quinta-feira, julho 09, 2015

JOSUÉ DE CASTRO, HOMERO, ANA BOTAFOGO, MERCEDES, FRIDA, ANGERICK, LEMPICKA, GENÉSIO, ELIEZER AUGUSTO & TRÂMITE DA SOLIDÃO!!!



Curtindo Mercedes Sosa en vivo en Europa (Universal, 1990), da cantora argentina Mercedes Sosa, La Negra – a voz dos sem voz (1935-2009). Veja mais aqui.

O ESPECTRO DA FOME – O livro Geografia da fome - o dilema brasileiro: pão ou aço (Antares, 1984), do médico, professor catedrático, pensador, ativista político e embaixador do Brasil na ONU, Josué de Castro (1908-1973), aborda a fome no nordeste açucareiro, no sertão do nordeste, nas áreas de subnutrição, no centro e no sul, estudo do conjunto brasileiro com o seu pensamento sobre a fome e a miséria resultantes da má distribuição das riquezas, concentradas cada vez mais nas mãos de pouquíssimas pessoas, defendendo a distribuição dos recursos, da terra para produção dos trabalhadores e da reforma agrária. Nesse trabalho ele mapeia a distribuição e concentração da fome no Brasil, na qual destaco o trecho O espectro da fome: Tempos atrás, um surto de sarampo, de tipo violento e infeccioso, que praticamente dizimou uma localidade mineira do vale do Jequitinhonha, revelou, ou antes, confirmou, a situação calamitosa, em matéria de saúde e desnutrição, em toda aquela vasta região. Logo em seguida, ou pouco antes, as cifras enumeradas no documento trágico de 18 altas autoridades eclesiásticas mostravam a mesma situação por todo o Nordeste. E outro documento, talvez ainda mais impressionante, dos bispos do Centro-Oeste (Marginalização de um povo), confirmava o impacto do primeiro e acentuava-o. Ainda outro documento, no mesmo sentido, e talvez ainda mais alarmante, pois se refere à região considerada mais sadia de todo o Brasil: o Rio Grande do Sul, foi referido no O Estado de São Paulo de 12 de agosto: A Revista da Associação Médica do Rio Grande do Sul publicou o resultado de uma pesquisa feita pela entidade, revelando que quase a metade das crianças gaúchas (1 milhão em 2 milhões e 600 mil) são desnutridas (sic). A desnutrição é responsável pela alta taxa de mortalidade infantil e pela evasão escolar: menos de 10% dos alunos matriculados no primeiro ano atingem a oitava série do ensino fundamental. A desnutrição é causada pela falta de alimentos, dificuldades econômicas e desconhecimento dos princípios de alimentação balanceada. Uma criança de quatro anos da classe A (isto é, das camadas ricas da população, lembro eu), diz a revista, é em geral, 9,19 centímetros mais altas que uma da classe B (isto é, das camadas populares, lembro eu) e seu peso é superior. Isso significa que no Estado mais sadio da federação, a desnutrição está concorrendo, fundamentalmente, para a divisão crescente de nossa terra em dois modelos de população: os tipos biologicamente superiores e os tipos biologicamente inferiores. E como estas estatísticas informam, a proporção entre os exemplarei: bem nutridos e sadios e os desnutridos e enfermiços é praticamente de 50%. Isso na região mais sadia e rica de nossa pátria. Imaginemos então o que ocorre nas regiões que representam uma proporção de mais de 80% da nossa população total. [...] Interesses e preconceitos de ordem moral e de ordem política e econômica de nossa chamada civilização ocidental tornaram a fome um tema proibido, ou pelo menos pouco aconselhável de ser abordada. [...] Veja mais aqui.

A ILÍADA – A obra A Ilíada é um poema épico grego do poeta Homero (928aC-898aC), composto de quinze mil seiscentos e noventa e três versos em hexâmetro dactílico – composto de seis sílabas -, que narra os acontecimentos ocorridos na Guerra de Tróia. Acerca da obra, escreve Otto Maria Carpeaux (História da Literatura Ocidental – Alhambra, 1978) que está cheia de ruídos de batalhas e lutas pessoais, uma multiplicidade de episódios em torno dos personagens principais: ira, abstenção e luta final de Aquiles, as empresas bélicas individuais de Ajax, Diomedes e Menelau, as intervenções de Agamenon e Ulisses, a sabedoria episódica de Nestor e a maledicência de Tersistes e mais os episódios troianos: a fraqueza de Páris, a bravura estoica de Heitor, o sentimento sentimental de Andrômaca, o sentimento trágico de Príamo. Da obra destaco o trecho do Canto I: Canta, ó deusa, a cólera de Aquiles, o Pelida (mortífera!, que tantas dores trouxe aos Aqueus e tantas almas valentes de heróis lançou no Hades, ficando seus corpos como presa para cães e aves de rapina, enquanto se cumpria a vontade de Zeus), desde o momento em que primeiro se desentenderam o Atrida, soberano dos homens, e o divino Aquiles. Entre eles qual dos deuses provocou o conflito? Apolo, filho de Leto e de Zeus. Enfurecera-se o deus contra o rei e por isso espalhara entre o exército uma doença terrível de que morriam as hostes, porque o Atrida desconsiderara Crises, seu sacerdote. Ora este tinha vindo até as naus velozes dos Aqueus para resgatar a filha, trazendo incontáveis riquezas. Segurando nas mãos as fitas de Apolo que acerta ao longe e um cetro dourado, suplicou a todos os Aqueus, mas em especial aos dois Atridas, condutores de homens: “Ó Atridas e vós, demais Aqueus de belas cnêmides! Qu e vos concedam os deuses, que o Olimpo detêm, saquear a cidade de Príamo e regressar bem a vossas casas! Mas libertai a minha filha amada e recebei o resgate, por respeito para com o filho de Zeus, Apolo que acerta ao longe.” Então todos os outros Aqueus aprovaram estas palavras: que se venerasse o sacerdote e se recebesse o glorioso resgate. Mas tal não agradou ao coração do Atrida Agamêmnon; e asperamente o mandou embora, com palavras desabridas: “Que eu te não encontre, ó ancião, junto às côncavas naus, demorando-te agora ou voltando nos tempos próximos, pois de nada te servirá o cetro e a fita do deus! Não libertarei a tua filha. Antes disso a terá atingido a velhice em minha casa, em Argos, longe da sua pátria, enquanto se afadiga ao tear e dorme na minha cama. Vai-te agora. Não me encolerizes: partirás mais salvo.” Assim falou. Amedrontou-se o ancião e obedeceu ao que fora dito. Caminhou em silêncio ao longo da praia do mar marulhante. E depois de ter se afastado para longe, rezou o ancião ao soberano Apolo, que Leto de belos cabelos deu à luz: “Ouve-me, senhor do arco de prata, deus tutelar de Crise e da sacratíssima Cila, que pela força reges Tênedo, ó Esminteu! Se alguma vez ao belo templo te pus um teto, ou queimei para ti as gordas coxas de touros ou de cabras, faz que se cumpra isto que te peço: que paguem com tuas setas os Dânaos as minhas lágrimas!” Assim disse, orando; e ouviu-o Febo Apolo. Desceu do Olimpo, com o coração agitado de ira. Nos ombros trazia o arco e a aljava duplamente coberta; aos ombros do deus irado as setas chocalhavam à medida que avançava. E chegou como chega a noite. Depois sentou-se à distância das naus e disparou uma seta: terrível foi o som produzido pelo arco de prata Primeiro atingiu as mulas e os rápidos cães; mas depois disparou as setas contra os homens. As piras dos mortos ardiam continuamente. Durante nove dias contra o exército voaram os disparos do deus. Ao décimo dia, Aquiles convocou a hoste para a assembleia: fora isso que lhe colocara no espírito a deusa Hera de alvos braços. Pois sentia pena dos Dânaos, porque os via morrer. [...] Veja mais aqui.

SOB O CÉU DE PALMARES: CIDADE PROMETIDA DO SER POETA – Da minha santa terrinha, vez em quando tenho ótimas notícias! Desta vez, para ampliar as minhas saudades, chegou-me notícias para lá de alvissareiras. Trata-se do trabalho artístico desenvolvido pelo poeta e compositor Genesio Cavalcanti que acaba de lançar Sob o céu de Palmares, no qual ele expressa: "Sendo poeta, costumo usar palavras para compor meu estado de ser: ser feliz, viver feliz, morrer feliz"; também o dvd Cidade prometida, em que ele traz a sua ousadia: "Minha ousadia vai além dos meus sonhos. E, se por ventura, sinto medo, tristeza ou melancolia, persisto. Nunca desanimo, pois encontro forças necessárias escrevendo uma nova poesia! Mas, se esse sonho adormece à medida que esmoreço, é tempo de renovar energias. Parar. Dar um tempo. Tempo para pensar, repousar aquilo que mereço, porque sei que na verdade, é chegada a hora de um novo desafio, um novo recomeço"; e o belíssimo livro Poéticas de Amor, do qual destaco o poema Amor é arte: Amor é arte / Arte de sentir, tocar / De despir, apreciar / É a arte de falar / De saber silenciar / É a arte de receber, doar / Arte de completar / De plantar, colher / De saber esperar / Arte de reinventar / De querer, satisfazer / Amor é a pura arte / De viver, de amar! Ele também edita o blog Ser Poeta no qual costumo sempre apreciar sua literatura. Parabéns, Genésio! Sucesso procê, meu irmão. Veja mais aquiaqui.

ANA IN CONCERT – A bailarina e atriz brasileira Ana Botafogo é desde 1981 a primeira bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, já realizando apresentações na Europa e nas Américas. Ela estreou com o ballet Coppélia, tendo integrado o Ballet de Marseille, na França, e participado de festivais na Suíça, Itália, Cuba e Espanha, bem como ter dançado em palcos da Inglaterra, tendo como preocupação constante levar a arte para todos os cantos do Brasil, ministrando palestras para estimulação de jovens bailarinos, fato que a faz ser considerada uma das mais importantes bailarinas brasileiras. Veja mais aqui e aqui.

CONVERSATION NOCTURNE – O documentário Martha Argerich, conversation nocturne (2002), realizado pelo diretor francês Georges Gachot com a pianista argentina de ascendência judaica e catalã Martha Angerich, considerada um dos maiores expoentes de sua geração e do período pós-guerra, no qual ela conta suas memórias, confidências sobre suas dúvidas e o seu apetite pela produção musical. Ela se destacou por suas interpretações de Chopin, Liszt, Bach, Schumann, Ravel e Prokofiev, principalmente por sua interpretação no Concerto para Piano nº 3, de Rachmaninoff, merecendo destacar os duos que ela realizou com o pianista brasileiro Nelson Freire. Mesmo mantendo-se distante da imprensa e publicidade, reservando-se à sua carreira, concedendo pouquíssimas entrevistas, ela aceitou realizar o elegante documentário entrelaça maravilhosos trechos de apresentações, ensaios, entrevistas e depoimentos da talentosa artista, apresentando desde a adolescência solitária de estudante na Europa, até os dias mais recentes de sua vida. Veja mais aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA
As obras do artista plástico tricordiano Eliezer Augusto (Info: Meimei Corrêa/SelTC)

Veja mais sobre:
O passado escreveu o presente; o futuro, agora, Sociolinguística de Dino Preti, o teatro de Bertolt Brecht, Nunca houve guerrilha em Palmares de Luiz Berto, a música de Adriana Hölszky, a escultura de Antonio Frilli, a arte de Thomas Rowlandson, a pintura de Dimitra Milan & Vera Donskaya-Khilko aqui.

E mais:
A liberdade de expressão, A filha de Agamenon de Ismail Kadaré, A natureza de Parmênides de Eléia, Poema sujo de Ferreira Gullar, O teatro essencial de Denise Stoklos, a música de Badi Assad, o cinema de Ingmar Bergman & Liv Ullmann, a escultura de Emilio Fiaschi, Programa Tataritaritatá, a pintura de Gustav Klint & Vera Donskaya-Khilko aqui.
O discurso do método de René Descartes, a música de João Bosco, o teatro de Denise Stoklos, o cinema de Ingmar Bergman, a pintura de Gustav Klimt, Sandra Regina, Bernadethe Ribeiro & Danny Calixto aqui.
Literatura de cordel: História do capitão do navio, de Silviano Pirauá de Lima aqui.
Preconceito, ó! Xô pra lá, Diários de viagem de Franz Kafka, A revolta de Atlas de Ayn Rand, A lua e o infinito de Giacomo Leopardi, a música de Leoš Janáček & Cheryl Barker, o cinema de Alessandro Blasetti & Sophia Loren, Maguerite Anzieu & Jacques Lacan: caso Aimée, a arte de Liliana Castro, a pintura de Helmut Breuninger & Hermann Fenner-Behmer aqui.
Os vexames dum curau no sul, O absurdo de Thomas Nagel, Voragem de Junichiro Tanizaki, Pretidão de amor de Emílio de Meneses, Mão na luva de Oduvaldo Vianna Filho, o cinema de Olivier Assayas & Maggie Cheung, a música de Rosalia de Souza, a pintura de Pierre-Auguste Renoir & Suzanne Frie aqui.
Quadrilha das paixões mais intensas, Vaqueiros & cantadores de Luís da Câmara Cascudo, Terra de Caruaru de José Condé, a música da Orquestra Armorial & Cussy de Almeida, A Setilha de Serrador, O casamento de Maria Feia de Rutinaldo Miranda Batista, a arte de Roberto Burle Marx. a xilogravura de Severino Borges, J. Miguel & Vermelho aqui.
Entre nós, vivo você, as gravuras de Lasar Segall, a música de Sivuca, Cartilha do cantador de Aleixo Leite Filho, Cancão de fogo de Jairo Lima, a poesia de Belarmino França, a arte de Luciah Lopez, a xilogravura de J. Borges & José Costa Leite aqui.
Dos bichos de todas as feras e mansas, Cantadores de Leonardo Mota, O Romance da Besta Fubana de Luiz Berto, O martelo alagoano de Manoel Chelé, a música do Duo Backer, a escultura de Antoni Gaudí, a militância de Brigitte Mohnhaupt, a arte de Natalia Fabia & a xilogravura de J. Borges aqui.
Quem desiste jamais saberá o gosto de qualquer vitória, A linguagem & as ciências de Roman Jakobson, Nos caminhos de Swan de Marcel Proust, a arte de Regina José Galindo, a fotografia de Thomas Karsten, a pintura de Henry Asencio, a música de Secos & Molhados & Luiza Possi aqui.
Tudo em mim, mestiço sou, O povo brasileiro de Darcy Ribeiro, A história da minha vida de Helen Keller, Anarquismo & ensaios de Emma Goldman, a escultura de Luiz Morrone, a fotografia de Pisco Del Gaiso, Os Fofos Encenam & Viviane Madu, a música de Guilhermina Suggia & a pintura de Martin Eder aqui.
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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Imagem: Reclining Nude with Book (1927), da pintora art déco polaca Tamara de Lempicka (1898-1980).
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