sábado, dezembro 03, 2016

FANY SOLTER, JACK MITCHELL, FABIEN CLESSE, VALMIR SINGH & QUEM VÊ CARA, NÃO VÊ CORAÇÃO


QUEM VÊ CARA, NÃO VÊ CORAÇÃO – Imagem: arte by Valmir Singh - Quantas e tantas vezes nos deparamos com alguém simpática, amável, acolhedora, sorridente e prestimosa, a nos encantar com sua amabilidade estonteante e, mal viramos as costas, bota as unhas de fora e de tão sonsa se revela vilã entre os piores algozes. Não damos mesmo conta das muitas situações agradáveis que nos fazem fascinantemente embevecidas por estarmos ao lado de alguém educada, fala mansa, imperturbável e comovente, quando, ao dobrarmos a primeira esquina, desvela-se daquela atraente figura a mais insana crueldade. Quem de nós não conheceu alguém que se fez amiga íntima e confessou-se interesseira bisbilhotando fraquezas para mexericos. Quem entre nós não se viu no compadrio da mais alta conta que não tenha se evidenciado depois vítima de um pernóstico enganador; que se fez solícito para angariar recompensas escusas e se aproveitar da nossa lerdeza de pensarmos no outro quando está sofrendo; que pra gente não se fez solidário só para ver-nos conduzido à morte; quem não vivenciou a amizade se fez partidária só para delatar nossos mais íntimos sentimentos pra nos expor ao ridículo; quem não se viu diante de um falante que só tinha por propósito enganar a todos; quem não viu gente que se fez poderoso para ter todos sob o seu mando; quem não teve a constatação de alguém que por menos de 30 dinheiros vendeu a alma, a mãe e todas as amizades; quem não teve a consternada compreensão sobre alguém que se fez todo ouvidos só para nos apunhalar pelas costas nas horas da nossa precisão; quem não teve uma experiência dessas e, na desilusão, chegou à triste conclusão de que nem sempre as pessoas aparentam aquilo que elas realmente são, que se mostraram o tempo todo como bondosos e não passavam de um Capitão Gancho ou Dorian Gray, que nos faziam crer ser um craque da bola quando eram nada mais que um perna-de-pau; que falavam pelos cotovelos elogiosamente quando escondiam suas frustrações e inveja. Já diziam Tunay/Sérgio Natureza: as aparências enganam aos que odeiam e aos que amam, reiterando o vetusto ditado de que beleza não se põe à mesa e aquele de que coração é terra que ninguém vê. Vou de Belchior: o passado é uma velha roupa colorida que não nos serve mais. Não adianta morrer de tristeza ou decepção, a vida passa. Aprendemos a lição, coração aberto, sorriso largo, pé na estrada e que venham falsas ou superficiais que terão sempre um riso franco, braços abertos dispostos a experienciar o que a tiver que nos proporcionar. Não adianta a gente ter medo do desconhecido ou ficar pé atrás, vai ou não vai, faz ou deixa de fazer, não adianta mesmo. Afinal, viver pode ser difícil, mas é um bocado gostoso sentir-se vivo! Por isso, venha o que vier, sou da vida! © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.

Curtindo o álbum Sisask: Spirale Symphonie, op. 68 / Gavrilin: Klavierskizzen zum Ballett Anuschka (Antes, 1999), da pianista e professora Fany Solter.

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