrapô-la à riqueza e propor que riqueza como ideal, mas para buscar relações mais justas entre os homens que impeçam a emergência de ricos e pobres. [...]. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

DIONÍSIO – No livro Dente na pele (Achiamé, 1986), da escritora, professora e ativista política feminista Núbia Marques (1927-1999), encontro o belíssimo conto Dionísio: Tenho a impressão que Dionísio vem numa boa para me ver. Tive pressentimento, quando desligue o telefone. O tom baixo e quase sensual de sua voz deixa-me com uma pontinha de excitação. “Jocasta, posso ir aí hoje?” Claro, pode, então, por que esta pergunta de menino traquino e sonso? Tudo passa na minha mente como num cinema. as imagens em preto e branco, filme um tanto ou quanto desenxabido. De colorido só mesmo nossos corações. E que flores brotam dos meus peitos, dos meus olhos de, ah! Não quero ser pornográfica. Deixe pra lá muitas explicações dos sentimentos que ainda caminham pelas horas na espera muito gostosa da noite. Há tempo. Haja relógio e o caminhar quase lento das hroas, quando fico em casa presa à mesa, aos jarros com flores, ao espelho. O sabonete, a toalha de banho. Já estou pensando numa canção que diz “eu quero ser o seu sabonete, quero ser sua toalha” e por aí vai. Só não se quer se a proteção e o carinho de ninguém. E lá vem aquela de chupar tudo que cai em nossas mãos. Comer na voracidade de alimentar-se ao máximo de tudo e de todos. Quando menos se espera não se comeu o outro, mas fomos comidos. Lá está o rombo no peito, e a jugular escorrendo morno de nossas artérias. Mortos de susto nos agarramos às paredes, tontos de decepção. Puxa, eu ia comer e fui comida! Zorra de exploração. O trogloditismo da sociedade do amor descartável está se tornando um campo de luta física. O encontro amoroso voa pelos ares. Salve-se quem puder. Não, a voz de Dionisio, tão macia e com aquele tom picante de quem está afim de mim, hoje à noite, não pode caber engano. O mundo está de pernas para o ar, mas nós nos entendemos tão bem! Desde o olhar malicioso que Dionisio me lançou na festa, tudo me parece particular, diferente. “Jocasta, se eu lhe disser que estou amarrado em você:” Verdade, Dionísio? “Sim, verdade, você duvida?” Os olhos dele dirigidos a mim, parecem dois sóis entardecidos, me dão confiança de que não vai ser encontro fortuito e descompromissado. Não sei, mas acho Dionísio tão diferente do bando de desorientados que vive por aí. O gesto que Dionísio faz com a mão é muito partilhar. Sempre tem um toque preciso, ou direção certa par aa expressão. Depois, o queixo quadrado, que ele tem é um sarro! Bem, não é só isto. Não se pode explicar com detalhes a gamação. Estamos gamados um pelo outro. Melhor de tudo é que Dionisio não dá a menor importância à idade que a mulher tem. Até penso que ele gosta da que tem ar de ser sua mãe. E olha a Jocasta aqui! Passo pelo espelho, jogo meus olhos em direção ao cristal. Faíscas luminosas espelham-se no ar. Ajeito meu vestido. As flores do vaso parecem tristes. Remanejo-as. Ponto a ponto vou tomando as providências cabíveis para o encontro não tanto mitológico. Dionisio deve ter, pelo menos, certo compromisso com o seu nome. Já vi muitos contrastas. Um colega que tinha o nome de Hércules, era mais frágil do que caniço de pântano. Um menino com quem brinquei na minha infância, no colégio primário, chamava-se Aristóteles, mas vá ser tapado assim no raio que o parte. Não, Dionísio tem um ar bem gostoso, tem sabor de vinhos e de alegra. Trim... trim... corro até o telefone. “Jocasta, posso chegar aí?” por que pergunta? “Quero vê-la o mais breve possível, acho que estou tenso, saudoso, excitado e quero pôr termo a este estado inexplicável”. Ah! Bobinho, não precisa ficar assim. Hoje cada um de nós é mais ou menos tenso. Não entre nesta de tensão, que você finda caindo na crise existencial. Aí, meu filho, é uma zoeira sem limite. Crise existencial é mesmo que dor de cotovelo, não tem doutor que dê jeito. Só depois que a gente assume a crise é que passa. “Chego já aí”. “Tudo bem, um beijo”. Puxa, meu coração começa a bater fortemenete. Qual é essa de marinheiro de primeira viagem! Não tem graça, Jocasta, você entrar nessa. Meus órgãos parecem caixinhas desarrumadas. Respiro fundo. Pego no bar um Martini seco, coloco duas pedras reluzentes de gelo, rodopia-as com a mão. Cruzo as pernas e começo a balança-las, levemente, enquanto estudo algumas posições de estátuas gregas. Programada, a música em surdina é detalhe importando. A luz morta e amarela do canto da sala é melhor. Acendo-a. o coração começa a gongar. Ziriguidum, ziriguidum. Porcaria de expectativa. Beberico aos poucos o Martini. Consulto o relógio. Puxa vida! Será que Dionisio parou numa bacanal? Não é possível, a voz dele me dava certeza absoluta da sua vinda. Chego até a vidraça da janela, espreito a rua. Ninguém passa. Silêncio. Também, já 23 horas, esta província é de amargar. Viver nela é tarefa para atletas do quilate de correr q5 quilômetros, em 14 minutos. Volto ao sofá, descanso o braço na poltrona, fico olhando a unha do meu pé, esmaltada. Exatamente por isto estou convicta de que enxergo um palmo além do nariz, um não, muitos. Que bom! Logo, não vou enganar-me com Dionísio. Sobressalto-me, batem à porta. O olho mágico indica a presença de Dionísio. Abro a porta lentamente. Ele me segura pela mão, me enlaça nos seus braços e vamos entrando na minha sala quase alcova. Seu olhar demorado, suas mãos inquietas inflamam sentimentos represados no esbarro que damos todos os dias com acontecimentos insólitos. De repente a sala toma um tom azul-marinho, profundo. Caminhamos como velejadores submersos de um submarino. Tons violáceos cobrem o espelho bem grande da sala. Um Olimpo indisfarçado retoma o tempo e o nosso espaço. “Jocasta, estou muito confuso. Não sei o que há comigo. Tive um dia de muito trabalho. Quase fui assaltado na rua”. Um longo beijo nos une. “Jocasta, estou tão tenso”. Eu entendo tudo. Não tem importância. O sol da manhã lambe meus pés ainda calçados. Nos meus cabelos em desalinho o vento passa, lento. Dormi fora da cama. Levanto-me, penso, estou atrasada para o trabalho. Hoje é domingo. Volto ao sofá, deito-me, meus olhos estão vazados pela claridade da manhã que desbaratou a noite. “Jocasta!” Quem me chama? Veja mais aqui.

POIS É – Eis um sujeito dos bons de arretado que tenho o maior prazer de gostar no coração e de grátis: o arquiteto, professor, artista plástico e escritor Pedro Cabral Filho. Esse cabra do bem é também editor do excepcional PoisÉ: jornaleco de opiniões e picuinhas e que realizou recentemente a belíssima exposição Raízes do Coração. Da sua lavra, eis alguns da tuia dos ditos & desditos excelentes dele, como o Sonata dos sentidos: Ela compôs a sonata dos sentidos, tamborilando uma clave de sol sob uma noite enluarada. Depois tocou seus arrepios com um pouco de silêncio. E cheirou sua paciência com toda a vontade do mundo. E moveu as montanhas de ruídos para o lado oculto das visitas invulgares. E nada mais lhe restou do que um zumbido dos deuses. Esse ótimo Ta-te-tijolo-to-tu: Ontem, me dediquei a conversar com meus alunos de arquitetura sobre Paulo Freire, o brilhante educador pernambucano. Minha intenção era mostrar, assim como Paulo Freire fez com seu método de alfabetização, que o aluno deve compreender o tijolo, além de um simples elemento construtivo. Pensar o edifício para quem, e não somente como um objeto de desenho. Ah! se nós nos dedicássemos mais a essas grandes figuras brasileiras e não a essas falsidades célebres... O não menos ótimo Causa mortis: Ministério da Saúde adverte: cheirar calcinha demais pode causar infarto. O pra lá de muito demais Sepulcral: Neste feriado, um cemitério está mais festivo do que a cidade de Maceió. Não vou negar, eu gostei. Pelo menos em se falando de trânsito. O que não nem um pouco bão demais Chove chuva: Quando se aproxima um feriado ou um fim-de-semana, e quando um deles se prenuncia a chuva, sempre ouço alguém falar mal da chuva, que vai atrapalhar seus planos. E eu, cá comigo fico a pensar como alguém pode ser tão ingrato à Natureza e filosofo: Por não querer a chuva o deserto ficou só. O provocativo vocativo Ô, galera fuleira: Pichação num muro do Jacintinho: "Vende-se tornozeleira eletrônica banhada a ouro, já desbloqueada". O não menos sugestivo Ainda há esperança pra um mundo melhor: O mundo ainda não se acabou. Contam que o Big Brother Brasil está caindo pelas tabelas no Ibope. O excelentemente bão demais O despudor da burocracia: O mundo está ficando menos sisudo. Até cartas de amor cabem nos Diários Oficiais. E o ótimo dos ótimos O curso das coisas e o corso da vida: Maceió era assim: os carros todos nas ruas, fazendo o corso, num engarrafamento longo, barulhento e feliz. No restante do ano, ruas pacatas e tranquilas. Hoje é o inverso. Hoje, infelizmente, é o inverso. Por isso, o chamado bons tempos. Gente, nunca será demais dizer que sou fã desse cara, o cara! Veja mais aqui.

PSICODRAMA & TEATRO ESPONTÂNEO - No livro Do animal ao humano: uma leitura psicodramática (Ágora, 1998), do psiquiatra, professor e psicodramatista José Carlos Landini, destaco os trechos da parte Da noogênese à sociogênese: matriz de identidade, tele-relação e papéis: O homo spontaneus inaugurou o homo cultura. Olhando-se a escala animal, vê-se que, nos invertebrados, o processo socializante é exclusivo de programas genéticos. Nos vertebrados, começa a inverter-se com a existência de comportamentos inatos e adquiridos. À medida que progride na escala evolutiva, a tendência é a predominância de comportamentos adquiridos, o que atinge o seu clímax nos seres humanos. [...] A espontaneidade (ou fator “e”) e os conceitos de tele e papéis são os pilares de sustentação teórica da sociometria. Nesse triângulo, cada vértice se articula aos outros complementarmente. A espontaneidade representa a dimensão individual, enquanto a tele representa o social e o papel é a forma e o meio em que a relação se concretiza. [...] A espontaneidade representa a dimensão pessoal, mas é o fluxo de sentimentos na direção do estado espontâneo de uma ou outra pessoa, do que resulta uma situação interpessoal à qual se dá o nome de tele. O fator “e” é apresentado numa dupla dimensão: a afetiva, que confere ao individuo um caráter de originalidade e não está restrita a área psíquica, mas a extrapola ao dar lugar à tele, inserindo-se na esfera sociológica; e a cósmica, na qual o universo é aberto às novidades e à constante criatividade. O individuo espontâneo, também aberto às novidades, não pode ser compreendido pelas leis da conservação de energia (libido). [...]. Veja mais aqui e aqui.

L’INNOCENTE – O filme L’innocente (O inocente, 1976), do cineasta italiano Luchino Visconti (106-1976), é baseado no romance homônimo do escritor e dramaturgo italiano Gabriele d’Annunzio (1863-1938), contando a história de um aristocrata que torna a esposa amorosa e submissa em cúmplice ao revelar os seus casos adulterinos, entre os quais com uma condessa, ocasião em que descobre que ela está grávida de um filho que não é seu, pelo qual passa a nutrir feroz ódio, encarregando-se de causar a morte do inocente, expondo-o a um frio desumano. Assim, tal como o livro, trata-se da trajetória de concepção, gestação e morte da personagem-título. O filme é espetacularmente maravilhoso, merecendo destaque a atuação da atriz italiana Laura Antonelli. Veja mais aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA
 A deusa Felicitas, a Fausta Felicitas, que desempenho um importante papel no culto imperial e abrangia na antiga cultura romana a ideia de frutífera, abençoada, feliz, afortunada, felicidade, a fertilidade da mulher, boa sorte, riqueza, potência sexual. Os seus principais atributos são o caduceu e a cornucópia, além de ser reproduzida em moedas e no apotropaic do falo - símbolo fálico acima – encontra-se a inscrição Hic habitat Felicitas que significa “Felicitas mora aqui”.


Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa Crônica de Amor, a partir das 21hs (horário de verão), com a apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa. Em seguida, o programa Mix MCLAM, com Verney Filho e na madrugada Hot Night, uma programação toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online acesse aqui .

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