quarta-feira, agosto 05, 2015

LURIA, OVÍDIO, FELLINI, CANDIDO DE CARVALHO, AIRTO & FLORA, TUNGA, WAIN & A SUBMERSÃO DOS SENTIDOS!

VAMOS APRUMAR A CONVERSA? A SUBMERSÃO DOS SENTIDOS – Meus filhos não sabem da guerra! E nos seus olhos perdidos arreviro de noite. E vou me esvaindo sozinho, olhos secos nas noites em adagas, enquanto sigo com as chagas abertas no sol. Meus filhos não sabem da guerra! E sigo sozinho desenterrando segredos. Aqueles segredos que não pude conter por muito mais tempo no meu vário silêncio. Segredos sem fechaduras, sem dentes, alicates, segredos de dor e da alma de ontem. Registros de cartas aviltadas de sombrias desventuras, de resignação. Meus filhos não sabem da guerra! Soubessem, não me amavam sorrir. E seus olhos são velas acesas e eu no escuro com medo, em carne viva e beirando abismos menores que um triz. E eu afogado numa gota do escuro sem saber fugir, metido no medo da infância e da ruindade adulta. Meus filhos não sabem da guerra! Soubessem, não me amavam sorrir. Não sabem que sozinho amanheço de noite. Meu mundo é miúdo menor que um aceno, resignado à comunhão do rio da minha vida, completamente vadio no fastio do mormaço, porque ainda sonho sozinho na minha arredia solidão e sorrio verdades na minha ingênua fadiga. Meus filhos não sabem da guerra! Soubessem, não me amavam sorrir. Não sabem que sozinho amanheço de noite. Não sabem, meus filhos. Um que se foi, a outra que irá já tão tarde com a minha carne acesa no prisma da vida. (A submersão dos sentidos – Primeira Reunião. Bagaço: 1992). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

 Imagem: A arte do escultor, desenhista e ator de performance artística Tunga - Antônio José de Barros de Carvalho e Mello Mourão. Veja mais aqui.


Curtindo o álbum The Colours of Life (In & Out Records, 1988), dos músicos Airto Moreira & Flora Purim.

BRINCARTE DO NITOLINO – Hoje é dia de reprise do programa Brincarte do Nitolino, no horário das 10hs e das 15hs, no blog do projeto MCLAM, com a luxuosa apresentação de Ísis Corrêa Naves. No blog muitas dicas de Psicologia Infantil e Escolar, bem como outras divulgações das áreas de Literatura, Teatro, Música, Educação e Direito das Crianças e dos Adolescentes. Para conferir o programa online é só clicar aqui ou aqui.

DESENVOLVIMENTO COGNITIVO – O livro Desenvolvimento cognitivo: seus fundamentos culturais e sociais (Ícone, 1990), do neuropsicólogo e um dos fundadores da psicologia cultural-histórica, Alenxander Luria (1902-1977), trata de temas como a percepção, generalização e abstração, dedução e inferência, raciocínio e solução de problemas, imaginação, auto-análise e autoconsciência, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho: Parece surpreendente que a ciência da psicologia tenha evitado a ideia de que muitos processos mentais sejam sócio-históricos em sua origem, ou de que manifestações importantes da consciência humana tenham sido diretamente formadas pelas práticas básicas da atividade humana e pelas formas da cultura existentes [...] Em um certo estágio de desenvolvimento social, a análise das próprias peculiaridades individuais frequentemente ceda lugar à análise do comportamento do grupo, e o eu individual era frequentemente substituído pelo nós coletivo, tomando a forma de uma avaliação do comportamento ou da eficiência do grupo ao qual o sujeito pertencia, (brigada, equipe, ou fazenda coletiva como um todo). Frequentemente as próprias qualidades (ou aquelas do grupo) eram avaliadas pela comparação do comportamento individual (ou grupal) com normas ou demandas sociais impostas ao individuo ou ao seu grupo. Apenas em estágios superiores – principalmente em pessoas jovens progressivamente envolvidas, de modo ativo, na vida social e com pelo menos alguma educação formal – poderíamos discernir um processo de escolha e avaliação das qualidades pessoais. Aqui, também, a análise permaneceu ligada, de muitas, à avaliação do sujeito sobre como tais qualidades individuais se relacionavam com as demandas da vida social. [...] [E particularmente importante o fato de que esse processo não se esgota numa mera mudança de conteúdo da consciência e uma abertura de novas esferas da vida para análise consciente (esferas da experiência social e das relações consigo mesmo, enquanto participante da vida social). Nós estamos lidando com mudanças muito mais fundamentais – a formação de novos sistemas psicológicos, capazes de refletir não apenas a realidade externa, mas também o mundo das relações sociais e, basicamente, o mundo interior da própria pessoa enquanto moldado em relação a outras pessoas. A formação de um novo mundo interior pode ser considerada uma das conquistas fundamentais do período tratado. [...]. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

OLHA PARA O CÉU, FREDERICO! – O romance Olha para o céu, Frederico! -  Romance acontecido em Campos dos Goitacazes nos dias do gramofone (José Olympio, 1974), do escritor, advogado e jornalista José Cândido de Carvalho (1914-1989), retrata com humor os negócios e a decadência moral das famílias do setor sucroalcooleiro de Campos dos Goitacazes, do qual destaco os trechos a seguir: Estávamos chegando. O guia avisou que tínhamos entrado nas terras do São Martinho. Era o fim. E a tarde caindo feito uma agonia por cima do mundo. Tarde vazia, sem cigarras pelos troncos. Uma vida bonita de dez anos ia ficar para trás, enterrada em Quiçamã do Limão. Com mais uma andada estaríamos vendo a chaminé do São Martinho. Sentia que era o princípio do meu desterro. Podia botar velar na mão. Pensei em meu tio José Nabuco de Sá Meneses. Onde andaria a prima Nilze de bondade de anho? Agora me levavam para o cemitério do São Martinho. Ficaria por lá enterrado vivo. Tiraria meu tempo feito um condenado carregadinho de crimes. Por onde andaria minha prima Nilza? [...] Quem visse Frederico assim de fala mole, com miséria nas conversas, era capaz de acreditar num São Martinho encalhado, de rodas mortas, com ninho de rato nas fornalhas. Conheci e vi morrer meu tio com esses lamentos que só acabaram quando sua boca se fechou vazia de palavras [...] Era alto como vela de promessa. Tanta gentileza acabou por trazer Dona Lúcia para a cama de Frederico. Os parentes é que não viam nada. Só olhavam a velhice de meu tio, a plantação que podia nascer em sua testa. Agora, com um simples negócio de altar, os mourões do São Martinho ficavam sendo as pitangueiras da praia. [...] O raposão do meu tio não mostrava as unhas. Na varanda, de tarde, esparramado na cadeira de preguiça, lia os jornais. Vinha gente tirar prosa com ele. Conversinhas de calor, da miséria de fim de vida que andava solta pelo mundo. [...] Os barões, dependurados em pregos de parede, por trás das barbas, espiavam meus desmandos. [...]. Veja mais aqui e aqui.

AS METAMORFOSES – A obra poética As metamorfoses, a magnun opus do poeta matino Público Ovídio Naso (43aC-18aC), é um poema narrativo inconcluso mostrando a constante mutação do mundo e alguns aspectos da soberania e sua família. Da obra destaco o fragmento do Livro I, traduzido por Raimundo Nonato Barbosa de Carvalho (USP, 2010): Faz-me o estro dizer formas em novos corpos mudadas. Deuses, já que as mudastes também, inspirai-me a empresa e, da origem do mundo ao meu tempo, guiai este canto perpétuo. Antes do mar, da terra e céu que tudo cobre, a natureza tinha, em todo o orbe, um só rosto a que chamaram Caos, massa rude e indigesta; nada havia, a não ser o peso inerte e díspares sementes mal dispostas de coisas sem nexo. Inda nenhum Titã iluminava o mundo, nem Febe, no crescente, os chifres renovava, nem a terra pendia no ar circunfuso, suspensa no seu peso, nem, por longas margens, os seus braços havia espraiado Anfitrite.E como ali houvesse terra e mar e ar, instável era a terra, a onda inavegável e o ar sem luz; a nada aderia uma forma, e cada coisa obstava outras, pois num só corpo o frio combatia o quente, o seco o úmido, o mole o duro, e o peso o que não tinha peso. Deus ou douta natura esta luta sanou, pois do céu separou a terra, e desta as ondas, e do ar espesso um céu límpido discerniu. E depois que os tirou do disforme conjunto, cada qual num lugar ligou, em paz concorde. Do céu convexo, força ígnea e sem peso surgiu e se alocou no mais alto da abóbada; o ar, dela, se aproxima em leveza e lugar; mais densa, a terra atrai os elementos grandes e é premida por seu peso; a água circunfluída ocupou o restante e cercou o orbe sólido. Assim aquele deus, fosse qual fosse, a massa, primeiro, dividiu em lotes e ordenou, para que igual ficasse em toda a parte, dando à terra a aparência de um imenso orbe. Então o mar romper-se com os ventos rápidos mandou e circundar os litorais da terra. Reuniu pântanos, fontes e grandes lagoas, por entre sinuosas margens cingiu rios, que em parte se absorvem em vários locais, em parte vão ao mar, e acolhidos no campo de águas livres, em vez de margens, tocam praias. Mandou dilatar campos, vales abaixar, selvas cobrir de folha, erguer montes rochosos. E, como há no céu duas zonas à direita e outro tanto à esquerda e uma quinta mais tórrida, assim um deus zeloso o globo dividiu por igual, e outras tantas plagas tem a terra. Por causa do calor, não se habita a mediana, cobre duas a neve; entre ambas pôs as outras, que, misturando fogo ao frio, temperou. Cobre-as o ar, que tanto é mais leve que a terra e a água, quanto mais pesado do que o fogo. Lá as névoas, e lá as nuvens, pendurar mandou, também trovões que aterram mente humana e os ventos que, com raios, rabiscam relâmpagos. O criador do mundo, entanto, não lhes deu a posse do ar ao léu; a custo, agora, impede-os embora cada qual assopre em sua rota de o mundo varrer, pois grande é a rixa entre irmãos. Euro se foi à Aurora, aos reinos nabateus, à Pérsia e às montanhas sob luz matutina; Vésper e as praias, mornas pelo sol poente, de Zéfiro estão perto; a Cítia e o Setentrião Bóreas frio invadiu; a região contrária se umedece de chuva e assíduas nuvens de Austro. Em cima pôs o éter límpido e sem peso, que nenhuma impureza terrena contém. [...] Veja mais aqui e aqui.

DIDATICA DO TEATRO – O livro Didáctica do teatro – introdução (Almeida, 1979), do historiador português José Oliveira Barata, trata do quadro institucional e programas oficiais do jogo dramático português, as origens e o jogo como meio de conhecimento, jogo dramático e teatro, a leitura de um texto teatral, o teatro como linguagem, emissor e escritor/autor, emissor e o encenador, emissor e os acessórios não acessórios, o destinário e o público, a cidade e o Estado, texto e pretexto, os clássicos como modelo, os clássicos na escola, da teoria à prática, escrever e reescrever um texto, texto não dramático, representação de um texto não dramático, entre outos assuntos. Da obra destaco o trecho inicial: A utilização dos recursos e potencialidades do jogo dramático, postos ao serviço das modernas técnicas pedagógicas nos estabelecimentos pré-universitários desde há muito – mesmo muito antes de entre nós se começar a ouvir falar dessas perspectivas -, tem preocupado professores, pedagogos, sociólogos e, mesmo fora do âmbito estritamente escolar, homens de teatro, animadores culturais que vêem na escola um vastíssimo campo, particularmente receptivo, à iniciação teatral. [...] Vê-se que ele tem (ou pode ter) implicações diretas em todas as disciplinas – como forma especial de sensibilizar e captar a inteligência criadora e critica do jovem. Todavia, é particularmente relevante no domínio do Português e da Literatura Portuguesa. Será conveniente examinar o que é proposto nos programas, mas verificarmos se as boas intenções podem ser viabilizadas na prática. Não se esquecem as demais disciplinas e, sobretudo, a de Teatro, previsto como cadeira Vocacional no 9º ano de escolaridade obrigatória do Curso Secundário Unificado [...]. Veja mais aqui e aqui.


TOBY DAMMIT – No filme Histórias extraordinárias (1968) que reúne três cineastas para os contos do escritor, editor e crítico literário estadunidense Edgar Allan Poe (1809-1849), a parte dirigida pelo cineasta italiano Federico Felilini (1829-1993), é denominada Toby Dammit inspirado livremente no terceiro conto de Poe, contando a história do ator shakespeariano que afunda na carreira devido ao alcoolismo e para voltar ao sucesso faz um pacto com o diabo, perdendo a vida e a cabeça, num acidente com a Ferrari que ganhou como pagamento por seu último filme. Com este registro, fecha-se a divulgação da série Histórias Extraordinárias, filme que reúne além de Fellini, os cineastas Louis Malle e Roger Vadim, destacados em posts anteriores para registrar a criação cinematográfica baseada em contos de Poe. Este filme representa a reunião dos três maiores cineastas que, em conjunto, abordam a temática de forma criativa, inovadora e substancialmente representativa para o desenvolvimento da arte contemporânea. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
 
Imagem: a arte do desenhista britânico Louis Wain (1860-1939),

Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa Quarta Romântica, a partir das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa. Para conferir online acesse aqui.

VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
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