TEREZA DE
BENGUELA, A RAÍNHA QUARITERÊ – A viúva
d’África encheu meus olhos enquanto subia a Serra dos Parecis. Eu a vi no
Quariterê, divisa do Mato Grosso com a Bolívia, no Quilombo do Piolho. Ao resistir
à escravidão na colheita do algodão, milho, feijão, mandioca e banana,
tornou-se rainha fugitiva, passava nos barcos imponentes pelo rio Guaporé e
outras águas do pantanal, fugia de Vila Bela e às investidas do exército na
busca por escravos fujões. Reinou sobre o quilombo, negros e índios, meu
coração com todos. Ela foi capturada por bandeirantes a mando da capitania. Ela
foi exposta a uma prisão pública, privações e humilhações. Ela não se suicidou
depois, mesmo sob o chicote e o genocídio, a violência e o silêncio. Ela não se
calou. Ela foi assassinada e sua cabeça exposta como prêmio. O quilombo varrido
não aplacou o sangue de resistência contra a escravidão. Meu coração se foi com
ela, prantos quilombola para Teresa de Benguela, Rainha Guariterê (1700-1770).
DITOS &
DESDITOS - Cada nação faz seu próprio fogo e
come sua própria comida, e quer beneficiar os outros tanto quanto é útil para
si mesma... A tirania, por melhor
que seja, destrói o esforço e a autoconsciência da nação... Não, eles se
autodenominam "intelligentsia". Agora você pensa,
adivinhou que opinião essa intelectualidade desenvolverá sobre seu país? Que estrada você vai
escolher? Não podemos pedir-lhes um programa em ação, algo de acordo com as
necessidades da nossa vida, não podemos pedir-lhes uma opinião, uma ideia que
seja realmente útil e útil para o nosso país. Pensamento do escritor
georgiano Vazha-Pshavela (Luka Razikashvili - 1861-1915).
ALGUÉM FALOU: Estou com a revolta das mulheres no mundo árabe porque posso pensar
e praticar plenamente minha religião (como os homens). Além disso, estou em
dívida com minha filha para oferecer a ela uma vida honrada. Rezo sinceramente
pelo meu país e por todos os seus cidadãos, mesmo aqueles que fizeram muito
esforço para assediar minha família e eu. Pensamento da ativista saudita Loujain Alhathloul. Veja mais
aqui.
O MACHADO – [...] No funeral, o significado de todos
os funerais me foi revelado: eles são a preparação para a própria morte. O funcionário me perguntou se quatro
horas da tarde seria conveniente. Eu disse que sim. "É
uma boa hora", o balconista me assegurou. Era. [...] Uma fanática psicose de desprezo tomou conta de nós e a ela sucumbimos de
bom grado. Nela eu
reconheci o real, meu sentimento genuíno sobre esses festivais de trupes
internacionais de idiotas castrados e vacas conformistas rarefeitas. [...].
Trechos extraídos da obra The Axe (Northwestern
University Press, 1994), do escritor e jornalista tcheco Ludvík
Vaculík (1926-2015).
DOIS POEMAS – DIÁLOGO - Falei com você sobre o vaso de porcelana azul, \ sobre um livro que me
deram, \ sobre as ilhas Nippon, sobre um homem enforcado, \ falei com você, sei
lá, sobre qualquer coisa. \ Você me contou sobre o capim dos pampas com penas, \
sobre uma cidade onde não havia mais gente, \ sobre as estradas atravessadas
por uma ponte, \ sobre a crueldade daqueles que matam onças-pardas. \ Ele te
contou sobre uma longa cavalgada, \ sobre banhos de mar, sobre as alturas, \ sobre
uma flor, sobre algumas escrituras, \ sobre um olho em lata ex-voto.\ Falaste-me
de uma fábrica de espelhos, \ das ruas mais íntimas de Almagro, \ de mortes, da
morte de Meleagro. \ Não sei por que fomos tão longe.\ Temíamos cair
violentamente \no silêncio como num abismo \ e nos olhávamos laconicamente \ como
guerreiros armados frente a frente. \ E enquanto \ continuavam os catálogos de
longas e toscas enumerações, \ falávamos com muitas perfeições, \ não sei que
diálogos travessos e simultâneos. EM SEU JARDIM SECRETO EXISTEM MERCENÁRIOS - Em
teu jardim secreto há \ doçuras mercenárias, proclamações ávidas, \ crueldades
com corações sutis, \ há ladrões, sereias lendárias.\ Há benefícios em seu ar, \
perfeições arcanas solitárias se multiplicam. \ Eles mergulham em becos
estreitos, \ suas árvores com galhos arbitrários.\ Às vezes ouvia o rangido
frio \ de um portão que, ao ser fechado, me deixava \ prisioneiro, perdido,
sempre escravo.\ da tua felicidade que junto a um rio \ desceu entre as frondes
até um abismo \ de luz intermitente, com o teu exorcismo. Poemas da escritora argentina Silvina Ocampo (1903-1994). Veja
mais aqui e aqui.
A UTOPIA DE THOMAS MORE - Thomas More (ou
Thomas Morus, 1478- 1535) foi mártir, patrono dos advogados, Lorde Chanceler da
Inglaterra, escritor e filósofo, pensador humanista de origem inglesa e
representante das ideologias humanistas renascentistas do século XVI. Por ter pedido demissão do cargo ao rei, defendido Ana Bolena, uma das
esposas de Henrique VII, em 1533, se recusado a assistir a coroação do rei e
não prestando fidelidade aos seus descendentes, foi condenado a prisão perpétua
e, posteriormente, condenado à morte por crime de alta traição. Foi, por isso,
decapitado em 1535. Ao longo dos cinco séculos da obra, muitos sonhos com ideal
utópico de um mundo justo e igualitário foram alimentados por esse escrito,
comungados com o ideal da terra prometida bíblica, eldorado, Canaã, éden
terrestre.
A UTOPIA - Obra escrita em 1516, conta o
encontro do autor numa praça
frente à catedral, na Antuérpia, com seu amigo Pedro Gil que presenciam os
relatos da viagem do personagem Rafael Hitlodeu, viajante da expedição de
Américo Vespúcio ao continente hoje americano, apresentando uma ilha imaginária
onde todos conviviam em harmonia e em favor do bem comum, com liberdade
religiosa. Há que se entender que a palavra Utopia é deriva do grego ouk com sentido de negação e topos que traduz a ideia de lugar.
Adquire, pois, a palavra sentido de quimera, imaginário, sonho inalcançável.
Entretanto, para o autor que antagonizava com o feudalismo da época, a
sociedade ideal é aquela apresentada por Platão, em A República, e nos ideais de Tomás de Aquino, realizando com sua
obra uma critica social, religiosa e política da Inglaterra de Henrique VIII e o
seu Anglicanismo, num ataque amargo à sociedade do Renascimento
cristão europeu.
Na
primeira parte do livro, o autor descreve os problemas sociais da Europa,
dividida pelo egoísmo e ambição de poder e riqueza. Narra que na Utopia, as
leis são pouco numerosas; a administração distribui indistintamente seus
benefícios por todas as classes de cidadãos.
Na segunda parte do livro, dá-se a
descrição física da ilha, e o acontecimento histórico
sobre a conquista da terra por um sábio, o rei Utopus, que dá origem ao sistema
perfeito. Descreve a sociedade perfeita baseada na inexistência da
propriedade privada e na colocação das necessidades coletivas acima dos
interesses individuais, dividida por cidadãos livres e escravos que são os
prisioneiros de guerra ou criminosos condenados, hierarquia social definida
pela idade, mulheres com igualdade de direitos e a força produtiva baseada no trabalho
do cidadão livre.
Na parte Das Cidades da Utopia e
Particularmente de Amaurota,, narrando que todas as
cidades são praticamente iguais, então aqui será descrita somente a capital.
Amaurota fica às margens do rio Anidra e de outro pequeno rio que abastece a
cidade através de uma rede de canos de barro e cisternas. A cidade é cercada
por muralha e fossos. As ruas e praças são largas e espaçosas, as casas são de
posse comum e seus habitantes se mudam a cada dez anos.
Na parte Dos Magistrado, ele trata
acerca dos filarcas e da protofilarca que escolhem um príncipe que será vitalício, mas o príncipe pode ser deposto a qualquer momento que se
suspeite de tirania.
Na parte denominada de Artes e Oficios,
continua o autor tratando acerca da agricultura, vestuário, a divisão do
tempo entre o trabalho e o estudo.
Na parte Das relações mútuas
entre os cidadãos, o autor narra da composição das famílias, a autoridade familiar, os quatro hospitais com ótimo atendimento,
isolamento e estoque de remédios e dos escravos que são encarregados dos
trabalhos mais penosos.
Apresenta na parte Viagem dos
Utopianos o comércio e a riqueza do lugar, as.crenças espirituais dos utopianos
e seu interesse por leituras.
A parte dedicada aos Escravos,
informa que todos os prisioneiros de guerra e os criminosos condenados são
feitos escravos.
Na parte Da Guerra, tratando dos
soldados, dos vizinhos zapoletas qie são bárbaros, ferozes e selvagens, e da criação
dos rebanhos.
Já na parte Religiões da Utopia,
descreve sobre meditação e silêncio nos templos, a existência de materialistas e
a diversidade religiosa do lugar. Em oposição
ao materialismo ateu, existe um sistema inteiramente diferente e como não é
perigoso pode ser professado livremente. Eles acreditam que todos os seres
vivos têm alma e elas são imortais como a do homem. A maioria dos utopianos
acredita na vida após a morte. E por isso não temem morrer e chora-se pelos
doentes e nunca pelos mortos. Apesar das diferentes crenças, todas são
praticadas no mesmo templo. Sempre buscando a harmonia entre todas as
religiões.
Eis alguns
excertos capturados no livro:
[...] Há por
toda parte caminho para chegar a Deus [...] os príncipes cuidam somente da
guerra (arte que me é desconhecida e que não tenho nenhum desejo de conhecer).
Eles desprezam as artes benfazejas da
paz. Trata-se de conquistar novos reinados, e todos os meios lhe parecem bom; o
sagrado e o profano, o crime e o sangue, não os detêm. Em compensação,
ocupam-se muito pouco de bem administrar os Estados submetidos à sua dominação
[...] esses mandriões são uma sementeira inesgotável para o exercito. Com
efeito, os ladrões não são os piores soldados, como os soldados não são os
ladrões mais tímidos; há muita analogia entre esses dois ofícios. Infelizmente,
esta praga social não é particular à Inglaterra; corrói quase todas as nações.
[...] Dir-se-ia mesmo que fazem guerras para ensinar o exercício ao soldado a
fim de que, como escreveu Salústio, nesse grande matadouro humano, o coração ou
a mão não se lhes entorpeçam no repouso. [...] é perfeitamente inútil dar
conselhos quando se tem a certeza de que serão repelidos, quer na forma, quer
no fundo. Ora, os ministros políticos de hoje, estão impregnados de erros e
preconceitos; [...] Há covardia ou má fé em calar as verdades que condenam a
perversidade humana, sob o pretexto de que serão escarnecidas como novidades
absurdas ou quimeras impraticáveis. [...] Em toda parte onde a propriedade for
um bem individual, onde todas as coisas se medirem pelo dinheiro, não se poderá
jamais organizar nem a justiça nem a prosperidade social, a menos que
denomineis justa a sociedade em que o que há de melhor é a partilha dos piores,
e que considereis perfeitamente feliz o Estado no qual a fortuna pública é a
presa de um punhado de indivíduos insaciáveis de prazeres, enquanto a massa é
devorada pela miséria.
[...]
Cada
grupo de trinta famílias escolhe, todos os anos, um magistrado, chamado
sifogrante, na antiga linguagem, e filarco, na moderna. Encabeçando os dez
sifograntes e suas famílias vem aquele que denominavam antigamente denominado
de traníbora, e que hoje chamam protofilarco. Os sifogrante – duzentos ao todo
– depois de jurarem eleger o melhor, designam, por voto secreto, um príncipe
escolhido entre quatro candidatos propostos pelo povo: cada quarta parte da
cidade aponta um candidato e o recomenda ao senado. [...] Eis o que invencivelmente me persuade que o único meio de distribuir os
bens com igualdade e justiça, e de fazer a felicidade do gênero humano, é a
abolição da propriedade. Enquanto o direito de propriedade for o fundamento do
edifício social, a classe mais numerosa e mais estimável não terá por quinhão
senão miséria, tormentos e desesperos. [...] .esta massa imensa de gente ociosa
parece-me inútil ao pais mesmo na hipótese de uma guerra [...] Eis o que invencivelmente me persuade que o
único meio de distribuir os bens com igualdade e justiça, e de fazer a
felicidade do gênero humano, é a abolição da propriedade. Enquanto o direito de
propriedade for o fundamento do edifício social, a classe mais numerosa e mais
estimável não terá por quinhão senão miséria, tormentos e desesperos. Veja mais aqui.
BIBLIOGRAFIA
COELHO, Teixeira. O que é Utopia. São Paulo: Brasiliense, 1981.
FRANCO, Afonso Arinos et al. O Renascimento. Rio de Janeiro:
Agir/Museu Nacional de Belas-Artes, 1978.
MORUS, Thomas – A Utopia. São Paulo:
L&PM, 1997.
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