sábado, outubro 10, 2015

VERDI, TERESA HORTA, PINTER, NORA, KNIGHT, SENONER, NEUROPSICOLOGIA, TOLINHO & BESTINHA!


VAMOS APRUMAR A CONVERSA? QUANDO OS ANJOS PAGAM O PATO PELO DESMANTELO NO CÉU – Os dois pariceiros, Tolinho e Bestinha, se espremeram na junta trabalhista para receberem os direitos indenizatórios de oito anos de litígio com uma usina-de-cana-de-açúcar dos cafundós de Judas. Amealharam, com isso, até um montante bom, de chegar a tomarem uma e todas as outras, dois dias encarreados. Pinguçada geral. Queriam tomar de aguardente o que o dinheiro desse. Não era muito, não, mas dava para arrastar o solado do pé por aí. Ainda compraram vestimentas mais decentes de curau numa tolda de feira do mercado; encheram a pança de ficar arrotando aos peidos e ao léu; surrupiaram um retratinho dos santos Cosme e Damião dum alesado que se passava por sortudo de plantão; calçaram uma galocha sonhada e se embelezaram com uma volta de ouropel ao pescoço, e se embebedarem de novo aprontando das suas por horas seguidas, sobrando, enfim, depois de toda gastança, ainda, uns trocados bons no bolso. Até que mais tarde, mais lavados que jipe ladeira abaixo, as ideias clarearam. - Tô cum vontade de ir em Sumpaulo! - balbuciou Tolinho. - Minino, meu sonho é avoar de avião! - avalizou Bestinha. - Rumbora comprar passage e avoar, bora? - Bora! Se atreparam no cata-côrno e foram pro aeroporto. Chegaram no guichê da companhia e se arrepiaram logo com o valor da passagem. - Eita negócio caro do cão, quage vale mais que vinte anos de trabaio com sol graúdo no toitiço da gente, que incaristia, doido! - Do jeito que a gente vai, num torna de jeito nenhum! Depois do alinhamento das ideias na doidice, fecharam, pagaram em moeda corrente vigente nacional e quase ficaram por não portarem bagagem alguma. - Ôxe, a gente vai pissiar, meu, vorta já! Trupicaram na escada e quase relam a cara na pista de pouso. Enganchados no comandante, se aboletaram na última fileira de cadeira da aeronave e céu e mar. - Vumo ficar aqui no fundo, que quarqué coisa, nóis inscapole fora! Na decolagem, Bestinha teve uma caganeira revoltosa de incensar tudo. - Inté pareci cá cumida num se deu cum meu bucho! - E se esse bicho se arvorá de cair, tamo frito! - Bota essa boca pra lá, lazarento! Tolinho ficou rezando pros santos de sua predileção. Ôxe, num deu tempo de nada. O avoante despencou pior que tomahawky, dando cabo da vida deles e de outros tantos passageiros numa explosão de sobrar nem cinzas. Foram direto pro céu. - Cagada da pôrra, meu, este bicho cair logo no dia ca gente se asujeita a avoar nele! - É que tu tem pé frio, desgraçado. Boca de praga! Não se entenderam e só se emendaram depois de uns bregues desferidos por São Pedro. - Documentos? - sentenciou o santo porteiro do céu. - Quis documento, santo? - ironizou Tolinho. - Todos! - Cuma assim? - RG, CIC, título de eleitor, PIS/PASEP, carteira profissional, reservista militar, comprovante de água, luz, telefone, FGTS, fator Rh, exames médicos, seguro-desemprego... - Peraí, Sumpêdo, aqui é o céu ou o cadrastumenti do cartóro inleitorá? -, perguntou Bestinha já decepcionado com a recepção. - Num seria, entonse caixa de banco, não? – interrogou Tolinho, meio que sem jeito. - Ou crediáro de loja ou coisa assim, é? - Bora, bora, passem logo os documentos! - Ô, santo Sumpêdo, o sinhô já viu dizê por um acauso que boia-fria e faz-tudo qui só aveve de bico andá endecumentado assim, é? Impasse brabo. Tanto fizeram que sacaram dos bolsos uma CTPS já desmanchando, o título de eleitor rasgado, o RG desbotado, restinho da grana, hem hem, tudo caindo em bandas, deteriorados de dar trabalho pro porteiro juntar aquelas tranqueiras todas em estado mais que deplorável num documento só. - Preenche aí o formulário de solicitação! - mandou o santo. - Cuma é, mermo? Espia só que astuça desse home. - Vamos, se quiserem entrar no céu tem que preencher! Apertaram os dedos, agarraram o lápis e saíram desenhando por horas os garranchos no papel. São Pedro quase teve um troço quando foi conferir a seboseira. Aí o santo achou por bem relevar nas formalidades e partiu pra conferência dos pecados deles. Deu-se o maior arrepio na cabeça do porteiro ao constatar que todos os mandamentos e todos os pecados capitais eles já haviam infrigido. A serasa do céu pocou na hora com as léguas de restrições. - ...Inadimplentes no mercadinho, na farmácia, armarinho de miudezas, ora, com uma folha corrida dessas, vão pro inferno! - Pronto, Bestinha, agora vamo tostá nas presepas do diabo! Defenestrados dali, estavam eles assando nas profundas do inferno, sem saber o que podiam fazer. - Quem é? - perguntou o endiabrado. - Sumo nóisis, eu e Bestinha! - Valei-me santo demoníaco, bota esses dois pra lá que querem me destronar! Foi um corre-corre da pêga de estornarem os dois a ficar entre o céu, o inferno e o purgatório, sem poder adentrar em nenhum dos três. E agora? O diabo com medo que eles golpeassem o estado, fez um acerto de contas: - Vocês voltem pra terra, que lá ainda tem muita confusão por se fazer!! - Craro, a gente num pode é ficar aqui no osso do mucumbú, sem saber pronde sadiantar! - reclamou indignado Bestinha. - Ôba, vumo azucrinar os vivente mole de novo? - festejou Tolinho. - Êpa, maisi prá disgrama de vida da gente, num vorto forma nenhuma! - embirrou Bestinha. - Isso mermo, só so santo ruim aí, dé umas cumpensação! - O quê, por exemplo! - Vida boa, mulé boa, dinheirama e foiga pra gente se infincar de nunca mais querê vim pru cá. -, passou a régua, Tolinho. - Isso mermo! - afiançou Bestinha. - Tá certo, mas vocês quando chegarem na terra tem que dizer que eu sou o bom e que o céu é ruim. - Homi, seu minino, fechado! Meiór qui issos, só dois diussos, oxente bichim! - Jurado com as cruizis na boca por palavra de home! - S imbora, curau! Pois é, estão ralando até hoje na catação do lixo, no maior revestrés de vida, reclamando da charlatanice do diabo e da chatice de São Pedro. - Quar qui é a diferencia do paraíso pro inferno? - Nóisis inda vumo ser rico, se vamo! Tirá o pé da merda, mesmo! - Nóisis tumém sumo fio de Deus, num sômo? - Sômo. E vamos aprumar a conversa aqui e aqui

 Imagem: Female nude study, do artista plástico britânico Charles Knight (1901-1990)


Curtindo dvd da ópera em quatro atos Aida (1871), do compositor italiano Giuseppe Verdi (1813-1901), com liberto de Antonio Ghislanzoni, com direção do cineasta italiano Franco Zeffirelli, solistas Adina Aaron, Kate Aldrich e Scott Piper, condutor Massimiliano Stefanelli com a Orquestra e Coro delaa Fondazione Arturo Toscanini. Veja mais aqui.

COGNIÇÃO, NEUROPSICOLOGIA E APRENDIZAGEM - O livro Cognição, neuropsicologia e aprendizagem: abordagem neuropsicológica e psicopedagógica (Vozes, 2009), de Vitor Fonseca, aborda temas como a modificabilidade cognitiva, avaliação psicopedagógica dinâmica, a pedagogia mediatizada, as dificuldades de aprendizagem, a emergencia da cognição, organização neuropsicológica da cognição na abordagem luriana, abordagem cognitiva da aprendizagem humana, entre outros assuntos. Na obra destaco os trechos: [...] A escola e a maioria das instituições sociais envolvidas na formação e na qualificação dos recursos humanos têm negligenciado as vantages da educação cognitiva, que basicamente não ensina conteúdos disciplinares ou matérias de conhecimento, mas, ao contrário, visa desenvolver e maximizar os processos de captação, integração, elaboração e expressão de informação, no fundo, tudo o que se pode definir como aprendizagem. A sociedade em geral e a escola em particular, assim como todos os seus agentes que lidam direta ou indiretamente com o desenvolvimento do potencial humano, ainda desconhecem as vantagens e os benefícios da intervenção psicopedagógica no domínio da cognição. [...]. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

SEGUNDA NATUREZA – No premiado romance Amor de Verão (One Summer, 1987), da escritora estadunidense Nora Roberts, encontro a narrativa Segunda natureza, na qual é contada a história de uma repórter determinada a conseguir uma entrevista exclusiva com um solitário e renomado escritor de livros de terror e que fica fascinado com o magnetismo dela, abrindo uma exceção com uma exigência desafiadora: acampar com ele por duas semanas numa paragem paradisíaca. Da obra destaco o trecho: [...] Satisfeito, Hunter caminhou na direção da bem empilhada bagagem de Lee. Ela não acreditava em viagens leves, reparou ele, examinando a mochila, a pequena mala Pullman e a pasta. Mas que mulher acreditava nisso? Sua filha Sarah não levara duas malas para a curta estada de três dias com a irmã em Phoenix? Era estranho que sua filhinha já fosse quase uma mulher. Talvez não fosse tão estranho assim, refletiu Hunter. Os seres do sexo feminino já nascem quase inteiramente mulheres, ao passo que os seres do sexo masculino levam anos para sair da infância — quando saem. Talvez fosse por causa disso que ele confiava muito mais nos homens. Lee o viu quando voltou para o saguão. Estava de costas para ela, de tal forma que teve a impressão de estar vendo apenas um homem alto, esguio e de cabelos pretos descuidadamente encaracolados até a gola da camiseta. Bem na hora, pensou ela com satisfação e o abordou.— Sou Lee Radcliffe. Quando ele se virou, ela enrijeceu, o sorriso impessoal congelando-lhe o rosto. No instante inicial, não pôde definir por qual motivo. Ele era atraente — talvez atraente demais. O rosto era estreito, mas não tinha um ar acadêmico, tinha as feições duras, mas não rudes. Era, em excesso, uma combinação dos dois, muito mais do que uma característica ou outra. Tinha o nariz reto e aristocrático, ao passo que a boca era esculpida como a de um poeta. Seus cabelos eram escuros, cheios e rebeldes, como se tivesse dirigido em altíssima velocidade por horas a fio contra o vento. Mas não foi nada disso que a fez perder a voz. Foram seus olhos. Ela jamais vira olhos tão escuros quanto aqueles, tão incisivos, tão... perturbadores. Era como se olhassem através dela. Não, não através, corrigiu de pronto Lee, dentro dela. Em dez segundos, eles olharam dentro dela e viram tudo. Ele viu um formidável rosto, branco como o leite, com olhos melancólicos escancarados pela surpresa. Viu uma boca suave e feminina, com uma leve cor. Viu nervosismo. Viu um queixo obstinado e cabelos cor de cobre que deveriam parecer seda ao toque dos dedos. O que viu foi uma mulher equilibrada por fora e tensa por dentro, que tinha um aroma das noites de primavera e parecia modelo de capa da Vogue. Se não fosse a tensão interior, talvez a tivesse dispensado, mas o que ficava por baixo da superfície das pessoas sempre o intrigou. Olhou para a organizada bagagem de modo tão veloz que seus olhos deram a impressão de que jamais abandonariam os dela. — Pois não? — Bem, eu... — Forçada a engolir as palavras, ela baixou o tom de voz. O que bastou para enfurecê-la. Não começaria a gaguejar por causa de um motorista de hotel. — Se você veio me apanhar — disse Lee, bruscamente —, vai precisar levar minha bagagem. Ele ergueu as sobrancelhas, mas não disse nada. O erro dela era simples e óbvio. Uma única frase da parte dele corrigiria tudo. Mas o erro era dela, não dele. Hunter sempre acreditou mais nos impulsos do que nas explicações. Pegou a Pullman e em seguida encaixou a correia da mochila no ombro. — O carro está lá fora. Ela se sentiu muito mais segura seguindo atrás dele com a pasta nas mãos. A sensação de estranheza, disse para si mesma, vinha da ansiedade e do longo voo. Homens jamais a surpreendiam; certamente nunca chamavam sua atenção daquela forma e muito menos a faziam gaguejar. O que precisava era de um banho e algo um pouco mais substancial do que um cachorro-quente para comer. O carro ao qual ele se referira não era exatamente um carro, reparou ela, mas um jipe. Supondo que fazia certo sentido, com estradas íngremes e invernos inclementes, Lee entrou no veículo. Movimenta-se com desenvoltura e veste-se impecavelmente. Ele também reparou que ela roía as unhas. — Você é da área? — perguntou Hunter, puxando conversa enquanto acomodava a bagagem. — Não. Estou aqui para o congresso de escritores. Hunter entrou, sentou ao lado dela e bateu a porta. Agora ele sabia para onde levá-la. — Você é escritora? Ela pensou nos dois capítulos de seu livro inacabado que levara caso necessitasse de um disfarce. — Sou. Hunter contornou o estacionamento e pegou o caminho que dava na estrada principal. — Sobre o que escreve? Lee recostou-se e decidiu que talvez devesse tentar testar sua história nele antes de cair no meio de duzentos escritores e aspirantes a escritores. — Já escrevi artigos e alguns contos — disse ela, sem mentir. Depois acrescentou o que raramente contava para alguém. — E comecei um romance. Ele entrou na rodovia numa velocidade que a surpreendeu mas não a inquietou. — E vai terminá-lo? — perguntou ele, demonstrando um discernimento que a perturbou. — Acho que isso vai depender de vários fatores. Ele deu uma nova e cuidadosa olhada nela. — Tais como? Ela queria mudar de posição no assento, mas forçou-se a permanecer parada. Este era exatamente o tipo de pergunta a que talvez fosse obrigada a responder ao longo daquele fim de semana [...]. Veja mais aqui.

POEMAS DO DESEJO – No livro As palavras do corpo: antologia de poesia erótica (1937 – Leya, 2012), da poeta e editora portuguesa Maria Teresa Horta, destaco, inicialmente, o Poema ao desejo: Empurra a tua espada / no meu ventre / enterra-a devagar até ao cimo / Que eu sinta de ti / a queimadura / e a tua mordedura nos meus rins / Deixa depois que a tua boca / desça / e me contorne as pernas de doçura / Ò meu amor a tua língua / prende / aquilo que desprende da loucura. Também o poema A vagina: É cálida flor / E trópica mansamente / De leite entreaberta às tuas / Mãos / Feltro das pétalas que por dentro / Tem o felpo das pálpebras / Da língua a lentidão / Guelra do corpo / Pulmão que não respira / Dobada em muco / Tecida em água / Flor carnívora voraz do próprio / suco / No ventre entorpecida / Nas pernas sequestrada. Por fim, o poema Masturbação: Eis o centro do corpo / o nosso centro / onde os dedos escorregam devagar / e logo tornam onde nesse / centro / os dedos esfregam – correm / e voltam sem cessar / e então são os meus / já os teus dedos / e são meus dedos / já a tua boca / que vai sorvendo os lábios / dessa boca / que manipulo – conduzo / pensando em tua boca / Ardência funda / planta em movimento / que trepa e fende fundidas / já no tempo / calando o grito nos pulmões da tarde / E todo o corpo / é esse movimento / que trepa e fende fundidas / já no tempo / calando o grito nos pulmões da tarde / E todo o corpo / é esse movimento / em torno / em volta / no centro desses lábios / que a febre toma / engrossa / e vai cedendo a pouco e pouco / nos dedos e na palma. Veja mais aqui, aqui e aqui.

O MONTA-CARGAS – A peça teatral O monta-cargas (Tempo, 1962), do dramaturgo, poeta e roteirista britânico Harold Pinter (1930-2008), conta a história de dois assassinos profissionais angustiados em um quarto de hotel decadente na Inglaterra, preparando a execução de um serviço contratado por uma organização misteriosa, num clima de tensão, silêncio, surpresas e humor. Da obra destaco o trecho na tradução de Márcio Westphalen: Quarto em um sótão, em algum lugar de Birmingham. É uma noite de outono. Há duas portas a direita e esquerda, respectivamente, da parede do fundo do cenário. No centro da parede se vê uma saliência, que logo resulta ser um monta-carga. Há duas camas, uma à direita e outra à esquerda da saliência; a da direita pertence à Gus e a da esquerda pertence a Ben. Ambas têm as cabeceiras colocadas contra a parede e os pés ao público. Contra a parede da esquerda, à frente, há uma cadeira de encosto reto. A porta da esquerda leva ao banheiro e à cozinha. As duas camas estão feitas, mais algo as revira; em cada uma delas estão penduradas às gravatas, os coletes e as bolsas respectivas de ambos os homens. De baixo de cada travesseiro, um revolver e uma pistoleira) (Ao levantar o pano, Ben está deitado na cama da esquerda, lendo o diário. Gus está sentado, no lado direito da cama da direita, amarando com dificuldade os cadarços dos sapatos. Os homens vestem camisas de manga, com calças compridas e suspensórios. Gus ata os cadarços, se levanta, boceja, e começa a caminhar devagar até a porta da esquerda. Detêm-se, abaixa o olhar e sacode um pé. Ben abaixa o diário e observa Gus. Gus se ajoelha e desata o sapato; e o tira lentamente. Olha para dentro dele e tira uma caixa de fósforos achatada, que sacode e examina. O olhar de ambos se encontra. Ben agita o diário e lê. Gus guarda a caixa de fósforos em seu bolso e se agacha para colocar o sapato. Com dificuldade amarra os cadarços. Ben baixa o diário e o observa. Gus se ajoelha, desata os cadarços, e de novo tira lentamente os sapatos. Olha dentro e tira um maço de cigarros amassados. O sacode e o examina; novamente os olhares de ambos se encontram. Ben move o diário fazendo um ruído e segue lendo. Gus guarda o maço no bolso, se agacha põe o sapato e o ata. Logo se afasta para a esquerda. Ben atira com violência o diário sobre a cama e segue a Gus com o olhar bravo. Pega o diário e se deita na cama de barriga para cima, lendo. Segue um silêncio. Logo se ouve um ruído da corrente do banheiro. Puxada duas vezes, mas sem que a água corra. Este ruído vem da esquerda. Silêncio de novo. Gus volta a entrar pela esquerda e detêm-se na porta, coçando-se a cabeça. Ben atira o diário com força) BEN – Uaajj!!! (pega o diário) O que tu achas disto? Escuta. (Referindo-se ao diário) Um homem de oitenta e sete anos quis cruzar a rua. Mas havia muitíssimo trânsito. Não encontrava maneira de passar. Em vista disso, se mete de baixo de um caminhão. GUS – Que fez? BEN – Se meteu debaixo de um caminhão. Um caminhão estacionado. GUS – Não! BEN – O caminhão começou a andar e o passou por cima. GUS – Bah! BEN – É o que diz aqui. GUS – É, as coisas que passam! BEN – É como fazê-lo se vomitar, certo? GUS – Quem lhe recomendou que fez a coisa da semelhança? BEN – Um homem de oitenta e sete anos se mete de baixo de um caminhão! GUS – Não é para acreditar. BEN – Aqui está, em letras de fôrma. GUS – Incrível! (Silêncio. Gus balança a cabeça e sai pela esquerda. Novamente, desde fora à esquerda, um puxão da corrente do banheiro, mas a água não corre. Ben vaia diante a um artigo do diário. Volta Gus) Quero te perguntar uma coisa. BEN – Que tu estavas fazendo ali fora? GUS – Bom, estava... BEN – Que tem de chá? GUS – Ia exatamente a preparar-lo. BEN – Bom, prepare-o. GUS – Sim, já vou. (Se senta na cadeira da esquerda. Jogando com seus pensamentos) O que poço dizer é que desta vez pus uma louça muito bonita. Com uma espécie de barras. Barras brancas. (Ben lê) É muito bonita. Não tenho dúvida. (Ben volta à folha) Na xícara. Na borda, ao redor. O resto é todo preto, sabe? O pires é preto, menos no meio, onde se coloca a xícara. Ali é branco. (Ben lê) Os pratos são iguais, sabe? Só que tem uma barra preta... os pratos, que os atravessa pelo centro. Sim, estou encantado com a louça. BEN – (sem deixar de ler) Para que queres pratos? Não vais comer. GUS – Eu trousse uns biscoitos. BEN – Bom, será melhor que os coma logo. GUS – Sempre trago alguns biscoitos. Ou uma torta. É que... Claro, não posso tomar chá se não como algo. BEN – Bom, nesse caso, quer preparar o chá? Estamos perdendo tempo. (Gus tira o maço amassado de cigarros e o observa) GUS – Tem cigarros? Acho que os meus terminaram. (Atira o maço para cima e logo se inclina para pegar-lo) Espero que este trabalho não seja muito cumprido. (Fazendo pontaria com cuidado, atira o maço debaixo da cama) Oh! Queria te perguntar uma coisa. BEN – (arremessando o diário) Bahh! GUS – Que ouve? BEN – Uma criatura de oito anos matou um gato. GUS – (Não acreditando) Vamos! BEN – É verdade! O que tu acha? Uma criatura de oito anos que mata um gato. GUS – E como o fez esse menino? BEN – Era uma menina. GUS – E como o fez essa menina? BEN – E... (Levanta o diário e o observa) Não explica. GUS – Por que não? BEN – Espera um momento. Diz somente... “O irmão, que tem onze anos, considerou o incidente desde o galpão das ferramentas.” GUS – Oh! BEN – Isso é completamente ridículo. (Pausa) [...]. Veja mais aqui
GLEN OR GLENDA – O filme Glen or Glenda (1953), dirigido pelo cineasta estadunidense Ed Wood (1924-1978), são considerados, tanto o autor como o filme como os piores já existentes que se transformou em cult, abordando temas do travestimento masculino e da transsexualidade, com uma narrativa tolerante aos fenômenos, intercalando falas e fatos científicos com intervenções sinistras e sobrenaturais, com narrativas orais que aludem a desvios sexuais, fetichismo, estupro, sadomasoquismo. O destaque do filme vai para a atriz e compositora estadunidense Dolores Fuller (1923-2011), então namorada do diretor. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
A arte do escultor Richard Senoner.


Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa Noite Romântica, a partir das 21 hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa. Em seguida, o programa Mix MCLAM, com Verney Filho e na madrugada Hot Night, uma programação toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online acesse aqui .


VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
Dê livros de presente para as crianças.
Aprume aqui.