sexta-feira, maio 22, 2015

SHAW, WAGNER, SOMADEVA, CASSATT, HERFURTH, DU BOIS & STRASBERG.


VAMOS APRUMAR A CONVERSA? – De antemão: aquele abraço! (com a trilha sonora de Gilberto Gil: “O Rio de Janeiro continua lindo...”). E aprumando a conversa: mesmo sabendo, como diz o memorável Nelson Rodrigues, que as pessoas não entendem o carinho porque desconfiadas levam pro campo da falsidade, mas captam e sacam logo a bofetada, a delicadeza é imprescindível. Isso leva a gente pra entender melhor a teoria do reforço vicariante de Albert Bandura: se na televisão só aparece agressões, se em casa a gente só vê ameaça na comunicação dos parentes, se na esquina brotam discussões arrepiadas com ofensas, desmoralizações e risco no chão (cara dum, cara doutro, quem não pisar é gafanhoto - só que com correrias de balas, facas ou escoriações), e se no frigir dos ovos, enfim, tudo é na base do vai ou racha - e do desafiador: me respeite! Você não sabe com quem está falando -, tanto se busca consensos que a gente só se depara com a plenitude do litígio. Ora, ora. Cadê o abraço? E a gentileza? Vamos desarmar: aquele abraço! Levar por menos dá menos prejuízo. E salve a diferença, a biodiversidade! Salve a ativista pela paz Betty Williams (Nobel da Paz, 1976). E pra você, pessoamiga, vou entoando a minha Crença: [...] É preciso respeitar as diferenças e não se equiparar ao que é hostil das desavenças. Lutar contra a mantença desigual que forja o algoz na força do poder irracional.  Se entregar agora, todo dia e a noite inteira, testemunhar assim as coisas verdadeiras. Colher a lágrima do olhar mais desolado para irrigar a sede do carinho devastado. É preciso ter no olhar a flor da vida, trazer a luz do sol nas mãos amanhecidas. E perceber o amor no menor gesto natural para valer o sonho mais presente mais real. E vamos aprumar a conversa! Aprume aqui.

Imagem: Reclining Nude, da pintora impressionista estadunidense Mary Cassatt (1844-1926)

Curtindo o álbum do ciclo compreendido pelas quatro óperas épicas Der Ring des Nibelungen (1848 - Deutsche Grammophon, 1994), do compositor, maestro, diretor de teatro e ensaísta alemão Richard Wagner (1813-1883), performed by the Metropolitan Opera Orchestra directed by James Levine.

A ESPADA DA DEUSA – No livro O oceano de rios de contos (Séc. XI), composta pelo monge sul indiano e pensador revolucionário Somadeva Suri (920-966), também autor da obra Upasakadyayana – uma seção do champu Yashastilaka –, do Nitivakyamrtam (Néctar da Ciência Polity) e do Yashastilaka, há a narrativa denominada A espada da deusa, da qual destaco os seguintes trechos na tradução de José Paulo Paes: [...] No comum desejo de chegarem a ter filhos, tato o rei como suas duas esposas ofereciam constantes sacrifícios a Ambica, jejuando amiúde e dormindo sobre duros leitos de darba. Conquista por essas devotas oferendas, a deusa, que sempre se mostra propicia aos homens piedosos, apareceu um dia em sonhos ao príncipe, entregou-lhe duas maçãs nunca vistas iguais na Terra e lhe disse: - Levanta-te, dá estas frutas de comer às tuas mulheres e terás dois filhos que assombrarão o mundo com as suas proezas. Ditas essas palavras, a figura da deusa desapareceu do sonho e quando o rei despertou, na manhã seguinte, viu, com gratíssima surpresa, que tinha em mãos as duas frutas que vira em sonhos. [...] Por mais adversa que a sorte se nos apresente, e por muito que os obstáculos nos tolham o passo, o homem nobre e generoso alcançará sempre o seu fim. Veja mais aqui.

PIGMALIÃO – A peça teatral em cinco atos Pigmalião (1913), do dramaturgo, escritor e jornalista irlandês Bernard Shaw (1856-1950), conta a história de uma mendiga que vende flores pelas ruas escuras de Londres e é transformada em mulher da alta sociedade. Da obra destaco o trecho inicial na tradução de Millôr Fernandes: Londres, às 11h15 da noite. Torrentes de chuva, grossa, de verão. Apitos frenéticos em todas as direções, chamando táxis. Pessoas correm, buscando abrigo no pórtico da igreja de São Paulo (não a catedral de Wren, a igreja de Inigo Jones, no mercado de legumes de Covent Garden). Entre essas estão uma senhora e sua filha, vestidas com roupas de gala. Todos contemplam a chuva com olhar desesperançado, exceto um homem que, de costas pro resto, está apenas preocupado com o que escreve num caderno de notas. O relógio da igreja bate um quarto de hora. Filha: (Encolhida no espaço entre as colunas centrais do pórtico.) Estou gelada até os ossos. Onde é que Freddy se meteu esse tempo todo? Saiu daqui há mais de meia hora. Mãe: (À direita da filha.) Que é isso? Não tem nem dez minutos. Está arranjando o táxi. Homem: (À direita da senhora.) Êli num vai pergá carro ninhum cum essi toró, num sinhora. Só lá pras meia-noite. Dispois do pensoal todu dus triatru i pra casa drumi. Mãe: Mas nós temos que arranjar um táxi. Não pode mos permanecer aqui, de pé, até à meia-noite. Não é possível que não haja um táxi. Homem: Num mi olha ansim não, madama. A curpa num é minha. Filha: Se Freddy tivesse um mínimo de iniciativa tinha pegado um táxi na porta do teatro. Mãe: O que é que o rapaz podia fazer com aquela multidão? Filha: A multidão toda pegou táxi. Só ele é que não. (Freddy se materializa no meio da chuva, vindo do lado da rua Southampton. Vem fechando um guarda-chuva. Está todo molhado. É um rapaz de vinte anos, já com acentuada gordura na cintura. Veste smoking.) Filha: Quer dizer que você não arranjou um táxi? Freddy: Nem com dinheiro, nem com conversa. Mãe: Ah, Freddy, não é possível. Você desistiu logo! Tem que haver um táxi. Filha: Coisa mais cansativa. Você quer que eu e mamãe saiamos correndo por aí atrás de um carro? Freddy: Eu já disse; estão todos ocupados. A chuva caiu de repente; ninguém estava preparado; todo mundo correu pros táxis. Fui até Charing Cross e, depois, pro outro lado, andei até Ludgate Circus; não passou um táxi vazio. Mãe: Você tentou na praça Trafalgar? Freddy: Lá é que não tem mesmo nenhum. Nem vazio nem cheio. Mãe: Você foi até lá? Freddy: Fui até a estação de Charing Cross, já disse. A senhora queria que eu andasse até Westminter? Era melhor ir a pé pra casa. Filha: Você desiste com uma facilidade. Mãe: Você é mesmo tão sem expediente, Freddy. Procura de novo, de qualquer maneira; e não me volta aqui sem um táxi. Freddy: Vou me ensopar à toa. Bem, eu que me sacrifique. Filha: E nós; vamos ficar a noite inteira aqui, nesta ventania, só com essa roupinha no corpo? Que egoísmo, meu Deus... Freddy: Está bem, eu vou, eu vou. Eu já disse, eu vou. (Abre o guarda-chuva.) Lá vou eu. (Sai correndo na direção de Strand, mas colide com uma florista que vem correndo em direção contrária, procurando abrigo. Joga o cesto dela no chão. Um fulgor de raio, seguido pelo estrondo de um trovão, orquestra e ilumina o incidente.) [...] A obra foi adaptada para o cinema como o nome de My Fair Lady (Minha Bela Dama, 1964). Veja mais aqui e  aqui.

POEMAS: VENTOS, LER & DOS ENCANTAMENTOS – Tive um prazer enorme ao conhecer o excelente blog Poemas, do escritor gaúcho Pedro Du Bois, no qual ele reúne seus poemas e postagens. Ele foi vencedor do Premio Literário Livraria Asabeça pelo livro Os objetos e as coisas (Scortecci, 2005), e é membro da Academia Itapemense de Letras e do Clube dos Escritores Piracicaba. Da sua lavra destaco inicialmente o seu poema Ventos: Busco no vento / a invenção / da poeira suspensa / na inovação / do papel esvoaçante / na renovação / da terra revolvida / na entonação / do surdo canto do pássaro / caído em correntes aéreas / desfavoráveis ao voo / aos pássaros o vento / limita facilidades / para se locomoverem / quedas ensinam aos ventos / a dosagem das passagens. Também é meritório de registro o seu poema Ler: que mais / (além de ler) / posso fazer / nestes dias de inúteis notícias / de grades / e portas trancadas / onde pessoas / imobilizadas esperam / o passar das datas / na esperança de enriquecerem / no soar das trombetas populares? /eco-invadido (dis)penso o futuro / e me remeto / ao tempo imprevidente / onde canções não contam músicas / e letras trôpegas represam / acordes inconclusos / rasgo paredes no ocaso / fechado ao porvir melindroso dos iconoclastas / distribuídos em tribos entre deuses acostumados / aos pedidos e aos receberes de tão pouco / na leitura obtusa escondida em alforjes / viajo minha vida desinteressada / de progressos menores / e do chegar ao final / das obras (in)satisfeitas. Por fim, destaco Dos encantamentos: dos encantamentos tenho lembranças / em uníssimas cordas distendidas / nos corpos sobre a pedra no afago / com que o carrasco pensa usufruir / a dor do condenado no espasmo / que o arremete ao nada / dos encantamentos tenho a realidade / erma de dias isentos em claridades / na espera do corte de lascas de cimento / com a ponta dos dedos desprovidos / de vaidade e veleidade / dos encantamentos tenho o subterfúgio / em que as horas são substituídas / na ilusória atemporalidade do passado. Veja mais aqui.

DAS PARFUM – O romance O perfume (Das parfum – Record, 1985), do escritor alemão Patrick Süskind, conta a história de um homem do séc. XVIII, em Paris, que nasceu no meio de tripas de peixe atrás de uma banca, com um olfato apurado extraordinariamente e que não possui cheiro próprio. Sua mãe era uma peixeira que foi executada por infanticídios logo após seu nascimento. Por causa do seu olfato apuradíssimo, torna-se aprendiz de perfumista e passa a criar fragrâncias dos mais diversos aromas. A sua busca pelo perfume perfeito leva-o a cometer assassinatos contra mulheres que lhe chamavam atenção pelo odor, até o final da tragédia de sua vida. Essa obra foi adaptada para o cinema em 2006, com direção de Tom Tykwer, no qual se destaca o desempenho da bela atriz alemã Karoline Herfurth. O romance também inspirou o cantor, compositor e músico estadunidense Kurt Cobain (1967-1994), na canção Scentless Apprentice, gravada no álbum In Utero (1993), da banda Nirvana. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
Hoje é dia da memorável atriz estadunidense Susan Strasberg (1938-1999).


Veja mais sobre:
Mãe é mãe & Deus proteja a minha, a sua, a nossa & o da mãe-joana & e das mães (do guarda, do juiz de futebol e dos políticos) que são coitadas!, Inteligência emocional de John Gottman, o teatro de Máximo Gorki, a poesia de Jorge Tufic, a música de Caetano Veloso, Travessuras de mãe de Denise Fraga, a arte de Luciah Lopez , a pintura de Gustav Klimt & Lena Gal aqui.

E mais:
A literatura de Aníbal Machado, Teoria da alienação de István Mészarós, Semiologia da representação de André Helbo, o cinema de Roberto Rossellini & Anna Magnani, a música de Keith Jarret, Erótica pornográfica de J. J. Sobral, a pintura de Jean-Léon Gérome.& Almeida Junior aqui.
Direitos humanos fundamentais aqui.
A arte de Dhara - Maria Alzira Barros aqui.
Exercício de admiração de Emil Cioran. Abril despedaçado de Ismail Kadaré, O teatro de arte de Meyerhold, Fridha Khalo, A música de Badi Assad, A pintura de Karel Appel, Carlota Joaquina & Clube Caiubi de Compositores aqui.
Brincarte do Nitolino, Tratado lógico-filosófico de Ludwig Wittgenstein, o teatro futurista de Filippo Marinetti, a literatura de Azar Nafisi, a música de Nelson Freire, a pintura de Eugène Delacroix, Augustine de Charcot, a arte de SoKo, a fotografia de John De Mirjian, a cangaceira Dadá & O eco da trombeta de Maria Iraci Leal aqui.
A sina de Agar, A nascente de Ayn Rand, o teatro de Jean-Louis Barrault, Mundos oscilantes de Adalgisa Nery, a literatura de Anita Loos, a música de Cláudia Riccitelli & The Bossa Nova exciting Jazz Samba Rhythms, a pintura de Jose Gutierrez de la Vega & Amor como princípio de Delasnieve Daspet aqui.
Canto de circo de Osman Lins, a arte de Paul Éluard, a música de Paulo César Pinheiro, o teatro de Adolphe Appia, a poesia de Alberto de Oliveira, o cinema de Pedro Almodóvar & Penélope Cruz, a pintura de Francesco Hayez & José Malhoa, A travessia poética de Valéria Pisauro & Programa Tataritaritatá aqui.
Três poemas & a dança revelou o amor... aqui.
A dança dos meninos, a poesia de Manuel Bandeira & João Cabral de Melo Neto, A dançarina de Yasunari Kawabata, A dança poética de Amiri Baraka, A dançarina do Kama Sutra de Kama Sutra, de Vatsyayana, a música de Isabel Soveral & António Chagas Rosa, a pintura de Jose Manuel Abraham, Pas de Deux & a fotografia de M. Richard Kirstel, Dança Alagoas & Ary Buarque aqui.
O voo da mulher & mulheres no mundo, o teatro de Federico Garcia Lorca, Os adoradores de cabras de Gianni Guadalupi & Alberto Manguel, a música de Duke Ellington, o cinema de Lars von Trier & Nicole Kidman, a arte de Tatiana Parcero & Caco Galhardo, Como veio a primeira chuva & Pétalas do Silêncio de Rô Lopes aqui.
O dono da razão, a poesia de Murilo Mendes, Identidade e etnia de Carlos Rodrigues Brandão, Fundamentos da educação de Maria Sérgio Michaliszyn, a pintura de Mônica Alves Torres & Jules Pascin, a arte de Francisco Zúñiga & a música de Ju Martins aqui.
Não era pra ser, nem foi, Entre a vida e a morte de Nathalie Sarraute, a música de Galina Ustvolskaya, a fotografia de Takashi Aman, o ativismo de Emmeline Parnkhurst, o cinema de Sarah Gravon & Carey Mulligan, a gravura de Jean-Frédéric Maximilien de Waldeck, a arte de Paul-Émile Chabas & Carlos Alberto Santos aqui.
A esperança equilibrista, O espaço da cidadania de Milton Santos, Admirável mundo novo de Aldous Huxley, Os saberes da educação de Edgar Morin, a música de Vivaldi & Michala Petri, a fotografia de Andreas Feininger, a pintura de Gianluca Mantovani & Jose De la Barra, a arte de Daniele Lunghin & Dave Stevens aqui.
Eita! Vou por ali no que vem e que vai, a literatura de Ítalo Calvino, Os tempos da Praieira de Costa Porto, a poesia de Louise Glück, Neurofilosofia & Neurociências, a música de Edson Zampronha, Betina Muller & Mike Edwards, a arte de Laszlo Moholy-Nagy & Anke Catesby aqui.
O aperto que virou vexame trágico, As estratégias sensíveis de Muniz Sodré, a poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen, Tecnologias: memórias e esquecimentos de Maria Cristina Franco Ferraz, a fotografia de Alexander Yakovlev, a arte de William Mulready & Doris Savard, a pintura de Angelo Hasse, a música de Asaph Eleutério, Ricardo Loureiro & Rádio Estrada 55 aqui.
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