sexta-feira, julho 21, 2017

ETIENNE SOURIAU, CHIQUINHA GONZAGA, EDU LOBO, DAVE ST-PIERRE, RENATO BORGHETTI, ZÉLIA DUNCAN, LEILA DINIZ & TODAS AS MULHERES DO MUNDO!

A REDENÇÃO DO AMOR - Imagem: arte da poeta, artista visual & blogueira Luciah Lopez. - Ao amanhecer ainda ouvia o seu sussurro a me chamar “Etienne!”. Alvoroçado, eu a procurava enquanto sua melíflua voz ecoava ao ouvido. Cadê você, minha Isabeau? Sabia-lhe presente, mas não a encontrava. Ela estava em mim, eu me sentia nela, sabíamos, ela o meu amor e eu o seu. Cadê-la? Inútil procura, nem mais a voz, só a certeza dentro de mim de que ela estava em mim e ao meu redor, sempre. Até que surgia um belo falcão, asas abertas, crocitando nas imediações, se aproximando, chegando mais perto de mim. Contornava montanhas e pradarias com o seu voo veloz, sempre se achegando como se falasse comigo e eu entendia que o seu piado era aviso de emboscadas ou malsinações. Estava sempre atento aos seus sinais, pipiava pra me guiar o caminho a seguir durante a manhã e toda tarde. No primeiro crepúsculo, a sua transformação: era ela a amada Isabeau d’Anjou, a mulher que povoava meus sonhos e pensamentos. No afã de abraçá-la, tudo escurecia e não via mais nada, apenas o seu cheiro e toque como se estivesse o tempo inteiro comigo. Ouvia sua voz cantarolando, sua suave mão a me alisar carinhosamente, sabia da sua presença na minha noite longa, por meus sonhos mais inusitados, mesmo que eu não visse nada e não tivesse nada além que a sensação de sua envolvente emanação, sabia da sua presença na minha carne e alma. Sempre que a aurora apontava na barra do horizonte, eu acordava e ainda via a sua imagem suplicante se desfazer de braços estendidos a me chamar como se eu me mantivesse sonhando, sua expressão se esmaecendo até desaparecer por completo pra meu mais desolado desgosto. Dali a pouco, logo surgia em voo a sua plumagem cinzento-azulada no dorso e asas, o bico escuro e a cabeça preta, como se me chamasse e mais se aproximando, até depois de muito rondar, definitivamente pousar arfante ao meu braço e se tornar meu talismã, insígnia ao meu peito de capitão valente e cavaleiro negro solitário. E me guiava pelo mundo afora até levar-me aos esconderijos do monge Imperius que temia pela nossa presença. Sua insistência em ter com ele levou-me a capturá-lo e prisioneiro exigi que se explicasse e me contasse o que estava ocorrendo. Deu-me ele ciência da traição em que fora forçado e que, por conta disso, fomos condenados pela maldição do bispo de Áquila a estarmos sempre juntos, eternamente separados. Como assim? Quanto mais explicava menos eu entendia, coisas de sina do destino, fatalidade de maldições. Não acreditava nisso, a minha única crença depois de todas as lutas e batalhas triunfantes e fracassadas era no meu amor por Isabeau e no dela por mim. Disposto a não mais dar-lhe atenção, o falcão recusou-se a sair do recinto, insistia em ficar, como se tivesse que prestar contas com o monge. Virei-me pra ele e, mesmo trêmulo de medo e a suplicar clemência e perdão genuflexo, Imperius detalhou: de dia você é o capitão Etienne Navarre e ela o seu fiel falcão; de noite ela é Isabeau e você o lobo negro protetor dela. Desconfiei que estivesse bêbado, como sempre, mas o Rato, jovem ladrão que eu mesmo salvei, poupando-lhe de prisão e morte certas, confirmou a narrativa nos mínimos detalhes, tudo o que o traidor depôs. Fitei o falcão e vi nos seus olhos a efígie de Isabeau, tal como eu presenciara no último crepúsculo. E como já estava prestes o ocaso, era a vez de rever o espetáculo até tudo escurecer. Assim foi e vi Isabeau sumir na minha escura e longa noite, deixando seu perfume, sua aura e sua presença invisível no meu coração e na minha alma. Ela estava e sempre esteve em mim. Não sabia o que fazer ao amanhecer quando tudo se repetia e como nos entregar como o nosso querer, já que ela estava pra sempre em mim e eu nela até o fim do interdito da maldição pra nossa redenção com o eclipse solar no dia sem noite e noite sem dia. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

TEATRO NA ESTÉTICA DE SOURIAU
[...] descobrir sob que ângulo de visão o mundo a ser apresentado é o mais interessante, o mais pitoresco, o mais estranho, o mais vibrante, ou o mais significativo. É exatamente - a analogia é esclarecedora - fazer no moral o que o cineasta faz no físico com sua câmara, procurando o melhor ângulo de tomada. [...] Uma situação dramática é a figura estrutural esboçada, num momento dado da ação, por um sistema de forças - pelo sistema das forças presentes no microcosmo, centro estelar do universo teatral; e encarnadas, experimentadas ou animadas pelos principais personagens daquele momento da ação. [...] Aliás, alguma vez um artista perdeu um mínimo de gênio por formular com clareza os dados positivos de sua técnica? Creio, porém, que, entre todas as artes, a do teatro é a que mais recorre a este gênero de conhecimentos, de cálculos, de formulações. Quem protestasse contra a idéia de qualquer cálculo nesses domínios, sisplemente estaria provando que nada entende da arte teatral, na qual sempre existiu muitos cálculos ou, se esta palavra ofende alguns sentimentais, muitos artifícios engenhosos e longamente meditados. Aliás, em que arte não há? [...].
Trechos extraídos da obra As duzentas situações dramáticas (Ática, 1993), do filósofo francês Etienne Souriau (1982-1979), autor da obra Chaves da Estética (Cultura Atual, 1973). Veja mais aqui.

Veja mais sobre:
O aperto que virou vexame trágico, As estratégias sensíveis de Muniz Sodré, O soldado morto de Sophia de Mello Breyner Andresen, Tecnologias & esquecimento de Maria Cristina Franco Ferraz, a fotografia de Alexander Yakovlev, a pintura de William Mulready & Ângelo Hasse, a arte de Doris Savard, a música de Asaph Eleutério – Ninguém, Ricardo Loureiro & Radio Estrada 55 aqui.

E mais:
Cadê o padre Bidião?, História da criança e da família de Philippe Ariès, O sol também se levanta de Ernest Hemingway, Espelho convexo de Celina Ferreira, O teatro e seu duplo de Antonin Artaud, o cinema de música de Catherine Malfitano & Mawaca, a pintura de Emil Orlik & Miles Mathis, Programa Tataritaritatá & muito mais aqui.
A obra de arte e a reprodução de Walter Benjamin, Philippe Ariès, Neuropsicologia, Educação Sexual, a música de Charlotte Gainsbourg, a pintura de Emil Orlik, o teatro de Ruy Jobim Neto & a arte de Marco Leal aqui.
Literatura de cordel: È coisa do meu sertão, de Patativa de Assaré aqui.
Liberdade para aprender de Carl Rogers, A mistificação pedagógica de Bernard Charlot, a arte de Bernard Charlot, Voyeurismo, Curriculum podre& ficha suja, Zé Bilola toma na tarraqueta & muito mais aqui.
Quase meio dia, As revoluções científicas de Thomas Kuhn, Não morra antes de morrer de Yevgeny Yevtushenko, Os amores amarelos de Tristan Corbière, A consciência da mulher de Leilah Assumpção, a música de Debussy & Sandrine Piau, o cinema de Eric Rohmer & Françoise Fabian & Marie-Christine Barrault, a arte de Dian Hanson & Eric Kroll, a pintura de Hyacinthe Rigaud & Vittorio Polidori aqui.
Big Shit Bôbras - a profissão golpista do marido da Marcela, História Universal da Infâmia de Jorge Luis Borges, O mundo das imagens eletrônicas, a música de Fredrika Brillembourg, a pintura de Siron Franco & a arte de Miguelanxo Prado aqui.
Rua do Sol, Anatomia da destrutividade humana de Erich Fromm, Museu de tudo de João Cabral de Melo Neto, Confissões de Narciso de Autran Dourado, a arte de Ivan Serpa, a música de Dawn Upshaw & a fotografia de Larry Clark aqui.
As flores maio, Os cantos de Ezra Pound, O poço dos milagres de Carlos Nejar, Neurociências, a pintura de Fernand Léger, a música de Marku Ribas, a fotografia de Waclaw Wantuch & a arte de Luciah Lopez aqui.
Quando renasci pra vida depois de morrer pela primeira vez, Presenças de Otto Maria Carpeaux, Moll Flandres de Daniel Defoe, o teatro de Hugo von Hofmannsthal, a música de El Hadj N'Diaye & Érica García, a arte de Antonio Dias & Xul Solar aqui.
O pavor dos acrófobos à beira do abismo, o pensamento de Comenius, Jornada de um poema de Margaret Edson, Toponimia pernambucana de José de Almeida Maciel, a poesia alemã de Olívio Caeiro, a música de Leoš Janáček & Kamila Stösslová, a arte de Pierre Alechinsky & Philip Hallawel aqui.
Forte e sadio que nem o povo do tempo do ronca, Seis propostas para o próximo milênio de Ítalo Calvino, A geografia da fome de Josué de Castro, Poesia Moderna da Grécia, a música de Angela Gheorghiu, a fotografia de Evelyn Bencicova, a pintura de René Mels & Paul-Émile Bécat aqui.
Renascido da segunda morte, João Ternura de Aníbal Machado, Modernidade líquida de Zygmunt Bauman, a música de Jacob de Haan, Comunicação em prosa moderna de Othon Moacir Garcia, a ilustração de Andy Singer, a arte de Chris Cozen & Niki de Saint Phalle aqui.
Faça seu TCC sem Traumas: livro, curso & consultas aqui.
Livros Infantis do Nitolino aqui.
&
Agenda de Eventos aqui.

TODAS AS MULHERES DO MUNDO
A premiada comédia Todas as Mulheres do Mundo (1966), do ator, dramaturgo e cineasta Domingos de Oliveira, com roteiro baseado nos contos A falseta e Memórias de Don Juan, de Eduardo Prado, conta a história de uma festa de Natal, quando um jornalista conta ao amigo sobre uma falseta acontecida entre ele e uma moça que é noiva de um outro e ele se apaixona, investindo numa conquista até ela ceder no envolvimento, mantendo-se amiga do ex-noivo, enquanto ele descarta relacionamento com inúmeras mulheres. O destaque do filme fica por conta da eternamente bela atriz Leila Diniz (1945-1972). Veja mais aqui, aqui e aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje é dia de especiais com o cantor, compositor, arranjador e instrumentista Edu Lobo: Camaleão & Limite das águas; da compositora, pianista e maestrina Chiquinha Gonzaga (1847-1935), interpretada pelos pianistas Leandro Braga & Clara Sverner; do músico instrumentista e acordeonista Renato Borghetti; e da cantora e compositora Zélia Duncan: Pelo sabor do gesto em cena & Tudo esclarecido. Para conferir é só ligar o som e curtir.

LIBAÇÃO & ENTRE VERSOS DE LUCIAH LOPEZ
no teu colo___________me esparramo!
Sou feito enchente, enxame, exangue pele sob as tuas mãos
Ah, as tuas mãos
sempre tão sedutoras e indecentes me percorrendo
em busca do céu e um cantinho do inferno
essa mistura nada piedosa
nada piegas
mas sabedora das delicias da carne
dos encaixes perfeitos e afoitos
quando te percebo a enxergar
meu corpo desnudo, bêbado e extasiado
pronto a receber a tua nudez de homem
.
Libação, poema/imagens da poeta, artista visual & blogueira Luciah Lopez. PS: Neste domingo, 23/07, das 9:30 às 13:30hs, na Feira do Poeta – Largo da Ordem (ao lado da Casa Romário Martins), lançamento do livro Entre Versos: a palavra branca é nua, da autora. Confira mais aqui.

LA PORNAGRAPHIE DES AMES DE DAVE ST-PIERRE
O espetáculo La Pornografia des Âmes (2004), ensaio coreográfico do bailarino, coreógrafo e diretor canadense Dave St-Pierre, envolvendo pessoas comuns e seus dramas com a constatação de que as pessoas estão se tornando solitárias na multidão e que só se comunicam com atendentes de respostas, utilizando-se de dançarinas nuas, provocativas e perturbadoras, como frágeis e em movimento numa fantasia.