terça-feira, janeiro 30, 2018

TAGORE, EMILY DICKINSON, MAFFESOLI, RUBEM ALVES, SILVA MELO, JOÃO BOSCO, NAHUI OLLIN, JÚLIA BOSCO & RAGÚ

VARIAÇÕES SOBRE UM TEMA QUALQUER - Imagem: arte da pintora e poeta mexicana Nahui Ollin (Carmen Mondragón, 1893-1978). – A chuva esfria a manhã e eu desperto a pensar o sentido da vida humana diante do noticiário às voltas com o lucrativo e o útil, as variáveis econômicas e as decisões políticas. Ah, quantas manchetes, nada mais chato e a me deixar encolhido sob as cobertas. Cá comigo, coisas de quem joga bem a boca de forno e se valem pergíveis pela praticidade do toma lá dá cá, jogos de contas, logro e usura, malogro e embustes, nada mais, círculo visioso de ideias mortas no tempo, como força de lei e não me dizem mais nada, repetições a abusar da tolerância. Tudo é muito frio, meu coração inquieto, é domingo. Ouço o choro das águas já pela tarde chuvosa de janeiro, enquanto vozes e pés molhados pela rua ecoam a fita batida, do ouvido pra língua, a mesma ladainha duma saparia. Ah, não, já passou e ninguém se deu conta, pleno agora com efeito no passado mais remoto, não pode ser, não dá mais. É como se me dissesse do futuro agora e fosse um dialeto a significar saudade de ontem, como aquela paixão arrebatadora da adolescência tida por perene, como aquela idolatria por demais abjurada, ou aquela moda extravagante que ficou bufenta, aqueles arroubos que viraram arrependimento, aquela euforia nas fotos desbotadas, aquele prazer de ápice nem lembrável. Anoitece e revejo a estrela da manhã que mergulhou nas profundezas do mar e ressuscita agora a me dá a sensação de que é outra, sendo ela a mesma que vi quase cedo, eu reconheço e fico feliz na minha solidão. Isso ocorre enquanto contratos celebrados são implantados atravessando o tempo na compensação dos créditos para girar a roda da fortuna, dos valores e papéis, dos ganhos e especulações, e eu aqui a recolher do mel esborrado da abelha tão saboroso pro gosto, do leite que jorra do seio materno e compartilhado pra quem dele necessita, e sou taça cheia que se esvazia e torna a encher e secar, enchida e esvaziada tantas e muitas vezes com minha sede e fome. Não entendo mais nada das calculadoras nas estratégias das fortunas, títulos e rubricas que vão daqui para ali do enriquecimento, a festa da acumulação e do consumo, porque sou um tolo no exercício da loucura pelas encruzilhadas do desconhecido a provar o absurdo do mundo, como quem encontra a sabedoria perdida de brincar com o que não existe. Sou sem gravata, o cinto frouxo segura as calças nas camisas folgadas e me dou o prazer de sonhar por ideias muitas, até as desconexas, a hora da vez senão agora, outra ao desencarnar para reencarnar porque a vida é outra do nada, enquanto eu danço e a deusa comigo no salto para o vazio, a ousadia de sonhar. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá é dia de especial com o cantor, violonista e compositor João Bosco: Obrigado, gente! & Galos de Briga; a cantora e compositora Júlia Bosco: Dance com o inimigo, Pra gozar & Acredite no amor; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIAÉ preciso criar um laboratório de ideias focado no imaginário e uma audácia de pensamento para preencher, aos poucos, o fosso que existe entre os que têm a responsabilidade de agir sobre a sociedade e aqueles que simplesmente a vivem. Pensamento do sociólogo francês Michel Maffesoli. Veja mais aqui.

ALGUÉM FALOU: O segredo maior da vida, do sucesso, da felicidade, está no indivíduo atuar, viver, agir de acordo com as tendências íntimas do seu ser, de executar a tarefa para a qual tem verdadeira vocação. Pensamento do ensaísta, médico e professor Antônio da Silva Melo (1886- 1973).

A ALEGRIA DE ENSINAR – [...] a alegria de ser professor, pois o sofrimento de se ser um professor é semelhante ao sofrimento das dores do parto: a mãe o aceita e logo dele se esquece, pela alegria de dar à luz um filho. [...] Os técnicos em educação desenvolveram métodos de avaliar a aprendizagem e, a partir dos seus resultados, classificam os alunos. Mas ninguém jamais pensou avaliar a alegria dos estudantes – mesmo porque não há métodos objetivos para tal. Porqie a alegria é uma condição interior, uma experiência de riqueza e de liberdade de pensamentos e sentimentos. [...] A verdade se encontra no avesso das coisas [...]. O absurdo é o avesso do mundo. [...]. aquilo por que nossas crianças e jovens são forçados a passar, em nome da educação, me horroriza. [...] As crianças são ensinadas. Aprendem bem. Tão bem que se tornam incapazes de pensar coisas diferentes. Tornam-se incapazes de dizer o diferente. Se existe uma forma certa de pensar as coisas e de fazer as coisas, por que se dar ao trabalho de se meter por caminhos não-explorados? Basta repetir aquilo que a tradição sedimentou e que a escola ensinou. O saber sedimentado nos poupa dos riscos da aventura de pensar. [...] É como nos catecismos religiosos: o mestre diz qual é a perguntar e qual é a resposta certa. O aluno é aprovado quando repete a resposta que o professor ensinou. Pois não é isto que são os vestibulares? Ao final existe o gabarito: o conjunto de respostas certas. Claro que há respostas certas e erradas. O equivoco está em se ensinar ao aluno que é disto que a ciência, o saber, a vida, são feitos. E, com isto, ao aprender as respostas certas, os alunos desaprendem a arte de se aventurar e de errar, sem saber que, para uma resposta certa, milhares de tentativas erradas devem ser feitas. Espero que haverá um dia em que os alunos serão avaliados também pela ousadia de seus voos! [...] Acho que a educação frequentemente cria antas: pessoas que não se atrevem a sair das trilhas aprendidas por medo da onça. [...]. Feitiço é quando uma palavra entra no corpo e o transforma. [...]. Educação é isto: o processo pelo qual os nossos corpos vão ficando iguas às palavras que nos ensinam. Eu não sou eu: eu sou as palavras que os outros plantaram em mim. [...] Meu corpo é um corpo enfeitiçado: porque o meu corpo aprendeu as palavras que lhe foram ditas, ele se esqueceu de outras que, agora permanecem mal... ditas... [...]. A gente fica poeta quando olha para uma coisa e vê outra. É isto que tem o nome de metáfora. [...] E a sociedade não tolera a inutilidade. Tudo tem de ser transformado em lucro. [...] Todas estão transformadas numa pasta homogênea. Estão preparadas para se tornar socialmente úteis. [...] Pois formatura é isto: quando todos ficam iguais, moldados pela mesmo fôrma. Hoje, quando escrevo, os jovens estão indo para os vestibulares. O moedor foi ligado. Dentro de alguns anos estarão formados. Serão profissionais. E o que é um profissional se não um corpo que sonhava e que foi transformado em ferramenta? As ferramentas são úteis. Necessárias. Mas – que pena – não sabem sonhar... [...]. O corpo é o lugar fantástico onde mora, adormecido, um universo inteiro. Como na terra moram adormecidos os campos e suas mil formas de beleza, e também as monótonas e previsíveis monoculturas; como na lagarta mora adormecida uma borboleta [...] Tudo adormecido... O que vai acordar é aquilo que a Palavra vai chamar. As Palavras são entidades mágica, potências feiticeiras, poderes brucos que despertam os mundos que jazem dentro dos nossos corpos, num estado de hibernação, como sonhos. Nossos corpos são feitos de palavras... [...]. A este processo mágico pelo qual a Palavra desperta os mundos adormecidos se dá o nome de educação. [...]. Pensar é voar. Voar com o pensamento é sonhar. [...] Por isto que os adultos práticos e sérios não gostam de brincar. [...] Porque o brinquedo, sem produzir qualquer utilidade, produz alegria. Felicidade é brincar. E sabem por quê? Porque no brinquedo nos encontramos com aquilo que amamos. No brinquedo o corpo faz amor com objetos do seu desejo. [...]. As professoras me ensinaram que o Brasil estava destinado a um futuro grandioso porque as suas terras estavam cheias de riquezas: ferro, ouro, diamantes, florestas e coisas semelhantes. Ensinaram errado. O que me disseram equivale a predizer que um homem será grande pintor por ser dono de uma loja de tintas. Mas o que faz um quadro não é a tinta: são as ideias que moram na cabeça do pintor. São as ideias dançantes na cabeça que fazem as tintas danças sobre a tela. Por isso, sendo um país tão rico, somos um povo tão pobre. Somos pobres de ideias. Não sabemos pensar. Nisto nos parecemos com os dinossauros, que tinham excesso de massa muscular e cérebros de galinha. [...] É com as ideias que o mundo é feito. [...]. Trechos extraídos da obra A alegria de ensinar (Ars Poética,1994), do psicanalista, educador, teólogo e escritor Rubem Alves (1933-2014). Veja mais aqui, aqui e aqui.

DOIS AMORES E UM RIO - [...] E quando chegou o momento de cortejar a jovem esposa com palavras bonitas, de pôr a coisa em prática, Ramesh descobriu um tanto assustado que os compêndios de Direito nada lhe haviam ensinado a esse respeito. Mas acabou tudo dando certo, como manda o figurino, e Ramesh aprendeu uma lição: erudição é uma coisa, e amar e fazer amor outra bem distinta, e nem sempre as duas combinam. E depois, quem neste mundo resistiria, fosse ele bacharel em direito ou não, a uma criaturinha tão cheia de graça, tão cativante e charmosa como Susila? [...] Como o pintor que engasta no fundo do coração a imagem da bem-amada, como o poeta que canta em versos unicamente a mulher que adora (e ambos empregam todo o seu talento e toda a sua devoção nessa obra) assim se sentia Ramesh. Só faltava mandar construir um altar e ai colocar sua jovem e graciosa companheira, que passar a ser a única razão de sua existência, a doce alegria do seu coração e prosperidade do seu lar. [...]. Trechos extraídos da obra Dois amores e um rio: o naufrágio (Mundo Inteiro, 1975), do poeta e músico indiano, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, Rabindranath Tagore (1861-1941). Veja mais aqui.

DOIS POEMASA ALMA ESCOLHE A PROPRIA COMPANHIA: Sempre a alma escolhe a companhia / e fecha a porta / pois a divina maioria / não mais lhe importa. / Imóvel, de sege a parelha / ao portão baixo / imóvel e o imperador se ajoelja / sobre o capacho. / Sei que escolheu na Legião / entre a qual medra / fechou a valva da atenção / como uma pedra. TOMEI A FUNDA NA MÃO: Tomei a funda na mão / parti contra mundo e gente, / Davi mais armado – eu não - / eu duas vezes valente. / Lancei a pedra – caí. / Foi tudo o que aconteceu. / Seria maior Davi / ou muito menor sou eu? Poemas da poeta estadunidense Emily Dickinson (1830-1886). Veja mais aqui.

RAGÚ
Capas das edições da revista pernambuca de HQ, Ragú, editada por Christiano Mascaro e João Lin. Veja mais aqui e aqui.

Veja mais:
Os dois mundos de quem vive de um lado só, a arte de Angelo Agostini, a música de Juliette Herlin, a arte de Hannah Wilke, a pintura de Fernando Botero & Nik Helbig aqui.
A mulher na Idade Média, a música de Johann Joachim Quantz & Verena Fischer, a literatura de Naoki Higashida & Teolinda Gersão, Fritz Lang, a pintura de Georges Rouault & Siron Franco, Marie Dumesnil, Anne Baxter, Benita Prieto, Maisa Vibancos, A mulher & a escravidão aqui.
Mahatma Gandhi, Michelangelo Antonioni & Vanessa Redgrave, Educação, Carlos Zéfiro, Phil Collins & Genesis, Jennifer R. Hale & Maria Luísa Mendonça aqui.
Marquinhos Cabral & Poetas do Brasil aqui.
Lev Vigotsky, Jean Piaget, Ausubel & Skinner aqui.
Responsabilidade ambiental aqui.
Teibei, a batida aqui.
Decameron, João Albrecht & Jiddu Saldanha aqui.
Riacho Salgadinho & a arte de Eliezer Setton, Zé Barros, Naldinho, Wilson Miranda & WebRadio Maceió aqui.
Hermilo Borba Filho & Sonia Van Dijck, Teoria da Literatura, Solange Palatinik, Constituição, Psicologia, Dialogicidade & Representações sociais aqui.
Nietzsche e a música, As raízes árabes na tradição poético-musical do sertão nordestino, História da Música de Otto Maria Carpeaux, O carnaval carioca através da música & a História da Música Popular de José Ramos Tinhorão aqui.
A vontade & a arte de Amanda Garruth, Deborah Rosa, Luciana Soler, Bete Sá, Vanessa Morais & Cantora Sol aqui.
O teatro de Augusto Boal aqui.
Poetas do Brasil: Carlos Gildemar Pontes, Sandra Fayad, Paulo Profeta, Gisele Lemos/Diana Balis, Luís Inácio Araújo, Helena Cristina Buarque & Rita Shimada Coelho aqui.
Afetividade & a arte de Lília Diniz, Lucinha Guerra, Thathi, Ezra Mattivi, Jualiana Sinimbu & Anna Ratto aqui.
Quadrinhos, a nona arte aqui.
O catecismo de Carlos Zéfiro aqui.
Doutor Zé Gulu aqui, aqui e aqui.
O lamentável expediente da guerra aqui.
Poetas do Brasil aqui, aqui e aqui.
Livros Infantis do Nitolino aqui.
Faça seu TCC sem Traumas: livro, curso & consultas aqui.
&
Agenda de Eventos 35 anos de arte cidadã aqui.

A ARTE DE NAHUI OLLIN
A arte da pintora e poeta mexicana Nahui Ollin (Carmen Mondragón, 1893-1978).