segunda-feira, junho 01, 2015

MORIN, RUBIÃO, GENET, FASSBINDER, MARILYN, MORISSETE, GAINSBOROUGH, FERNANDO FIORESE, MEMEI CORRÊA & IMPRENSA BRASILEIRA.


VAMOS APRUMAR A CONVERSA? – O dia amanhece. Contemplo o Sol e o horizonte escancarado para minha realização. Então, canto e entoando a canção sobre os versos de Fernando FioresePorque cantar já não muda em manhã -, mais incorporo o poder de insistir, persistir, resistir e perseverar. Dedilhando os acordes da canção, recito Meimei Corrêa: "Minha palavra louca explode sem mesmo sair da boca, sai do coração, é mina em explosão, sem conter silêncios, provoca cada vez mais incêndios, não se reduz, porque reluz em sua direção. Sua palavra apouca, o coloca em falta, ela se escorrega peralta e se perde no labirinto do que eu sinto; se soa e ecoa, é canivete que corta, quando nem tanta coisa importa, o erro se repete e nada descreve a sua ou a minha falta. E quando surge a manhã, a palavra ainda está muda e se faz também surda, diante dos gritos inauditos das madrugadas que se perderam... Sou dona do que calo, escrava do que falo... E quero mais me escravizar mesmo pelo que não consigo expressar; palavras são palavras, pequenas diante das verdades que me fazem senhora do que não digo e se vou ou se fico, chego sem mesmo ir, me perco, me acho, me encaixo nas manhãs do seu desejo a me possuir". Veja mais aqui, aqui e aqui.

Imagem: Musidora, do célebre pintor do Arcadismo inglês Thomas Gainsborough (1828-1788)

Curtindo Live at Montreux (Havoc and Bright Lights – Guardian Angel Tour) – Montreux Jazz Festival, Switzerland (2013), da cantora, compositora, produtora e atriz canadense Alanis Morissete.

PENSAMENTO COMPLEXO – A obra Introdução ao pensamento complexo (Sulina, 2005), do antropólogo, sociólogo e filósofo francês Edgar Morin, aborda tema como a inteligência cega, a tomada de consciência, o problema da organização do conhecimento, a patologia do saber, a necessidade do pensamento complexo, a Indo-américa, a teoria sistêmica, o sistema aberto, o sujeito e o objeto, coerência e abertura epistemológica, scienza nuova, a integração das realidades banidas pela ciência clássica, a virada paradigmática, o paradigma complexo e simplificador, ordem e desordem no universo, necessidade dos macroconceitos, o todo está na parte que está no todo, da auto-organização à auto-eco-organização, viver e lidar com a desordem, epistemologia da complexidade, os mal-entendidos, a migração dos conceitos, entre outros assuntos. Destaco o texto introdutório: [...] A palavra complexidade só pode exprimir nosso incômodo, nossa confusão, nossa incapacidade para definir de modo simples, para nomear de modo claro, para ordenar nossas idéias. O conhecimento científico também foi durante muito tempo e com freqüência ainda continua sendo concebido como tendo por missão dissipar a aparente complexidade dos fenômenos a fim de revelar a ordem simples a que eles obedecem. Mas se resulta que os modos simplificadores de conhecimento mutilam mais do que exprimem as realidades ou os fenômenos de que tratam, torna-se evidente que eles produzem mais cegueira do que elucidação, então surge o problema: como considerar a complexidade de modo não simplificador? Este problema, entretanto, não pode se impor de imediato. Ele deve provar sua legitimidade, porque a palavra complexidade não tem por trás de si uma nobre herança filosófica, científica ou epistemológica. Ela suporta, ao contrário, uma pesada carga semântica, pois que traz em seu seio confusão, incerteza, desordem. Sua primeira definição não pode fornecer nenhuma elucidação: é complexo o que não pode se resumir numa palavra-chave, o que não pode ser reduzido a uma lei nem a uma ideia simples. Em outros termos, o complexo não pode se resumir à palavra complexidade, referir-se a uma lei da complexidade, reduzir-se à ideia de complexidade. Não se poderia fazer da complexidade algo que se definisse de modo simples e ocupasse o lugar da simplicidade. A complexidade é uma palavra-problema e não uma palavra-solução. [...] Em toda a minha vida, jamais pude me resignar ao saber fragmentado, pude isolar um objeto de estudo de seu contexto, de seus antecedentes, de seu devenir. Sempre aspirei a um pensamento multidimensional. Jamais pude eliminar a contradição interna. Sempre senti que verdades profundas, antagônicas umas às outras, eram para mim complementares, sem deixarem de ser antagônicas. Jamais quis reduzir à força a incerteza e a ambiguidade. [...] Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

O PIROTÉCNICO ZACARIAS – O livro O pirotécnico Zacarias (Ática, 1974), do escritor, advogado, professor e jornalista Murilo Rubião (1916-1991), é composto de oito contos que se inserem no gênero fantástico com narrativas que se dimensionam o onírico, situações absurdas e valorização do sobrenatural. Da obra destaco trecho do conto homônimo: [...] Ao clarear o dia, saí da semiletargia em que me encontrava. Alguém me perguntava onde eu desejava ficar. Recordo-me que insisti em descer no cemitério, ao que me responderam ser impossível, pois àquela hora ele se encontrava fechado. Repeti diversas vezes a palavra cemitério. (Quem sabe nem chegasse a repeti-la, mas somente movesse os lábios, procurando ligar as palavras às sensações longínquas do meu delírio policrômico.) Por muito tempo se prolongou em mim o desequilíbrio entre o mundo exterior e os meus olhos, que não se acomodavam ao colorido das paisagens estendidas na minha frente. Havia ainda o medo que sentia, desde aquela madrugada, quando constatei que a morte penetrara no meu corpo. Não fosse o ceticismo dos homens, recusando-se aceitar-me vivo ou morto, eu poderia abrigar a ambição de construir uma nova existência. Tinha ainda que lutar contra o desatino que, às vezes, se tornava senhor dos meus atos e obrigava-me a buscar, ansioso, nos jornais, qualquer notícia que elucidasse o mistério que cercava o meu falecimento. Fiz várias tentativas para estabelecer contato com meus companheiros da noite fatal e o resultado foi desencorajador. E eles eram a esperança que me restava para provar quão real fora a minha morte. No passar dos meses, tornou-se menos intenso o meu sofrimento e menor a minha frustração ante a dificuldade de convencer os amigos de que o Zacarias que anda pelas ruas da cidade é o mesmo artista pirotécnico de outros tempos, com a diferença de que aquele era vivo e este, um defunto. Só um pensamento me oprime: que acontecimentos o destino reservará a um morto se os vivos respiram uma vida agonizante? E a minha angústia cresce ao sentir, na sua plenitude, que a minha capacidade de amar, discernir as coisas, é bem superior à dos seres que por mim passam assustados. Amanhã o dia poderá nascer claro, o sol brilhando como nunca brilhou. Nessa hora os homens compreenderão que, mesmo à margem da vida, ainda vivo, porque a minha existência se transmudou em cores e o branco já se aproxima da terra para exclusiva ternura dos meus olhos. [...] Veja mais aqui.

AS CRIADAS – A peça teatral As criadas (Les Bonnes, 1946-47), do controverso escritor e dramaturgo francês Jean Genet (1910-1986), traz a histórias de duas irmãs que empregadas domesticas que executam elaborados rituais sadomasoquistas que levam a um jogo com desfecho trágico. Da obra destaco o trecho: [...] CLAIRE: Solange! Solange! Solange! SOLANGE: Berre à vontade! Pode até lançar seu grito derradeiro, Madame! (Empurra Claire, que fica agachada num canto) Enfim! Madame está morta! Estendida no linóleo ... Estrangulada pelas luvas de lavar panelas. Madame pode permanecer sentada! Madame pode me chamar de senhorita Solange. Justamente. É por causa do que eu fiz. Madame, o doutor me chamará Senhorita Solange Lemercier ... Madame devia ter tirado esse vestido preto, é grotesco. (Imita a voz de Madame) Eis-me aqui reduzida, por luto a minha criada. A saída do cemitério, todos os empregados do bairro desfilavam diante de mim como se eu fosse alguém da família. Tantas vezes fiz de conta que ela pertencia à família. Vai ver que a morte levou esse gracejo até as últimas conseqüências. Oh! Madame, sou sua igual Madame, e ando de cabeça erguida ... (Ri) Não, senhor inspetor, não ... o senhor não saberá nada sobre o meu trabalho. Nada sobre o nosso trabalho em comum. Nada sobre a nossa colaboração para esse assassinato ... Os vestidos? Oh! Madame pode guardá-los. Minha irmã e eu tínhamos os nossos. Aqueles que vestíamos a noite, escondida. Agora tenho meu vestido e sou sua igual. Estou com a toalete vermelha das criminosas. Faço rir o doutor? Faço o doutor sorrir? Ele pensa que as criadas devem ter bom gosto de não fazerem gestos que estão reservados à Madame! Verdade que me perdoa? É a bondade em pessoa. Quer competir comigo em grandeza. Mas a que eu conquistar é a mais selvagem ... Madame começa a perceber minha solidão! Finalmente! Agora estou sozinha, medonha. Podia lhe falar com crueldade, mas posso ser boa. Seu medo vai passar, Madame. Vai passar completamente. No meio das suas flores, seus perfumes, seus vestidos. Aquele vestido branco que a senhora usava à noite no baile da ópera, aquele vestido branco que eu não deixo ela vestir nunca. E no meio das suas jóias, dos seus amantes. Quanto a mim, tenho, minha irmã. Sim, ouso falar nela. Ouso, Madame. Posso ousar tudo. E quem poderia me fazer falar? Quem teria a coragem de me dizer: “minha filha”? Eu servi. Fiz os gestos que são necessários para servir. Sorri para Madame. Me abaixei para lavar os ladrilhos, me abaixei para fazer a cama, me abaixei para descascar legumes, para escutar atrás das portas, colar meu olho nas fechaduras. Mas agora estou de pé. E firme. Sou a estranguladora. A senhorita Solange, aquela que estrangulou a irmã! Me calar! Madame é mesmo delicada. Mas tenho pena da brancura da Madame, da sua pele acetinada, das suas orelhinhas, dos seus pulsinhos ... Eu sou a galinha preta, tenho os meus juízes. Sou da polícia ... Claire? Ela gostava muito, muito mesmo da Madame! ... Não senhor inspetor, diante deles não explico nada. Essas coisas só interessam a nós ... Aquilo, minha filha, a nossa noite, nossa! (Acende um cigarro e fuma desajeitadamente. A fumaça a faz tossir) Nem vocês nem ninguém vai saber nada, senão que desta vez Solange foi até o fim. Vocês a estão vendo vestida de vermelho. Ela vai sair. (Solange se dirige para a janela, abre-a e sobe a sacada, de costas para o público, encarando a noite. Dirá a retirada seguinte. Um vento leve faz ondular as cortinas) Sair. Descer a grande escadaria! A polícia a acompanha. Saiam à sacada para vê-la seguir entre os negros penitentes.É meio-dia. E, assim, leva na mão uma tocha de nove libras. Logo atrás, o carrasco segreda-lhe ao ouvido palavras de amor. O carrasco me acompanha, Claire! (Ri) Ela será conduzida em cortejo por todas as criadas do bairro, por todos os domésticos que acompanharam Claire à sua última morada. (Olha para fora) Levam coroas, flores, bandeirolas, tocam o dobre de finados. O enterro desdobra sua pompa. Lindo, não. Vêm primeiro os mordomos, de fraque, sem forro de seda. Trazem suas coroas. Depois os criados de libré, os lacaios de culote curto e meias brancas. Trazem suas coroas. Vêm depois os camareiros e depois as arrumadeiras, trazendo as nossas cores. Vêm os porteiros e vêm ainda, as delegações do céu. E eu as conduzo. O carrasco me embala. Todos clamam. Estou pálida e vou morrer! (Entra) Quantas flores! Deram-lhe um lindo enterro, não. Oh! Claire, minha pobrezinha Claire! (Rompe em soluços e se afunda numa poltrona. Levanta-se de novo) Não adianta, Madame, obedeço à polícia. Só ela me compreende. Ela também é do mundo dos réprobos. (Debruçada na ombreira da porta da cozinha, Claire visível só para o público, desde há instantes ouve sua irmã) Agora somos a senhorita Solange Lemercier. A mulher Lemercier. A Lemercier. A célebre criminosa. (Cansada) Claire, nós estamos perdidas. CLAIRE: (Dolente, com a voz da Madame) Fecha a janela e corra a cortina. SOLANGE: Já é tarde. Todo mundo foi dormir. Não vamos continuar. CLAIRE: (Faz com a mão um gesto de silêncio) Claire, você vai me servir um chá. SOLANGE: Mas...  CLAIRE: Eu estou dizendo, meu chá.  SOLANGE: Estamos mortas de cansaço. Temos de parar. (Senta-se na poltrona) CLAIRE: Ah! Absolutamente! Não! Então pensa, criadinha, que se safa assim à toa? Seria fácil demais conspirar com o vento, ser cúmplice da noite. SOLANGE: Mas CLAIRE: Não discuta. É a mim que compete dispor destes minutos finais. Solange, tu me guardarás em ti. [...]. Essa peça foi adaptada para o cinema, The Maids (1974) pelo diretor Christhopher Miles. Veja mais aqui.

O CASAMENTO DE MARIA BRAUN – O premiado drama O casamento de Maria Braun (Die Ehe Der Maria Braun, 1978), do cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder (1945-1982), é uma das obras-primas do diretor que conta a história de uma mulher cujo casamento se transforma numa longa espera pela reunificação com o seu marido, que parte para a guerra, se perde na frente russa, é preso e emigra para a América. A trama inclui várias metáforas cinematográficas sobre a questão da identidade e as experiências do pós-guerra alemão, narrando o percurso de Maria Braun, desde o seu casamento apressado em 1943 e contando as várias fases da história da Alemanha, dos anos de guerra ao milagre econômico. Destaque para a atriz alemã Hanna Schygulla que arrebatou juntamente com o Urso de Ouro do filme, o Urso de Prata de melhor atriz no Festival de Cinema de Berlim, de 1979. Veja mais aqui e aqui.

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Hoje é dia da atriz, cantora, modelo e musa mundial Marilyn Monroe (1926-1962). Veja mais aqui.

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