terça-feira, fevereiro 28, 2017

TAMOROMU, ANTÚLIO MADUREIRA, FOLIA & OLINDA

Folia Tataritaritatá. Veja os vídeos aqui.

QUANDO A FOLIA É MAIOR EM MIM! - Não sou escritor nem poeta, apesar de ter estudado teorias literárias e afins. No máximo, cometo uns versos e rimas, conto umas historietas fazendo das tripas coração num encontro às escuras. Quando muito um cantautor com suas loas e desafinações, transitando entre o linear e o sem pés nem cabeça na convergências de linguagens absurdas e quase irreconhecíveis. Sou, sim, um pesquisador pelas metodologias e artes, vocação desde menino treloso pra descobrir o segredo das páginas dos livros. Estou aqui e sua indiferença me alimenta, retroalimenta o que quero dizer. Se eu falar você escuta? Ao seu umbigo eu digo: estou aqui. Se você fala, escuto. Escuta-me, o meu silêncio e a sua voz. Eu coço a barba para ouvi-la, mesmo imberbe, escuto. Escuta-me entre os flashs de luz, sonhos, lembranças: o abraço nos faz mais vivos, por isso eu escrevo: o planeta gira, a vida brota. Senão, o pandeiro marca o coração embalado pelo solo de violinos e cellos dodecafônicos e flautas atonais, percussão crescente, novas possibilidades transformadoras, guitarras aos gritos, coro grave, e a provocação incomoda, é a vida e quer saber mesmo por que escrevo? Porque tenho fome e como, respiro, hesito e vivo, tenho amigos e não vejo ninguém ao lado. Eu sonho e me desaponto, não tenho nada e quero mais. Eu canto e fico mudo, eu compro no mercadinho, dou voltas a esmo, curto a brisa, abro a janela e vou pra rua, por isso eu escrevo. Eu falo com todo mundo, ouço música e deploro o que não gosto, vou ao cinema, jogo conversa fora e minha loucura não é só minha, por isso eu escrevo. Eu fotografo o gesto e um pedaço de emoção, até o chão não é tão duro e pego a fruta no pé e danço sem música, eu me aborreço com o egoísmo e covardia, solto meus cachorros, o maior esculacho e sou mais brando que o vento na calmaria do quintal. Por isso eu escrevo, porque curto as estrelas e aceno pro menino que corre desembestado e quero chegar ao centro da Terra e de lá dizer pra todos que o Sol continua brilhando por todas as manhãs e noites. O que tenho mais pra dizer? Mais falo quando calo, corro todos os riscos quando a regra de ouro é ficar calado e eu transgrido regras, não há mais convenção alguma a ser respeitada, tudo pelos ares, aleatórias e dinâmicas, entre golpes e safadezas, por isso eu escrevo, para encarnar a coreografia do corpo no mundo, beber a ventania e me molhar na chuva retribuindo afetos, e falar a língua da minha gente sem pátria aos desgovernos de tudo, sem voz e com todos os pesadelos do dia a dia insuportavel na inanição do saber, do não ter o que comer e de viver mais que a miséria ao redor como um fantasma inexorável, por isso eu escrevo. A vida tem valia para quem dá valor, senão tanto faz, seja o que for. Por isso eu escrevo, porque havia um caminho no meio da pedra, me descobri carnaval e a folia é maior em mim quando ela, nua caingang, dança maracatu no meu coração. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.

 Curtindo os álbuns com a arte do músico, compositor e artesão Antúlio Madureira.

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DESTAQUE: A ÁRVORE DE TAMOROMU
O homem criou uma cutia. Enquanto ela era pequena não saia de casa. Mas depois de crescida começou a andar pelo mato. Lá encontrou uma árvore grande, carregada de frutos. Comeu no chão os frutos caídos da árvore. Ela, porém, só comeu os frutos que achou no chão porque não sabia trepar na árvore. O dono do animal perguntou: - Onde está a cutia?  Ninguém soube responder-lhe, pois ninguém tinha visto. Depois de meio dia, ela foi aparecendo. -  Queres comer? – perguntou o dono. - Não quero, estou com a barriga cheia. – respondeu ela. E foi deitar-se na rede. Á tarde, o dono tornou a perguntar: -  Queres comer? E ela teimou: - Não quero, estou com a barriga cheia! Ao clarear do dia, quando os homens se levantaram, viram que ela já tinha partido. Toda manhã era assim. Não comia em casa a comida que lhe era dada. Saía cedo e voltava ao meio dia, deitando-se em sua rede. Então o dono mandou o filho perguntar: -  Donde vens? Para onde vais? Que é que tu comes lá? -  Nada! – respondeu ela. Adormeceu e falou: -  Bum! Amendoim! Bum! Banana maçã! Bum! Banana comprida! Bum! Mandioca! Bum! Cana! Bum! Banana naanja! Bum! Banana cheirosa! Bum! Banana grossa! Bum! Milho! Bum! Feijão! Bum! Cará! Bum! Abóbora! Bum! Inhame! Bum! Melancia! Bum! Banana São Tomé! Bum! Banana São Tomé roxa! Bum! Banana iaiá! Bum! Banana sapo! Ouvindo-a falar assim, o dono da cutia chamou a mulher, para que ela também ouvisse. Depois recomendou aos filhos: - Acordai bem cedo para verdes aonde é que ela vai. As crianças acordaram antes de clarear o dia, quando a cutia ainda estava deitada. Viram-ne levantar da rede e ir direitinho para o mato. Chamaram o pai que saiu logo depois e foi encontra-la comendo. - Éé aqui que vens comer e não contas nada pra gente? – perguntou ele. Olhou para cima e viu os galhos arriados ao peso de tanta coisa. Um galho era de amendoim, outro de cana, outro de cará, outro de abóbora, outro de batata, outro de inhame, outro de melancia, outro de banana maçã, outro de banana comprida, outro de banana cheirosa, outro de banana de São Tomé, outro de banana de São Tomé Roxa, outro de banana grossa, outro de banana iaiá, outro de banana sapo. O homem viu aquilo, não pegou em nada e voltou. Chegando em casa, contou à mulher que vira a árvore carregada de frutos. Chamou os parentes e vizinhos. E todos correram para a casa do dono da cutia. Sabendo da descoberta, amolaram o machado e disseram: -  Vamos derrubar a árvore para tirar as sementes! E foram. Chegando lá, puseram-se a derrubá-la. Ao meio dia, ela caiu. Colheram os frutos e depois de colhê-los voltaram para casa. Plantaram todas as sementes. As águas do rio cobriram o toco da árvore e tudo desapareceu. Tominicare veio e disse aos homens: -  Por que derrubastes a árvore de Tomoromu? Agora, para comerdes, tendes de trabalhar de sol a sol. O toco da árvore virou pedra!
A árvore de Tamoromu, recolhido de Lendas dos índios Vapidiana (Revista do Museu Paulista, 1950), de Mauro Wirth. Veja mais aqui.

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