quarta-feira, janeiro 31, 2018

CLARICE, ROSEMONDE, THOMAS KUHN, BASIL BERNSTEIN, ANTONIO MADUREIRA, MIRIAM LEMLE, ROSANA PAULINO, YARA, JULES FEIFFER & THATHI

XEMENEXEM ENCARNA QUIXOTE! -  Imagem: As filhas de Eva (2014), da artista visual Rosana Paulino. - Xemenxem despertou atordoado com a abertura das cortinas para entrada do dia e a faxina que a funcionária realizava no seu quarto. Olhos aboticados de zarolho, ele deu de cara logo com o bundão da serviçal quase na sua venta, remexendo o corpo com a varrição e nas coisas para arrumação. Boquiaberto pensava consigo: Isso é que é um desmantelo de mulher. Espichou o pescoço e conferiu dos pés à cabeça: Essa camareira é de endoidar um, vai ser gostosa assim aqui na minha cama. Como se seu pensamento falasse em voz alta, logo ela se virou: Ah, acordou, bonitão? Seu quarto já está pronto, roupa limpa e lavada na gaveta e, quando quiser, pode descer pro café da manhã. Mais arregalado ficou quando viu os seios fartos no decote, de ficar imóvel de boca aberta por um bocado de tempo. Ela então balançou as mãos às vistas dele para ver se olhos piscavam e ele lá, imobilizado pelo impacto daquele corpanzil sedutor. Ei, quer se levantar para eu arrumar a cama? Posso não, enfermeira. Como não pode? Estou em estado interessante. Como assim? Ele se encolheu abraçado nos joelhos ao peito, insistindo: Posso não! Vamos, homem, é hora do café da manhã. A tesão do mijo não deixa. Ah, safadinho, você é bonitão, vou buscar lençol e fronha enquanto você se recupera. E saiu. Ele apressou-se pro sanitário, deu uma mijada demorada, aliviando-se. De repente ela entra, invade o banheiro para pendurar a toalha, ao vê-lo indefeso protegendo os seus guardados, havia sustado a micção e estava segurando com tudo de fora. Ela passou um rabo de olho e saiu. Ufa! Foi por pouco, hem? Acalmou-se e urinou por uns dez minutos ininterruptos. Eita! A bexiga estava cheia, hem? Agora, sim, posso ir pro café da manhã. Cheirou as axilas, os braços, as mãos, os pés, a cueca, nada fedia, então foi. Desceu a escadaria e ao chegar à praça da alimentação, deparou-se com uma multidão: Isso é gente como a praga! O hotel deve ser dos bons mesmo. E desceu, entrou na fila olhando os demais hóspedes, todos de pijama como ele, escolhiam sua comida. Depois de um bom tempo, chegou sua vez: Hummmm, cuscuz, salsichas, queijo, pão, café com leite, ah, posso vir depois buscar mais? Pode. Então tá. Pegou a bandeja e dirigiu-se para a primeira mesa vazia, bateu palma, psiu e gritou: Atenção, todos! Senhoras e senhores, ladys e gentlemans! Fez-se silêncio. Ham, ham. Pra quem não me conhece - pigarreia, imposta a voz: Sou Jerry Xemenexem! Aplausos. Uma jovem levantou-se aplaudindo: Nome de artista, hem? Mais aplausos. Sim, sim, obrigado. Mais aplausos. Obrigado. Sou cantor, compositor, ator e cineasta, por enquanto, para não abusar dos meus dotes artísticos. Aplausos. Obrigado, obrigado. Estou nesse hotel para selecionar elenco pro meu próximo filme. Os interessados, comparecerem ao apartamento 37, para os testes. Obrigado, bom apetite e um bom dia para todos. Obrigado. Foi uma gritaria: Eu! Eu! Eu! Eu! Eu! Eu! Calma, minha gente, tem espaço para todos no elenco. Só a partir das 11 horas que começo os testes, daqui pra lá, comam bem e estejam prontos. Saravá! E encarou a comilança, repetindo o prato umas três vezes e só não mais pela quarta, porque um dos cozinheiros fez uma cara feia e ele resolveu recolher-se ao seu quarto. Mal se deitou, entrou uma senhora já de idade, muito simpática, risonha e acompanhada duns 15 gatos. Bom dia. Bom dia. O senhor é? Sou Jerry Xemenexem, seu criado ao dispor. Ah, nome de artista. E sou mesmo. Muito bem. O que o senhor mais gosta? Na verdade, o que mais gosto é de cantar, mas componho, filmo, atuo, faço de tudo um pouco, sou multiuso. Muito bem. E pra comer? Adoro galinha guisada, meu prato preferido. De si para si, pensou: Ah, deve ser a nutricionista, hotel dos bons mesmos. Enquanto pensava, ela falou abrindo um caderno de anotações tirado do bolso: Conte-me sua vida... aí ele debulhou que era um entre 29 irmãos, 9 da mãe dele – santa dona Zefinha, veneração genuflexa com todas as orações dos céus e da terra  -, 13 da Lurdinha e 7 da Valdinete, todos irmãos por parte de pai. Isso não é um pai, é um garanhão fodedor! Gostei do nome, quando eu comprar minha Ferrary, vou apelidá-la de garanhão fodedor. Ah, mas continuando: que dessa tuia de irmãos, 16 são fêmeas de honrar as saias – tem uma que é bem doidinha, sei não, e 4 são meninas ainda - e os demais, uns machos e outros nem tanto assim, porque 5 são franguinhos ainda, afora dois que dão sinais de desmunhecar mesmo. Como é o nome do seu pai? Zé Xemenexem, mas só o chamam de Zé Flor, não sei por que, pois ele catinga que só, não sei como elas aguentam a fedentina, mas deve ser por ser aquele que tem três maridas, coisas de apelido mesmo. Você não gosta dele? Bem, gostar de mesmo, muito não, ele é rude, trata a gente na base do tapa-olho, bofete no maluvido e dedada no furico. As meninas, também? Oxe, não escapa umazinha sequer! O prazer dele é enfiar o dedão no cu de levantar a gente pra balançar as pernas soltas no ar e depois ficar cheirando o dedo, amolegando a peia. E olhe que o dedão dele é daqueles bem engrossado, viu? É quando ele dá risadas de gargalhar. Afora isso, é todo bruto a dar lapadas, cascudos, beliscões e corretivos em quem passar por perto. E a sua mãe? Ah, a minha mãe é uma santa. E as outras duas? Ah, são de lua! Um dia de careta, dois de xingamentos e, uma vez na vida, os dentes abrem, mas não muito, logo piram e viram o diabo. Sei. O senhor tem algum problema? Tenho. Qual é? Queria ter um dinheirinho pra comprar cigarro, a senhora empresta? Ela meteu a mão no bolso do jaleco, puxou duas cédulas e entregou pra ele. Obrigado, minha senhora, sou-lhe devedor pro resto da vida. De nada. Agora descanse pro almoço, amanhã a gente se vê nessa mesma hora. Bom dia. Mal ela saiu, apareceram dois olhos na beira da porta, que se escondiam e reapareciam. Entre. Pareciam brincar. Ele levantou-se e pegou o brincalhão pelas orelhas: Diga. Eu vim pro teste do cinema. Ótimo, como é seu nome? Napoleão. Muito bem, Napoleão, o que você faz da vida? Nada. Como nada? Sou o imperador, Napoleão Bonaparte. Ah, tá. Só isso? Posso ser Dom Pedro I, quer? Não, basta ser Napoleão mesmo. Já fez cinema? Bem, fazer de mesmo, não, mas eu corria na rua e meu primo batia umas fotos pruns monóculos, quer ver? Não. Já está quase na hora do almoço, enquanto isso me conte sua vida de artista. E saíram confabulando quando uma bela jovem esbarrou nele, ao se virar ele imaginou estar diante de uma dessas atrizes excêntricas com vestes estranhas – na verdade, ela estava descalça, descabelada e enrolada nos lençóis -, tudo fazendo crer uma grande atriz. Ela esticou o pé e levantou a perna, e ele: Pés de atriz, pernas de atriz, joelhos de atriz – aí ela soltou o vestido impedindo de que ele continuasse a examinar, esticando o braço e expondo a mão, e ele: dedos de atriz, mãos de atriz, pulso de atriz, braço de atriz, até muque de atriz ela tem, está vendo Napoleão? Ela fechou os braços e ele: Cabelo de atriz, testa de atriz, bochechas de atriz, olhos de atriz, nariz de atriz, lábios de atriz e... Ela fazia biquinho pra ele e, não teve dúvidas, foi lá e deu uma bitoca nela, dele tomar um susto na hora! O que é que é isso, meu Deus? Não é uma atriz, é uma deusa, é a Dulcineia del Toboso, a dona do meu coração. Fez uma mesura cavalheiresca e, qual Dom Quixote, convidou-a pra jantar! Ela aceitou. Então vamos, deram-se os braços e Napoleão acompanhou-os como se fora Sancho Pança. Sentaram-se elegantemente e ficaram aguardando o atendimento, ninguém apareceu. Sancho, meu fiel escudeiro, procure um garçon para nos servir e diga que não atrasem com a ceia. Mas, meu mestre, ainda não é nem meio-dia? Não discuta, Sancho. Com a saída de Sancho, ela se levanta com um olhar tentador, abre o vestido e mostra-se completamente nua. Ele não resistiu e voou em cima dela, vuque-vuque ali mesmo, impado, chamego, ali deitados no chão, dela estremecer toda, gritar enloquecida até desmaiar. E ele resfolegante, inquieto no maior ajeitado, estertorando numa tremedeira braba, sentiu gozar depois de semanas e meses na secura das mãos, saçaricando em cima dela, empurrando-se, espremendo-a, cavoucar, pelejar, e no maior estupor, quedou vertiginosamente até cair duro espalhado sobre ela e ali, sobre o macio dela, rendeu-se em sono profundo. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá é dia de especial com o violonista, maestro e compositor Antonio José Madureira: Violão, Instrumentos populares do Nordeste & Rosa Armorial; a cantora, compositora, guitarrista e multi-instrumentista Thathi: Recomece, Um dia a mais & Jardim japonês; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA –[...] Tal como os artistas, os cientistas criadores precisam, em determinadas ocasiões, ser capazes de viver um mundo desordenado [...] essa necessidade [...] é a “tensão essencial” implícita na pesquisa científica. [...]. as mudanças de paradigma realmente lebam os cientistas a ver o mundo definido por seus compromissos de pesquisa de uma maneira diferente. Na medida em que seu único acesso a esse mundo dá-se através do que vêem e fazem, poderemos ser tentados a dizer que, após uma revolução, os cientistas reagem a um mundo diferente. [...]. Trechos extraídos da obra A estrutura das revoluções científicas (Perspectiva, 1998), do físico e filósofo da ciência estadunidense Thomas Kuhn (1922-1996). Veja mais aqui.

USO DA LÍNGUA NA ESCOLA – [...] A sua missão não é a de fazwer com que os educandos abandonem o uso de sua gramática “errrada” para a substituírem pela gramática “certa”, e sim a de auxili´-alos a adquirirem, como se fora uma segunda língua, competência no uso das formas lingüísticas da norma socialmente prestigiada, à guisa de um acrescimento aos usos lingüísticos regionais e coloquiais que já domunam. A noção essencial aí é a de adequação: existem usos adequados a um dado ato de comunicação verbal, e usos que são socialmente estighmatizados quando usados fora do contexto apropriado. A comparação com as regras de uso de vestimenta é esclarecedora: assim como difere o tipo de roupa a ser usada segundo o tpo de ocasião social, também diferem segundo a ocasião social as características da linguagem apropriada. Ficam socialmente estigmatizados os falantes inadimplentes às regras tácitas do jogo, tal como as pessoas que não cumprem as convenções sociais. Trecho de Heterogeneidade dialetal: um apelo à pesquisa (Tempo Brasileiro, abr/sey, 1978), da linguista e professora Miriam Lemle. Veja mais aqui.

MONÓLOGO DE POPULAREu pensava que era pobre. Aí, disseram que eu não era pobre, eu era necessitado. Aí, disseram que era autodfesa eu me considerar necessidade, eu era deficiente. Aí, disseram que deficiente era uma péssima imagem, eu era carenta. Aí, disseram que carente era um termo inadequado. Eu era desprivilegiado. Até hoje eu não tenho um tostão, mas tenho já um grande vocabulário. Extraído de cartum do humorista, escritor, cenógrafo e cartunista estadunidense Jules Feiffer. Veja mais aqui.

MÃE & FILHO NO ÔNIBUSPrimeiro diálogo - Mãe: Segure firme, querido. Criança: Por quê? Se você não segurar, vai ser jogado para a frente e vai cair. Por quê? Porque se o ônibus parar de repente, você vai ser jogado no banco da frente. Por quê? Agora, querido, segure firme e não crie caso. Segundo diálogo - Mãe: Segure firme. Criança: Por quê? Segure firme. Por quê? Segure firme. Por quê. Você vai cair. Por quê? Eu mande você segurar firme, não mandei? Trecho da obra Estrutura social, linguagem e aprendizagem (Queiroz, 1982), do sociólogo britânico Basil Bernstein (1924-2000).

O PRIMEIRO BEIJO –[...] De olhos fechados entreabriu os lábios e colou-os ferozmente ao orifício de onde jorrava a água. O primeiro hole fresco desceu, escorrendo pelo peito até a barriga. Era a vida voltando, e com esta encharcou todo o seu interior arenoso até se saciar. Agora podia abrir os olhos. Abriu-os e viu bem junto de sua cara dois olhos de estatua fitando-o e viu que era a estatua de uma mulher e que era a boca da mulher que saia a água. Lembrou-se de que realmente ao primeiro gole sentira nos lábios um contato gélido, mais frio do que a água. E soube então que havia colado sua boca na boca da estatua da mulher de pedra. A vida havia jorrado dessa boca, de uma boca para outra. Intuitivamente, confuso na sua inocência, sentia-se intrigado: mas não é de uma mulher que sai o liquido vivificador, o liquido germinador da vida... olhou a estátua nua. Ele a havia beijado. [...] Perturbado, atônito, percebeu que uma parte de seu corpo, sempre antes relaxada, estava agora com uma tensão agressiva, e isso nunca lhe tinha acontecido. Estava de pé, docemente agressivo, sozinho no meio dos outros, de coração batendo fundo, espaçado, sentindo o mundo se transformar. A vida era inteiramente nova, era outra, descoberta com sobressalto. Perplexo, num equilíbrio frágil. Até que, vinda da profundeza de seu ser, jorrou uma fonte oculta nele a verdade. Que logo o encheu de susto e logo também de um orgulho antes jamais sentido: ele... Ele se tornara homem. Trechos extraídos da obra O primeiro beijo & outros contos: antologia (Ática, 1995), da escritora e jornalista Clarice Lispector (1920-1977). Veja mais aqui e aqui.

VERSOS AO BEM AMADOSe me disseres que se pressente / o hálito sutil da borboleta / ao adejar sobre as flores; / que foi achada a sandália de cristal / que, em sua fuga, Cendrillon perdeu... / se me disseres que a poesia é prosa; / que à mulher se pode confiar segredos; / que os lírios falam; / que o azul é róseo... / se me disseres que o astro luminoso / ao vagalume rouba o seu lugar; / que o Sol não passa de uma joia rara / que a Noite usa presa em seus véus;/ se me disseres que não existe mais / uma só amora à bera das estrdas; / que as penas d’um beija-flor são mais pesadas / que as penas dum coração... / quando me falas foge a tristeza, vencida, escravizada. / Se me disseres que a Ventura existe, e que me adoras... - / Vê que absurdo, amor! / eu te crerei. Poema da poeta e atriz francêsa Rosemonde Gérard (1866-1953).

YARA: O FASCINIO IRRESTIVEL DA MULHER
Yara, linda mulher cor de jambo, de traços finos e de figura soberba, vivia passeando pelas praias do Amazonas. Gostava de banhar-se em igarapés tranqüilos e de águas claras. Os jovens seguiam para conquistar-lhe a atenção e, com a atenção, o coração. Os velhos a olhavam com olhares languidos, sabendo de antemão da impossibilidade de qualquer favor. Yara via e sentia tudo. mas se dava demasiada importância, negando-se a todos. Passva, altaneira, como se desfilasse, solitária, diante de uma multidão de admiradores.  Fazia ouvidos moucos tanto aos elogios educados de alguns quanto aos assobios atrevidos de outros. Certo dia, o sol já posto, estava a linda Yara divertindo-se inatenta nas águas corredias do igarapé que mais apreciava. O tempo corria e ela se entregava ao prazer do corpo que emergia, ainda mais fascinante, do borbulhar das águas. Eis que escutou vozes barulhentas se aproximando. Não eram de seus irmãos e irmãs da tribo. Voltando-se, viu que eram homens brancos. Falavam uma língua estranha, com sons de agressividade. Traziam botas pesadas e roupas rudes. Seus olhares eram de cobiça e não de enternecimento. Pareciam animais famintos. As vozes em sua direção se faziam ameaçadorass. Yara, feminina, tudo pressentiu. Tentou fugir. Seu corpo era escorregadio e ela ágil. Mas mãos fortes a agarraram. Eram muitas. Todas a tocavam em todas as partes. A intimidade foi ameaçada. Com violência foi jogada ao chão. as areaias, antes macias, agora pareciam espinhos. Yara foi amordaçada e imobilizada. Por fim, violada por todos, um após o outro, em fila. Yara desmaiou. Parecendo morta, foi jogada ao rio. Os homens animalizados se afastaram no escuro da mata. Fez-se noite. O Espírito das águas teve imensa pena de Yara. Acolheu seu corpo machucado. Inspirou-lhe vida e devolveu-lhe todo o esplendor de sua beleza. Mas, para que não pudesse nunca mais ser violada, transformou-a em sereia. Metade do seu corpo, a parte de cima, de mulher, fascinante, de olhos de mel e de cabelos longos luzidios. Os homens sentir-se-ão atraídos por eçla. Jogar-se-ão atrevidos e loucos às águas para agarrá-la, abraçá-la e beijá-la. Mas a outra metade do corpo, a de baixo, escondida nas águas, tem a forma de peixe. Com isso pode viver sempre nas águas como em sua casa. Conversa com os peixes grandes e pequenos, que brincam ao seu redor, beliscando-lhe inocentemente a pele cor de jambo. Mas ai daqueles que lhe quiserem fazer mal, agarrá-la com violência e arrancar-lhe o afeto. Yara os tome, firme, pelas mãos e os leva, como se estivessem enfeitiçados para as águas profundas. E nunca se ouviu dizer que alguém voltou de lá vivo.
Entraído da obra O casamento entre o céu e a terra: contos dos povos indígenas do Brasil (Salamandra, 2001), do escritor, teólogo e professor universitário Leonardo Boff. Imagem: Art by Yara Damian. Veja mais aqui e aqui.

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Zygmunt Bauman, Filosofia & Psicologia de Ken Wilber, a literatura de Kenzaburo Oe, A música de Franz Schubert & Maria João Pires, Kate Beckinsale, a pintura de Tereza Costa Rego & Tunga aqui.
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A ARTE DE ROSANA PAULINO
A arte da artista visual Rosana Paulino.
 

terça-feira, janeiro 30, 2018

TAGORE, EMILY DICKINSON, MAFFESOLI, RUBEM ALVES, SILVA MELO, JOÃO BOSCO, NAHUI OLLIN, JÚLIA BOSCO & RAGÚ

VARIAÇÕES SOBRE UM TEMA QUALQUER - Imagem: arte da pintora e poeta mexicana Nahui Ollin (Carmen Mondragón, 1893-1978). – A chuva esfria a manhã e eu desperto a pensar o sentido da vida humana diante do noticiário às voltas com o lucrativo e o útil, as variáveis econômicas e as decisões políticas. Ah, quantas manchetes, nada mais chato e a me deixar encolhido sob as cobertas. Cá comigo, coisas de quem joga bem a boca de forno e se valem pergíveis pela praticidade do toma lá dá cá, jogos de contas, logro e usura, malogro e embustes, nada mais, círculo visioso de ideias mortas no tempo, como força de lei e não me dizem mais nada, repetições a abusar da tolerância. Tudo é muito frio, meu coração inquieto, é domingo. Ouço o choro das águas já pela tarde chuvosa de janeiro, enquanto vozes e pés molhados pela rua ecoam a fita batida, do ouvido pra língua, a mesma ladainha duma saparia. Ah, não, já passou e ninguém se deu conta, pleno agora com efeito no passado mais remoto, não pode ser, não dá mais. É como se me dissesse do futuro agora e fosse um dialeto a significar saudade de ontem, como aquela paixão arrebatadora da adolescência tida por perene, como aquela idolatria por demais abjurada, ou aquela moda extravagante que ficou bufenta, aqueles arroubos que viraram arrependimento, aquela euforia nas fotos desbotadas, aquele prazer de ápice nem lembrável. Anoitece e revejo a estrela da manhã que mergulhou nas profundezas do mar e ressuscita agora a me dá a sensação de que é outra, sendo ela a mesma que vi quase cedo, eu reconheço e fico feliz na minha solidão. Isso ocorre enquanto contratos celebrados são implantados atravessando o tempo na compensação dos créditos para girar a roda da fortuna, dos valores e papéis, dos ganhos e especulações, e eu aqui a recolher do mel esborrado da abelha tão saboroso pro gosto, do leite que jorra do seio materno e compartilhado pra quem dele necessita, e sou taça cheia que se esvazia e torna a encher e secar, enchida e esvaziada tantas e muitas vezes com minha sede e fome. Não entendo mais nada das calculadoras nas estratégias das fortunas, títulos e rubricas que vão daqui para ali do enriquecimento, a festa da acumulação e do consumo, porque sou um tolo no exercício da loucura pelas encruzilhadas do desconhecido a provar o absurdo do mundo, como quem encontra a sabedoria perdida de brincar com o que não existe. Sou sem gravata, o cinto frouxo segura as calças nas camisas folgadas e me dou o prazer de sonhar por ideias muitas, até as desconexas, a hora da vez senão agora, outra ao desencarnar para reencarnar porque a vida é outra do nada, enquanto eu danço e a deusa comigo no salto para o vazio, a ousadia de sonhar. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá é dia de especial com o cantor, violonista e compositor João Bosco: Obrigado, gente! & Galos de Briga; a cantora e compositora Júlia Bosco: Dance com o inimigo, Pra gozar & Acredite no amor; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIAÉ preciso criar um laboratório de ideias focado no imaginário e uma audácia de pensamento para preencher, aos poucos, o fosso que existe entre os que têm a responsabilidade de agir sobre a sociedade e aqueles que simplesmente a vivem. Pensamento do sociólogo francês Michel Maffesoli. Veja mais aqui.

ALGUÉM FALOU: O segredo maior da vida, do sucesso, da felicidade, está no indivíduo atuar, viver, agir de acordo com as tendências íntimas do seu ser, de executar a tarefa para a qual tem verdadeira vocação. Pensamento do ensaísta, médico e professor Antônio da Silva Melo (1886- 1973).

A ALEGRIA DE ENSINAR – [...] a alegria de ser professor, pois o sofrimento de se ser um professor é semelhante ao sofrimento das dores do parto: a mãe o aceita e logo dele se esquece, pela alegria de dar à luz um filho. [...] Os técnicos em educação desenvolveram métodos de avaliar a aprendizagem e, a partir dos seus resultados, classificam os alunos. Mas ninguém jamais pensou avaliar a alegria dos estudantes – mesmo porque não há métodos objetivos para tal. Porqie a alegria é uma condição interior, uma experiência de riqueza e de liberdade de pensamentos e sentimentos. [...] A verdade se encontra no avesso das coisas [...]. O absurdo é o avesso do mundo. [...]. aquilo por que nossas crianças e jovens são forçados a passar, em nome da educação, me horroriza. [...] As crianças são ensinadas. Aprendem bem. Tão bem que se tornam incapazes de pensar coisas diferentes. Tornam-se incapazes de dizer o diferente. Se existe uma forma certa de pensar as coisas e de fazer as coisas, por que se dar ao trabalho de se meter por caminhos não-explorados? Basta repetir aquilo que a tradição sedimentou e que a escola ensinou. O saber sedimentado nos poupa dos riscos da aventura de pensar. [...] É como nos catecismos religiosos: o mestre diz qual é a perguntar e qual é a resposta certa. O aluno é aprovado quando repete a resposta que o professor ensinou. Pois não é isto que são os vestibulares? Ao final existe o gabarito: o conjunto de respostas certas. Claro que há respostas certas e erradas. O equivoco está em se ensinar ao aluno que é disto que a ciência, o saber, a vida, são feitos. E, com isto, ao aprender as respostas certas, os alunos desaprendem a arte de se aventurar e de errar, sem saber que, para uma resposta certa, milhares de tentativas erradas devem ser feitas. Espero que haverá um dia em que os alunos serão avaliados também pela ousadia de seus voos! [...] Acho que a educação frequentemente cria antas: pessoas que não se atrevem a sair das trilhas aprendidas por medo da onça. [...]. Feitiço é quando uma palavra entra no corpo e o transforma. [...]. Educação é isto: o processo pelo qual os nossos corpos vão ficando iguas às palavras que nos ensinam. Eu não sou eu: eu sou as palavras que os outros plantaram em mim. [...] Meu corpo é um corpo enfeitiçado: porque o meu corpo aprendeu as palavras que lhe foram ditas, ele se esqueceu de outras que, agora permanecem mal... ditas... [...]. A gente fica poeta quando olha para uma coisa e vê outra. É isto que tem o nome de metáfora. [...] E a sociedade não tolera a inutilidade. Tudo tem de ser transformado em lucro. [...] Todas estão transformadas numa pasta homogênea. Estão preparadas para se tornar socialmente úteis. [...] Pois formatura é isto: quando todos ficam iguais, moldados pela mesmo fôrma. Hoje, quando escrevo, os jovens estão indo para os vestibulares. O moedor foi ligado. Dentro de alguns anos estarão formados. Serão profissionais. E o que é um profissional se não um corpo que sonhava e que foi transformado em ferramenta? As ferramentas são úteis. Necessárias. Mas – que pena – não sabem sonhar... [...]. O corpo é o lugar fantástico onde mora, adormecido, um universo inteiro. Como na terra moram adormecidos os campos e suas mil formas de beleza, e também as monótonas e previsíveis monoculturas; como na lagarta mora adormecida uma borboleta [...] Tudo adormecido... O que vai acordar é aquilo que a Palavra vai chamar. As Palavras são entidades mágica, potências feiticeiras, poderes brucos que despertam os mundos que jazem dentro dos nossos corpos, num estado de hibernação, como sonhos. Nossos corpos são feitos de palavras... [...]. A este processo mágico pelo qual a Palavra desperta os mundos adormecidos se dá o nome de educação. [...]. Pensar é voar. Voar com o pensamento é sonhar. [...] Por isto que os adultos práticos e sérios não gostam de brincar. [...] Porque o brinquedo, sem produzir qualquer utilidade, produz alegria. Felicidade é brincar. E sabem por quê? Porque no brinquedo nos encontramos com aquilo que amamos. No brinquedo o corpo faz amor com objetos do seu desejo. [...]. As professoras me ensinaram que o Brasil estava destinado a um futuro grandioso porque as suas terras estavam cheias de riquezas: ferro, ouro, diamantes, florestas e coisas semelhantes. Ensinaram errado. O que me disseram equivale a predizer que um homem será grande pintor por ser dono de uma loja de tintas. Mas o que faz um quadro não é a tinta: são as ideias que moram na cabeça do pintor. São as ideias dançantes na cabeça que fazem as tintas danças sobre a tela. Por isso, sendo um país tão rico, somos um povo tão pobre. Somos pobres de ideias. Não sabemos pensar. Nisto nos parecemos com os dinossauros, que tinham excesso de massa muscular e cérebros de galinha. [...] É com as ideias que o mundo é feito. [...]. Trechos extraídos da obra A alegria de ensinar (Ars Poética,1994), do psicanalista, educador, teólogo e escritor Rubem Alves (1933-2014). Veja mais aqui, aqui e aqui.

DOIS AMORES E UM RIO - [...] E quando chegou o momento de cortejar a jovem esposa com palavras bonitas, de pôr a coisa em prática, Ramesh descobriu um tanto assustado que os compêndios de Direito nada lhe haviam ensinado a esse respeito. Mas acabou tudo dando certo, como manda o figurino, e Ramesh aprendeu uma lição: erudição é uma coisa, e amar e fazer amor outra bem distinta, e nem sempre as duas combinam. E depois, quem neste mundo resistiria, fosse ele bacharel em direito ou não, a uma criaturinha tão cheia de graça, tão cativante e charmosa como Susila? [...] Como o pintor que engasta no fundo do coração a imagem da bem-amada, como o poeta que canta em versos unicamente a mulher que adora (e ambos empregam todo o seu talento e toda a sua devoção nessa obra) assim se sentia Ramesh. Só faltava mandar construir um altar e ai colocar sua jovem e graciosa companheira, que passar a ser a única razão de sua existência, a doce alegria do seu coração e prosperidade do seu lar. [...]. Trechos extraídos da obra Dois amores e um rio: o naufrágio (Mundo Inteiro, 1975), do poeta e músico indiano, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, Rabindranath Tagore (1861-1941). Veja mais aqui.

DOIS POEMASA ALMA ESCOLHE A PROPRIA COMPANHIA: Sempre a alma escolhe a companhia / e fecha a porta / pois a divina maioria / não mais lhe importa. / Imóvel, de sege a parelha / ao portão baixo / imóvel e o imperador se ajoelja / sobre o capacho. / Sei que escolheu na Legião / entre a qual medra / fechou a valva da atenção / como uma pedra. TOMEI A FUNDA NA MÃO: Tomei a funda na mão / parti contra mundo e gente, / Davi mais armado – eu não - / eu duas vezes valente. / Lancei a pedra – caí. / Foi tudo o que aconteceu. / Seria maior Davi / ou muito menor sou eu? Poemas da poeta estadunidense Emily Dickinson (1830-1886). Veja mais aqui.

RAGÚ
Capas das edições da revista pernambuca de HQ, Ragú, editada por Christiano Mascaro e João Lin. Veja mais aqui e aqui.

Veja mais:
Os dois mundos de quem vive de um lado só, a arte de Angelo Agostini, a música de Juliette Herlin, a arte de Hannah Wilke, a pintura de Fernando Botero & Nik Helbig aqui.
A mulher na Idade Média, a música de Johann Joachim Quantz & Verena Fischer, a literatura de Naoki Higashida & Teolinda Gersão, Fritz Lang, a pintura de Georges Rouault & Siron Franco, Marie Dumesnil, Anne Baxter, Benita Prieto, Maisa Vibancos, A mulher & a escravidão aqui.
Mahatma Gandhi, Michelangelo Antonioni & Vanessa Redgrave, Educação, Carlos Zéfiro, Phil Collins & Genesis, Jennifer R. Hale & Maria Luísa Mendonça aqui.
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Nietzsche e a música, As raízes árabes na tradição poético-musical do sertão nordestino, História da Música de Otto Maria Carpeaux, O carnaval carioca através da música & a História da Música Popular de José Ramos Tinhorão aqui.
A vontade & a arte de Amanda Garruth, Deborah Rosa, Luciana Soler, Bete Sá, Vanessa Morais & Cantora Sol aqui.
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A ARTE DE NAHUI OLLIN
A arte da pintora e poeta mexicana Nahui Ollin (Carmen Mondragón, 1893-1978).
 

segunda-feira, janeiro 29, 2018

EAGLETON, ISABELLA GARDNER, GIANNI VATTIMO, GERALDO AZEVEDO, MÔNICA RUBINHO, VERONIQUE RADELET, QUERÔ, EVANDRO AFFONSO FERREIRA & AIRÔ BARROS

NO OLHO DO FURACÃO - Imagem: arte da pintora, fotógrafa, desenhista e artista visual Mônica Rubinho. - Para onde voo ninguem vai nem quer ir, se já foram ou perderam a viagem, acham de mim fugitivo do que não sei, ou desencaminhado. Vario minhas buscas, sou muitos e nunca encontro o suposto perdido na demanda do sequer achado, porque aprendi o que flui e permanece. Se só, pelo menos, desfruto acuado a segurar a barra sem ser molestado por papos da crise forjada pelos desmandos de necrófilos torturadores no ludíbrio do erário, regateando nossos cadáveres por antecipação e coisas quetais quebrantadas na encheção de saco entre o relativo e o contraditório na gravidez da madrugada prestes a parir o dia na minha desordem, como se fosse uma montanha russa, a findar no abismo a me desintegrar no olho do furacão quando sou equidade. Pelo discernimento rompo com o encanto de sapo que há em mim por maldição, desde que usurparam meu principado.  Se cruzo salteadores, ou se procuro e nunca acho, sabe lá Deus, quem há-de, é porque adiante só ocorre quando nem querem mais, destá, assim é a vida e voo na garupa dela como quem vai balanço das ancas da mulher amada de olhos baixos pros ombros dos seios na alça da blusinha decotada e eu espero ela voltar sempre sonsa na sua cancha varrendo a rua da minha visão, olhos baixos, pele lisa palpitante e sei que é ela pelo trinco do portão, arrancando mato da calçada, talos emergidos no asfalto, eu sei que é ela abundante e sensual a me levar pra janela e meus olhos se enchem de tentação, até vê-la dobrar reboladeira e provocante a esquina no final da rua e espero que ela volte toda hora enquanto sai comendo caminho e eu na espera fulminado ao desabrigo e a correr contra o tempo e ela não volta pra me fazer feliz. Vivo nela e pra ela, meu acolhimento, dela cresço-me pro prazer. E sei que o que me ensinaram era só canto de sereias frenéticas e sedutoras para que eu perdesse o aqui e agora, só com lições a extorquir minhas ideias e servindo apenas para as vésperas de então, ah, como fazem do pretérito o vivo e eu só juntando as guardadas na gaveta no meio de outras tantas tranqueiras, fotografias, boletos, canhotos e bilhetes dos amigos que não sei mais, mulheres que se perderam da minha degradação. Tudo que me ensinaram de nada só pra servi-los e o que não sabia era segredo e ao saber revelei a todos que pude, o propício e o desfavorável, recompensas e castigos, o longe e perto, o expresso e recôndito, e riram de mim, ah, que bom, ganhei sorrisos travestidos de chacotas e o espelho se quebrou: eu não era mais como queriam. Tomei a mim mesmo e aprendi o que não sabia e nunca me ensinaram. Com o tempo ganhei o menoscabo pelas costas e, depois face a face, no canto dos lábios a certidão, nem aí, riem ao ver-me quem sou, cada qual, sabedor do caroço que escondia o que não viam, eu sabia, mas tanto faz saber ou não, viver é o que vale e a morte se completa com a vida outra, porque apreendi a doutrina do coração pra alma revelada na desrazão, fechei os olhos e o desmedido espaço atemporal aniquilou os ponteiros das medidas e seleções distintas de um e de outro e de outrens no amálgama de tudo, a comandar a mim próprio disciplinado pra descoberta do reino encantado de todas as coisas. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá é dia de especial com o cantor e compositor Geraldo Azevedo: Uma geral do Azevedo & Tributo ao Mestre Dominguinhos; a poeta, cantora, compositora e artista plástica Airô Barros: Arribaça, Coisa simples e Senhor Baião & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA - [...] o ser no mundo [...] significa [...] estar já sempre familiarizado com uma totalidade de significados, com um contexto referencial [...] conformando-se também que qualquer ato de conhecimento nada mais é que articulação, uma interpretação dessa familiaridade preliminar do mundo [...]. Trecho extraído de O fim da modernidade: niilismo e hermenêutica na cultura pós-moderna (Martins Fontes, 1996), do filósofo italiano Gianni Vattimo. Veja mais aqui.

CULTURA – […] A cultura não é unicamente aquilo de que vivemos; ela também é, em grande medida, aquilo para o que vivemos, significando afeto, relacionamento, memoria, parentesco, lugar, comunidade, satisfação emocional, prazer intelectual, valores compartilhados, e tudo que é humana construído, ao invés de naturalmente dado. [...]. Trecho extraído da obra A ideia de cultura (Unesp, 2008), do filósofo e crítico literário britânico Terry Eagleton. Veja mais aqui.

AGARRAR AS PALAVRAS & O VOCÁBULO - [...] Ainda não cortei a teia da própria vida porqu me seguro nas palavras; o vocábulo é minha âncora. Não é bom viver tempo todo à beira do precipício agarrando-se ao verbo. Vejo minha mãe dançando sozinha na sala. [...]. Trecho da obra Minha mãe se matou sem dizer adeus (Record, 2010), do escritor Evandro Affonso Ferreira.

DOIS POEMASSE UM FEITICEIRO MORRE: Se um feiticeiro morre / o seu séquito de amantes, demônios, anjos caídos / gênios familiareas, curvados sobre a poção elegíaca / que fermenta feita de frutas de significados mágicos / colhidas ao som de palavras rituais com apelos ao morto. / Mulso comerciável condimentado com os seus ricos despejos. / Como um aprendiz de mago, um fimples familiar de familiar / à mãe o meu cabo de vassoura (ornado de visco) / para os funerais de domingo / para cavalgar no cortejo, / para mexer as carnes que cozinham ou para voar acordando. / Certamente esta endecha perfeita sobre o morto / ávido tal o butio, / solitário tal o herão, com o coração de phenix, / pulmões de gaivota, pulso de beija-flor, / asas de falcão e língua de cotovia. / chantecler, cocoricou a sua própria despedida e saudação. / E nem toda tinta e nem toda bebida e nem toda madeira de Wichita a Gales / valerá este galo. / A homenagem das nossas elegias assobia contra a noite / que assoma de bem perto para comportá-lo pela primeira vez / desde a sua morte e o nosso desconfortável repouso. / O rimar rugidor dos cantos deste muito lamentado Merlin / em sua homenagem, seus e nossos. / E de Jericó os muros do céu / com um grito de amor tal ressaca e explosão de flores. O LEITEIRO: A porta estava aferrolhada e as janelas / do alpendre tinham continas / para evitar os intrusos. / A tela de arame inoxidável peneirava os elementos. / De garganta ressequida sentei-me à mesa ali / e como com mui casto apetite / maçães vermelhas cruas: o suco, a carne, a casca e o miolo. / Era um meio dia calmo de verão enquanto almoçava ao sol. / Estava aplacando minha sede com maçã saciando cuidado / quando de repente senti um turbilhão de terror. / Logo, logo, tesa como um osso, / atentei no passo do leiteiro. / Escutei-o bater macio da porta do seu grande carro / e então suas botas aterravam no meu terreiro privado. / Tentei manter meus olhos cravados na mesa / mas a sucção da apreensão mungia minha força. / Por fim, subiu os degraus, chegou ao topo da escada / e ali estava de pé parado frente á porta aferrolhada. / A cor do sol desmaiou / senti o horror da sua quietude derreter-me / roubar-me de dentro de minhas meias e / atrair-me do meu almoço para ele. / Sua mão agarrou o trinco como borracha. / Senti-me escorrer contra a cortina / e sacudir a armação. / Tive de puxar o trinco; e então era o assaltante no meu vestíbulo. / Respirava, sorrindo, a forma do medo. / O leiteiro fez sua entrada: doador inexistente segurava nas mãos / manchadas de branco o fruto estéril engarrafado / e deu-me, este apóstata, almoço fatal. / Agora no inverno retirei-me do alpendre. / Para dentro da casa e as maçãs, / antes rubras, apodrecem onde as deixei sobre a mesa. / Agora se minha garganta anseia por fruta / o leiteiro tras um vaso para o meu desespero. Poemas da poeta estadunidense Isabella Gardner (1840-1924).

QUERÔ
O drama Querô (2007), dirigido por Carlos Cortez e baseado na obra do dramaturgo, escritor, jornalista e ator Plinio Marcos (1935-1999), conta a história de um adolescente órfão de mão que morre ao se embrigar com querosene, vive sozinho cometendo vários crimes menores, até ser detido pela Febem. Na instituição, faz inimizades entre os guardas e entre os delinquentes. Ao sair de lá, conhece Lica e se apaixona, mas não consegue abandonar a vida de crimes. Destaque para atuação da atriz, apresentadora de TV e diretora Maria Luísa Mendonça. Veja mais aqui e aqui.

Veja mais:
Pra quem vem do lado de lá ou quem vem do lado de cá ou vice-versa: cenário em ebulição, As grandes iniciadas de Hélène Bernard, a música de Arabella Steinbacher, a arte de Rubens Gerchman & Willem de Kooning aqui.
É ela a soberania do mar na foz do meu rio, a música de Marianna Leporace, a arte de Naura Schneider & Luciah Lopez aqui.
A mulher no cristianismo, Fernando Sabino, Francisco Mignone, Júlio Bressane, a pianista Lilian Barreto, a poesia de Germana Zanettini, a história de Teodora & Marózia, Rodrigo Luff, a arte das atrizes Adrienne Lecouvreur & Bel Garcia, Manoela Afonso & Relacionamentos pós-modernos aqui.
As sombras de Gilvanícila, Rainer Werner Fassbinder, Ângelo Cantú, The Dresden Dolls, Heloisa & Abelardo, Barão de Itararé, Claudia Pastore, Rosel Zech, Demócrito Borges & Isabela Morais aqui.
A poesia de José Marti aqui.
Fecamepa & a arenga pela corrupção, Radamés Gnatalli, a literatura de Anton Tchekhov & Germaine Greer, a neurocientista Linda Buck, Emmanuelle Seigner & Clóvis Graciano aqui.
As duas mortes de dona Zezé, Jacques-Antoine-Hyppolyte, Jane Birkin, Rafael Hidalgo de Caviedes, Frances McDormand, Frank Miller, Violência contra a mulher, Diva Cunha, Regina Souza Vieira & Deize Messias aqui.
A anarquia de cores de Iara Vichiatto aqui.
Ná na garganta, Jan Cláudio & Eduardo Proffa aqui.
Aprender a aprender aqui.
Entrevista direto do Japão com a nutricionista Simone Hayashi aqui.
Musa Tataritaritatá: ih, deu chabú aqui.
A primavera de Ginsberg, libelo & anátema aqui.
Big Shit Bôbras: liderança, a segunda emboança aqui.
A primavera de Ginsberg, Frederick Chopin, a pintura de Karl Briullov, a pianista Valentina Igoshina, o teatro de Paula Vogel, o cinema de Jane Campion, a arte de Andréa Beltrão & Meg Ryan, Direitos Humanos, Cordel do Professor & Mademoiselle Dubois aqui.
O pensamento de Noam Chomsky aqui.
Palmares aqui.
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O teatro de Brecht, Stanislavski, Bornhein, estudos & história aqui.
A teoria interpessoal de Harry Arack Sullivan, Irina Costa, Danny Calixto, Bernadethe Ribeiro, Daniella Alcarpe, Débora Ildêncio & Rose Garcia aqui.
Litisconsórcio, Tavito, Bruno Vinci & Teco Seade aqui.
Psicologia na Educação & Bandas Alagoanas: Eek, Gato Zarolho & Palhaço Paranoide aqui.
Friedrich Schelling, Dante Alighieri, Lewis Carroll, Djavan, Rosa Parks, Paula Rego, Fernando Fábio Fiorese Furtado, Carrie-Anne Moss & Jaorish Gomes Telles aqui.
A primeira dama do golpe da temerança, Macerla Tedeschi aqui, aqui e aqui.
A filosofia idealista de Benedetto Croce aqui.
O pensamento de Tales de Mileto aqui.
O Budismo aqui.
Vardhamana & o Jainismo aqui.
Beda & a psicologia de Geroge Kelly aqui.
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Lukács, Psicologia Social & Filosofia do Direito aqui.
A poética de Aristóteles aqui.
O erotismo de Georges Bataille aqui.
Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda aqui.
Quadrinhos: a nona arte aqui.
A literatura de Gustave Flaubert aqui.
O Grande Circo Místico de Jorge de Lima aqui.
A poesia de João Cabral de Melo Neto aqui.
Poetas do Brasil aqui, aqui e aqui.
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A ARTE DE VERONIQUE RADELET
A arte da artista plástica belga Veronique Radelet.