terça-feira, novembro 03, 2015

BETINHO, ÉSQUILO, HESÍODO, BYINGTON, MORELEMBAUM, ETTY, LUIZ NOGUEIRA, MECA MORENO, HOLÍSTIA & PROGRAMA TATARITARITATÁ!!!!

VAMOS APRUMAR A CONVERSA? DE SEGUNDA PRA TERÇA - Maria não sabe quais seus direitos, José nem o que é cidadania. Sim, pra que instrução? Tudo erra, avalie. Zefinha na esperança de ontens apela com veias no pescoço pro prefeito amainar sua agonia. E espera. Lasqueira de vida. E João, o que dele seria? Nem sinal de vida. Mariazinha, moça vistosa, escorreita, seios túmidos bulindo no vestido a atração que subia das pernas torneadas pelas coxas roliças, guardava na saia o desejo incontido vasculhando no ventre desnudo. Encantou Zé Barão, indomável novo rico cheio de vida nas costas. Machadeiro na cajazeira meteu-se ele, intemperança descontrolada, praquela aquela bela espécie de fêmea, mais uma pro seu álbum de figurinhas, esforço denodado de posse e gamação. Ela, inocente de sempre, deu-lhe correspondência, o idílio pras fofocas, o enleio da fábula, sem saber que em casa Marizete, até então dona de casa exemplar que não leva desaforo de nada, cuidava dos três filhos que lhe dera o marido, coisa de macho que agora, mais uma vez, beirava proutras bandas. Ele enlevado, montou-lhe teúda e manteúda, e o que era fortuito tornou costumeiro. Isso até a noite de plena calmaria em que a esposa sabedora ciosa torna-se bruxa, invade insidiosa o recinto com várias punhaladas insanas do sangue escorrer ladeira abaixo. Mariazinha, ah beauté du diable, agonizava roupão entreaberto, seios à mostra, ventre nu depois do prazer. Tudo abafado, só alucinadas sirenes com a unha riscando no asfalto, a carne arrastada no chão deixando pedaços esmagados na parede no meio de guitarras arranhando agonia de solos desafinando as ferragens que afinam a lâmina da guilhotina pra alimentar o ódio inimigo nos grilhões do bruto concreto onde tudo se gasta virando cascalho. Tudo em ebulição: o arame farpado na pele do braço. Uma caixinha de surpresas. Esse o vaivém dos que resistem agarrando os dejetos das atribulações que perduram pros soluços e gritos por salvação. Enquanto isso, do outro lado da cidade tem um posto de saúde que nem fila tem e ninguém sabe. O daqui não tem médico presse mês, só pro ano que vem. Quem tem dor de dente morre três dias pra poder vê-la passar. E quem não tem saúde pra esperar? A condução demora cada vez mais e sempre mais cheia como velhinho na fila da aposentadoria. E Nelson sonha com a moradia, será dessa vez? Ah, o prêmio da loteria e Pedro continua penseiro e Joaquim quer colocação, concluiu o Ensino Médio e aprendeu que despejo é uma ação. Conceição não sabe o que é justiça, só que tem juiz pra tudo sem que faça nada por ela. Pesarosos, se atiram nas águas revoltas da vida, querem é viver em estado de graça. Inaptos, ineptos. Assim o presente com voracidade e pra quem tem teorias nem sempre sabe a verdade: a realidade é outra, ruptura, instabilidade. Tem que dá um passo adiante. Pra onde? Ah, é tudo novidade e não tem fórmulas prontas de arroz e feijão, quantas mudanças e nada é tal qual: muitas variáveis no contexto. Quantas queixas e tudo na base do balão de ensaio. Se é árduo, é difícil, dilúvios que surgem do passado, questionamentos, reformulações. Ah, incompletude, santa inconclusão. Ninguém sabe o que fazer. E se espera por ordem e regularidade, como se situações heterogêneas dessem por caber em solução homogênea: volume maior que invólucro. Impacto do desafio: quantas perguntas, quê responder? Interações humanas, coisas que vão e que vem. Por vezes já perdi a conta, estado de coisas que nem sei mais contar na expectativa de um novo dia. Tudo passa no fluxo da vida e da morte. E vamos aprumar a conversa aqui.


Imagem: Female nude, do artista plástico inglês William Etty (1787-1849).


Curtindo o álbum CelloSam3atrio - Saudade do Futuro, Futuro da Saudade (Biscoito Fino, 2014), do violoncelista, arranjador, maestro, produtor musical e compositor Jaques Morelenbaum.

CIÊNCIA SIMBÓLICA – No livro O novo paradigma holístico: ciência, filosofia, arte e mística (Summus, 1991), organizado por Dênis M. S. Brandão e Roberto Crema, encontro o artigo escrito pelo médico psiquiatra, conferencista e analista Carlos Byington, do qual destaco os trechos: [...] Grande parte do desenvolvimento das ciências no Ocidente, porém, se fez seguindo um caminho característico. Principalmente a partir do século XVIII, a polaridade sujeito-objeto foi considerada de modo específico para se afastar o componente subjetivo da interrelação dos fenômenos entre si. Isto foi feito tanto nas chamadas ciências da natureza quanto nas ciências humanas. [...] Acumulou-se assim um enorme saber sobre a natureza, lado a lado com um mínimo de conhecimento sobre a subjetividade. É comum encontrar-se um currículo de dezoito anos de estudo (que culminou num diploma universitário), durante o qual não foi estudado, durante um semestre sequer, a formação e o desenvolvimento da consciência. Um engenheiro pode se especializar por mais de dez anos, sem nunca aprender os padrões arquetípicos que regem o pensamento. Antropólogos, sociólogos e cientistas políticos podem chegar ao mestrado ou ao doutoramento após vinte e cinco anos de estudo (dezoito de graduação, três de mestrado e quatro de doutorado) sem saber o que significa a estruturação da consciência através de símbolos a partir de relações indiferenciadas. Um médico pode se tornar professor titular de anatomia, fisiologia ou clínica médica sem ter a menor noção do que é o corpo simbólico e sua função na estruturação normal da consciência, na formação de sintomas e na relação médico-paciente. No entanto, todos esses especialistas trabalham convencidos de que sabem como é o ser humano. Os resultados produtivos deste caminho estão aí, inegáveis na imensa aquisição do conhecimento expresso, entre outras coisas, pela tecnologia moderna. Este imenso acúmulo de saber ocorre, porem, com frequência, indiferente ao destino humano: fome e miséria em mais da metade do mundo, devastação e desequilíbrio ecológico em larga escala, uso alienante progressivo de psicotrópicos, envenenamento alimentar com pesticidas e corrida armamentista mundial com potencial genocida aterrador. À volta e no centro desta alienação humanista e holística, distinguimos a ignorância defensiva e orgulhosa sobre como se forma e d desenvolve a consciência humana, a principal reguladora do saber e da conduta. [...] A dissociação subjetivo-objetivo no Ocidente não só paralisou somente a integração da industrialização e do desenvolvimento científico-tecnológico num todo humano. Ao centralizar a problemática politico-social no regime econômico, esta dissociação impede ideologicamente a busca do regime social-democrático, mesmo quando a ela se dedica. Ao bloquear, através da formação universitária, a vivência cultural quaternária do conhecimento objetivo e da própria vida, a dissociação subjetivo-objetivo impede a vivência simbólica plena da alteridade, condição essencial para a prática da consciência cósmica. Isso nos mutila a sabedoria em vida e nos impede o preparo para a morte. Como na lenda do holandês errante de Wagner, vagamos pelo desconhecido, condenados por nosso próprio orgulho a não saber morrer. Ao descobrir a energia atômica, chegamos à posse do fogo mais íntimo da matéria. Incapazes de integrar tamanho segredo de forma construtiva na psique individual e coletiva, jazemos, como Prometeu, acorrentados na onipotência de nossa objetividade dissociada. Enquanto somos devorados pela culpa das consequências crescentes de nossa insanidade, buscamos, ainda no escuro, a integração holística da genialidade cientifica dissociada, cuja vinda se confunde cada vez mais com a esperança da sobrevivência de nossa espécie. Veja mais aqui, aqui e aqui.

A DE OLHOS AZUIS – No livro Do sertão ao litoral (Catavento/Casa do Penedo, 2001), reunindo contos, crônicas e ensaios do escritor e médico pediatra alagoano Luiz Nogueira, encontro a crônica A de olhos azuis: Riacho Doce: Bar do Doquinha, num domingo de muito sol! Conversávamos, eu e alguns amigos. Os mais afoitos tomavam caipirinhas. Outros preferiam cerveja. Paras de carangueijo, sururu, peixe frito e ostras com limão chegavam, aos poucos, trazidos pelas mãos da garçonete. Quem a examinasse, com cuidado, haveria de ver a marca de um trabalho desgastante naquelas mãos ainda jovens. Mesmo o disfarce das unhas cortadas e esmaltadas – com um esmalte vermelho escuro – permitia ver o que os sabões grosseiros são capazes de fazer nas mãos de quem ainda cedo precisa garimpar a sobrevivência. Mas a garçonete, para os mais conquistadores, poderia até nem ter as mãos. Seus lindos olhos azuis faziam com que todos, de modo por vezes inconveniente, ficassem abismados. Além do mais seu corpo era esbelto, ágil e desenvolto. E nem parecia andar, quando vinha até a nossa mesa. Voava, graciosa. E isso provocou da parte de um amigo poeta: - Parece uma ave! Percebendo ser observada ela ria, discretamente, por vezes jogando para trás a cabeleira clara e esvoaçante. E então um vento inesperado e brincalhão corria sobre sua cabeleira revolvendo-a ora carinhosamente e ora de modo extravagante, semelhando os atos dos amantes. Mais de vinte anos ela não teria, com alguma certeza, diria outro amigo. Outro, mais afoito e não se controlando, afirmou: - Que seios túmidos! Ficamos a rir. Os tempos eram eram assim: a literatura adotara seios túmidos e languidez do olhar como importantes traços para uma composição poética. Também se falava em olhar mortiço, aquele iluminado pelos candelabros dos filmes de amor, os imperdíveis filmes da era hollywoodiana. Mas era estranho que aquela garçonete, moça simples e sofrida, causasse tanta sensação entre a rapaziada, se possivelmente nenhum deles desejaria para um longo caso de amor. E sobretudo para um casamento, tais os preconceitos em moda naquela época. Um outro amigo e poeta, mais calado e por vezes até pessimista, arrematou, para o espanto de todos: - Seus olhos são lindos e azuis. Mas nela poderão ser inúteis! Um longo silêncio tomou conta de todos nós. Era como se uma imensa atmosfera de fantasia houvesse se dissipado, estendida que estava sobre as nossas cabeças. Ficamos a olhar para o mar, azul tais os olhos da linda garçonete. Anos depois, terminando o curso de medicina e de plantão na maternidade a enfermeira chegou ao meu quarto, ofegante, e me disse: - Doutor, estamos com um caso difícil. A moça está dando à luz pela primeira vez. O senhor precisa ir até a sala de parto. Foi-me facílimo reconhecer naquela moça aflita para ter o seu primeiro filho a quase-esquecida garçonete. Não senti que ela me houvesse reconhecido. O que expressava, de dentro dos seus lindos olhos azuis era um humilhado pedido de socorro indigente que era naquela hora. Algumas manobras de facilitação do parto e uma linda menina, de olhos também azuis, veio ao mundo! Na manhã seguinte fui até a enfermaria. Curioso, perguntei-lhe se o seu amado já havia visto a filhinha. Ela me respondeu: - Não. Ele fugiu para São Paulo. Insisti: - Foram os seus lindos olhos azuis? E tristonha ela balbuciou: - Era do que ele mais me falava. Veja mais aqui.

POEMA ENAMORADO À TERRA NATAL & OUTROS VERSOS – O conterrâneo poeta, compositor, artesão, produtor cultural e estudioso da poesia popular Meca Moreno, é autor dos livros Universos (1986) e Giramundo (2005), membro da União dos Cordelistas de Pernambuco (Unicordel) e escreve no portal Interpoética, entre outras atividades artísticas. Da sua lavra destaco inicialmente o Poema enamorado à terra natal: Deste-me as primeiras alegrias, / as primeiras tristezas / e as primeiras safadezas / de menino levado / a correr pelos teus campos e colinas, / sem a preocupação com o amanhã / a nadar afoito / nas águas ainda límpidas / do caudaloso Una, / com um eterno sorriso na face, / a saudade ainda fresca do dia que passou / e a profunda vontade / de não mais findar / aqueles movimentos / livres qual sabiá / a gorjear um canto lindo, / compartilhando comigo / a sombra da frondosa ingazeira / que derramava galhos / sobre o volumoso leito hídrico / de estada tão vital, / deixando-me fascinado / com tão sublime momento / e dando-me motivos para continuar / a descobrir um novo irmão a cada minuto, / transformando-me / no mais feliz dos seres, / na esperança de ver nascer um novo dia / pra começar tudo outra vez. / Deste-me também / o primeiro amor... / a primeira dor. / Foste testemunha ocular / das primeiras lágrimas / de dor... / de amor. / Inspiraste os meus primeiros versos / minhas primeiras fantasias / sonhos e esperanças. / És cúmplice / da minha primeira mentira / e foi contigo / que aprendi tantas verdades / mesmo quando encoberto / pelo manto azulado de tua noite / calma e serena, / como a minha / consciência ingênua / de menino pássaro, / iluminada / pelo esplendor lúcido / da poética e eterna / namorada dos homens... / ... e do sol: / a lua! / Lua que tantas vezes / eu mirei curioso / na esperança de ver São Jorge / sobre o seu cavalo, / numa eterna luta / contra o dragão lunático; / lua essa que no teu céu / é sempre mais bonita / do que em qualquer / outro lugar do mundo / e que continua / a encantar o sol / os homens / e os sonhos deste menino / que tanto te quer. Também o belo poema A fonte e o rio: Eu queria ser a fonte / pra tua sede matar. / Acariciar teu corpo / e assim me deliciar. / Eu queria ser o rio / pra entre as pedras, correr. / Acariciar teu leito, / no teu grande mar morrer. / Eu queria ser a fonte / para o teu rosto espelhar; / molhar os teus lábios quentes / meu líquido em ti jorrar. / Ser aquele rio imenso, / os teus campos irrigar / e nas curvas do teu corpo, / as águas perenizar. / Eu queria ser a fonte / para te dar esperança; / mesmo depois da partida, / ficar na tua lembrança. / Eu queria ser o rio / pra atravessar tuas florestas, / deslizar entre os teus montes / e te dar o que me resta. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

PROMETEU ACORRENTADO – Na obra Teogonia: a genealogia dos deuses (Iluminuras, 2006), o poema mitológico de 1022 versos hexâmetros escrito pelo poeta oral grego Hesíodo (750-650aC), no qual se encontra a descrição da origem do mundo que se constitui o mito cosmogônico dos gregos, com a geração sucessiva dos deuses e, na parte final, o envolvimento destes com os homens originando os heróis. Nesse mito, as deidades representam fenômenos ou aspectos básicos da natureza humana, expressando assim as ideias dos primeiros gregos sobre a constituição do universo. Entre os relatos da obra está a narrativa de que Júpiter, ao assumir o governo do universo, tornando-se deus supremo, cogitava de conservar a espécie humana em uma condição próxima da animalidade irracional, senão destruí-la, substituindo-a por outra, de sua criação. Contrariando, porém os desígnios da suprema potestade, o titã Prometeu, condoído da sorte da humanidade consegue apoderar-se de uma faísca do fogo celeste, com o que dotou o homem da razão e da faculdade de cultivar a inteligência, as ciências e as artes. Como punição por esse crime, Júpiter ordena que Prometeu seja acorrentado a um rochedo, na inóspita região da Cítia, no Cáucaso, e ali permaneça pelos séculos adiante, a menos que consinta em revelar, aos emissários do irritado nume, os segredos terríveis que só ele conhece, e que permitiriam a Júpiter devassar os mistérios de seu próprio futuro e evitar uma queda semelhante à que causou a ruina de Cronos, Saturno, seu pai e antecessor no domínio do orbe. Prometeu, porém, conhecedor desses arcanos do Fatum (significando o que prevê), resiste aos mais atrozes sofrimentos, como imortal que é, procedendo com uma altivez extraordinária, sem proferir um só queixume enquanto Vulcano, cumprindo as ordens de Júpiter, o prende, por meio de cadeias indestrutíveis, ao inacessível penedo. O poder (Krakós), que determina e fiscaliza a execução dessas ordens cruéis, instiga e ameaça o próprio Vulcano, que se mostra penalizado pela tortura a que, bem a seu pesar, está sujeitando a um deus, seu parente. Retiram-se os deuses, enviados por Júpiter (inclusive a Violência, personagem mudo) – e só então Prometeu solta os seus brados de revolta e desespero, na solidão em que se encontra. Surgem, então, as Ninfas, filhas do Oceano, que ali foram ter, atraídas pelo rumor dos martelos de Vulcano. A seu pedido, o infeliz Prometeu conta-lhes o que fizera, e explica a razão do suplicio a que fora condenado. O próprio Oceano ali vai ter, e, comovido, procura confortar a vítima da cólera de Zeus, aconselhando-lhe prudência, e submissão, e prometendo, sob tais condições, intervir junto ao supremo senhor do Olimpo em favor do desgraçado. Prometeu rejeita esses bons ofícios e procura dissuadir Oceano de tal proposito. O diálogo que entre os dois se trava contém afirmações de impressionante beleza. Depois de um longo diálogo entre o herói decaído, e o coro que deplora seu sofrimento, surge a figura horrível de Io. Filha de Ínaco, rei de Argos, Io era sacerdotisa de Juno, quando Júpiter por ela se apaixonou. Com o proposito de iludir a esposa, o deus olímpico transformou a jovem numa ovelha de extraordinária beleza. Vendo-a, após a metamorfose, Juno pediu, e obteve do esposo que lhe cedesse a ovelha; e, zelosa, suspeitando já de alguma coisa, confiou-a à guarda do cão Argos, de cem olhos. A mando de Júpiter, porém, Mercúrio consegue iludir a vigilância de Argos, e retira Io da prisão onde se achava. Foi então que, descobrindo o embuste, Juno, irritada, resolve que um moscardo de medonho aspecto persiga, sem cessar, a pobre Io, que, desesperada, foge atravessando campos, mares e desertos, galgando serranias e atingindo os confins do mundo. Bem se compreende o extraordinário efeito que o autor alcançou pondo, um diante do outro, a Prometeu, condenado à eterna imobilidade, e Io, condenada a não parar nunca em sua corrida louca, ambos vítimas da iniquidade e da prepotência dos numes. Prometeu, como prova de sua infalibilidade em devassar o destino humano, refere o que se passou com Io até aquele momento, e profetiza os seus ingentes padecimentos ainda futuros, e sua final libertação. Reaparece o medonho inseto, e a pobre Io prossegue, desatinada, em sua fuga. No último ato da tragédia, é o próprio Mercúrio, filho e emissário de Júpiter, que vem ter junto ao desgraçado prometeu e, renovando as ameaças tremendas do deus supremo, tenta arrancar do acorrentado titã os segredos que ele conhece e guarda. Mas esse esforço é baldado. Dando provas de uma coragem que toca as raias do sublime, o revoltado herói resiste ainda, em resposta plena de altivez, e de audaciosa ironia. Comunica-lhe, então, Mercúrio a última determinação do irado Zeus: Prometeu teria seu suplício aumentado pelo abutre que viria, diariamente, devorar-lhe o fígado, até que um raio, expedido por Júpiter, precipitasse nos abismos do Tártaro o acorrentado prisioneiro, sob o peso da derruída penedia. E com comovente brado, Prometeu, que, presciente, já ouve o fragor da horrenda catástrofe, termina a tragédia grega que faz parte da trilogia do dramaturgo e poeta trágico Ésquilo (525-466aC), da qual destaco a parte final: PROMETEU: Eu já sabia de tudo, tudo, o que ele acaba de me anunciar!... que um inimigo sofra todo mal que lhe pode fazer o outro, nada mais natural. Pois que caiam sobre mim os raios fulminantes; que os ventos furiosos inflamem os céus; que a tempestade, agitando a terra em seus fundamentos, abale o mundo; que os flagelos sem exemplo confundam as vagas do oceano com as estrelas da abobada celeste; que Júpiter, usando seu invencível poder, precipite meu corpo nos abismos do Tártaro; faça ele o que fizer!... eu hei de viver! [...] Com efeito, não foi uma ameaça, apenas: a terra põe-se a tremer... o soturno ronco já se faz ouvir... turbilhões de poeira se erguem... todos os furacões desencadeados parece que estão contra mim! Contra mim, é que Júpiter desfecha tão horrendo cataclismo. Ó minha augusta mãe: ó tu, divino éter que cercais o universo de luz eterna... vede que injustos tormentos me fazem sofrer! Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

A ESPERANÇA EQUILIBRISTA – Acaba de ser lançado o documentário Betinho: a esperança equilibrista (2015) – vencedor do Festival de Cinema do Rio de Janeiro -, dirigido por Victor Lopes, que conta a trajetória do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, desde seu nascimento em 1935, em Bocaiúva, no sertão mineiro, até 1997, quando morre vítima das complicações da Aids. O filme narra histórias de vida e cidadania de um líder social que uniu o Brasil para enfrentar a fome e a miséria, problemas que atingiam mais de 40% de brasileiros na década de 1990. Betinho foi o criador da Ação da Cidadania Contra a Fome e a Miséria e Pela Vida e estimulou a criação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), da Presidência da República. Veja mais aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA
A arte do ilustrador Armando Lemos, extraído do livro Universos (1986), de Meca Moreno e Alfredo Moraes.


Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa Tataritaritatá, a partir das 21hs (horário de verão), com a apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa. Na programação: Egberto Gismonti, Rolando Boldrin, Chopin, Chico Buarque & Milton Nascimento, Edson Natale & Alex Braga, Mulheres de Hollanda, Max de Castro, João Só, Fábio Lima, Beto Saroldi & Eduardo Dusek, Sonia Mello, Jarbas Barros, Antônio Jardim & Andréia Pedroso, Paulynho Duarte, Ju Mota, Jussanam, Ricardo Machado, Frederico Amitrano, Denise Dalmacchio, Vinny, Maxine Nightingale, Paul Mauriat, Edson Lopes, Eduardo Santhana & Isolda, Chiko Queiroga & Ana Vitória, Pedrinho Piri & muito mais. Em seguida, o programa Mix MCLAM, com Verney Filho e na madrugada Hot Night, uma programação toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online acesse aqui .

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