terça-feira, julho 25, 2017

MANOEL DE BARROS, TONINHO HORTA, BADI ASSAD, GIANNOTTI, MAX RICHTER, GROMAIRE & CHARLOTTE GAINSBOURG

RENASCER NA MANHÃ - Imagem: Intérieur au pot gris, do pintor francês Marcel Gromaire (1892-1971). - Um pé na frente, outro atrás. Um passo após outro, estradas que me perco trocando pernas riso solto olho ao longe. Ali, lá longe a barra da bonança enquanto chuva torrencial desmorona meu pranto por atoleiros, pântanos, desfigurando a fantasia, o futuro e tudo do que fui nem resta mais nada. Você não sabe como as coisas acontecem, apenas acontecem, reação de ação. De repente tudo muda, antes tarde ensolarada, noites de tempestades. Tantas vezes morri, renasci das cinzas, juntando restos, cacos, quase nem sobrevivi, dos pedaços histórias pra contar, coisas de doer, quando dói sai bonito, a dor emancipa. Fui pra longe de mim mesmo, quase nem me reconheci, terra que nasci, vida que plantei, frutos que caíram podres antes de amadurecer. Passei à toa, quanse nem senti o que sangrou, talhos que nem sei, feridas abertas escondidas. Quase nem sonho, o concreto bruto do asfalto entrou rasgando minha cabeça, arrebentando tudo, ideias, ideais, sonhos, quase viro viga parede sem reboco, desbocada, desbotada, piso que afundou, telhado que caiu e só pude ver o Sol sentir e renascer na manhã. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

A UNIVERSIDADE DE GIANNOTTI
Foi-se o mundo de antigamente. A revolução tecnológica alterou por completo nossas relações com a natureza e com o outro. Vivemos mergulhados numa segunda natureza constituída de máquinas sábias, verdadeiros raciocínios ambulantes dos quais pegamos o começo e o fim. O protótipo da máquina moderna, o computador, não tem nada a ver com a ferramenta, que prolonga o gesto e poupa esforços; consiste na encarnação duma teoria, saber feito material volátil, que por si só a verifica e abre um espaço inédito que o conhecimento do indivíduo nunca poderia desenhar. O computador é um cientista coletivo posto à disposição do pesquisador ou da dona-de-casa. Por isso reúne, no seu pequeno intervalo, a teoria e a prática, sendo o exemplo mais extraordinário de como a ciência neste século se transformou numa força produtiva. Se, na verdade, pode ser objeto de consumo individual, jogo de salão moderno, é quando se integra numa fábrica ou numa instituição prestadora de serviços que cumpre seu destino social. Mas nem só de computador vive o homem moderno. O telefone, a televisão, o processador de palavras, o avião ultrarápido são peças de sistemas diante dos quais cada um se põe isoladamente, fascinado pela máquina como se ela fosse uma tela de cinema que, no escuro, abole o pensamento próprio. Nada mais próximo do que a voz que fala do outro lado da linha, ouvimo-la como se estivesse ao lado. Enquanto porém o outro visível foge de nosso arbítrio e resiste a nossos caprichos, a voz alheia no aparelho depende duma ligação desejada e está sempre à mercê daquela ira que bate um telefone na cara. Desse modo, a confissão mais íntima vive sob a ameaça dum corte abrupto, que empresta à individualidade contemporânea o caráter duma mônada sem janelas. A ilusão narcísica é contraparte da cientificação da natureza. [...] A Universidade é coisa perigosa em países subdesenvolvidos. Só o fato de possuir hoje mais de 1.600.000 estudantes dá uma idéia da revolução intelectual que haveria se a maioria deles fosse eficaz e inventiva. Daí a funcionalidade da infra-estrutura precária e da incompetência. [...] Não se trata de separar uma Universidade que o Estado organiza como uma comunidade de sábios, de outra que se identifique com uma empresa capitalista. Nem uma nem outra são viáveis em sua pureza. A questão crucial é saber como se vai controlar a relação da Universidade com a comunidade e quem vai desempenhar essa função. O departamento estatal isonômico pode converter-se num ninho de burocratas, aquele intimamente ligado ao Governo ou à empresa privada, num inferno competitivo. O primeiro perigo a evitar é que ambos se julguem a si mesmos. Só me parece sair do impasse se a Universidade aprofundar seu processo de democratização, obviamente evitando o assembleísmo dum lado, e a farsa parlamentar de outro. Criar um sistema efetivo e eficaz de representação, eis a tarefa mais urgente. [...] No imaginário das sociedades ocidentais reside o impulso para o conhecimento racional. Por isso, estamos mal acomodados neste conhecer que se resolve num fazer de conta de conhecimento. [...].
Trechos extraídos de A universidade e a crise (Novos Estudos, 1984), do filósofo e professor universitário José Arthur Giannotti.
Autor de A universidade em ritmo de barbárie (Brasiliense, 1986), entre outras obras.

Veja mais sobre:
Palco da vida, A terceira mulher de Gilles Lipovetsky, Toda palavra de Viviane Mosé, A vida mística de Jesus de Harvey Spencer Lewis, a música de Andersen Viana, Roseli Rodrigues & Balé Teatro Guaíra, a pintura de Maria Szantho & Katia Kimieck, a arte de Maxime des Touches & Vavá Diehl aqui.

E mais:
O dia fora do tempo, Vida pra o consumo de Zygmunt Bauman, Salambô de Gustave Flaubert, Hino à beleza de Charles Baudelaire, Lisístrata de Aristófanes, a música de Jean-Philippe Rameau, Valeria Messalina, a arte de Alan Moore, a pintura de Anita Malfatti & Jaroslav Zamazal aqui.
Auto-de-fé de Elias Canetti, a música de Alfredo Casella & Celia Mara, Gestão de Pessoas, a arte de Paula Valéria de Andrade & Lou Albergária aqui.
O ser humano e seus papéis construtivos e não-construtivos aqui.
Errâncias da paixão aqui.
Dhammapada de Acharya Buddhrakkhita, Natureza humana de Abraham Maslow, Educação de José Carlos Libâneo, Responsabilidade civil da propriedade, a arte de Kristina Laurendi Haven aqui.
Cadê o padre Bidião?, História da criança e da família de Philippe Ariès, O sol também se levanta de Ernest Hemingway, Espelho convexo de Celina Ferreira, O teatro e o seu duplo de Antonin Artaud, a música de Catherine Malfitano & Mawaca, o cinema de pintura de Emil Orlik & Miles Mathis, Programa Tataritaritatá & muito mais aqui.
Entre as pinoias duns dias de antanho & a pintura de John La Farge aqui.
História sem fim. a pintura de William Holman Hunt & a arte de Max Ernst aqui.
A vida é uma canção de amor & a arte de Milo Manara aqui.
Faça seu TCC sem Traumas: livro, curso & consultas aqui.
Livros Infantis do Nitolino aqui.
&
Agenda de Eventos aqui.

SABIÁ COM TREVAS DE MANOEL DE BARROS
Me abandonaram sobre as pedras infinitamente nu, 
e meu canto.
Meu canto reboja.
Não tem margens a palavra.
Sapo é nuvem neste invento.
Minha voz é úmida como restos de comida.
A hera veste meus princípios e meus óculos.
Só sei por emanações por aderência por incrustações.
O que sou de parede os caramujos sagram.
A uma pedrada de mim é o limbo.
Nos monturos do poema os urubus me farreiam.
Estrela é que é meu penacho!
Sou fuga para flauta e pedra doce.
A poesia me desbrava.
Com águas me alinhavo
.
Sabiá com trevas, poema extraído obra Arranjos para assobio (Companhia das Letras, 2016), do poeta Manoel de Barros (1916-2014). Veja mais aqui, aqui & aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje é dia de especiais com o compositor, arranjador, produtor musical e guitarrista Toninho Horta; a cantora, violonistak, compositora e percussionista Badi Assad; o compositor alemão Max Richter; e a cantora e atriz franco-inglesa Charlotte Gainsbourg. Para conferir é só ligar o som e curtir.

A ARTE DE GROMAIRE
A arte do pintor francês Marcel Gromaire (1892-1971).