sábado, dezembro 02, 2017

THOMAS MANN, JOSUÉ DE CASTRO, AUTRAN DOURADO, MARIA CALLAS, TONINHO HORTA, JESSIER, BARBARA HEINISCH, TEATRO PERNAMBUCANO, CONTRAPONTO & VENTUROSA

É SIM E COMO É QUE NÃO PODE – Imagem: arte da pintora e perfomer alemã Barbara Heinisch. - Quando Jadinelson – Jadí pros da sua laia - bateu as botas que chegou à encruzilhada entre as portas do céu, o buraco do inferno e o estreitinho pinguelo do purgatório, bateu-lhe uma dúvida: Pronde é que vou mesmo? E ficou ali, no osso do mucumbu, sem saber qual deles escolhia. É que sua vida não havia sido nada daquilo que imaginava que fosse, de não saber ao certo, se pulava pra santa paz, se tostava inturido pagando os pecados de vez, ou se pinotava pra coluna do meio amargando a eterna dúvida: Estou num verdadeiro mata-burro! Tudo começou quando ele deu aquela empenada de se enrabichar pras bandas da Cecíclia – a angelical feiosa Cezinha, a que arriou desmantelando sua vida numa estrepitosa paixonite -, não prevendo ele as afolozadas voltas que a vida dá. Cristão filho de Deus, como ele se dizia reiteradamente, não entendia o que havia feito pra pagar tão pesado quinhão. Resolveu, então, dá um freio nas ideias e refletir no amiudado para saber adonde é que estava a causa de tudo que tanto atormentava no meio das nuvens. Tantos constrangimentos repassados, até teve cócegas afetivas no seu combalido coração, com as lembranças de como foi que ela pousou faceira, de repente, como um anjinha bem safadinha às suas vistas. Pense num aperreio: ela nem aí pra sua secura idílica. Não fosse o amigo carne e unha, Lalau – o Venceslau pros que não são da roda -, aliado às coiteiras ajeitadas da sua amantíssima namorada, Lolinha – respeitosamente tratada por dona Locidalva -, ele não teria sabido como fazer com aquele estrupício de paixão. Emplacou namoro de pular noivado, casando-se com o prestimoso apadrinhamento do casal amigo. Nem bem dois meses, já anunciava festivamente o embuchamento da então esposa, com uma cachaçada de arrasar quarteirão: É homem, macho como o pai! A gravidez aos altos e baixos, idas e vindas, o menino rebenta e ele todo ancho, nem levava mais em conta os apertos de todos os dias, semanas, meses, anos. Estava ele agora premiado com o sonho de ser pai e isso era o que valia, pronto! A vida passa, o tempo lá e cá, o menino cresce e a fuchicagem come no centro: Esse menino desmunheca! Como? Isso mesmo! Sai pra lá comboio de enredeiro! Rapaz, esse menino acende a fluorescente! Hem? Ele queima a rodela! Vai ter briga. Esse menino, sei não a quem puxou! E Jadí foi conferir a boataria: olhou, cismou, quase teve um troço, fez que não viu, relevou, chateou-se, não morreu por conta do sempre providencial pitaco do Lalau: Rapaz, se levar a sério o que a mundiça diz, você que morre do coração. É mesmo. Convenceu-se e deixou a coisa escorrer na calha, até o dia em que a boataria passou dos limites e ele se virou pra mulher e gritou: A culpa é sua, desgraçada! Ela nem ligou, já era culpada mesmo de um monte de coisas que nem entendia. Foi aí que o próprio Lalau segredou: Meu compadre, abre o olho: o menino está fazendo fila da macharia nos requedros das quebradas. Como é? Ele está servindo de quenga pra lavagem da jega! Hem? Ô bicho burro da gota: o macho do teu filho está soltando o frosquete! Vixe! Danou-se! Quer me matar de vergonha, é? Foi um Deus nos acuda! Esse menino só me dá vexame! A coisa enfeiou dele perder o senso e a razão: tomou todas de virada e quando chegou em casa arriou a lenha pra cima da mulher, findando na deportação do primogênito: Agora ele vai dar o furico na casa de caixa pregos, aqui não! Então, desterrado pro fim do mundo, o seu Sydnelson assumiu de vez a SySy – com dois ipsilones no meio dos dois esses, como ele afetadamente pronunciava. E transformou-se na dama desvaraida das noites, viúva dos perdidos, cachorra dos sebosos, quenga dos desvalidos, atriz no picadeiro das mariposas, dadeira de todas as safadezas embaixo do lençol: Essa é a viada mais despranaveada de todas! E ela desfilava reboladeira toda espaçosa a ponto de seduzir gregos e troianos às centenas toda de manhã, de tarde e de noite madrugada a dentro, direto feito cantiga de grilo, de não se saciar da safadeza todos os dias, até feriados e dias santos, o que era o maior escândalo. Era um escarcéu. Eis que um dia lá, quando se preparava para a cirurgia de remoção dos penduricalhos e troca dos documentos, ninguém sabe que milagre dos remédios, a espalhafatosa biba se acordou assim, sem mais nem menos, macho dos brabos como se ruidoso e destemido halterofilista, distribuindo bofetada para quem ousasse escárnio com qualquer menção à Sysy: - agora valente Sidnelson, pra quem não sabe. Alguém assobiasse dormia certamente com o maluvido esquentado pra aprender a respeitar. Como é que é? Nunca ouvi falar de ex-gay! Sou muito macho! - e carimbava a munhecada de deixar uma roncha no olho do intrometido que aparecesse com insinuação. Logo ele conheceu Ranuza, uma galeguinha bem arrumada de peito, cardan e beiço, chega dava gosto de ver os dois no maior dos agarrados, aos beijos e apertões. Menino, essa eu nunca vi! Agora veja. Tanto é que Jadinelson estava lá no meio das nuvens, se perguntando: Como é que pode, hem? É sim e por que não? © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais 

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com com a cantora lírica estadunidense de origem grega, Maria Callas – La Divina (1923-1977) & Best Colection – Casta Diva, Madame Butterfly, La Traviata, Mimi & Mio bambino caro; & do compositor, arranjador, produtor musical e guitarrista Toninho Horta: Foot On The Road (1994). Veja mais 

PENSAMENTO DO DIA – [...] Em realidade, passamos a nos habituar com o desumano. Aprendemos a tolerar o intolerável. Acomodamo-nos a uma realidade social repleta de carências e cheia de ausências. A palavra política provoca um silêncio gritante. O arco-iris do futuro se nos apresenta inteiramente incolor. Ao purgarm,os essa nova ordem coletiva, caminhamos indignados, mas com uma intrigante conformação, esperando que algum milagre aconteça nas nossas vidas e compreendamos melhor a teia de complexidade que é a realidade, porquento nas nossas míopes visões tudo isso não passa de uma (dês)ordem geral. Trecho de O poder dos mercados: até pouco tempo atrás, a economia nacional era uma entidade soberana, agora o domínio é dos mercados, extraído da obra Contraponto: poder, política, economia e costumes (CEPE, 2006), do economista, professor universitário, editor e analista consultor Carlos Alberto Fernandes.

VENTUROSA – O município de Venturosa é administrativamente formado pelos distritos sede e Grotão e pelos povoados de Ingazeira e Tara Velho, está inserido no Planalto da Borborema, situado nos domínios da Bacia Hidrográfica do Rio Ipanema e seus tributários são os rios dos Bois e Cordeiro, e os riachos do Meio, Carrapateira, da Luiza, das Cabeceiras, Chã de Souza, da Pedra Fixa e Simão. Todos os cursos d'água são intermitentes. O município conta ainda com o açude Ingazeira. O município foi denominado de vila de Venturosa já próximo de ser emancipada. Logo em seguida, foi elevada a categoria de cidade, localizando-se a Pedra Furada, que é uma das mais belas paisagens da região e que faz parte do pólo Buíque/Pesqueira/Venturosa que é um dos sete pólos de ecoturismo de Pernambuco. Em 1985, a Prefeitura de Venturosa construiu o Parque Pedra Furada que dispõe de infraestrutura básica, situada no parque municipal, no qual o mirante oferece paisagens de grande beleza. A cidade possui também outros sítios arqueológicos de grande valor histórico-cientifico, como a pedra do Tubarão, onde foram descobertos um cemitério de índios pré-históricos; Peri-peri ou Morro dos Ossos, formados por dois grandes blocos de granito, que afloram em meio a uma planície e que possuem em suas paredes inúmeras pinturas rupestres. Veja mais aqui.

QUEM NÃO TEM REMÉDIO REMEDIADO ESTÁ – A família Silva mora nos “mangues” da cidade do Recirfe, num “mocambo” que o chefe da família fez quando chegou de cima. A família é originária do sertão. Desceu do Cariri, na seca, perseguida pela fome. Fez uma paradinha no brejo, para tentar o trabalho das usinas, mas não se pôde agüentar com os salários dessa zona, sem ter direito a plantar senão cana. Sem ter, nem ao menos o recurso do xiquexique e da macambira, como no sertão, para quando a fome apertasse. Nesse tempo espalharam pelo interior um boato que o governo tinha criado um ministério para defender os interesses do trabalhador e que com os fiscais da lei, a vida na cidade estava uma beleza, trabalhador ganhando tanto que dava para comer até matar a fome. A família Silva ouviu esta estória, acreditou piamente e resolveu descer para a cidade, para gozar das vantagens que o governo bom oferece aos pobres. Logo de chegada a família ouviu que a coisa era outra. Não havia dúvida que a cidade era bonita, com tanto palácio e as ruas fervilhando de automóveis. Mas a vida do operário, apertada como sempre. Muita coisa pros olhos, pouca coisa pra barriga. O caboclo Zé Luís da Silva não quis desanimar. Adaptou-se: "Quem não tem remédio, remediado está." Entrou na luta da cidade com todas as forças de que dispunha, mas as forças dele não rendiam que desse para a família viver com casa, roupa e comida. Casa só de 80 mil réis para cima, para comida uns 150 e os salários sem passarem de 5 mil réis por dia. Começou o arrôcho. Só havia uma maneira de desapertar: era cair no mangue. No mangue não se paga casa, come-se caranguejo e anda-se quase nu. O mangue é um paraíso. Sem o cor-de-rosa e o azul do paraíso celeste, mas com as cores negras da lama, paraíso dos caranguejos. No mangue o terreno não é de ninguém. É da maré. Quando ela enche, se estira e se espreguiça, alaga a terra toda, mas quando ela baixa e se encolhe, deixa descobertos os calombos mais altos. Num deles, o caboclo Zé Luís levantou o seu mocambo. As paredes de varas de mangue e lama amassada. A coberta de palha, capim seco e outros materiais que o monturo fornece. Tudo de graça encontrado ali mesmo numa bruta camaradagem com a natureza. O mangue é um camaradão. Dá tudo, casa e comida: mocambo e caranguejo. Agora, quando o caboclo sai de manhã para o trabalho, já o resto da família cai no mundo. Os meninos vão pulando do jirau, abrindo a porta e caindo no mangue. Lavam as ramelas dos olhos com a água barrenta, fazem porcaria e pipi, ali mesmo, depois enterram os braços na lama a dentro para pegar caranguejos. Com as pernas e os braços atolados na lama, a família Silva está com a vida garantida. Zé Luís vai para o trabalho sossegado, porque deixa a família dentro da própria comida, atolada na lama fervilhante de caranguejos e siris. Os mangues do Capibaribe são o paraíso do caranguejo. Se a terra foi feita pro homem, com tudo para bem servi-lo, também o mangue foi feito especialmente pro caranguejo. Tudo aí, é, foi ou está para ser caranguejo, inclusive o homem e a lama que vive nela. A lama misturada com urina, excremento e outros resíduos que a maré traz, quando ainda não é caranguejo, vai ser. O caranguejo nasce nela, vive nela. Cresce comendo lama, engordando com as porcarias dela, fazendo com lama a carninha branca de suas patas e a geléia esverdeada de suas vísceras pegajosas. Por outro lado o povo daí vive de pegar caranguejo, chupar-lhe as patas, comer e lamber os seus cascos até que fiquem limpos como um copo. E com a sua carne feita de lama fazer a carne do seu corpo e a carne do corpo de seus filhos. São cem mil indivíduos, cem mil cidadãos feitos de carne de caranguejo. O que o organismo rejeita, volta como detrito, para a lama do mangue, para virar caranguejo outra vez. Nesta placidez de charco, identificada, unificada no ciclo do caranguejo, a família Silva vai vivendo, com a sua vida solucionada, como uma das etapas do ciclo maravilhoso. Cada elemento da família marcha dentro desse ciclo até o fim, até o dia de sua morte. Nesse dia os vizinhos piedosos levarão aquela lama que deixou de viver, dentro dum caixão pro cemitério de Santo Amaro, onde ela seguirá as etapas do verme e da flor. Etapas demasiado poéticas, cheias duma poesia que o mangue não comportaria. Parte-se aparentemente, neste dia, o ciclo do caranguejo, mas os parentes que ficam, derramam caridosos as suas lágrimas no mangue para alimentar a lama que alimenta o ciclo do caranguejo. Texto O ciclo do carangueijo, extraído da obra Documentário Nordeste (Brasiliense, 1957), do médico, professor catedrático, pensador, ativista político e embaixador do Brasil na ONU, Josué de Castro (1908-1973). Veja mais 

A VERDADE & A BELEZA - [...] A verdade e a beleza devem ser postas em relação; tomadas em si mesmas, sem o apoio que mútuamente se prestam, são valores mui instáveis. A beleza que não se fundasse na verdade, que não pudesse apelar para ela, que não nascesse dela a não vivesse graças a ela, seria pura quimera - e "que é a verdade"? Tirados dum mundo de fenômenos, duma visão do mundo submetida a múltiplas condições, nossos conceitos, como o discerne e o reconhece a filosofia crítica, não são para use transcendente mas só imanente; esse material de nosso pensamento e, com maior razão, os juízos que nos permite construir, não são meios adequados para quem quer apreender a própria essência das coisas e a verdadeira conexão do mundo a da existência. Mesmo que, por uma experiência intimamente vivida, se determine mais convencida a mais convincentemente o que está na base dos fenômenos ainda não se terá trazido à luz a raiz das coisas. Só isto encoraja o espírito humano a tentar este ensaio, que se lhe impõe a isto o justifica; é a hipótese necessária de que também o nosso próprio ser, o nosso mais profundo Eu, é um elemento desse "substractum" do mundo, que aí deve ter raízes e que, por conseguinte, dele talvez se tirem alguns dados que permitam esclarecer a ligação do mundo dos fenômenos a da essência verdadeira das coisas. [...] Texto escrito pelo escritor alemão e Prêmio Nobel de Literatura de 1929, Thomas Mann (1875-1955). Veja mais 

AQUELA DESTELHADA – [...] Destelhada sozinha na rua era uma, em companhia de dona Pequetita era outra. Sozinha, andava ligeira e desempenada, deselegante e sem jejto, o corpo bambolenate todo apoiado ora num pé, ora noutro. Se encontrava algum conhecido, parava e destramelava a língua, contava os casos mais estúrdios e desataviados, que ninguém entendia direito, tão matéria de desmiolação eram as suas conversas. [...] Num instante Aquela Destalhada foi sumindo, sumindo, minguando, e virou um monte de ossos, fantasticamente encolhida. Todo mundo viu que, apesar dos surpreendentes cuidados de dona Pequetita, tinha chegado a sua vez. [...]. Conto extraído da obra Melhores contos (Global, 2001), reunidos do escritor, advogado e jornalista Autran Dourado (1926-2012), organizado por João Luiz Lafetá. Veja mais 

FÉ MENINA: DE COMO AOS POUCOS POUQUINHOS SE PALAVRA UMA MULHER – Aos poucos ela se estreia. / se espelha, se emparelha, se brecha, se avexa / se acalma, se isola, se desnuda, se tesuda / se chuvisca, se saboneta, se tateia / se depila, se orvalha, se toalha, se enxuta / se hidrata, se escova, se desodora, se fareja / se calcinha, se saia, se camiseta / se retoca, se bonita, se bendita, se viceja / se lampeja, se menina, se gata, se heroína, / se tigresa, se mulher. / Se joga na vida dele, se afeiçoa, se atina, se afina, / se imã, se clima, se bem-me-quer. / Se namora, se demora / se chega, se aprochega, se encabula, se melindra / se recata, se fasta, se dificulta / se nega, se nega, se nega... / Se titubeia, se insinua, se permite, se alua / se enfraquece, se esquece, se entrega, se chamega / se beija, se rebeija, se carícia / se ameiga, se marasma, se instiga, se descontina. / Se inflama, se faísca, se incendeia, / se inunda, se serpenteia / se galopa, se ofega, se avassala, se cora / se desnorta, se doideja, se tremelica / se transborda, se zarolha, se estardalha / se estonteia, se estronda, se estupefa / se estafa, se triunfa, se fulmina... / se glorifica. Poema extraído da obra Bandeira nordestina (Bagaço, 2006), do poeta, compositor e intérprete Jessier Quirino. Veja mais 
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XADREZ NA BIBLIOTECA FENELON BARRETO
Nesta sexta-feira, 01/12, realizou-se o Campeonato de Xadrez na Biblioteca Pública Fenelon, envolvendo alunos da Escola Municipal Lauro Chaves e participantes da comunidade, com apoio da Semed Palmares-PE.

Veja mais:

A literatura de Marquês de Sade aqui, aqui, aqui & aqui.
A arte de Anita Malfati aqui, aqui, aqui & aqui.
O teatro de Edmond Rostand aqui.
A arte de Otto Dix aqui.
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A ARTE BARBARA HEINISCH
A arte da pintora e perfomer alemã Barbara Heinisch.

MEMÓRIA DA CENA PERNAMBUCANA
Livro tratando acerca da cena teatral pernambucana, a partir do Teatro Hermilo Borba Filho, do Tucap, do TEO, do Teatro da Criança do Recife, Vivencial Diversiones, Clube de Teatro de Pernambuco, do Tare/Marcus Siqueira Produções Artisticas, do TAM, TTTrês Produções & Grpo de Teatro Panaceia, organizado por Leidson Ferraz, Rodrigo Dourado e Wellington Júnior (Autores, 2005), com entrevistas, fotos e registros de espetáculos. Veja mais aqui & aqui.