domingo, junho 21, 2015

SHAKESPEARE, SARTRE, MACHADO, ADELIA PRADO, DEODATO, GODARD, STAGIUM & SCLIAR.


QUESTÃO DE MÉTODO – O livro Questão de método (1967 - Difusão Europeia do Livro, 1972), do filósofo, escritor e crítico francês Jean-Paul Sartre (1905-1980), aborda temas sobre o marxismo e o existencialismo, o problema das mediações e das disciplinas auxiliares, o método progressivo-regressivo, tratando-se de uma obra em que o autor se define existencialista e não marxista, mantendo uma posição crítica quando à filosofia marxiana, reconhecendo, porém, a importância da filosofia marxista, ao considera-la como a filosofia do seu tempo, resultado de condições econômicas e sociais que ainda não foram superadas: [...] o marxismo [...] permanece, pois, a filosofia de nosso tempo: é insuperável, pois as circunstâncias que o engendraram não foram ainda superadas [...]. Sobre a obra o autor menciona que: [...] Questão do método é uma obra de circunstância: é o que explica seu caráter um pouco híbrido; e é por esta razão também que os problemas nela aparecem sempre abordados de viés. [...] O conhecimento é um modo do ser, mas, na perspectiva materialista, não se pode pensar em reduzir o ser ao conhecido. Não importa: a antropologia permanecerá um amontoado conjunto de conhecimentos empíricos, de induções positivistas e de interpretações totalizantes, enquanto não tivermos estabelecido a legitimidade da razão dialética, isto é, enquanto não tivermos adquirido o direito de estudar um homem, um grupo de homens ou um objeto humano na totalidade sintética de suas significações e de seus referências à totalização em curso, enquanto não tivermos estabelecido que todo conhecimento parcial ou isolado desses homens ou de seus produtos deve ser superado em direção da totalidade ou ser reduzido a um erro por parcialidade. Nossa tentativa será, pois, crítica na medida em que tentará determinar a validade e os limites da razão dialética, o que resulta em marcar as oposições e os elos desta razão com a razão analítica e positivista. Mas ela deverá, além disto, ser dialética, pois a dialética é a única instancia competente quando se trata dos problemas dialéticos [...]. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

Imagem do desenhista, gravurista, pintor, ilustrador, cenógrafo, roteirista e designer gráfico brasileiro Carlos Scliar (1920-2001)

Curtindo Eumir Deodato Trio ao vivo (Biscoito Fino, 2007), do pianista, compositor e produtor musical Eumir Deodato.

VAMOS APRUMAR A CONVERSA? PROGRAMA BRINCARTE DO NITOLINO – Neste domingo, a partir das 10hs, mais uma edição do programa Brincarte do Nitolino pras crianças de todas as idades, no blog do Projeto MCLAM & do programa Domingo Romântico. Na programação especialmente realizada para todos os que vivem a criança no seu coração e comandada pela Ísis Corrêa Naves muitas atrações: Cecília Meireles, Os Meninos Cantores de Viena, Mariangela Zan & Orquestra Feminina Viola de Saia, Turma da Mônica, As Meninas Cantoras de Petrópolis, O Jacaré e a Princesa, Os Canarinhos de Petrópolis, Alda Casqueira Fernandez, Coral Infantil da Rocinha, As Viagens de Oliva, Sandra Fayad, O menino da beira do rio, Meimei Corrêa, O Menino Azul, Eliana & muita música, muita poesia, histórias e brincadeiras pra garotada. Para conferir ao vivo e online clique aqui ou aqui.

A CARTOMANTE – No livro Várias histórias (W. M. Jackson Inc, 1938), do escritor Machado de Assis (1839-1908), encontrei o conto A cartomante, o qual destaco o seguinte trecho:  [...] A cartomante fê-lo sentar diante da mesa, e sentou-se do lado oposto, com as costas para a janela, de maneira que a pouca luz de fora batia em cheio no rosto de Camilo. Abriu uma gaveta e tirou um baralho de cartas compridas e enxovalhadas. Enquanto as baralhava, rapidamente, olhava para ele, não de rosto, mas por baixo dos olhos. Era uma mulher de quarenta anos, italiana, morena e magra, com grandes olhos sonsos e agudos. Voltou três cartas sobre a mesa, e disse-lhe: — Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. O senhor tem um grande susto... Camilo, maravilhado, fez um gesto afirmativo. — E quer saber, continuou ela, se lhe acontecerá alguma coisa ou não... — A mim e a ela, explicou vivamente ele. A cartomante não sorriu; disse-lhe só que esperasse. Rápido pegou outra vez as cartas e baralhou-as, com os longos dedos finos, de unhas descuradas; baralhou-as bem, transpôs os maços, uma, duas, três vezes; depois começou a estendê-las. Camilo tinha os olhos nela, curioso e ansioso. — As cartas dizem-me... Camilo inclinou-se para beber uma a uma as palavras. Então ela declarou-lhe que não tivesse medo de nada. Nada aconteceria nem a um nem a outro; ele, o terceiro, ignorava tudo. Não obstante, era indispensável mais cautela; ferviam invejas e despeitos. Falou-lhe do amor que os ligava, da beleza de Rita... Camilo estava deslumbrado. A cartomante acabou, recolheu as cartas e fechou-as na gaveta. — A senhora restituiu-me a paz ao espírito, disse ele estendendo a mão por cima da mesa e apertando a da cartomante. Esta levantou-se, rindo. — Vá, disse ela; vá, ragazzo innamorato... E de pé, com o dedo indicador, tocou-lhe na testa. Camilo estremeceu, como se fosse mão da própria sibila, e levantou-se também. A cartomante foi à cômoda, sobre a qual estava um prato com passas, tirou um cacho destas, começou a despencá-las e comê-las, mostrando duas fileiras de dentes que desmentiam as unhas. Nessa mesma ação comum, a mulher tinha um ar particular. Camilo, ansioso por sair, não sabia como pagasse; ignorava o preço. — Passas custam dinheiro, disse ele afinal, tirando a carteira. Quantas quer mandar buscar? — Pergunte ao seu coração, respondeu ela. Camilo tirou uma nota de dez mil-réis, e deu-lha. Os olhos da cartomante fuzilaram. O preço usual era dois mil-réis. — Vejo bem que o senhor gosta muito dela... E faz bem; ela gosta muito do senhor. Vá, vá tranqüilo. Olhe a escada, é escura; ponha o chapéu... A cartomante tinha já guardado a nota na algibeira, e descia com ele, falando, com um leve sotaque. Camilo despediu-se dela embaixo, e desceu a escada que levava à rua, enquanto a cartomante alegre com a paga, tornava acima, cantarolando uma barcarola. Camilo achou o tílburi esperando; a rua estava livre. Entrou e seguiu a trote largo. Tudo lhe parecia agora melhor, as outras cousas traziam outro aspecto, o céu estava límpido e as caras joviais. Chegou a rir dos seus receios, que chamou pueris; recordou os termos da carta de Vilela e reconheceu que eram íntimos e familiares. Onde é que ele lhe descobrira a ameaça? Advertiu também que eram urgentes, e que fizera mal em demorar-se tanto; podia ser algum negócio grave e gravíssimo. — Vamos, vamos depressa, repetia ele ao cocheiro. E consigo, para explicar a demora ao amigo, engenhou qualquer cousa; parece que formou também o plano de aproveitar o incidente para tornar à antiga assiduidade... De volta com os planos, reboavam-lhe na alma as palavras da cartomante. Em verdade, ela adivinhara o objeto da consulta, o estado dele, a existência de um terceiro; por que não adivinharia o resto? O presente que se ignora vale o futuro. Era assim, lentas e contínuas, que as velhas crenças do rapaz iam tornando ao de cima, e o mistério empolgava-o com as unhas de ferro. Às vezes queria rir, e ria de si mesmo, algo vexado; mas a mulher, as cartas, as palavras secas e afirmativas, a exortação: — Vá, vá, ragazzo innamorato; e no fim, ao longe, a barcarola da despedida, lenta e graciosa, tais eram os elementos recentes, que formavam, com os antigos, uma fé nova e vivaz. A verdade é que o coração ia alegre e impaciente, pensando nas horas felizes de outrora e nas que haviam de vir. Ao passar pela Glória, Camilo olhou para o mar, estendeu os olhos para fora, até onde a água e o céu dão um abraço infinito, e teve assim uma sensação do futuro, longo, longo, interminável. Daí a pouco chegou à casa de Vilela. Apeou-se, empurrou a porta de ferro do jardim e entrou. A casa estava silenciosa. Subiu os seis degraus de pedra, e mal teve tempo de bater, a porta abriu-se, e apareceu-lhe Vilela. — Desculpa, não pude vir mais cedo; que há? Vilela não lhe respondeu; tinha as feições decompostas; fez-lhe sinal, e foram para uma saleta interior. Entrando, Camilo não pôde sufocar um grito de terror: — ao fundo sobre o canapé, estava Rita morta e ensanguentada. Vilela pegou-o pela gola, e, com dois tiros de revólver, estirou-o morto no chão. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

COM LICENÇA POÉTICA & OUTROS VERSOS – O livro Bagagem (Imago, 1975), da escritora, professora e filósofa Adélia Prado, é dividido em cinco partes que compreendem: O modo poético, Um jeito de amor, A sarça ardente (I e II) e Alfandega. Sua poesia ressalta a sua metapoética e condição feminina, com temas sobre o amor, erotismo, cotidiano, relações familiares, memórias, religiosidade. Inicialmente destaco o seu Com licença poética: Quando nasci um anjo esbelto, / desses que tocam trombeta, anunciou: / vai carregar bandeira. / Cargo muito pesado pra mulher, / esta espécie ainda envergonhada. / Aceito os subterfúgios que me cabem, / sem precisar mentir. / Não tão feia que não possa casar, / acho o Rio de Janeiro uma beleza e / ora sim, ora não, creio em parto sem dor. / Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina. / Inauguro linhagens, fundo reinos / (dor não é amargura). / Minha tristeza não tem pedigree, / já a minha vontade de alegria, / sua raiz vai ao meu mil avô. / Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem. / Mulher é desdobrável. Eu sou. Outro de seus poemas é Grande Desejo: Não sou matrona, mãe dos Gracos, Cornélia, / sou mulher do povo, mãe de filhos, Adélia. / Faço comida e como. / Aos domingos bato o osso no prato pra chamar cachorro / e atiro os restos. / Quando dói, grito ai. / quando é bom, fico bruta, / as sensibilidades sem governo. / Mas tenho meus prantos, / claridades atrás do meu estômago humilde / e fortíssima voz pra cânticos de festa. / Quando escrever o livro com o meu nome / e o nome que eu vou pôr nele, vou com ele a uma igreja, / a uma lápide, a um descampado, / para chorar, chorar, e chorar, / requintada e esquisita como uma dama. Por fim, o belo Dona Doida: Uma vez, quando eu era menina, choveu grosso / com trovoadas e clarões, exatamente como chove agora. / Quando se pôde abrir as janelas, / as poças tremiam com os últimos pingos. / Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema, / decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos. / Fui buscar os chuchus e estou voltando agora, / trinta anos depois.  Não encontrei minha mãe. / A mulher que me abriu a porta, riu de dona tão velha, / com sombrinha infantil e coxas à mostra. / Meus filhos me repudiaram envergonhados, / meu marido ficou triste até a morte, / eu fiquei doida no encalço. / Só melhoro quando chove. Veja mais aqui.

SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO – A comédia Sonho de uma Noite de Verão (A Midsummer Night's Dream, 1590), do poeta, dramaturgo e ator inglês William Shakespeare (1564-1616), conta a história da preparação do casamento do Duque Teseu com Hipólita, sucedendo-se uma série de acontecimentos que envolvem Helena, Hérmia, Demetrio e Lisandro que adormecem na floresta enquanto os artífices ensaiam a história de Píramo e Tisbe, causando grande prazer aos convidados. O ato termina com uma dança. À meia-noite os recém-casados se retiram, Oberom e Titânia vão para seus palácios, deixando Puck para apresentar desculpas e pedir os aplausos da plateia. Destaco o trecho a seguir: [...] CENA 2 Entra Puck PUCK- Nesta hora escura, em que apenas os leões rugem na mata, os lobos uivam para a lua e piam as corujas agourentas, nós, os elfos, estamos alertas. Quando brilha o sol, nos escondemos. Na frente de todos eles eu vim a este palácio, de vassoura na mão, para limpar o batente da entrada afastando todo o mal que puder rondar a casa. (Entram Oberon, Titânia e séqüito.) OBERON- Espalhem luz por toda parte! Elfos e fadas, dancem e cantem, aproveitando o clarão! TITÂNIA- Sigam a melodia e, dançando com graça, vamos abençoar esta casa! (Cantam e dançam.) OBERON- Antes que chegue a aurora, vou abençoar o leito principal deste palácio. Para que as crianças aqui nascidas sejam sempre venturosas. Para que os três casais que aqui estão vivam sempre em harmonia. Para que seus filhos sejam saudáveis, não tenham defeitos e vivam sempre felizes e em paz. Que cada elfo cumpra a sua parte lançando algumas gotas de orvalho! Mãos à obra! Antes da aurora, encontremo-nos todos no bosque! (Saem Oberon, Titânia e séqüito.) PUCK- Caros espectadores! Espero que não tenhamos lhes causado nenhum enfado. Se por acaso não acreditarem em tudo o que se viu nesta encenação, pensem que estiveram a sonhar e que tudo não passou de um sonho estranho... de um sonho que apesar dos desencontros termina cheio de felicidade... de um sonho de uma noite de verão! (Sai.). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

NOSSA MÚSICA – O drama Notre Musique (Nossa Música, 2004), realizado pelo cineasta franco-suiço Jean-Luc Godard, é dividido em três partes que remetem à Divina Comédia, de Dante Alighieri (1265-1321): Inferno, Purgatório e Paraís. No Inferno, imagens de guerra oriundas tanto de documentários quanto de filmes de ficção: aviões, tanques e navios, explosões, execuções, populações em fuga, campos e cidades devastados por bombas lançadas indiscriminadamente. Imagens silenciosas, quatro frases, quatro peças musicais. No Purgatório, na cidade de Sarajevo contemporânea, personagens reais e imaginárias, representando a passagem da culpa ao perdão. No Paraíso, uma jovem mulher, que foi vista no Purgatório, e que encontra paz à beira de água, numa pequena praia guardada por fuzileiros navais norte-americanos. O destaque do filme vai para a atriz francesa Sarah Adler e para a atriz belga Nade Dieu. Veja mais aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA
Espetáculo Tangamente (1996), da Companhia Ballet Stagium, com músicas de Astor Piazzolla, Carlos Gardel e Le Pera, coreografado por Decio Otero e dirigido por Marika Gidali.

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Veja mais sobre:
Quando tudo é manhã do dia pra noite, Agonia da noite de Jorge Amado, Posthuman bodies de Halbertam & Livingstone, a música de Bizet & Adriana Damato, Folclore musical de Wagner Ribeiro, a pintura de Aleksandr Fayvisovich & Bryan Thompson, a fotografia de Christian Coigny, a arte de Mirai Mizue & Luciah Lopez aqui.

E mais:
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Preconceito, ó! Xô pra lá, Diários de viagem de Franz Kafka, Cantos de Giacomo Leopardi, A revolta de Atlas de Ayn Rand, a música de Leoš Janáček & Cheryl Barker, o cinema de Alessandro Blasetti & Sophia Loren, Jacques Lacan & Maguerite Anzieu: o caso Aimée, a arte de Liliana Castro, a pintura de Helmut Breuninger & Hermann Fenner-Behmer aqui.
Todo dia é dia da mulher, O processo de Franz Kafka, a música de Leoš Janáček, a pintura de Anna Chromý, a arte de Ibys Maceioh & Karyme Hass aqui.
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A lenda do açúcar e do álcool, Educação não é privilégio de Anísio Teixeira, História da filosofia de Wil Durant, a música de Yasushi Akutagawa, Não há estrelas no céu de João Clímaco Bezerra, Cumade Fulôsinha de Menelau Júnior, Maria Flor de João Pirahy & a arte de Madison Moore aqui.
Cruzetas, os mandacarus de fogo, Concepção dialética da história de Antonio Gramsci, O escritor e seus fantasmas de Ernesto Sábato, Sob os céus dos trópicos de Olavo Dantas, a pintura de Eliseo Visconti & Benício, a fotografia de Rita-Barreto & a arte de Rosana Sabença aqui.
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O feitiço da naja: a tocaia & o bote, Sistemas de comunicação popular de Joseph Luyten, Palmares & o coração de Hermilo Borba Filho, Porta giratória de Mário Quintana, a música de Vanessa Lann, o teatro de Liz Duffy Adams, a pintura de Joerg Warda & a arte de Luciah Lopez aqui.
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