segunda-feira, julho 10, 2017

VILLA-LOBOS, MAFFESOLI, TURÍBIO SANTOS, MAGRITTE, MAGDA TAGLIAFERRO, EVELYN BENCICOVA, ÁLVARO HENRIQUE, ANNA STELLA SCHIC & CURTA DE FLÁVIO LEANDRO

SOBREVIVENDO À NOSSA BARBÁRIE - Imagem: La condition humaine, do pintor do Surrealismo belga René Magritte (1898-1967). - É com frequência aqui, ali ou acolá, alguém indagar que tempo é este! Esse questionamento invariavelmente surge diante de situações catastróficas, paradoxais ou de extrema violência. Há um amontoado de respostas imediatas, preponderando o dito dos fervorosos religiosos com a afirmação simplista de que é o fim do mundo! E o eco escatológico é reproduzido de forma alarmista como que prevendo a nossa desgraça iminente. Não obstante, é palpável a constatação de que algo está mesmo fora da ordem, como também é quase unânime a grita protestando contra a tragédia, quando pouco ou quase nada se tem feito para mudar esse quadro, encontrando-se até resistências irredutíveis que são mantidas para que nada saia do controle e do previsível. Cada qual seu sectarismo, contradições explícitas se avolumam. Há quem diga que seja a aguda ampliação do fosso entre pouquíssimos privilegiados e a esmagadora maioria escanteada pela exclusão, criando o descompasso que leva ao ápice do que Freud atribuiu ser o conflito entre o princípio do prazer e o princípio de realidade. Bem, opiniões à parte, é inegável que contemplando o passado, a condição de vida melhorou no planeta, malgrado os problemas ambientais crescentes. Entretanto, se a qualidade de vida melhorou, não quer dizer que o ser humano tenha evoluído, o que há de gente ofendida e infeliz gratuitamente distribuindo maledicências nas suas exasperadas expressões, quando não socos e pontapés para rechaçar o oponente ou impor seu poder, não desdiz em nada o desequilíbrio. É flagrante a cotidiana situação de sentimentos feridos, golpes duros do ódio e da indiferença, a feroz competição, na qual a ignorância e emoções indisciplinadas ditam o curso sob pisoteados, configurando o tanto de pequenez danosa e mesquinharia dolorosa caracterizadas pela fúria do hedonismo descartável, do consumo de simulacros, das ameaças e pontos de ruptura entre uns e outros. De um simples aceno ou choque inadvertido, a geração de conflitos e rotas de colisão que comprovam uma carga de negatividade sem precedentes. Aliás, desajustes são visíveis desde que o ser humano começou a intervir na Natureza para o seu sustento e prosperidade há milênios, quando então surgiram maniqueísmos que simularam impérios, discórdias territoriais e religiosas, agressões, consensos e dissensos conforme os interesses de uns em detrimento de muitos, senão todos; imposições e totalitarismos atravessaram eras, a ponto de cada um se ver hoje sob tensões que se revelam tanto por temores crônicos oriundos da insegurança, do medo, da vulnerabilidade; como por terrores incontroláveis nascidos da ambição do umbigocentrismo, do conluio por poder e da necessidade de supremacia sobre o outro: a barbárie da pós-modernidade. Com isso, torna-se visível a condição de sem saída, potencializando o pânico. Diante de situação grave, pungente e funesta tal como a que se vive hoje em dia nas casas com seus altos muros e janelas e portas gradeadas, da atenção redobrada nas saídas pros afazeres diários, da desconfiança generalizada, pergunta-se o que se há de fazer a não ser levar a vida como der ou puder. Pois é, ao centralizar tudo no umbigo, nada mais resta que a solidão e o abandono: não há como firmar bases sólidas nas pressas dos modismos, quando vai ver tudo passou, ficou só lixo pro terreno baldio ou pra debaixo dos tapetes – o que dá no mesmo: o que se esconde, reaparece; o que bota de lado, volta ao ponto de partida. A terra é redonda ou quase; tudo que vai, volta. Pra mim, o que nos resta é enfrentar com discernimento e compreensão, viver e ver as coisas lindas que estão visinvisíveis. E vamos aprumar a conversa. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

A BARBÁRIE HUMANA DE MAFFESOLI
As tribos pós-modernas fazem parte, agora, nos dias atuais, da paisagem urbana. Isso, após terem sido objeto de uma conspiração silenciosa das mais estritas – quanta tinta elas fizeram correr! Tudo de uma vez, para relativizá-las, marginalizá-las, invalidá-las depois de denegri-las. Coloquemos uma questão simples. Essas tribos, não são elas a expressão da figura do bárbaro que, regularmente, retorna a fim de fecundar um corpo social, um pouco debilitado? O que há de certo é quando uma forma do laço social se satura e que uma outra (re)nasce – isso se faz, sempre, com temor e vacilação. É o que faz com que certas boas almas se choquem por essa renascença, porque ela desloca um pouco a moral estabelecida. Do mesmo modo, certas belas almas podem se ofuscar, pois essas tribos não fazem senão privilegiar a primazia do Político. [...] Da minha parte, de diversas maneiras, analisei a centralidade subterrânea, a socialidade obscura e outras metáforas, pontuando a retirada do povo sobre seu Aventino. Orfandade da tradição mística, retornando, subrepticiamente, ao gosto do dia! Um tal tecido repregueado é frequente nas histórias humanas. E ele é sempre o indicador de uma demanda de reconhecimento. Contra o patriciado romano, o povo se refere a seus direitos. Isso se dá igualmente em nossos dias. E a demanda implícita, silenciosa, que tem dificuldade em se formular, necessita que se saiba fazer uma espécie de geologia da vida social. E, na maneira de ser, uma pesquisa das estruturas heterogêneas que a constituem. Mas fiquemos nesta ambivalência. Esta bipolaridade entre isto que é retraído e o que se mostra. Ainda mais hermético que em evidência. Salvemo-nos aqui do comentário que fez Lacan do conto de Edgar Poe, “a carta roubada”. É porque ela está aqui, sob o manto da chaminé que o comissário que está à sua procura não a vê. E como em eco, ouçamos o conselho de Gaston Bachelard: “não há ciência fora do obscuro”. Dizendo com clareza esse escondido nos arruína os olhos. E por pouco que se tome seriamente a teatralidade dos fenômenos, este theatrum mundi, de antiga memória, se saberá aí ver os novos modos de vida em gestação. Para além de nossas certezas e convicções: políticas, filosóficas, religiosas, científicas, convém se por em acordo simplesmente, humanamente, ao que se dá a ver. Procurar o essencial no inaparente das aparências. Estas da vida cotidiana. Estas desses prazeres miúdos e de pouca importância, constituindo o humano onde cresce o estar-junto. Não será isso a cultura? “Os aspectos os mais importantes para nós estão escondidos por causa de sua banalidade e de sua simplicidade” (Wittgenstein). Talvez a partir de um tal principio de incerteza se será capaz de fazer um bom prognóstico. Quer dizer, ter a intuição dos fenômenos, esta visão do interior, fazendo tanta falta à paranóia tão frequente nas elites. A partir do olhar penetrante nos será permitido ver o núcleo fatíco das coisas. Fatídico, porque nos falta ser mestres. Isso vem de bem longe, e não se deixa dominar pela pequena razão instrumental peculiar à modernidade. Núcleo arquetípico, no qual é importante localizar a fecundidade.
Trechos do artigo A barbárie em face do humano: as tribos pós-modernas (Z Cultural, 2015), do sociólogo francês Michel Maffesoli. Veja mais aqui & aqui.

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A CONDIÇÃO HUMANA DE FLÁVIO LEANDRO
O curta metragem de animação A condição humana (2006), dirigido por Flávio Leandro, conta a história de um artista de rua entretendo transeuntes nas praças publicas do centro do Rio de Janeiro, para levar o pão de cada dia para a mulher e o casal de filhos. Em sua atuação de rua, o artista mambembe se questiona se deve ou não continuar a fazer esse tipo de trabalho. No dia do aniversário do casamento o destino lhe reserva uma surpresa.

RÁDIO TATARITARITATÁ: RECITAL VIOLÃO & PIANO
Hoje é dia de especial com o violonista Turíbio Santos Violão Sinfônico & Orquestra de Violões, a pianista Magda Tagliaferro com recitais da obra de Heitor Villa Lobos; o violonista Álvaro Henrique com a Suíte Candanga & Villa Lobos; e a pianista Anna Stella Schic com prelúdios & infantis de Villa Lobos. Para conferir é só ligar o som e curtir.

A ARTE
Ecce Homo, projeto da artista e fotógrafa alemã Evelyn Bencicova. Veja mais aqui & aqui