quinta-feira, abril 26, 2018

EMERSON, JOSUÉ DE CASTRO, PAULO MENDES CAMPOS, MÁRIO CHAMIE, ZINAIDA SEREBRIAKOVA, ZIRALDO, VICENTE AMIGO & JENNI MARI VARTIAINEN

NINGUÉM SABE DIREITO O DIREITO O QUE É QUE É - Imagem: cartum do Ziraldo. - Lembro-me bem ainda criança, alguma coisa desagradava minha mãe, e ela, pra meu espanto, admoestava: Você não tem o direito de fazer isso! Tá. Doutra feita, brincando sem querer a intervenção de ninguém, ela repreendia: É direito dele brincar, é a vez dele! Tá. Já adolescente, meu pai ralhava: Faça direito! Ou, minha mãe: Ajeite-se direito, menino! Ou: Vá pelo lado direito da rua! Tanto é que na hora de ir pra faculdade, meu pai arredou o pé: Faça Direito! E depois de ir pra lá e pra cá, findei matriculado no curso, com a maior curiosidade para saber o que o termo significava. Entrei na sala de aula com quase meio milhar de gente aboletado nas bancas e fiquei ligado na busca de saber o que realmente qual era a definição para direito. Durante o curso fiquei sabendo no meio das aulas chatas que, ao longo dos milênios o direito passou por estágios em que já foi, entre outras significações, linha reta e retidão moral, o justo e a mais perfeita das linhas no antigo conceito geométrico euclidiano, modelo ou padrão ideal a ser seguido, a poesia de Simônides no pensamento platônico, o que cria e conserva no todo ou nas partes a felicidade geral no sentido aristotélico, aquilo que está conforme com as leis, um fenômeno coexistencial da ordem universal pra Agostinho de Hipona, socialidade para Hobbes, poder moral que realiza a justiça para Leibniz, a liberdade de todos harmonizada por uma lei geral para Kant, o que é justo, ora natural, ora positivo quando passou a ser costume; ou uma ciência, um fenômeno histórico ou cultural, uma prescrição divina, um produto humano; codificação formal das atividades humanas, uma categoria transcendental das experiências humanas, uma ordem coativa para Kelsen; conjunto orgânico das relações vitais para Savigny, condições existenciais da sociedade para Ihering, vinculação bilateral-atributiva da conduta humana para Miguel Reale, o querer entrelaçante-autárquico-inviolável para Stammler, disciplina social imposta à comunidade humana, regras e instituições jurídicas, ideal de justiça, enfim, conjunto de regras sociais que disciplinam as obrigações e poderes referentes à questão da posse, sancionadas pela força do Estado e grupos intermediários. Pronto. Hem? Entre um cochilo e outro deu pra sacar que desde a sua fundação no princípio do parentesco arcaico, até se tornar a decisão que contemple o menor prejuízo como Justiça, o que eu entendia por direito era patavina, senão aquilo que fora suspenso ao longo do tempo como confirmação de injustiça, o tráfico da merenda escolar e do remédio da saúde, a venda de privilégios e alma sem poupar a de ninguém, fazer do público uma privada, embolsar o erário público em proveito próprio, pregar a democracia do umbigo, sabotar o alheio para viabilizar o que é de si mesmo, o que já foi adquirido e não é mais, e aquela do um pra eu, um pra tu, um pra eu da anedota do Gonzagão, entre outras situações de perplexidades cometidas em nome da mais sagrada convenção. Pra mim mesmo ficou sacramentado ser, por exemplo, de não ser nada diante do desrespeito de privilegiar alguns poucos sortudos escolhidos em detrimento da maioria toda do lado de fora, isso nas mais diversas formas de prestação de serviço público, até na formação dos grupelhos e afins, afora descobrir que cada qual entende o direito a sua maneira e em fazer o que bem quiser e entender pra si sobre os outros. É aí que a coisa pega, fomentando litígios que passam anos nas varas das pequenas causas ou na Justiça do Trabalho, ou mesmo décadas na Justiça comum, dando a entender pela morosidade do Judiciário que é uma coisa pecaminosa que só pode ser reparada depois que a gente arrasta a bunda no chão, tira fino na morte e, quando menos se espera, cai quando está perdido como se fosse um milagre do céu. Será, então, o impossível? Ou quase, por que não? Pra mim, ou a gente apruma a conversa, ou direito ficará sempre naquela de não se saber nada ou aquilo que quem vê morre! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com o guitarrista espanhol Vicente Amigo: Ciudad de las ideas, Memoria dos los sentidos & Um momento com el sonido; e a cantora finlandesa Jenni Mari Vartiainen: Pparhaat Laulut, Ruisrock & Hierra kädelläsi; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] não sejamos tímidos nem caprichosos nos nossos atos. A vida toda é uma experiência. Quanto mais experiências se fazem, tanto melhor. Que importa que sejam brutais e que nos arrisquemos a manchar nosso manto ou rasgá-lo? Que importa se falharmos e cairmos alguma vez na lama! De pé de novo! Nunca mais temeremos tanto uma queda. [...]. Pensamento extraído da obra Ensaios (Cultrix, 1966), do escritor e filósofo estadunidense Ralf Waldo Emerson (1803-1882). Veja mais aqui e aqui.

O QUE DEVERÍAMOS FAZER - [...] É imprescindível retransformar a economia de guerra em que vivemos numa economia de paz, e utilizar a enorme poupança que resultar do desarmamento parcial na obtenção de um tipo de desenvolvimento mais igualitário e não poluidor. [...] Trechos extraídos da obra Fome: um tema proibido (CEPE, 1996), do médico, professor catedrático, pensador, ativista político e embaixador do Brasil na ONU, Josué de Castro (1908-1973). Veja mais aqui e aqui.

OS DIFERENTES ESTILOSParodiando Raymond Queneau, que toma um livro inteiro para descrever de todos os modos possíveis um episódio corriqueiro, acontecido em um ônibus de Paris, narra-se aqui, em diversas modalidades de estilo, um fato comum da vida carioca, a saber: o corpo de um homem de quarenta anos presumíveis é encontrado de madrugada pelo vigia de uma construção, à margem da Lagoa Rodrigo de Freitas, não existindo sinais de morte violenta. Estilo interjetivo – Um cadáver! Encontrado em plena madrugada! Em pleno bairro de Ipanema! Um homem desconhecido! Coitado! Menos de quarenta anos! Um que morreu quando a cidade acordava! Que pena! Estilo colorido – Na hora cor-de-rosa da aurora, à margem da cinzenta Lagoa Rodrigo de Freitas, um vigia de cor preta encontrou o cadáver de um homem branco, cabelos louros, olhos azuis, trajando calça amarela, casaco pardo, sapato marrom, gravata branca com bolinhas azuis. Para este o destino foi negro. Estilo antimunicipalista – Quando mais um dia de sofrimentos e desmandos nasceu para esta cidade tão mal governada, nas margens imundas, esburacadas e fétidas da Lagoa Rodrigo de Freitas, e em cujos arredores falta água há vários meses, sem falar nas frequentes mortandades de peixes já famosas, o vigia de uma construção (já permitiram, por debaixo do pano, a ignominiosa elevação de gabarito em Ipanema) encontrou o cadáver de um desgraçado morador desta cidade sem policiamento. Como não podia deixar de ser, o corpo ficou ali entregue às moscas que pululam naquele perigoso foco de epidemias. Até quando? Estilo reacionário – Os moradores da Lagoa Rodrigo de Freitas tiveram na manhã de hoje o profundo desagrado de deparar com o cadáver de um vagabundo que foi logo escolher para morrer (de bêbado) um dos bairros mais elegantes desta cidade, como se já não bastasse para enfear aquele local uma sórdida favela que nos envergonha aos olhos dos americanos que nos visitam ou que nos dão a honra de residir no Rio. Estilo então – Então o vigia de uma construção em Ipanema, não tendo sono, saiu então para passeio de madrugada. Encontrou então o cadáver de um homem. Resolveu então procurar um guarda. Então o guarda veio e tomou então as providências necessárias. Aí então eu resolvi te contar isto. [...] Estilo preciosista – No crepúsculo matutino de hoje, quando fulgia solitária e longínqua a Estrela-d’ Alva, o atalaia de uma construção civil, que perambulava insone pela orla sinuosa e murmurante de uma lagoa serena, deparou com a atra e lúrida visão de um ignoto e gélido ser humano, já eternamente sem o hausto que vivifica. [...] Estilo sem jeito – Eu queria ter o dom da palavra, o gênio de um Rui ou o estro de um Castro Alves, para descrever o que se passou na manhã de hoje. Mas não sei escrever, porque nem todas as pessoas que têm sentimento são capazes de expressar esse sentimento. Mas eu gostaria de deixar, ainda que sem brilho literário, tudo aquilo que senti. Não sei se cabe aqui a lavra sensibilidade. Talvez não caiba. Talvez seja uma tragédia. Não sei escrever mas o leitor poderá perfeitamente imaginar o que foi isso. Triste, muito triste. Ah, se eu soubesse escrever. [...]. Trecho de Os diferentes estilos (Ática, 1979), do escritor e jornalista Paulo Mendes Campos (1922-1991). Veja mais aqui, aqui e aqui.

QUATRO POEMASAGIOTAGEM: um / dois / três / o juro: o prazo / o pôr / o cento / o mês / o ágio / p o r c e n t a g i o. / dez / cem / mil / o lucro: o dízimo / o ágio / a mora / a monta em péssimo / e m p r é s t i m o./ muito / nada / tudo / a quebra: a sobra / a monta / o pé / o cento / a quota / h a j a n o t a / agiota. PLANTIO: Cava, / então descansa. / Enxada; fio de corte corre o braço / de cima / e marca: mês, mês de sonda. / Cova. / Joga, / então não pensa. / Semente; grão de poda larga a palma / de lado / e seca; rês, rês de malha. / Cava. / Calca / e não relembra. / Demência; mão de louco planta o vau / de perto / e talha: três, três de paus. / Cova. / Molha / e não dispensa. / Adubo; pó de esterco mancha o rego / de longo / e forma: nó, nó de resmo. / Joga. / Troca, / então condena. / Contrato; quê de paga perde o ganho / de hora / e troça: mais, mais de ano. / Calca. / Cova: e não se espanta. / Plantio; fé e safra sofre o homem / de morte / e morre: rês, rés de fome / cava. SIDERURGIA S.O.S.: Se der o ouro sidéreo opus horário / Sem sol o sal do erário salário / Ser der orgia semistério o empresário / Siderurgia do opus o só do erário / Se der a via do pus opus errado / Se der o certo no errado o empregado / Se der errado no certo o emprecáriO O TOLO E O SÁBIO: O sábio que há em você / não sabe o que sabe /o tolo que não se vê./ Sabe que não se vê / o tolo que não sabe / o que há de sábio em você. / Mas do tolo que há em você / não sabe o sábio que você vê. Poemas do poeta e crítico Mário Chamie (1933-2011). Veja mais aqui.

A ARTE DE ZINAIDA SEREBRIAKOVA
A arte da pintora russa Zinaida Serebriakova (1884-1967). Veja mais aqui e aqui.



Lendas, crendices e abusões: alegoria e história em O Cara de Fogo, de Jayme Griz, em artigo de Ivson Bruno da Silva & muito mais na Agenda aqui.
&
Amor em Alagoinhanduba, o teatro de Federico Garcia Lorca, o pensamento de Bernard Lown & a fotografia de María Magdalena Campos-Pons aqui.